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política brasileira Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Luiza Alzira Teixeira Soriano (Jardim de Angicos, 29 de abril de 1896 — Natal, 28 de maio de 1963) foi uma política brasileira, a primeira mulher a ser eleita prefeita de um município na América Latina.[1]
Alzira Soriano | |
---|---|
6ª Prefeita de Lajes | |
Período | 1 de janeiro de 1929 até 25 de dezembro de 1930 |
Antecessor(a) | Ulisses Vale |
Sucessor(a) | Adauto de Sá Leitão |
Vereadora de Lajes | |
Período | 1947 até 1959 |
Dados pessoais | |
Nome completo | Luiza Alzira Teixeira Soriano |
Nascimento | 29 de abril de 1896 Jardim de Angicos, Lajes, Rio Grande do Norte, Brasil |
Morte | 28 de maio de 1963 (67 anos) Natal, Rio Grande do Norte, Brasil |
Progenitores | Mãe: Margarida de Vasconcelos Pai: Miguel Teixeira de Vasconcelos |
Esposo | Thomaz Soriano de Souza Filho |
Partido | Republicano União Democrática Nacional |
Filha mais velha de um influente líder político regional, Alzira nasceu e cresceu em Jardim de Angicos, um distrito de Lajes, no Rio Grande do Norte. Aos 17 anos de idade, casou-se com um promotor pernambucano, com quem teve três filhas. Ficou viúva aos 22 anos quando seu esposo morreu vítima da Gripe Espanhola.[2]
Alzira voltou a morar com seus pais em uma fazenda, ficando conhecida por comandar com pulso firme a casa e as atividades da propriedade. Enquanto participava das reuniões promovidas pelo pai, chamou a atenção da líder feminista Bertha Lutz e do político Juvenal Lamartine de Faria, que a convenceram a disputar a prefeitura de Lajes
Durante a campanha eleitoral de 1928, Alzira foi atacada com ofensas misóginas. Entretanto, foi eleita prefeita com mais de 60% dos votos, assumindo o cargo em 1929. Permaneceu no executivo municipal até o advento da Revolução de 1930 e só voltou a ocupar um cargo público, o de vereadora, em 1947. Após sua morte, recebeu diversas homenagens, incluindo o Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós, outorgado pela Câmara dos Deputados, e um feriado municipal em sua cidade natal.
Em 2023 foi homenageada na novela Amor Perfeito, onde foi interpretada por Titina Medeiros.[3]
Luzia Alzira Teixeira de Vasconcelos nasceu em 29 de abril de 1896 em Jardim de Angicos, atualmente um município do Rio Grande do Norte.[4] Era a filha mais velha de Miguel Teixeira de Vasconcelos e Margarida de Vasconcelos;[5] ao todo, o casal teve 22 filhos,[6] mas apenas sete mulheres e um homem chegaram aos dois anos de idade.[7][6] Antes de Alzira, o casal teve outros três filhos que não sobreviveram aos primeiros meses de vida.[6]
Seu pai, Miguel Teixeira, era coronel da Guarda Nacional,[5] líder político e dono de vastas terras.[7] A família vivia na Fazenda Primavera, onde Miguel hospedava as principais reuniões políticas da região.[8] De acordo com Souza 1993, p. 17, Miguel "detinha o poder político da região, que incluía os municípios de Lajes e Pedra Preta. Era também o maior comerciante da cidade, que se beneficiava da constante passagem de viajantes."[6]
Casou-se aos 17 anos de idade, em 29 de abril de 1914, com Thomaz Soriano de Souza Filho.[9] Natural de Pernambuco, Thomas trabalhou como promotor em seu estado até, por conta de divergências políticas, obter transferência para o Rio Grande do Norte.[9][10][11] Com o auxílio de Antônio José de Melo e Sousa, seu parente, o governador Ferreira Chaves enviou Thomaz para Jardim de Angicos,[11] onde passou a frequentar a casa da família Vasconcelos, fazendo ali suas refeições diárias e começando a flertar com Alzira.[12]
Após o casamento, Alzira e Thomaz foram morar em Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte, comarca para o qual ele foi nomeado promotor.[9][10] Eles tiveram quatro filhas, respectivamente: Sônia, Ismênia, Maria do Céu, que viveu menos de um mês, e Ivonilde.[9] Em janeiro de 1919, Thomas faleceu vitimado pela Gripe Espanhola; na época, Alzira tinha 22 anos e estava grávida de sua quarta filha.[7]
Com a morte de Thomas, Alzira voltou a residir na Fazenda Primavera, próxima aos pais, até o nascimento de sua filha caçula.[13] Morou então brevemente com suas filhas em Recife, na casa do sogro.[10] Em menos de um ano retornou a Jardim de Angicos, naquele momento um distrito de Lajes.[10] Lá, ficou conhecida por comandar com pulso firme a casa e as atividades da propriedade de sua família,[14] e buscou participar das atividades políticas que seu pai desenvolvia.[10][15]
No início de 1928, durante uma reunião política ocorrida na Fazenda Primavera com a presença do governador Juvenal Lamartini, a bióloga e líder feminista Bertha Lutz ficou impressionada com as habilidades de Alzira.[8][16] Lutz estava no estado para discutir com Lamartini a apresentação de uma candidatura feminina nas eleições municipais daquele ano.[17]
Na época, não havia sufrágio feminino no Brasil, mas o Rio Grande do Norte foi pioneiro ao dispor em 1926, em sua Lei Eleitoral, que "poderão votar e ser votados, sem distinção de sexos, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por lei."[18] No ano seguinte, a potiguar Celina Guimarães Viana se tornou a primeira eleitora do país[19] e, em abril de 1928, a primeira mulher a votar.[20]
Contando com o apoio do pai, de Lamartini e de Lutz, Alzira aceitou disputar a prefeitura de Lajes e foi escolhida a candidata do Partido Republicano.[10] A subsequente campanha eleitoral presenciou ofensas misóginas contra ela.[10] As insinuações incluíam que a candidata tinha um caso com o governador[7] e que, sendo uma "mulher pública", era prostituta.[10][21] Em setembro, venceu a eleição com 60% dos votos válidos, convertendo-se na primeira prefeita mulher não só do Brasil como também da América Latina.[22][10] Seu adversário eleitoral, um major,[2] deixou o estado por sentir-se humilhado pela derrota.[10][23]
Alzira compôs um gabinete formado apenas por homens.[24] Como prefeita, foi responsável pela construção de estradas, mercados públicos e melhorias na iluminação pública da cidade.[25] De acordo com a publicação Afinal, o que as mulheres querem?, durante seu governo "consta a construção de novas estradas, como aquela que liga Cachoeira do Sapo a Jardim de Angicos, além de ter construído escolas e ter implantado a iluminação pública a vapor."[26]
Na eleição presidencial de 1930, Alzira apoiou o paulista Júlio Prestes.[27] Com a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à presidência, os prefeitos de todo o país passaram a ser substituídos por interventores. Apesar de ser convidada a permanecer governando a cidade, Alzira não aceitou o cargo de interventora municipal.[27]
Antes de deixar a chefia do município, Alzira visitou seus eleitores para agradecer o apoio recebido.[28] Quando Miguel Moreira da Silveira, um de seus opositores, a avistou, passou a cantar versos contra ela. Neste momento, segundo Souza 1993, p. 33-34, Alzira "deu-lhe tanto na cara que acabou quebrando os óculos dele [...] impassível, retomou as filhas pela mão e continuou a fazer as visitas programadas. Mais tarde já em casa confessou à família: 'só tive essa reação porque disse que fazia e não quis bancar a covarde'."[28]
Em 1932, Alzira se mudou para Natal, capital do estado, visando oferecer para suas filhas melhores opções de ensino.[7][10] Permaneceu em Natal até quando sua última filha se casou, em 1939, voltando a morar na Fazenda Primavera; ali reconstruiu sua atividade política.[29][7] Com a morte de seu pai, Miguel, Alzira assumiu com os demais irmãos a gestão da fazenda.[30]
Em 1947, Alzira foi eleita vereadora de Lajes pela União Democrática Nacional (UDN).[31][32] Nesta mesma época enfrentou opositores políticos até em sua família, incluindo o irmão caçula, Paulo, que foi eleito prefeito.[31] Consoante Schuma Schumaher e Erico Vital Brazil, "embora as divergências provocassem acaloradas discussões — em boa medida, em função do temperamento autoritário de Alzira —, os laços de solidariedade dentro da família, o socorro mútuo nos momentos difíceis eram cultivados."[31]
Alzira foi reeleita vereadora de Lajes por mais dois mandatos e escolhida por seus pares para presidir a Câmara Municipal.[5] No final de 1961, descobriu ter câncer de útero e foi até o Rio de Janeiro para receber tratamento médico.[31] No entanto, a doença estava em estado avançado e Alzira optou por falecer em seu estado.[31] Ela morreu em Natal, em 28 de maio de 1963, aos 66 anos de idade.[31]
Alzira é referenciada como pioneira quando se trata da participação política da mulher no Brasil e como exemplo diante do avanço dos ideais feministas e dos direitos das mulheres na política e sociedade.[1] Em 1934 foram retiradas as limitações sobre o voto feminino e a partir de 1946 passou a ser obrigatório também às mulheres.[30][33]
Em 2018, Alzira recebeu, como homenagem póstuma, o Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós, da Câmara dos Deputados. A homenagem, segundo a Câmara, "é concedida a mulheres que tenham contribuído para o pleno exercício da cidadania e para a defesa dos direitos da mulher e das questões de gênero no Brasil."[34]
O município de Lajes também dispõe de uma homenagem na Semana Alzira Soriano para mulheres de relevância para a sociedade e para a cultura da cidade. O evento foi estabelecido em 2008 e inclui palestas em escolas.[30] Em 2018, Jardim de Angicos adotou como feriado municipal a data de nascimento de Alzira.[30] Lá também há um museu em sua homenagem e ela foi representada no brasão e bandeira municipais.[30]
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