Adições em Ester
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Adições em Ester são as mudanças encontradas na versão grega do Livro de Ester na Septuaginta em relação à versão hebraica, o texto massorético. Seis capítulos adicionais e diversas pequenas alterações no significado do texto foram percebidas já na época de Jerônimo, no século IV, quando ele realizava sua tradução para o latim (Vulgata).

1675. Por Aert de Gelder, no Museu Nacional de Belas Artes, em Buenos Aires, Argentina.
História
Jerônimo reconheceu as adições que não estavam presentes na Bíblia hebraica e as moveu para o final de sua tradução como capítulos 10:4 até 16:24. Esta localização e numeração ainda hoje são as utilizadas pela Bíblia católica baseadas na Vulgata, como a Bíblia Douay–Rheims e Bíblia de Knox. Em 1979, a revisão da Vulgata conhecida como Nova Vulgata incorpora as adições em Ester diretamente na narrativa do texto. O mesmo faz a maioria das traduções católicas modernas baseadas no original hebraico e no grego, o que gera diferenças no sistema de numeração entre as várias traduções. A Nova Vulgata incorpora as adições numerando-os como extensões dos versículos imediatamente anteriores ou seguintes (Ester 11:2-12 na Vulgata original se torna Ester 11:1a-1k na Nova Vulgata). Outras traduções atribuem letras do alfabeto como número dos novos capítulos das adições (Ester 11:2-12:6 na Vulgata torna-se Ester A:1-17).
Adições
Entre as adições estão[1]:
- Um prólogo de abertura que descreve um sonho de Mordecai;
- O conteúdo do decreto contra os judeus;
- Orações pela intervenção divina por Mordecai e por Ester;
- Uma expansão da cena na qual Ester se apresenta diante do rei, com uma menção da intervenção divina;

1556. Por Paolo Veronese, na igreja de San Sebastiano, em Veneza.
- Uma cópia do decreto favorecendo os judeus;
- Uma passagem na qual Mordecai interpreta seu sonho (do prólogo) em acordo com os eventos que se seguem;
- Um colofão anexado ao final no qual se lê: "No quarto ano do reinado de Ptolemeu e Cleópatra, Dositeu, que afirmou ser um sacerdote e um levita, e seu filho, Ptolemeu, trouxeram a presente carta de Purim afirmando que era genuína e que Lisímaco, filho de Ptolemeu, da comunidade de Jerusalém a havia traduzido".
Na época em que Ester foi escrito, o poder estrangeiro visível no horizonte como ameaça a Judá era o Reino da Macedônia, de Alexandre, o Grande, que derrotou o Império Persa cerca de 150 anos depois da época de Ester. A Septuaginta se refere a Hamã como um "bougaion" (βουγαῖον) enquanto que o texto em hebreu o chama de "agagita".
Canonicidade
Resumir
Perspectiva
A canonicidade destas adições tem sido tema de disputas entre os estudiosos praticamente desde o momento em que elas apareceram na Septuaginta — Martinho Lutero, provavelmente o mais vocal dos críticos entre os reformadores protestantes, considerava até a versão original hebraica como de valor bastante duvidoso[2]. As preocupações de Lutero contra o livro iam além da crítica acadêmica e possivelmente eram reflexo de um antissemitismo de Lutero, outro tema de disputas, como fica evidente na biografia de Lutero por Derek Wilson, que afirma que o ódio de Lutero em relação aos judeus não era contra o povo em si, mas contra a sua teologia.
O Concílio de Trento, que resumiu o pensamento católico romano da Contrarreforma, confirmou o livro completo, incluindo as adições, como sendo canônico. O Livro de Ester é utilizado duas vezes nas seções mais utilizadas do lecionário católico e, em ambos os casos, o texto utilizado é parte das adições, inclusive a oração de Mordecai. A Igreja Ortodoxa utiliza a versão grega da Septuaginta de Ester (como é o caso para todo os livros do Antigo Testamento). As adições em Ester estão especificamente listadas nos Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra (artigo VI)[3] com o nome de "O resto do Livro de Ester".
Ver também
Referências
- Frederic W. Bush, "The Book of Esther: Opus non gratum in the Christian Canon", Bulletin for Biblical Research 8 (1998), p. 39
Ligações externas
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