Sofrônio tinha ascendência árabe[1] e era um professor de retórica. Ele se tornou um asceta no Egito em 580 e depois entrou para o Mosteiro de São Teodósio, nas redondezas de Belém. Ele acompanhou o cronista João Mosco em suas viagens pelos principais centros urbanos da Ásia Menor, Egito e Roma, o que acabou lhe rendendo a homenagem de João, que dedicou a ele o seu tratado sobre a vida religiosa, Leimõn ho Leimõnon (em grego: "O Campo Espiritual"). Eles são celebrados juntos na mesma data.[2] Com a morte de Mosco em Roma (619), Sofrônio acompanhou o traslado de seu corpo até Jerusalém para um enterro monástico. Ele viajou até Alexandria e para Constantinopla (633) para persuadir os respectivos patriarcas a renunciarem ao monotelismo, uma doutrina herética que ensinava que Jesus teria uma única vontade, a divina, excluindo assim a vontade humana na Sua encarnação. As extensas obras de Sofrônio sobre o assunto se perderam todas.
Monotelismo
Com o objetivo de derrotar os inimigos do Império Bizantino, o imperador Heráclio precisava consolidar o apoio de todos os seus súditos. Seguindo o conselho de Sérgio I, patriarca de Constantinopla, ele decidiu reunir os ortodoxos e os monofisistas com base numa doutrina de que Cristo teria apenas um tipo de "atividade" (ou "vontade") - a divina. A doutrina recebeu o nome de monoenergismo. Em 632, a união entre as duas facções foi realizada, com apenas o clero aceitando-a e o povo claramente jamais aceitando. Sofrônio, que na época era um monge em Belém, foi o primeiro a protestar tanto contra a união quanto contra a nova doutrina. Ele foi até Alexandria para tentar persuadir o recém-apontado patriarca monotelita Ciro (630–643) a renunciar à heresia. Fracassando, ele foi até Sérgio, em Constantinopla, que o convenceu que, para manter a paz entre os cristãos, o melhor seria não levantar a questão.[3]
Quando Sofrônio tornou-se patriarca, em 634, ele escreveu uma confissão de fé, chamada de Sinódico, na qual ele defendeu que Cristo teria dois tipos de energia e duas atividades ("vontades") distintas. Ele a enviou para o papa Honório I e para os patriarcas orientais explicando a crença ortodoxa nas duas naturezas de Cristo, a humana e a divina, como contrárias ao monotelismo, que ele via como uma forma sutil da doutrina já condenada do monofisismo (que defendia a existência de uma única natureza - a divina).[3] Antes disso, ele já havia escrito uma carta a Arcádio de Chipre pedindo apoio. Ele convocou um concílio em Chipre (633–634) para tratar da questão, mas o caso de Sofrônio acabou não sendo defendido pelos bispos ali reunidos. Após este concílio, o papa Honório I (r. 625-638) enviou uma carta a Sérgio, Ciro e Sofrônio insistindo que todos os debates sobre uma ou duas energias em Cristo cessassem, o que os três consentiram, e a decisão papal se tornou então uma lei quando foi pronunciada pelo édito do imperador Heráclio em 635.[3] Além disso, ele compôs um florilégio (uma "antologia") de uns 600 textos dos Padres Gregos em favor do bastião ortodoxo do diotelismo (que defendia que Jesus tinha duas vontades - a humana e a divina). Este documento também se perdeu.
Em seu sermão de Natal de 634, Sofrônio se mostrou mais preocupado em manter o clero alinhado com a visão calcedoniana de Deus, dando apenas os alertas mais tradicionais sobre o avanço muçulmano-sarraceno na Palestina, comentando que eles já controlavam Belém. Em 636, após uma derrota do exército bizantino na Batalha de Jarmuque, o destino da Palestina foi selado.[3] Sofrônio, que via o controle muçulmano da Palestina como "o inevitável castigo aos cristãos fracos e vacilantes pelos involuntários representantes de Deus",[4] morreu logo após a conquista de Jerusalém pelo califa ortodoxo Omar, em 637, mas não antes de ter negociado o reconhecimento das liberdades civis e religiosas dos cristãos em troca de tributos - um acordo conhecido como Acordo de Omar. O Patriarcado de Jerusalém foi reconhecido como a mais alta autoridade sobre a guarda dos lugares sagrados, das comunidades cristãs, dos mosteiros e conventos. O Patriarcado se tornou também o mediador entre as autoridades cristãs e muçulmanas.[3]
O califa foi pessoalmente até Jerusalém e se encontrou com o patriarca na Igreja do Santo Sepulcro. Sofrônio convidou Omar a rezar ali, mas ele recusou, temendo colocar em perigo o status da igreja como um templo cristão.[5] O califa se recusou a rezar no Santo Sepulcro por temer que, no futuro, os muçulmanos pudessem alegar que Omar ali rezara e, assim, eles também pudessem querer fazê-lo. Sofrônio, apreciando a inteligência do califa, deu-lhe as chaves da igreja. Incapaz de recusá-las, ele as deu a dois nobres sarracenos e pediu-lhes que abrissem e fechassem a igreja. As chaves da Igreja do Santo Sepulcro estão até hoje com os muçulmanos [carece de fontes].
A luta constante contra os monotelitas e a conquista muçulmana minaram a saúde de Sofrônio e ele acabou morrendo inesperadamente em 638.[3]