Cultura em animais
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O conceito de cultura sofreu constantes mudanças ao longo do tempo conforme discussões entre os especialistas, principalmente das humanidades. A definição de cultura, portanto, está intimamente atrelada à episteme vigente, assim como no movimento de quebra de preconceitos e centralização, ou exaltação, da cultura para determinados grupos. A definição de cultura em si já é complexa e problemática nos grupos humanos, uma vez que por muito tempo a cultura era utilizada como um jogo de poder. Segundo Marilena Chauí, foi a partir do século XVIII que o sentido da cultura passou a ser intimamente ligado com a formação que os indivíduos recebiam, ou seja, um acúmulo de experiências socialmente validadas, como o acúmulo do saber escolar, o aprendizado histórico-artístico, relação com a música ou literatura erudita, entre outros. Essa definição implicava, necessariamente, que alguns indivíduos possuíam ou detinham certa cultura, ao passo que outros não, tudo isso sujeito às condições sociais impostas para valorizar certa parcela da população dominante sobre os dominados, bárbaros.[1] Felizmente, para a espécie humana, este discurso, apesar de ainda persistente e utilizado por alguns, caiu em desuso e, a partir do século XX, uma visão antropológica de cultura ganhou espaço, passando a ver cultura como o modo de viver de uma comunidade, um grupo, uma sociedade, e é decorrente das relações materiais e simbólicas que as pessoas desenvolvem entre si, em um determinado território. Entretanto, a discussão e definição sobre cultura está longe de chegar a um fim. Com a discussão sobre a cultura atingindo um discurso mais antropológico, buscando valorizar todos os grupos humanos, enquanto também age como uma característica que define a espécie, surge uma nova problemática que é definir cultura em outros grupos animais. Afinal, como os estudos até então realizados partem de uma perspectiva antropocêntrica e definidora dos grupos humanos, caso o conceito de cultura se aplicasse a outras espécies de animais, o que nos definiria como humanos? Qual seria nossa característica única? Sendo assim a discussão sobre as definições de cultura passaram de uma esfera de definição e soberania de grupos humanos, de popular versus erudito, para humanos versus outros animais. Esta discussão não é trivial, uma vez que o fenômeno da cultura está intimamente ligado com o conceito abstrato de "inteligência", também muito caro para a espécie humana. Segundo a versão ontogenética do MIH (Inteligência Maquiavélica Hypothesis),[2] a cultura é o meio pelo qual pode-se tornar um indivíduo inteligente, ou seja, um ser que é criado e se desenvolve em um meio com cultura acumulada pode enriquecer e aprimorar as maneiras com que lida com o mundo ao seu redor. Como exemplo tem-se que, se for comparada uma pessoa que foi educada contemporaneamente com outra que foi educada cerca de 20 milênios atrás, porém com capacidade cerebral equivalente, teremos que o primeiro indivíduo poderia ser considerado mais inteligente devido ao acúmulo do conhecimento e cultura acerca das técnicas existentes atualmente.[3] Sendo assim, as espécies dotadas de cultura possuiriam meios capazes de selecionar características específicas de inteligência, formando associações indissociáveis entre cultura e desenvolvimento de inteligência. Sendo assim, reconhecer a cultura em espécies não humanas exige reconhecer também a inteligência dessas espécies, admitindo que características antes consideradas como exclusivas do Homo sapiens não são assim tão exclusivas e não os tornam tão especiais. Essa visão será alvo de intensa discussão e resistência por parte de muitos pesquisadores por muito tempo.
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Atualmente, a cultura pode ser delineada de múltiplas formas distintas a depender da disciplina acadêmica em questão.[4] Por um lado, existem antropólogos que agarram-se na necessidade de mediação linguística para a existência de uma cultura, reforçando a defesa de que a cultura é uma característica intrinsecamente humana.[5] Por outro lado, as ciências biológicas recorrem à uma abordagem mais inclusiva, que remonta uma ideia já antiga presente em Aristóteles, além dos primeiros evolucionistas como Wallace, Morgan e Baldwin, em que os animais teriam a capacidade de agregar novos componentes comportamentais ao seu repertório e que essas novas tradições aprendidas são uma fonte de comportamento adaptativo[6]. Nesta perspectiva, a cultura em espécies não humanas podem ser vistas como aprendizagem social de comportamentos, habilidades e vocalização que podem se apresentar de muitas maneiras, desde uma aproximação social em um local específico no qual os indivíduos aprendem de forma independente, conhecido como aprimoramento local, até uma observação minuciosa e replicação de ações de um parceiro da mesma espécie, conhecida como imitação. Sendo assim, para essa área do conhecimento, a discussão não é se existe cultura em animais, mesmo que haja a discussão que apesar da importância da sociabilidade para o desenvolvimento interativo e cognitivo em espécies não humanas e as semelhanças cognitivas entre humanos e as outras espécies com inteligência social, não há registros robustos da produção e reprodução simbólica, componente essencial para a definição de cultura,[7] mas definir essa cultura, quais tipos de aprendizagem social a apoiam e como interpretar as variações comportamentais dentro de uma perspectiva de cultura limitada por um olhar antropocêntrico enviesado.