Síntese anarquista
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O anarquismo sintetista ou sintetismo é uma corrente dentro do anarquismo que pretende agrupar anarquistas de diversas tendências sob os princípios do anarquismo sem adjetivos.[1] Tal corrente surgiu como uma resposta ao plataformismo e teve como seus principais proponentes os anarcocomunistas Sébastien Faure e Voline.[1] Faure sustentava que o anarquismo caracterizava-se por três correntes fundamentais: o anarcossindicalismo, o comunismo libertário e o anarcoindividualismo. Em sua concepção, estas correntes não seriam contraditórias, mas complementares, tendo cada uma delas um papel a desempenhar dentro do anarquismo: o anarcossindicalismo como a força das organizações de massa e o melhor meio para a prática do anarquismo; o comunismo libertário como proposta de sociedade futura baseada na distribuição dos frutos de trabalho conforme a necessidade de cada um; o anarco-individualismo como negação da opressão individual e afirmação do direito ao desenvolvimento do indivíduo buscando satisfazê-lo em todos os sentidos.[2] De modo semelhante, Voline sustentava que era necessário sintetizar as diferentes correntes anarquistas, em um “conjunto harmonioso, ordenado, acabado”, e bem como Faure, reivindicava um modelo de organização em que o sindicalismo seja considerado o método da revolução social, o comunismo libertário constitua a organização da nova sociedade, e o individualismo torne-se o objetivo da sociedade pós-revolucionária, com vistas à emancipação e à felicidade do indivíduo.[2] Voline acreditava que seria um engano opor as correntes anarquistas umas às outras, e o mais produtivo seria realizar uma fusão delas, em um “anarquismo sintético”, o que a seu ver, seria indispensável.[2] A maior organização sintetista da atualidade é a Internacional de Federações Anarquistas.[1]
Os pais da expressão "anarquismo sem adjetivos" foram os anarquistas Fernando Tarrida del Mármol e Ricardo Mella, preocupados com os debates amargos entre mutualistas, anarquistas individualistas, e anarquistas comunistas na década de 1880.[3] Eles usaram o termo "anarquismo sem adjetivos" como uma tentativa de mostrar maior tolerância entre as diferentes tendências anarquistas e para deixar claro que os anarquistas não deveriam impor um plano econômico preconcebido para ninguém, mesmo no plano teórico. Os anarquistas sem adjetivos tinham tendência a rejeitar qualquer modelo econômico particular dentro das vertentes do anarquismo, ou então a tomar uma posição pluralista, reconhecendo vantagens e desvantagens em cada modelo econômico específico. Para os anarquistas sem adjetivos, as preferências econômicas são consideradas de "importância secundária" frente à abolição de toda autoridade coerciva, sendo a experimentação livre a única regra de uma sociedade livre.
O debate logo se espalhou pela Espanha e a discussão encontrou espaço entre as páginas do periódico Le Révolté em Paris, o que fez com que muitos anarquistas concordassem com o argumento de Errico Malatesta de que "não é certo que nós [anarquistas] (...) fiquemos a discutir sobre meras hipóteses".[4] Ao longo do tempo, a maior parte dos anarquistas passaram a concordar que "o primeiro objetivo do anarquismo é garantir a liberdade pessoal e social dos homens, não importando sobre que base econômica ela se dê", como afirmou Max Nettlau,[5] e isso fez com que os anarquistas focassem o debate naquilo que tinham em comum ao invés das maneiras que acreditavam que uma sociedade livre deveria funcionar. Por exemplo, os anarcocomunistas passaram a perceber que ignorar o movimento operário faria com que suas ideias não atingissem a classe trabalhadora, enquanto os anarcossindicalistas enfatizaram seu compromisso com o comunismo libertário, que viria a ser instaurado após uma revolução social.
O mesmo debate tomou forma nos Estados Unidos, entre anarquistas individualistas e anarquistas comunistas. Na época, Voltairine de Cleyre "passou a rotular-se como simplesmente 'anarquista', e assim como Malatesta apelou para um 'anarquismo sem adjetivos', uma vez que, na ausência de um governo, diferentes experimentos seriam tentados em vários lugares a fim de determinar qual modelo econômico seria o mais apropriado".[6] Voltairine buscou a conciliação entre as diversas vertentes do anarquismo e foi uma defensora ardorosa do anarquismo sem adjetivos.
Voline foi um proeminente escritor e intelectual anarquista que teve um papel importante na organização e liderança da Confederação Anarquista Ucraniana,[7] mais conhecida como Nabat, organização anarquista que se estabeleceu na Ucrânia entre 1918 e 1920. O Território Livre foi a área onde a organização teve mais influência, ainda que em grandes cidades no sul da Ucrânia, o Nabat também exerceu uma influência considerável.[8]
Voline foi designado para escrever uma plataforma para o Nabat que pudesse estar de acordo com todas as mais importantes vertentes do anarquismo, em especial o anarcossindicalismo, o anarcocoletivismo, o anarcocomunismo e o anarcoindividualismo. Tal plataforma nunca foi completamente aceita dentro da organização, porém Voline usou aquilo que já havia escrito como base para criar sua "síntese anarquista".[9] A sua plataforma proposta para o Nabat reivindicava um modelo de organização em que o sindicalismo seria considerado o método da revolução social, o comunismo libertário constituiria a organização da nova sociedade, e o individualismo tornaria-se o objetivo da sociedade pós-revolucionária, com vistas à emancipação e à felicidade individual.[10]
A discussão sobre a síntese anarquista surge no contexto da discussão da Plataforma Organizacional dos Anarquistas Comunistas, escrita pelo Grupo de Anarquistas Russos no Estrangeiro e publicada no periódio Dielo Truda em 1926.[2] A Plataforma Organizacional dos Anarquistas Comunistas atraiu fortes críticas de alguns dos mais proeminentes anarquistas da éoca, como Errico Malatesta, Luigi Fabbri, Camillo Berneri, Max Nettlau, Alexander Berkman,[11] Emma Goldman, Gregori Maximoff,[12] e também de Voline. Voline, junto de outros anarquistas russos exilados como Mollie Steimer e Senya Fleshin, escreveram uma resposta à Plataforma Organizacional dos Anarquistas Comunistas na qual sustentavam que manter o anarquismo somente como uma mera teoria de classes é limitá-lo a um único ponto de vista, e que o anarquismo seria "muito mais complexo e pluralista". Novamente, Voline afirma que o sindicalismo deve ser adotado como método um método de ação, o comunismo libertário como o ideal de organização da nova sociedade, e o individualismo o objetivo a ser alcançado pelo humanidade em sua fase pós-revolucionária.[13]
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