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Os cónios (em latim: Conii), também denominados cinetes (cynetes), foram os habitantes das actuais regiões do Algarve e sul do Baixo Alentejo, no sul de Portugal, em data anterior ao século VIII a.C.,[2] até serem integrados na Província Romana primeiro da Hispânia Ulterior e posteriormente da Lusitânia. Inicialmente foram aliados dos romanos quando estes pretendiam dominar a Península Ibérica.
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Konii Cónios | |
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Mapa das principais tribos pré-Romanas em Portugal e suas migrações. Túrdulos a vermelho, célticos castanho e Lusitanos em azul. Os cónios encontram-se no sul | |
Descendiam da cultura megalítica? ou migraram de: ? data:? | |
Cidade principal | |
Conistorgis, localização desconhecida | |
Religião Mitologia cónia | |
Lingua | Indo-europeu?, Ibero? |
Sistema económico-social | |
Chefaturas | Poder politico militar[1] |
Localização atual |
A origem étnica e linguística dos cónios ou cinetes permanece uma incógnita. Para os defensores das teorias linguísticas actualmente aceites, a sua língua poderia ser ou uma língua do ramo celta ou outra língua indo-europeia pré-celta ou mesmo anatólica (parente das línguas anatólicas, tais como a língua luvita ou a hitita)[3] da família linguística indo-europeia (descendente do proto-indo-europeu, cuja área de origem ainda é tema de debate). A língua dos cónios também poderia ser descendente de uma língua dos povos iberos pré-celtas e pré-indoeuropeus, que eram descendentes da população nativa da Península Ibérica, possivelmente parentes dos aquitanos e dos bascos. Assim, os cónios teriam origem celta, proto-celta, ou pré-céltica ibérica. Para esclarecer esta questão, ainda falta traduzir as inscrições da escrita do sudoeste, que estão na língua provavelmente falada pelos cónios, embora a escrita já tenha sido parcialmente decifrada (era uma escrita semi-silábica e semi-alfabética, que se pode designar por semi-silabário).
Antes da investigação etnológica e linguística atual, muitos europeus julgavam-se descendentes de Jafé, um dos filhos de Noé, conforme escrito na Bíblia, no livro de Génesis 10:5, mas esse relato é mais uma metáfora ou uma parábola com objectivos morais do que um facto literal. Cronistas da antiguidade greco-romana enumeram mais de 40 tribos ibéricas, entre elas a tribo cónia, como sendo descendentes de Jafé, pai dos europeus.[4] Contudo, é preciso ter em atenção que muitos autores da Antiguidade Clássica quando utilizam o termo ibero, utilizam-no com um significado geográfico (Península Ibérica) e não com um significado étnico moderno. Um exemplo disso é quando Estrabão designa os lusitanos como a "mais forte das tribos iberas" embora a sua língua, o lusitano, fosse claramente indo-europeia e não ibera.
Os cónios aparecem pela primeira vez na história pela mão do historiador grego Heródoto no século V a.C., e mais tarde referidos por Avieno, na sua obra Ode Maritima, como vizinhos dos Cempsos ao sul do Rio Tejo e dos sefes a norte.
Antes do século VIII a.C., a zona de influência cónia, segundo estudo de caracterização paleoetnológico da região,[5] abrangeria muito para além do sul de Portugal. Com efeito, o referido estudo baseando-se em textos da antiguidade grego-romana bem como na toponímia de Coimbra del Barranco, em Múrcia, Espanha, e de Conímbriga, propõe que os cónios ocuparam uma região desde o centro de Portugal até ao Algarve e todo o sul de Espanha até Múrcia. Em abono dessa tese podemos acrescentar o Alto de Conio no município de Ronda, na região autónoma da Andaluzia.
Segundo Schulten, que considera os cónios uma das tribos lígures e afirmou que «Os Lígures são o povo original da Península», os cónios também teriam marcado presença, não só em Portugal como em Espanha e na Europa, onde os lígures se fixaram. A favor dessa teoria temos os seguintes topónimos:
Para outros investigadores que terão ido mais longe, os povos iberos além de possuírem a Península Ibérica, França, Itália e as Ilhas Britânicas, penetram na península dos Balcãs, e ocuparam uma parte de África, Córsega e norte da Sardenha. Actualmente, e à luz de recentes estudos genéticos, aceita-se que uma raça com características razoavelmente uniformes ocupou o sul de França (ou pelo menos a Aquitânia), toda a Península Ibérica e uma parte de África do norte e da Córsega. Os topónimos a seguir enumerados também atestam esses dados:
No Baixo Alentejo e Algarve foram descobertos vários vestígios arqueológicos que testemunham a existência de uma civilização detentora de escrita, adoptada antes da chegada dos fenícios,[7] e que se teria desenvolvido entre o século VIII e V a.C. A escrita que está presente nas lápides sepulcrais dessa civilização e nas moedas de Salatia (Alcácer do Sal) e é datável na primeira Idade do Ferro, surgindo no sul de Portugal e estendendo-se até a zona de fronteira.[8]
As estelas mais antigas recuam até ao século VII a.C. e as mais recentes pertencem ao século IV. O período áureo dessa civilização coincidiu com o florescimento do reino de Tartesso, algo que não deverá ser alheio à intensa relação comercial e cultural existente entre os dois povos e que se julgava ser distinta da dos cónios. Daí a razão para que a denominação dessa escrita comum não ser nem tartéssica nem cónia mas antes escrita do sudoeste (SO), referindo a região dos achados epigráficos e não à cultura dos povos que as gravaram.
Não é consensual a designação da primeira escrita na Península Ibérica. Para muitos historiadores é a escrita do sudoeste ou sul-lusitana. Já os linguistas utilizam as designações de escrita tartéssica ou turdetana. Outros concordam com a designação de escrita cónia,[9] por não estar limitada geograficamente, mas relacionada com o povo e a cultura que criou essa escrita. E, segundo Leite de Vasconcelos, com os nomes konii e Konni,[10] que aparecem inscritos com ligeiras variações em diversas estelas.[11]
A posição desses estudiosos deve-se à concordância das teorias-hipóteses históricas e modelos linguísticos actualmente aceites nos meios científicos. Essas posições baseiam-se em evidências linguísticas.
Há algumas dezenas de anos, ainda não tinham sido encontrados dados arqueológicos evidentes, por isso, havia investigadores ou simples curiosos que duvidavam da existência dos cónios,[12] enquanto outros ainda negavam a existência de celtas na Península Ibérica, apesar das fontes antigas e das evidências arqueológicas.[13] No entanto, atualmente a existência dos cónios e a presença de povos celtas na Península Ibérica está bastante comprovada por diversas fontes credíveis e não é questionada.
A cidade principal do país dos cónios era Conistorgis, que em língua cónia, significaria "Cidade Real",[14] de acordo com Estrabão, que considerava a região celta. Foi destruída pelos lusitanos, por esses se terem aliado aos romanos durante a conquista romana da Península Ibérica. A localização exacta dessa cidade ainda não foi descoberta. No entanto, em Beja,[15] existem vestígios do que poderá ter sido uma grande cidade pré-romana. São muitos os autores[16] que admitem a possibilidade de Beja (então denominada Pax Julia) ter sido fundada sobre as ruínas da famosa Conistorgis.
Não há muitas fontes que indiquem a religião praticada pelos cónios mas, de acordo com diversos autores da Antiguidade Clássica, tais como Heródoto, Avieno, Estrabão e Plínio, o Velho (que escreveram numa época em que esse povo ainda tinha uma identidade distinta), a sua religião era politeísta. Há quem afirme que, antes dos romanos, a sua religião era monoteísta e que adoravam um Deus denominado Elohim (tal como um dos nomes dados a Deus pelos antigos hebreus), mas tal afirmação não tem fundamento pois não há provas que a sustentem. Essa ideia parece ser o resultado de especulações muito em voga há algumas décadas por autores que tinham uma visão mais mítica do que científica e histórica.
O Sudoeste na Idade do Ferro, desde o século a.C., apresenta um complexo de influências religiosas tartéssicas, gaditanas (bastante helenizadas) e célticas ou pré-célticas, correspondente a uma zona de grandes interacções culturais e movimentos de populações.
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