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Zingiberaceae é uma família de plantas angiospermas monocotiledôneas que inclui o gengibre, o açafrão-da-terra (ou cúrcuma) e o cardamomo. Possuem distribuição pantropical, com maior diversidade no sul e sudeste da Ásia. Muitas de suas espécies possuem valor econômico, fornecendo alimentos, perfumes, condimentos, corantes, fibras e papel, além de bastante presentes na medicina popular. No Brasil há registro de 19 espécies nativas (todas do gênero Renealmia), das quais 6 são endêmicas.
Zingiberaceae | |||||||||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||||||||
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Gêneros | |||||||||||||||||||
48, ver texto |
O nome Zingiberaceae foi proposto em 1820 por Ivan Ivanovič Martinov e tem a sua origem no gênero Zingiber, este proposto por Philip Miller em 1754. O tipo nomenclatural é a espécie Zingiber officinale, proposta por William Roscoe em 1807, substituindo o nome anterior, Amomum zingiber, dado por Carl Linnaeus em 1753.[1] A palavra “zingiber” é provavelmente uma latinização do vernáculo hindu "zengibel" ou "zingibel".[2]
As zingiberáceas são ervas perenes de tamanho variável, glabras ou com tricomas muito curtos (podendo ser simples, estrelados ou ramificados) e frequentemente aromáticas.[3]
Rizoma simpodialmente ramificado; pseudocaule reto, não ramificado e com bainhas abertas.[3]
Folhas alternas, dísticas, simples, inteiras, geralmente pecioladas, com limbo bem desenvolvido, venação pinada, base invaginante, sem estípulas e com uma lígula; pecíolos com canais de ar separados em segmentos por meio de diafragmas compostos por células estreladas.[3]
Inflorescências indeterminadas (do tipo tirso ou racemo), mas compostas por unidades determinadas nas axilas de brácteas, estas geralmente bastante evidentes e protegendo uma flor ou cincino, herbáceas a membranáceas; bractéola tubulosa.[3]
Flores bilateralmente simétricas, hermafroditas, em geral durando apenas 1 dia; perianto formado por um cálice trímero, com elementos fusionados, imbricados, e por uma corola trímera, com elementos fundidos, imbricados, frequentemente com um lóbulo maior do que os outros; 1 estame fértil com uma antera biteca e deiscência introrsa, e 4 estames inférteis (estaminódios) fundidos, formando o labelo estaminodial petalóide bilobado ou trilobado, com estaminódios laterais (pares), grandes ou muito pequenos; grãos de pólen monossulcados ou sem abertura, exina muito reduzida. Ovário ínfero trilocular, geralmente com placentação axial e óvulos numerosos; estilete filiforme contido em um sulco entre as tecas da antera; 1 estigma em formato de funil (infundibuliforme); 2 nectários posicionados no ápice do ovário (epíginos)[4],.[3]
Frutos do tipo cápsula (seca ou carnosa) ou baga, com cálice persistente e deiscência longitudinal loculicida; sementes numerosas, irregularmente elipsóides, geralmente com arilo, endosperma e perisperma.[3]
São nativas de regiões tropicais, ocorrendo no sul e sudeste da Ásia (onde se concentra a maior diversidade), na África tropical e nas Américas do Sul e Central, principalmente nas florestas primárias, em habitats sombreados ou semi-sombreados, ricos em húmus.[5]
No Brasil ocorrem 19 espécies nativas, a grande maioria na Amazônia e na Mata Atlântica (endêmicas destacadas em negrito).
São elas[6]:
● Renealmia acreana Maas
● Renealmia alpinia (Rottb.) Maas
● Renealmia aromatica Griseb.
● Renealmia brasiliensis K.Schum.
● Renealmia breviscapa Poepp. & Endl.
● Renealmia cernua J.F.Macbr.
● Renealmia chrysotricha Petersen
● Renealmia dermatopetala K.Schum.
● Renealmia floribunda K.Schum.
● Renealmia guianensis Maas
● Renealmia krukovii Maas.
● Renealmia matogrossensis Maas
● Renealmia microcalyx Maas
● Renealmia monosperma Miq.
● Renealmia nicolaioides Loes.
● Renealmia petasites Gagnep.
● Renealmia pycnostachys K.Schum.
● Renealmia reticulata Gagnep.
● Renealmia thyrsoidea Poepp. & Endl.
● Renealmia urbaniana Loes.
Os visitantes florais e polinizadores relatados para espécies dessa família são abelhas do gênero Amegilla, beija-flores e “caçadores de aranhas” (Nectariniidae).[7]
A maioria das espécies apresentam polinização cruzada, também podendo ocorrer autopolinização e reprodução vegetativa[carece de fontes]. Aves são os principais agentes dispersores[carece de fontes]. Suas cápsulas carnosas são geralmente coloridas, contrastando com suas sementes ariladas[carece de fontes]. Zingiberaceae é considerada a maior família de monocotiledôneas polinizadas por vertebrados.[8]
Zingiberaceae é a maior das 8 famílias na ordem Zingiberales, com cerca de 50 gêneros e 1.600 espécies.[9] Análises filogenéticas baseadas em dados moleculares sugerem ainda uma divisão em 4 subfamílias: Siphonochiloideae, Tamijioideae, Alpinioideae e Zingiberoideae.[10] Entretanto, devido à falta de diferenças morfológicas e de um genoma de referência confiável, as relações filogenéticas nessa família são bastante complexas e ainda representam um grande desafio.[11]
Filogenia de Zingiberales | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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A ordem Zingiberales é dividida informalmente em dois grupos: um parafilético, das “bananas” (Musaceae, Strelitziaceae, Lowiaceae e Heliconiaceae); e um monofilético, dos “gengibres” (Cannaceae, Marantaceae, Zingiberaceae e Costaceae)[4],.[12] Todas as oito famílias são monofiléticas[13],.[11] Costaceae é o grupo-irmão de Zingiberaceae, com o qual compartilha características como o labelo estaminodial e o estame funcional único. A presença de um perianto bem diferenciado e a formação do labelo estaminodial favoreceram o surgimento de uma grande variedade de morfologias florais, permitindo o desenvolvimento dos diversos modos de polinização observados nessas famílias, o que pode ter contribuído para o sucesso do clado.[4] É provável que tal interação planta-polinizador esteja relacionada a uma coevolução, já que observa-se uma correlação significativa entre morfologias florais e guildas de polinizadores.[7]
Fósseis de Zingiberaceae são datados entre 70 e 80 milhões de anos, e estima-se que a divergência entre Alpinioideae e Zingiberoideae ocorreu há 26 milhões de anos. Gêneros fósseis incluem: Spirematospermum, Striatornata e Tricostatocarpon.[14]
Renealmia é o único gênero que ocorre na América do Sul, e supostamente migrou da África para a América nos últimos 16 milhões de anos. Aframomum é o seu táxon irmão, cuja diversificação pode ter começado entre 34,3 e 25,2 milhões de anos atrás, embora existam outras estimativas mais recentes.[15]
Muitas espécies dessa família têm óleos aromáticos que são usados na perfumaria, na culinária, para fins medicinais, e várias outras exibem flores com formas e colorações diversas, utilizadas no paisagismo.
Muitas espécies de cúrcuma apresentam rizomas que podem ser fontes alimentícias, sobretudo de amido e corantes.[16] O rizoma do gengibre (Zingiber officinale Roscoe) detém várias propriedades aromáticas interessantes para a fabricação de bebidas, molhos, sopas, pães, bolos, biscoitos e geleias.
As sementes do cardamomo (Elettaria cardamomum (L), Maton) são uma das especiarias mais antigas do mundo, extensamente cultivada na Índia há milhares de anos.[17] O gengibre do Laos (Alpinia galangal Willd.) é utilizado como tempero na culinária do sudeste asiático, especialmente na Tailândia,[18] onde também as flores de algumas espécies de Alpinia, Amomum, Curcuma, Etlingera, Hedychium e Zingiber são consumidas frescas ou cozidas na preparação de muitos pratos.[19]
Alpinia galanga (L.) Willd., Curcuma longa L., Curcuma zanthorrhiza Roxb. e Zingiber officinale Roscoe têm sido usados há séculos na medicina tradicional, e as zingiberáceas têm recebido atenção na ciência por seus agentes anti-inflamatórios, e testes clínicos pilotos em humanos indicaram benefícios para o tratamento de doenças crônicas como osteoartrite, artrite reumatóide e desordens depressivas.[20]
As flores, folhas e rizomas da espécie Alpinia zerumbet (Pers.) Burtt & Smith, conhecida pelos nomes vulgares de colônia, gengibre-concha ou cana-do-brejo, apresenta propriedades depurativas, diuréticas, anti-histéricas, estomáquicas e vermífugas.[5] Essa planta é ainda utilizada por lavradores da região de Ribeirão Preto (SP) para o tratamento de reumatismo e males cardíacos e tem sido largamente estudada em relação às suas propriedades farmacológicas.[21] Alguns estudos realizados com o chá das folhas da colônia confirmaram o seu efeito hipotensor; outros revelaram resultados significativos quanto ao efeito diurético; e ainda outros mostraram ação anti-inflamatória dessa planta, sendo capaz de inibir processos edematosos.[22]
As espécies Curcuma phaeocaulis Valeton e Z. officinale exibiram inibição específica do crescimento de Escherichia coli in vitro, ao passo de que Alpinia officinarum Hance e Alpinia oxyphylla Miq. apresentaram espectro maior de atividade antimicrobiana.[18] Os principais componentes anti-inflamatórios de Z. officinale são o gingerol e a zingerona, e em C. longa, a curcumina.[20]
O cardamomo foi usado extensivamente no antigo Egito como perfume.[17]
No aspecto ornamental destacam-se os gêneros Alpinia, Nicolaia, Hedychium e Kaempferia pela beleza da folhagem e da inflorescência.[5]
A alpínia (Alpinia purpurata K.Schum.) é uma espécie que produz flores o ano todo, destacando-se por sua coloração marcante e forte impacto visual, sendo usadas frequentemente em buquês, arranjos de flores, e no paisagismo em geral. Seu aspecto exuberante deu origem à denominação popular “rosa das flores tropicais”.[5]
A Alpinia zerumbet (Pers.) B.L.Burtt & R.M.Sm., popularmente conhecida como colônia, tem sido também estudada em relação às atividades antifúngicas e antibacterianas, além da produção de inseticidas a partir dos óleos essenciais da flor. O uso de óleos essenciais remete a antigos períodos da história humana e, ainda hoje, o material bruto é fornecido para indústrias de inseticidas, condimentos, antissépticos, produtos farmacêuticos e perfumes. A ação antimicrobiana dos óleos essenciais é variável para cada tipo de óleo e tipo de bactéria e confirmou-se a atividade antimicrobiana dos óleos essenciais, além de comprovar-se a atividade antifúngica dos óleos essenciais dos rizomas de Alpinia galanga e Alpinia carinata, respectivamente.[5]
Ainda, o lírio-do-brejo (Hedychium coronarium J.Koenig) é uma planta nativa da Ásia tropical e é amplamente utilizada para fins ornamentais, sendo que seus rápidos ritmos de crescimento e dispersão a tornam importante como erva de substituição de vegetação nativa.[23] Kaempferia também possui flores de coloração geralmente branca e lilás, sendo usada para ornamentação.[24][25]
Outros tipos muito comuns em jardins são as espécies pertencentes às famílias Heliconiaceae, mais especificamente as conhecidas como helicônias, e Lowiaceae, mais especificamente espécimes do gênero único Orchidantha sp, cujo nome significa "flor-orquídea", devido à capacidade de modificação de suas pétalas em formas semelhantes a orquídeas.[24][25]
A principal ameaça às espécies de Zingiberaceae é a extração em pequena escala, para subsistência, e em larga escala. Segundo a classificação da Lista Vermelha da IUCN, há 54 espécies criticamente ameaçadas, 145 ameaçadas, 126 vulneráveis, 51 quase ameaçadas, 268 em status “menos preocupante” e 105 com dados insuficientes, apontando a necessidade de mais estudos para elucidar o real risco da família. Apenas 1 está extinta (Etlingera heyniana (Valeton) R.M.Sm.) e 1 extinta da natureza (Amomum sumatranum (Valeton) Škorničk. & Hlavatá).
No Brasil, a espécie Hedychium coronarium J. König, conhecida popularmente como lírio-borboleta, gengibre-brano ou lírio-do-brejo, foi introduzida para fins ornamentais e se tornou invasora de várzeas, margens de lagos, rios e canais, estabelecendo densas populações. Atualmente, a invasão biológica é a segunda maior causa da perda de biodiversidade no mundo, e as macrófitas aquáticas estão entre as invasoras de maior relevância no planeta, por se dispersarem rapidamente (utilizando também o fluxo de água, por exemplo), apresentarem rápido metabolismo e serem capazes de crescer e se reproduzir em condições ambientais sub-ótimas (como sob competição intensa).[23]
As subfamílias, tribos e os gêneros atualmente aceitos são[10]:
Além desses gêneros, têm-se também: Caulokaempferia K.Larsen; Curcumorpha A.S.Rao & D.M.Verma; Hitchenia Wall.; Paracautleya R.M.Sm.; Paramomum S.Q.Tong; Pyrgophyllum (Gagnep.); e Stahlianthus Kuntze.
Também chamada de Açafrão-da-terra, Cúrcuma,Turmérico, Raíz-de-sol, Açafrão-da-Índia, Açafroa e Gengibre-amarelo. É originária da Índia até ao sudeste da Ásia, possuindo como tipo fisionômico geófito, e ocorrendo em bosques paleotropicais húmidos e sob a forma cultivada, tendo como período de floração de julho a agosto.
Suas sinonímias são:
Amomum curcuma Jacq.
Curcuma brog Valeton
Curcuma domestica Valeton
Curcuma euchroma Valeton
Curcuma ochrorhiza Valeton
Curcuma soloensis Valeton
Curcuma tinctoria Guibourt
Kua domestica Medik. [Illegitimate]
Stissera curcuma Giseke
Stissera curcuma Raeusch.
Também conhecida como Conteira, Jarroca, Roca, Cana-roca, Gengibre-selvagem, Roca-da-velha.
É nativa dos Himalaias Indianos, Nepal e o Butão; cultivada como ornamental e naturalizada em regiões tropicais e temperadas dos dois hemisférios. Seu tipo fisionômico é geófito, e ocorre em bosques paleotropicais húmidos, ou sob a forma ruderal e ornamental. Sua época de floração vai de agosto à outubro. Essa espécie não possui sinonímias.
Também conhecida como Gengibre, Gingibre, Gengivre, Magaratáia, Mangaratá e Mangaratiá.
É originária do sudeste da Ásia e atualmente cultivada nos dois hemisférios. Seu tipo fisionômico é geófito, e ocorre em bosques paleotropicais e sob a forma cultivada.
Sinonímias para essa espécie são:
Amomum angustifolium Salisb. [Illegitimate]
Amomum zingiber L.
Amomum zinziba Hill [Spelling variant]
Curcuma longifolia Wall
Zingiber aromaticum Noronha [Invalid]
Zingiber cholmondeleyi (F.M.Bailey) K.Schum.
Zingiber majus Rumph.
Zingiber missionis Wall.
Zingiber sichuanense Z.Y.Zhu, S.L.Zhang & S.X.Chen
Zingiber zingiber (L.) H.Karst. [Invalid]
Também conhecida como lírio-do-brejo, gengibre-branco ou lírio-borboleta, tendo diversos usos desde ornamental, pela beleza das flores; produção de papel, já que a haste contém de 43 a 48% de celulose; alimentação; limpeza de esgotos e medicinal. Na medicina popular brasileira, o extrato de Hedychium coronarium é utilizado no tratamento de dores, infecções em geral, ferimentos, inflamações na garganta e reumatismo. Na Índia, o rizoma seco ou moído, mexido com leite de vaca, é potente no tratamento da diabetes; isso devido ao comprovado óleo hipoglicêmico encontrado na espécie de mesmo gênero, Hedychium spicatum, mas ainda não há estudos que mostrem o efeito de H. coronarium sobre diabéticos. De acordo com a medicina tradicional chinesa, os rizomas servem contra dores de cabeça, dores intensas, contusões e reumatismo.
O amido presente no rizoma da planta é utilizado por sua vez na alimentação de animais de criação, e também é fonte da fécula que pode ser extraída e utilizada para a confecção de doces e biscoitos.
Experimentos comprovaram eficiência do extrato do rizoma, tanto seco quanto fresco, em atividade antimicrobiana contra Bacillus subtilis, Pseudomonas aeruginosa, Candida albicans e Trichoderma sp., sendo as duas últimas causadoras de dermatites; o óleo volátil tem ação anti-helmíntica. Extrato do caule obtido por decocção e infusão mostrou-se ativo para Bacillus subtilis e Pseudomonas aeruginosa. As folhas apresentaram potente efeito diurético e anti-hipertensivo. H. coronarium possui a propriedade de inibir o aumento da permeabilidade vascular e produção de óxido nítrico em ratos. Já as flores, sob forma de infusão, também possuem efeito diurético e redutor da pressão arterial.
Outra importante utilização da planta, mas que necessita maior estudo é o potencial em tratamento de efluentes, pois esta mostrou 99,58% de redução de coliformes totais da água contaminada com microorganismos. Acredita-se que a presença de substâncias antibacterianas no rizoma tenha eficiência sobre os patógenos.
Além de exsudar substâncias antimicrobianas, foi comprovado que do rizoma do lírio-do-brejo contém um componente cercaricida que é liberado sobre Schistosoma mansoni prejudicando a continuação do ciclo de vida do parasita.
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