"Se posso cometer uma heresia premeditada, vou dizer: conto é um texto literário sem pressa, voltado para si mesmo, mas aberto às interpretações de seus significados. O contista o produz com paciência para guardá-lo durante meses e anos numa gaveta da cômoda e um dia publicá-lo como se tivesse sido escrito no dia."
O tamanho do texto em si não serve para definir o que seja conto, pois ele pode ter muitos ingredientes e ficar do tamanho de um editorial, dilatando o clima e virando novela. Mas sem o fôlego e a paciência do romance.
O cronista precisa fingir que faz crônicas por divertimento e que trabalha por não ter o que fazer.
Real ou imaginária, a memória do escritor é a matéria-prima para criar a vida e as memórias alheias.
Tenho a impressão de que a urbe existiu, concreta e palpável, quando a cidade de São Paulo tinha no máximo uns 3 milhões de habitantes, havia o chá das 5 no Mappin Stores e passava trem na atual rua dos Trilhos. No tempo da urbe todo trabalhador civilizado usava paletó, calça comprida, gravata, camisa social e chapéu para ir fazer compras ou passear no Centro. Quem não tinha roupa adequada ficava no bairro.
Megalópole é um molusco invertebrado com várias patas. É uma espécie de gelatina que respira. É uma cidade que mistura urbe, suburbe, etorbis. Vou explicar melhor: megalópole é o mesmo que um x-tudo de pedra, aço, cimento e vidro com bastante mostarda e ketchup.
-Trechos da entrevista de 01/02/2002 para a Editora Ática.
Sempre é assim: o herói e o santo é o que estende as mãos.
E este é o nosso grande remorso: o de fazer as coisas urgentes e inadiáveis - tarde demais.