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A palavra comemoração tem origem do latim commemoratione que tem como significado o ato de relembrar, rememorar e recordar.[1] Relaciona-se ao ato de comemorar, o dever e a importância da memória, como uma maneira de resgatar no presente acontecimentos, figuras e atos do passado que detém alguma importância para a sociedade em que este fato está inserido.[1]
As comemorações podem ocorrer de diversas formas, sendo eles: ritos, manifestações sociais, populares ou culturais, ou sessões solenes oficiais. Um exemplo são as comemorações em torno do 7 de setembro no Brasil, em que todo ano é marcado por ações oficiais e populares, dentre elas, o grito dos excluídos, cuja proposta é denunciar a desigualdade social do país a partir de pautas sociais negligenciadas pelo Estado. Desse modo, é possível perceber a existência de disputas dentro dos ritos comemorativos, considerando que o ato de se comemorar enuncia e inscreve a narrativa em torno daquilo que é relembrado.
Por se tratar de um campo de criação de memórias e, consequentemente, de disputas por trabalhar com os seus usos políticos, sociais e culturais, as comemorações demarcam, também, a existência das estruturas de poder vigentes que determinam o que, como e quando essas comemorações acontecem. Desta forma, insere-se na memória coletiva aquilo que é importante ser relembrado, com o intuito de reforçar projetos pilares do patriotismo ou, até mesmo, o fortalecimento de figuras históricas. O feriado de Tiradentes, cujo dia de sua execução, 21 de abril, foi inserido no Brasil como uma data fundamental de relembrar alguém que lutou pela liberdade do país.
O conceito, Lugares de Memória (Lieu de Mémoire)[2] foi criado pelo historiador francês Pierre Nora e se materializa através da obra e seus sete tomos, cujo título leva o mesmo nome. Foi escrita entre a década de 80 e 90. Apesar de tratar de aspectos da história cultural da França, bem como as suas ritualizações, comemorações e rememorações do passado, o termo tornou-se fundamental para compreender a importância histórica, política, social e cultural desses espaços para além da sua concepção original.
Por se tratar de objetos que constituem e remetem à evocação de passados e a inserção da memória coletiva, o seu uso não se restringe apenas aos memoriais, mas também, a monumentos, imagens, datas e figuras históricas que formam os imaginários nacionais e os seus projetos.[2] Sendo assim, o uso deste conceito é aplicado de maneira ampla, tanto através das comemorações cívicas, como o 21 de abril em que se comemora o Dia de Tiradentes, ou 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, que reforça a identidade nacional, quanto para a criação de memoriais que tenham como abordagem temas sensíveis, como o Memorial e Museu Auschwitz-Birkenau, na Polônia, sendo o maior campo de concentração e extermínio nazista durante o Holocausto.[3]
Outro memorial que aborda as violações aos Direitos Humanos e extermínios e se enquadra dentro deste conceito é o Espaço Memória e Direitos Humanos, conhecida também como ex-ESMA, que abrigava a Escola da Mecânica Armada, cujo espaço foi o maior centro de tortura e desaparecimento forçado durante a ditadura militar na Argentina.[4] Ambos os locais são reconhecidos pela UNESCO como patrimônio mundial da humanidade.[5]
Embora a concepção original do conceito Lugares de Memória faça referência à "Era das Comemorações" na França e a cristalização da memória nacional coletiva, a partir das diversas identidades e grupos nacionais,[6] o conceito se atualizou com o decorrer dos anos e tem sido utilizado para categorizar as mais diversas representações memorialísticas.[6]
Assim, destaca-se também o papel frente à influência social e cultural desses espaços como aliados no dever de preservar a memória. Esses locais permitem aprender com o passado e combater o esquecimento, gerenciando a memória para manter o passado ativo no presente.
As comemorações procuram evocar e o reforçar a memória ligada a algum fato, ato ou sujeito memorável. Ela delimita o dever das sociedades perante a efeméride e a importância de relembrá-la. As comemorações acontecem de maneira coletiva, pois elas também se instauram e constituem as identidades sociais de grupos, nações, religiões, etc.[1]
Desta forma, atribui-se a elas, usos políticos, sociais, culturais e históricos, através do reforço de projetos nacionais e do reforço de imaginários coletivos, por meio de discursos épicos, na criação de heróis nacionais, visando a sua universalização. [7] Assim, uma memória comemorada e compartilhada coletivamente ganha significado e força devido à união gerada pela lembrança e seu dever. Instituições como a igreja, o Estado e organizações não-governamentais, ao promoverem essas memórias, reforçam o senso de coletividade e fortalecem seu impacto, dificultando o esquecimento.[1]
As comemorações podem ter implicações políticas ao tensionar visões e versões oficiais do passado. Isso ocorre quando são levantados questionamentos sobre o que e quem é comemorado, os projetos políticos nacionais a que essas celebrações remetem e os indivíduos ou grupos que elas invisibilizam e excluem. Assim, as comemorações tornam-se um espaço de disputa pelo passado e pela memória, evidenciando conflitos e diferentes narrativas históricas.[1]
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