Academia de Platão
instituição filosófica fundada por Platão em 384/383 a.C., localizada em Atenas, Grécia Da Wikipédia, a enciclopédia livre
instituição filosófica fundada por Platão em 384/383 a.C., localizada em Atenas, Grécia Da Wikipédia, a enciclopédia livre
A Academia (em grego antigo: Ἀκαδημία), também chamada Academia de Platão, Academia Platônica (português brasileiro) ou Academia Platónica (português europeu), Academia de Atenas ou Academia Antiga, foi uma academia fundada por Platão, aproximadamente em 384/383 a.C. nos jardins localizados no subúrbio de Atenas. Durante muito tempo, considerou-se a criação da Academia fora para ser uma associação religiosa consagrada às Musas, dado que as leis do Estado ateniense não contemplavam a possibilidade de um estabelecimento semelhante ao que Platão queria construir, assim o filósofo escolhe a única forma de abrir jurídica e legalmente seu espaço: fez reconhecer sua Academia como comunidade consagrada ao culto das Musas de Apolo.[1]
Antes da Academia ser o que era, foi uma escola, e mesmo antes de Cimon cercá-las com muros,[2] no seu terreno havia um bosque sagrado de oliveiras dedicados a Atena, a deusa da sabedoria, fora das muralhas da cidade antiga de Atenas.[3] O nome arcaico do local era (em grego clássico: Ἑκαδήμεια Hekademia), que depois evoluiu para Academia, esse nome foi explicado pelo menos no início do século VI a.C., ligando-o a um herói ateniense, o lendário "Academo".
O local da Academia foi dedicado a Atena e a outros imortais, o local abrigou seu culto religioso desde a Idade do Bronze, um culto que foi, talvez, também associado aos herói-deuses Dióscuros (Castor e Pólux), o herói Academos associado ao local foi creditado por ter revelado aos gêmeos divinos onde Teseu tinha escondido Helena de Troia. Por respeito à sua longa tradição e da associação com a Dióscuros, os espartanos não devastaram o bosque quando incendiaram a Ática.[4] Havia também pórticos e altares consagrados às Musas, às Graças, ao Amor, a Prometeu onde ardia a chama eterna em homenagem a Atena.[5]
O que mais tarde viria a ser conhecido como a escola de Platão provavelmente se originou quando Platão adquiriu a propriedade herdada com a idade de trinta anos, com encontros informais que incluiu Teeteto, Arquitas de Tarento, Leodamas de Tasos e Neóclides.[6] De acordo com Debra Nails, Espeusipo "se juntou ao grupo cerca de 390." Ela afirma: "Até Eudoxo de Cnido chegar em meados da década de 380, Eudemo de Rhodes. não reconhece formalmente a Academia". Não há registros históricos do momento exato em que a escola foi fundada oficialmente, mas estudiosos modernos geralmente concordam que foi entre 380, provavelmente em algum momento depois de 387, quando Platão supostamente retorna de sua primeira visita à Itália e Sicília.[7] Originalmente, o local das reuniões era a propriedade de Platão,muitas vezes o ginásio próximo da igreja, o que assim permaneceu durante todo o século IV.[8]
Embora o clube Académica fosse exclusivo e não aberto ao público,[9] pelo menos durante a época de Platão, não cobrava mensalidades para a adesão.[10] Portanto, provavelmente não havia naquela época uma "escola" no sentido de uma clara distinção entre professores e alunos, ou mesmo um currículo formal.[11] Houve, no entanto, uma distinção entre membros seniores e juniores.[12] Duas mulheres são conhecidos por terem estudado com Platão na Academia, Asioteia de Flios e Lastênia de Mantineia.[13]
Pelo menos durante o tempo de Platão, a escola não tinha qualquer doutrina especial para ensinar, em vez disso, Platão (e provavelmente outros associados dele) passavam problemas a serem estudados e resolvidos pelos outros[14] Há evidências das aulas dadas, principalmente a palestra de Platão "Do Bem", mas, provavelmente, o uso de dialética era mais comum.[15] De acordo com uma história não verificável, datada de cerca de 700 anos após a fundação da escola, acima da entrada para a Academia estava inscrita a frase "Que ninguém exceto os geómetras entrem aqui".[16]
Muitos imaginaram que o currículo acadêmico se assemelhava muito ao descrito em A República de Platão.[17] Outros, porém, argumentam que tal quadro ignora os arranjos peculiares óbvios da sociedade ideal imaginada nesse diálogo.[18] Os objetos do estudo quase certamente incluíam matemática, bem como os temas filosóficos com os quais o diálogo platônico trabalha, mas há pouca evidência confiável.[19] Há alguma evidência para o que hoje seria considerado uma investigação estritamente científica: Simplício relata que Platão havia instruído os outros membros para descobrirem a explicação mais simples do observável movimento irregular dos corpos celestes: "ao hipotetizar que movimentos uniformes e ordenados são possíveis de se salvar das aparências relacionadas com os movimentos planetários".[20]
Muitas vezes é dito ter que a Academia de Platão foi uma escola para os futuros políticos do mundo antigo e teve muitos alunos ilustres.[21] Em uma pesquisa recente de evidência, Malcolm Schofield, no entanto, afirmou que é difícil saber até que ponto a Academia estava interessada em política prática (ou seja, não-teórica), pois grande parte das nossas provas "reflete uma polêmica antiga a favor ou contra Platão".[22]
Diógenes Laércio dividiu a história da Academia em três épocas: Antiga, Média e Nova. Na liderança da Antiga, ele colocou Platão, à frente da Média Academia, Arcesilau, e na Nova Academia Lácides. Sexto Empírico enumerou cinco divisões dos seguidores de Platão. Ele definiu Platão, o fundador da primeira Academia; Arcesilau da segunda, Carnéades da terceira, Filon de Larissa e Charmadas da quarto, Antíoco de Ascalão da quinta. Cícero reconheceu apenas duas academias, a velha e a nova, e definiu a última começando por Arcesilau.[23]
Os sucessores imediatos de Platão como "escolarcas" da Academia foram Espeusipo (347–339 a.C.), Xenócrates (339–314 a.C.), Polemo (314–269 a.C.) e Crates (c. 269–266 a.C.). Outros membros notáveis da Academia incluem Aristóteles, Heráclides do Ponto, Eudoxo de Cnido, Filipo de Opunte e Crantor.
Cerca de 266 a.C. Arcesilau tornou-se escolarca. Sob Arcesilau (c. 266–241 a.C.), a Academia enfatizou fortemente o ceticismo acadêmico. Arcesilau foi sucedido por Lácides de Cirene (241–215 a.C.), Evandro e Télecles (em conjunto; 205–c. 165 a.C.) e depois Hegésino (c. 160 a.C.).
A Academia Nova ou terceira começa com Carneades, em 155 a.C., o quarta escolarca depois de Rafael 14 o magnífico em sucessão a partir de Arcesilau. Ele ainda foi um grande cético, negando a possibilidade de se conhecer a verdade absoluta. Carneades foi seguido por Clitômaco (129 - c 110 a.C.) e Filon de Larissa ("o último mestre indiscutível da Academia," c 110-84 a.C.).[24][25] De acordo com Jonathan Barnes, "Parece provável que Filon foi o último platônico geograficamente ligado à Academia".[26]
Cerca de 90 a.C., o então estudante de Filon Antíoco começou a ensinar sua própria versão rival ao platonismo rejeitando Ceticismo e defendendo o estoicismo, o que iniciou uma nova fase conhecida como médio platonismo.
O antigo terreno da Academia era passado de mestre para mestre com a obrigatoriedade de ser transmitido nas mesmas condições em que foi recebido. Este costume instituído terminou no ano de 529, por intervenção do imperador Justiniano. Considerada o último baluarte do paganismo, foi nessa altura fechada. A congregação associativa iniciada por Platão, além de ter uma finalidade eminentemente cultural e de possuir carácter jurídico, tinha igualmente um carácter religioso, sendo dedicada às musas inspiradoras[27].
Quando a Primeira Guerra Mitridática começou, em 88 a.C., Filo de Larissa deixou Atenas e refugiou-se em Roma, onde parece ter permanecido até sua morte.[28] Em 86 a.C., Sula sitiou Atenas e conquistou a cidade, causando muita destruição. Foi durante o cerco que ele destruiu a Academia, pois "ele lançou suas mãos sobre os arvoredos sagrados e destroçou a Academia, que era a mais arborizada dos subúrbios da cidade, bem como o Liceu".[29]
A destruição da Academia parece ter sido tão grave a ponto de tornar sua reconstrução e reabertura impossível.[30] Quando Antióquio retornou a Atenas, vindo de Alexandria, em cerca de 84 a.C., ele retomou suas atividades letivas, mas não na Academia. Cícero, quem estudou com ele em 79/8 a.C., refere-se a Anióquio ensinando numa escola chamada Ptolêmica. Cícero descreve uma visita ao local da Academia uma tarde, que estava "quieta e deserta àquela hora do dia"[31]
Filósofos continuaram a ensinar platonismo em Atenas durante a Era Romana, mas foi somente ao início do século V (c. 410) que uma Academia renovada foi estabelecida por alguns líderes neoplatônicos.[32] As origens dos ensinamentos neoplatônicos em Atenas é incerta, mas quando Proclo chegou a Atenas no início dos anos 430, ele encontrou Plutarco de Atenas e seu colega Siriano ensinando naquela Academia. Os Neoplatônicos em Atenas se autodenominavam "sucessores" ("diádocos", mas de Platão) e apresentavam-se como sendo a tradição ininterrupta desde Platão, mas não há nenhuma continuidade entre estes e a Academia original, seja geográfica, institucional, econômica ou pessoal.[33] A escola parece ter sido uma fundação privada, conduzida em uma casa grande com Proclo eventualmente havendo-a herdado de Plutarco e Siriano.[34] Os líderes da Academia Neoplatônica foram Plutarco de Atenas, Siriano, Proclo, Marino, Isidoro e, finalmente, Damáscio. A Academia Neoplatônica atingiu seu ápice sob a liderança de Proclo (que morreu em 485).
Os últimos filósofos "gregos" da Academia renovada no século VI foram tirados de diversas pares do mundo cultural helenístico e sugerem amplo sincretismo da cultura comum (ver koiné): cinco dos sete filósofos da Academia mencionados por Agátias eram de origem cultural siríaca: Hérmias e Diógenes (ambos da Fenícia), Isidoro de Gaza, Damácio da Síria, Jâmblico da Cele-Síria e, talvez até mesmo Simplício da Cilícia.[33]
Em data frequentemente citada como o fim da Antiguidade, o imperador Justiniano fechou a escola em 529. O último acadêmico foi Damáscio (m. 540). De acordo com Agátias, seus últimos membros buscaram proteção junto ao regime do xá Cosroes I em sua capital Ctesifonte, levando com eles preciosos papiros de literatura e filosofia, bem como, em menor medida, de ciência. Depois de um tratado de paz entre os impérios sassânida e bizantino em 532, sua segurança pessoal (um dos primeiros registros de história da liberdade de religião) foi garantida.
Alguns especulam que a Academia não tenha desaparecido por completo.[33][35] Após seu exílio, Simplício (e talvez alguns outros) pode ter viajado para Harã, próximo de Edessa. De lá, os estudantes de uma Academia-em-exílio podem ter sobrevivido até o século IX, tempo suficiente para facilitar uma retomada árabe da tradição comentarista neoplatônica em Bagdá,[35] iniciando com a fundação da Casa da Sabedoria em 832; um dos maiores centros de estudos do período intermediário (do século VI ao VIII) foi a Academia de Gundexapur na Pérsia Sassânida, mas faltam referências que corroborem essa hipótese.
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