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A Batalha do Atlântico, a mais longa campanha militar contínua da Segunda Guerra Mundial, ocorreu de 1939 até a derrota da Alemanha Nazista em 1945, cobrindo uma parte importante da história naval do conflito. No seu cerne estava o bloqueio naval dos Aliados contra a Alemanha, anunciado no dia seguinte à declaração de guerra, e as subsequentes tentativas alemãs de romper o bloqueio e tentar enfraquecer os britânicos. A campanha atingiu seu auge de meados de 1940 até o final de 1943.[5]
Batalha do Atlântico | |||
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Segunda Guerra Mundial | |||
Oficiais britânicos na Ponte de Comando de um destroyer procurando submarinos alemães, outubro de 1941. | |||
Data | 3 de setembro de 1939 – 8 de maio de 1945 | ||
Local | Oceano Atlântico, Mar do Norte, Mar da Irlanda, Mar do Labrador, Golfo de São Lourenço, Mar do Caribe, Golfo do México, Outer Banks, Oceano Ártico, Atlântico Sul | ||
Desfecho | Vitória Aliada | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Baixas | |||
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A batalha naval do Atlântico colocou submarinos (U-boats) e outros navios de guerra da Kriegsmarine (Marinha) alemã e aeronaves da Luftwaffe (Força Aérea) contra a Marinha Real Britânica, a Marinha Real Canadense, a Marinha dos Estados Unidos e a navegação mercante civil aliada. Os comboios, vindo principalmente da América do Norte e predominantemente destinados ao Reino Unido e à União Soviética, foram protegidos na maior parte pelas marinhas e forças aéreas britânicas e canadenses. Essas forças foram auxiliadas por navios e aeronaves dos Estados Unidos a partir de 13 de setembro de 1941. Os alemães foram acompanhados por submarinos da Regia Marina (Marinha Real) italiana, após o aliado do Eixo, a Itália, entrar na guerra em 10 de junho de 1940.[6]
Como um país insular, o Reino Unido dependia muito de mercadorias importadas. A Grã-Bretanha precisava de mais de um milhão de toneladas de material importado por semana para sobreviver e lutar. Essencialmente, a Batalha do Atlântico envolveu uma guerra de tonelagem; a luta dos Aliados para abastecer a ilha da Grã-Bretanha e a tentativa do Eixo de impedir o fluxo de navios mercantes que permitia aos britânicos continuar lutando. O racionamento no Reino Unido também foi utilizado com o objetivo de reduzir a demanda, diminuindo o desperdício e aumentando a produção doméstica e a igualdade de distribuição. A partir de 1942, o Eixo também procurou impedir o acúmulo de suprimentos e equipamentos aliados no Reino Unido em preparação para a invasão da Europa ocupada. A derrota da ameaça dos U-boats alemães foi um pré-requisito para repelir o Eixo na Europa Ocidental. O resultado da batalha foi uma vitória estratégica para os Aliados — a guerra de tonelagem alemã falhou — mas a um grande custo: 3 500 navios mercantes e 175 navios de guerra aliados foram afundados no Atlântico pela perda de 783 U-boats e 47 navios de superfície alemães, incluindo quatro navios de guerra (Bismarck, Scharnhorst, Gneisenau e Tirpitz), nove cruzadores, sete invasores e 27 destróieres. Este fronte acabou sendo altamente significativo para o esforço de guerra alemão: a Alemanha gastou mais dinheiro na produção de embarcações navais do que em todos os tipos de veículos terrestres combinados, incluindo tanques e blindados.[7]
A Batalha do Atlântico foi chamada de "a maior, mais longa e mais complexa" batalha naval da história. A campanha começou imediatamente após o início da guerra europeia, durante a chamada "Guerra de Mentira", e durou mais de cinco anos, até a rendição alemã em maio de 1945. Ela envolveu milhares de navios em um teatro cobrindo milhões de milhas quadradas de oceano. A situação mudava constantemente, com um lado ou outro ganhando vantagem, à medida que países participantes se rendiam, aderiam e até mesmo mudavam de lado na guerra, e à medida que novas armas, táticas, contramedidas e equipamentos eram desenvolvidos por ambos os lados. Os Aliados gradualmente ganharam a vantagem, superando os invasores de superfície alemães até o final de 1942 e derrotando os U-boats em meados de 1943, embora as perdas devido aos U-boats continuassem até o fim da guerra. O Primeiro-Ministro Britânico Winston Churchill escreveu mais tarde: "A única coisa que realmente me assustou durante a guerra foi o perigo dos U-boats. Eu estava ainda mais ansioso com essa batalha do que com a gloriosa batalha aérea chamada Batalha da Grã-Bretanha."[8]
Desde o início das hostilidades, os alemães estavam cientes de que o domínio aliado dos mares era uma potencial ameaça aos seus planos de guerra. Para comandar a frota de U-boats alemães, Hitler nomeou Karl Dönitz – que já possuía experiência como submarinista na Primeira Guerra Mundial, portanto compreendia as necessidades dos marinheiros e o potencial do submarino como arma de guerra. Mas a avidez do Führer por iniciar o conflito pegou Doenitz de surpresa: ele contava com mais alguns anos de paz, até que pudesse dispor de uma frota com poder de fogo para ameaçar o comércio entre britânicos e norte-americanos. Em setembro de 1939, início da Segunda Guerra Mundial, o almirante comandava 57 submarinos – bem menos do que as 300 embarcações com as quais um bloqueio contra a Grã-Bretanha seria efetivo.
A vida a bordo de um submarino alemão é descrita por alguns que sobreviveram à guerra como, no mínimo, insalubre. Dentro de um casco pressurizado um tanto quanto frágil (e de tanques de lastro responsáveis pela submersão ou emersão da nave), apenas o capitão tinha uma acomodação individual; o restante da tripulação tinha de se virar entre tubos, torpedos, aparelhos medidores e equipamentos da nave, para comer, operar as máquinas e até mesmo fazer suas necessidades fisiológicas. Como os U-Boats não possuíam ventilação interna, os marinheiros eram obrigados a andar com passos leves e a não fazer muito esforço físico – pois, do contrário, corriam o risco de consumir todo o oxigênio.
Um U-Boat era movido por enormes motores a Diesel, os quais precisavam de ar da superfície e funcionando recarregavam as baterias que alimentavam os motores eletricos que movimentava o U-Boat quando submerso, durante ao menos quatro horas todos os dias. Nesse meio tempo, portanto, era grande o risco de o submarino ser atacado por aviões inimigos – lugar comum no final do conflito, quando os Aliados lograram desenvolver um sistema de radar centimétrico que reduziria drasticamente o poder dos U-Boats.
As principais armas usadas pelos submarinos eram os torpedos. Um torpedo poderia ser facilmente descrito como um micro-submarino, a partir do momento em que era lançado. Em seu bico, continha uma carga de explosivos que era acionada no contato com o casco do navio inimigo; entretanto, não era uma tarefa simples lançá-los. O comandante tinha que calcular bem a distância entre seu submarino e a nave inimiga, para então lançar o torpedo, de preferência a pouca profundidade. Uma vez na água, os propulsores dos torpedos deixavam um rastro de bolhas que poderia facilitar ao inimigo sua presença e dar-lhe tempo de desviar; com o recrudescimento do conflito, os alemães lograram desenvolver um torpedo movido a querosene, que minimizava esse rastro. Além dos torpedos, muitos submarinos possuíam canhões em seu deque – muitas vezes para afundar pequenas embarcações ou dar um coup d'grâce sem precisar usar torpedos.
Doenitz compreendera astutamente o poderio de seus submarinos por uma razão simples: a dificuldade dos aliados em combatê-los sem se limitar ao uso de comboios de navios. O sistema ASDIC (Allied Submarine Detection and Investigation Committee, traduzido: Comitê Aliado de Pesquisa e Detecção Submarina), composto de frequências de áudio que poderiam captar a presença de um submarino, era inútil contra submarinos que disparassem seus torpedos da superfície. Assim sendo, os comandantes dos U-Boats – alcunha dada aos submarinos alemães pelos ingleses, onde o U referia-se a Unterseeboot, ou submarino em alemão; a nomenclatura U-número era usada para identificar cada submarino (por ex. U-47, U-386, U-571, etc.) – foram instruídos a atacar à tona d'água. Desde petroleiros, com sua carga facilmente incendiável, até navios com carregamentos militares, muitos não escapavam aos U-Boats.
Durante os primeiros anos da Batalha do Atlântico, por motivos acima explicados, os Aliados pouco ou nada puderam fazer para conter a ameaça submarina nazista, mesmo com seus navios navegando em comboios. Doenitz também orientou seus capitães a fazerem uso da tática de "matilhas" (em alemão, Rudeltaktik): um comandante de submarino que localizasse um comboio aliado transmitia, por rádio, sua rota a submarinos vizinhos, que reuniam-se para atacar, à noite, o malfadado comboio e infligir-lhe pesadas perdas. Por conseguinte, um número assustador de navios mercantes e de combate foi posto a pique por hábeis comandantes alemães. Tanto que, por momentos, o ritmo no qual os navios aliados eram afundados superava a capacidade dos estaleiros em substituí-los. Entre os comandantes de submarinos alemães com maior números de afundamentos de embarcações confirmadas, destacam-se:
Winston Churchill, em suas memórias, descreveu os "U-Boats" como a maior ameaça à vitória sobre o nazismo – não à toa ele temia os afundamentos causados pelos U-Boats mais do que qualquer outra arma de Adolf Hitler. Apesar de os alemães já estarem na defensiva na frente oriental, no Atlântico ainda levavam vantagem. O mês de março de 1943 foi o pior da guerra para os Aliados no mar: eles perderam 51 navios nesse período.
Mas a agonia aliada terminou em maio de 1943, quando John Randall, cientista britânico, anunciou a invenção de um novo sistema de radar, com ondas curtas e tamanho compacto o suficiente para ser instalado em aviões – o radar centimétrico. Seu princípio é o mesmo dos radares convencionais; um feixe de ondas eletromagnéticas é emitido. Quando um obstáculo é encontrado, o feixe retorna. Medindo o tempo entre a recepção e choque com o obstáculo, bem como o ângulo do mesmo, pode-se localizar o alvo. Com base nele, os aviadores aliados podiam, agora, localizar submarinos alemães na superfície com relativa facilidade e afundá-los com cargas de profundidade (bombas submergíveis, em forma de latas de tinta, que explodiam com a pressão da água). Os decessos de U-Boats alemães cresceram vertiginosamente – e os afundamentos de navios foram drasticamente reduzidos. O episódio ficou conhecido como Maio Negro.
Doenitz procurou Hitler para transmitir-lhe as más novas: "Mein Führer, o fato é que agora os Aliados dispõem de um novo mecanismo que lhes permite localizar nossos submarinos à tona d'água... Nossas perdas subiram drasticamente. Deveríamos poupar nossas forças, pois do contrário estaríamos entrando no jogo do inimigo".
A Grã-Bretanha estava, por fim, salva da tentativa de bloqueio naval pela Alemanha, não sem pagar um preço elevadíssimo: além do afundamento de mais de 2.000 navios mercantes e militares e da perda de mais de 13,5 milhões de toneladas de carga, cerca de 40.000 de seus mais capazes marinheiros morreram enquanto serviam à pátria. No mesmo interim, os alemães perderam, em toda a guerra, 29 000 homens e 785 de seus 1 162 submarinos.
Apesar do Atlântico Sul, ser onde a tripulação do cruzador alemão Admiral Graf Spee foi forçada a afundar seu próprio navio, na primeira batalha naval da Segunda Guerra Mundial,[9] e operações submarinas do Eixo na região (centradas no estreito entre Brasil e África Ocidental) terem começado no outono de 1940, apenas no ano seguinte operações de afundamentos eficazes começaram a causar sérias preocupações em Washington.[10] Esta ameaça sentida pelos americanos levou-os a decidir que além de pontos britânicos ao longo do Caribe e da costa da África Ocidental, uma introdução de forças militares americanas no litoral do Brasil seria indispensável. O que veio a acontecer depois de uma série de negociações com a então ditadura brasileira, ao longo do segundo semestre de 1941.[11]
Essa presença militar dos EUA no Brasil não foi bem aceita por Berlim e Roma, especialmente após a ruptura das relações diplomáticas entre o Brasil e as Potências do Eixo, em janeiro de 1942,[12] o que levou a Alemanha e Itália a estenderam sua guerra submarina aos navios brasileiros onde quer que estivessem, incluso as próprias águas territoriais brasileiras a partir de abril de 1942.[13] Em Maio ocorreram os primeiros ataques de retaliação por parte do Brasil (através de sua Força Aérea) contra submarinos do Eixo,[12] mas apenas em 22 de agosto de 1942 o Brasil entrou oficialmente na guerra. O que, de qualquer maneira foi de grande importância para a batalha, dada a sua estatura e posição estratégica no Atlântico Sul.[14]
Embora pequena, a marinha brasileira possuía então modernos navios lança-minas e aviões, que necessitavam apenas de pequenas adaptações para tornarem-se adequados ao patrulhamento marítimo e escolta oceânico.[15] Durante os seus três anos de guerra, principalmente, mas não apenas no Atlântico Sul, sozinha e em conjunto com a marinha dos EUA, a marinha brasileira escoltou 3.167 navios em 614 comboios, totalizando 16,5 milhões de toneladas, com perdas de 0,1%.[16] O Brasil viu três de seus navios de guerra afundados e 486 homens mortos em ação (332 apenas no Cruzador Bahia), embora apenas o cargueiro e transporte de tropas Vital de Oliveira, o tenha sido por ação inimiga.[17]
Já a marinha mercante brasileira registrou a perda de 972 pessoas, entre tripulantes e passageiros, que pereceram a bordo dos seus 32 navios atacados por submarinos inimigos[18] As forças aeronavais americanas e brasileiras trabalharam em estreita colaboração até o fim da batalha. Um exemplo foi o ataque bem sucedido ao U-199 em 31 de julho de 1943, por uma ação coordenada de aeronaves de ambos os países.[19][20] Apenas em águas brasileiras, outros onze submarinos do Eixo foram afundados confirmadamente (entre janeiro e setembro de 1943); um italiano da classe Arquimedes e dez alemães: U-128, U-161, U-164, U-507, U-513, U-590, U-591, U-598, U-604 e U-662[21] [22][23]
Ao final de 1943, a diminuição do número de navios aliados de transporte afundados no Atlântico Sul coincidiu com a crescente eliminação dos submarinos do Eixo que operavam na região.[24] A partir de então, a batalha no Atlântico Sul estava perdida para os alemães, mesmo com a maioria dos submarinos remanescentes na região tendo recebido ordem oficial de retirada somente em agosto do ano seguinte, e com ( Baron Jedburgh ) o último navio mercante aliado afundado por um U-Boat (U- 532), ainda em 10 de Março de 1945.[25]
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