Complexo Arqueológico dos Perdigões
Reguengos de Monsaraz - Portugal - - Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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O Complexo Arqueológico dos Perdigões é um sítio arqueológico no município de Reguengos de Monsaraz, no Distrito de Évora, em Portugal.[1] Corresponde a um recinto de fossos, espaços residenciais e monumentos funerários, cronologicamente integrado nos períodos do Neolítico e Calcolítico.[2] Foi classificado como Monumento Nacional em 2019.[3]
Complexo Arqueológico dos Perdigões | |
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Tipo | sítio arqueológico, cromeleque, património cultural |
Construção | Neolítico e Calcolítico |
Página oficial | Página oficial |
Património de Portugal | |
Classificação | Monumento Nacional (Decreto n.º 2/2019) |
DGPC | 15739197 |
SIPA | 2734 |
Geografia | |
País | Portugal |
Localização | Reguengos de Monsaraz |
Coordenadas | 38° 26′ 25,66″ N, 7° 32′ 51,21″ O |
Localização do sítio em mapa dinâmico |
O sítio arqueológico está situado a aproximadamente dois quilómetros de distância de Reguengos de Monsaraz, no sentido Nordeste, estando localizado na vertente de uma elevação sobre a planície megalítica de Reguengos, nos limites do vale da Ribeira do Álamo.[2] Ocupa uma área com cerca de 16 Ha, estando quase totalmente situado no interior dos terrenos da Herdade dos Perdigões.[2] A herdade em si está situada a cerca de cinco quilómetros de distância, onde um museu relacionado ao complexo arqueológico foi instalado na Torre do Esporão.[4]
O sítio arqueológico é composto por um conjunto de estruturas, que incluem vários fossos, espaços multifuncionais, incluindo residências, uma necrópole complexa, e um grupo de menires.[2] Este último está situado a Este do restante conjunto, já na zona de passagem do anfiteatro natural para a planície do vale do Álamo,[2] tendo sido classificado como Imóvel de Interesse Público.[5] Os fossos apresentam uma variedade de formas, sendo sete lineares, três sinuosos e uma paliçada, demarcando várias zonas amplas.[2] No local também foram encontrados silos, zonas habitacionais, estruturas de combustão e vários monumentos de função funerária, uns subterrâneos e outros semi-subterrâneos, sendo compostos por um corredor ortostástico e câmara, com diversas zonas para o enterramento dos cadáveres.[2] Além destes monumentos, foram igualmente descobertos sepulcros de inumações, tanto primárias como secundárias, e depósitos com restos de cremações humanas, utilizadas por volta de 2500 a.C., sendo consideradas raras neste período histórico.[6]
Uma das mais importantes estruturas encontradas no local é um conjunto de suportes onde se colocavam peças de madeira, de forma circular e com mais de vinte metros de diâmetro, que era composta por vários círculos concêntricos de paliçadas e alinhamentos de grandes postes ou troncos em madeira.[7] Estava situado no interior da zona dos recintos de fossas, tendo sido instalado, de acordo com o arqueólogo António Varela, de forma a articular-se «com a visibilidade sobre a paisagem megalítica que se estende entre o sítio e a elevação de Monsaraz, localizada a nascente, no horizonte».[7] Este tipo de conjunto, conhecido como Woodhenge, era utilizado com fins cerimoniais, sendo normalmente encontrado nas Ilhas Britânicas e na Europa Central, tendo o de Perdigões sido o primeiro exemplar descoberto na Península Ibérica.[7] Este tipo de complexos eram normalmente utilizados como observatórios astronómicos, função que poderia ser igualmente partilhada pelo encontrado em Perdigões, já que uma possível entrada estava orientada para o solstício de Verão.[7] Este recinto estava coberto por uma segunda estrutura, em pedra.[8]
O espólio encontrado no local inclui peças de pedra lascada feitos em diversas matérias primas, principalmente lâminas, pontas de seta e punhal, e polida, como machados, enxós, percurtores, e componentes de mós manuais.[2] Outras peças incluem placas de xisto, elementos em osso, e vestígios de fauna, como moluscos do litoral atlântico e do Mediterrâneo.[2] Foram igualmente recolhdos muitos contentores em cerâmica, tanto em fragmentos como ainda completos, de várias formas, e que estão integrados nas fases do Neolítico final e do Calcolítico na região central do Alentejo.[2] Vários destes recipientes apresentavam decorações de várias tipologias e motivos, incluindo campaniformes, tendo alguns destes motivos sido igualmente encontrados noutras zonas da Península Ibérica.[2] Foram também descobertos peças de cerámica almagrada, vários contentores em miniatura, partes de queijeiras, colheres e outros elementos de tear, como crescentes e placas, e material de construção, em barro cozido.[2] De especial interesse foram as peças de presumível origem externa, em mármore e calcário, além de decorações em pedra verde, âmbar, ouro, sílex e marfim.[2] Foram igualmente recolhidos elementos de presumível função religiosa, como ídolos antropomórficos e zoomórficos,[2] destacando-se os primeiros, esculpidos em marfim, de uma admirável beleza e naturalismo, poderiam ser representações de divindades, pessoas, estatutos sociais, ou agrupamentos de família ou de identidade, e que poderiam estar ligados aos processos de cremação.[6]
Foram descobertas provas de uma grande diacronia de ocupação do local, entre a sua construção, utilização e abandono, tendo sido cronologicamente integrada entre meados do quarto milénio e ao longo de todo o terceiro milénio a.C. (3500 a 2000 a.C.).[2] Durante a sua ocupação, o sítio dos Perdigões foi um importante centro populacional, cultural, social e simbólico na região central do Alentejo, com ligações a outras comunidades na península, incluindo nas costas atlântica e mediterrânea.[2] Teria sido um ponto de concentração das populações locais, servindo como um importante santuário, onde se praticavam ritos religisos, incluindo o culto aos mortos e antepassados.[6] Terá sido abandonado no âmbito de grandes alterações sociais e cosmológicas.[9] Um dos elementos mais emblemáticos, composto por vários círculos concêntricos de suportes para peças de madeira, foi datado entre 2800 a 2600 a.C., sendo mais antigo do que o famoso monumento funerário de Stonehenge, no Reino Unido, cuja construção terá sido por volta de 2500 a.C..[7] Cerca de 500 a 600 anos após a sua construção, foi instalada uma segunda estrutura em cima, em pedra.[8]
A sua identificação foi feita nos anos 80, na sequência da descoberta do grupo de menires, por Mário Varela Gomes, que fez algumas escavações na zona do antigo povoado.[2] O sítio voltou a ser alvo de intervenções arqueológicas na década de 1990, na sequência de grandes trabalhos agrícolas para a instalação de vinha, que causaram alguns danos.[2] Estes trabalhos, feitos pela empresa Era-Arqueologia, resultaram numa grande quantidade de dados sobre o sítio, confirmando as grandes potencialidades da zona, do ponto de vista arqueológico.[2] Desta forma, nos princípios da Década de 2000 iniciou-se um grande programa de investigação do sítio, potenciado por António Valera,[2] investigador do Centro Interdisciplinar em Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano, da Universidade do Algarve.[10] Este programa tornou-se num dos de maior importância para o estudo do período final da pré-história no Sul da Península, tendo chegado a ser conhecido a nível internacional.[2]
Durante a campanha arqueológica do Verão de 2015, uma das principais descobertas foi um conjunto de partes de crâneos humanos.[11] Segundo a arqueóloga Mafalda Capela, esta deposição foi «intencional e ritualizada», tendo alguns dos crâneos sido queimados, «incluindo os de uma criança de cerca de três anos, em associação a restos de ossos de animais, em depósitos de terra que preenchiam um dos fossos nos Perdigões».[11] Os vestígios dos crâneos foram encontrados numa estrutura que «delimitava um dos recintos cerimoniais que, durante o terceiro milénio antes de Cristo, foi construído neste enorme sítio».[11] Esta descoberta serviu para confirmar a teoria de que o antigo complexo dos Perdigões não seria propriamente um povoado, mas «um espaço para onde convergiam gentes vindas de muitos lados da Península Ibérica, algumas até de mais longe, com o objetivo de realização de práticas funerárias e rituais relacionados com a morte e, consequentemente, com a vida».[11] Durante esta campanha também foi encontrada uma possível segunda sepultura colectiva, que devido à sua forma, poderá ser um exemplo de um tholos, normalmente edificado nos finais do período megalítico.[11] Foi igualmente descoberta uma estrutura de forma circular na zona central do complexo, cuja entrada estava virada para nascente, para o quadrante entre os solstícios de Verão e de Inverno, e que poderia ter funções residenciais ou religiosas, ligadas a cerimónias específicas.[11] Também se destaca a recolha de várias peças em pedra, cerâmica e osso, que foram considerados como «muito espantosos, pela beleza estética, pelo detalhe e pela qualidade».[11]
O Complexo Arqueológico dos Perdigões foi classificado como Monumento Nacional pelo Decreto n.º 2/2019, de 28 de Janeiro.[3] De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, o sítio arqeológico deveria ser «reconhecido como um conjunto de superior relevância histórica, cultural e científica com elevado potencial de valorização», devido às «suas dimensões monumentais e bom estado de conservação» e pela «excepcionalidade dos materiais nele recolhidos, que identificam uma ocupação por um período superior a mil anos».[12] Esta decisão foi apoiada pelo autarca de Reguengos de Monsaraz, José Calixto, que afirmou que «é a prova que nós podemos dar a quem nos visita de que é um território preferido e escolhido pelo homem faz muitos milénios, como prova os vários vestígios megalíticos que temos no concelho e obviamente este complexo arqueológico que tem sido estudado nos últimos anos por parte da ERA Arqueologia e do grupo Herdade do Esporão.», tendo igualmente destacado o grupo Esporão por ter «apostado num trabalho sério e de grande dimensão que nos tem dado conhecimento de muitos aspetos longínquos da nossa história.».[13] Em 20 de Julho desse ano, a empresa do Esporão, a Era Arqueologia e a autarquia de Reguengos de Monsaraz organizaram a iniciativa Dia Aberto nos Perdigões, durante a qual o sítio esteve aberto ao público, e que incluiu uma palestra de António Valera na Torre do Esporão.[6]
Em Julho de 2020, foi inaugurada a exposição Ídolos – Miradas Milenares no Museu Arqueológico de Alcalá de Henares, em Madrid, que inclui várias peças da empresa Era - Arqueologia, provindas da estação de Perdigões.[14][15] Em 4 de Agosto desse ano, a empresa anunciou a descoberta de uma importante estrutura dentro do sítio arqueológico de Perdigões, composta por um círculo de suportes onde eram colocadas estacas e outras peças de madeira, e que foi o primeiro complexo deste tipo descoberto na Península Ibérica.[7]
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