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conjunto de pinturas a óleo sobre madeira criado no período de 1521 a 1530 pelo pintor Cristóvão de Figueiredo Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O Políptico quinhentista do Mosteiro de Santa Cruz era um políptico de pinturas a óleo sobre madeira criado no período de 1521 a 1530 pelo pintor português da época do Renascimento Cristóvão de Figueiredo (activo em 1515-1543) e que fazia parte do Retábulo quinhentista do Altar-mor da Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra.
Políptico do Mosteiro de Santa Cruz | |
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Reconstituição[1] | |
Autor | Cristóvão de Figueiredo |
Data | c. 1521 a 1530 |
Técnica | Pintura a óleo sobre madeira de carvalho |
Localização | Museu Nacional de Arte Antiga, Museu Nacional Machado de Castro, Igreja do Mosteiro de Santa Cruz. |
Os vários painéis que compunham presumivelmente o Políptico quinhentista do Mosteiro de Santa Cruz encontram-se actualmente dispersos por vários museus: Calvário, Ecce Homo e quatro pinturas ovais com os bustos de oito Apóstolos na sacristia da Igreja de Santa Cruz, a Deposição no Túmulo no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, e Achamento da Cruz por Santa Helena, Exaltação da Cruz e Milagre da Ressureição o Mancebo no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.[2]:129[3]
Encomendado a Cristovão de Figueiredo em 1521, o Políptico só ficaria concluido em 1530.[4] A estrutura em talha de suporte do Políptico de Cristóvão de Figueiredo foi obra do entalhador Francisco Lorete.[5] O Retábulo renascentista com pinturas de Cristóvão de Figueiredo foi substituído, no início do século XVII, pelo novo Retábulo maneirista do escultor Bernardo Coelho e dos pintores Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão.[5]
Segundo Markl e Pereira (1986), nos painéis do Políptico do Mosteiro de Santa Cruz é discernível um estilo próprio de Cristóvão de Figueiredo que não é confundível com o dos seus colegas Gregório Lopes e Garcia Fernandes. Nele se notam as lições aprendidas na oficina de Jorge Afonso, como a iconografia do Calvário, o tratamento das figuras em escorço que é sugestão por sua vez das gravuras de Dürer, a escala e o centralismo da composição e ainda o gosto pelos trajes cortesãos. Mas notam-se também diferenças: a expressão das atitudes, evidenciando uma agitação que estava ausente da pintura anterior, a densificação dos fundos com a presença de grupos humanos em movimento, a construção de novos eixos na construção das cenas e a representação de arquitectura e escultura ao gosto italiano.[2]:129
Fundado em 1131, no exterior das muralhas de Coimbra, por D. Telo, da Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com 12 companheiros, o Mosteiro de Santa Cruz foi a mais importante casa monástica nos primeiros tempos da monarquia portuguesa. A sua escola foi fundamental nos tempos medievais e ponto de passagem obrigatória para as elites do poder e da intelectualidade. O seu scriptorium foi o responsável pela justificação da elevação ao título de rei por D. Afonso Henriques, não sendo de estranhar que este tenha decidido ser sepultado precisamente na igreja deste Mosteiro.[6]
Como grande instituição monacal, o Mosteiro de Santa Cruz foi objecto de numerosas remodelações ao longo do tempo. A principal, e que deu ao edifício o aspecto actual, data da primeira metade do século XVI, quando D. Manuel I assumiu a tutela daquela comunidade religiosa. Para tal recorreu a alguns dos melhores artistas que então trabalhavam no reino, como Diogo de Castilho, Machim e João de Ruão na arquitectura, Cristóvão de Figueiredo e Vasco Fernandes na pintura, Diogo Boitaca, Marcos Pires e Nicolau de Chanterene na escultura.[6]
Mas a reformulação do edifício ocorreu em simultâneo com a criação e instalação no Mosteiro da Ordem dos Crúzios. Assim, em 1527, Frei Brás de Braga, da Ordem de São Jerónimo, inicia a reforma dos crúzios de Coimbra, que decorre até 1556 quando ocorre a formação da Congregação de Santa Cruz de Coimbra. A encomenda do Políptico de Cristóvão de Figueiredo insere-se assim neste grande movimento da época manuelina de reconstrução do Mosteiro e da renovação da sua ocupação monástica.[7]
Achamento da Cruz por Santa Helena | |
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Autor | Cristóvão de Figueiredo |
Data | c. 1521-1530 |
Técnica | Pintura a óleo sobre madeira de carvalho |
Dimensões | 150 cm × 140 cm |
Localização | Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra |
O Políptico quinhentista do Mosteiro de Santa Cruz de Cristóvão de Figueiredo executado para a casa-mãe da Ordem da Santa Cruz, teve como tema central compreensivelmente a história do Santo Lenho. Divulgada através da Lenda Dourada (c. 1260) de Tiago de Voragine, a história da recuperação da Santa Cruz por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, o Grande, é desenvolvida neste vasto políptico.[8]
Além do Políptico quinhentista, o Retábulo quinhentista do altar-mor do Mosteiro de Santa Cruz englobava um grande conjunto escultórico sobre a Lamentação que se pensa terá ocupado o espaço central em frente do Políptico, obra de João Alemão e que poderá ser o que se encontra actualmente na Capela da Nossa Senhora da Piedade de Antuzede.[3][9]
O Achamento da Cruz por Santa Helena é uma pintura a óleo sobre madeira pintada no período de 1521 a 1530 por Cristóvão de Figueiredo, mede 150 cm de altura e 140 cm de largura, e fazia parte do Políptico quinhentista do Altar-mor da Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, encontrando-se actualmente no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.[10]
Em primeiro plano, do lado esquerdo, um grupo de obreiros inclinados para a terra desenterram a Cruz com que Cristo havia sido crucificado. Do lado direito, dirigindo e comprovando o evento está Santa Helena, faustosamente vestida e coroada no seu estatuto de rainha, que tem perto de si quatro aias, também ricamente trajadas e adornadas de jóias. Mais atrás, ao centro, está implantada a tenda imperial, partindo dela numa disposição horizontal um esquadrão de cavaleiros que está em espera, ou guarda, estando armadas mais longe outras duas tendas de menor dimensão.[10]
A cena decorre naturalmente no campo, representando os arrabaldes de Jerusalém, vendo-se à esquerda o Gólgota e à direita uma sucessão de penhascos que se prolongam até ao horizonte. A dinâmica da cena é gerada pelo elevado número de figuras dispostas em vários planos, pelos gestos dos que estão mais próximos e pelo hábil desenho de diagonais que se cruzam ou são cortadas por linhas horizontais. A visão do espectador é dirigida para o ícone cristão, a Vera Cruz, que é objecto de invocação e veneração pelos frades de Santa Cruz de Coimbra, para cujo altar se destinou o Políptico de que a pintura fez parte.[10]
O Milagre da Ressureição do Mancebo é uma pintura a óleo sobre madeira pintada no período de 1521 a 1530 por Cristóvão de Figueiredo, mede 106 cm de altura e 141,5 cm de largura, e fazia parte do Políptico quinhentista do altar-mor do Mosteiro de Santa Cruz, encontrando-se actualmente no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.[11]
Este painel é a representação de um dos episódios da iconografia tradicional de Santa Helena, mãe do imperador Constantino: a história da recuperação da Vera Cruz, divulgada no Ocidente através da Lenda Dourada. O momento representado é o da apresentação da Cruz de Cristo ao defunto que jazia numa padiola ocupando em diagonal o centro da composição e em paralelo à travessa superior da cruz. Em segundo plano, um grupo de figuras testemunha a ressurreição do jovem, graças à visão por este da Cruz conforme pedido de Santa Helena. A ponta da Cruz por sua vez liga-se à aia de Santa Helena estando as duas ligeiramente afastadas do restante grupo. O Santo Lenho é o centro da história e como que fixa o olhar do espectador entre o defunto e a Rainha.[11]
A figura em primeiro plano à esquerda mais uma vez revela claras influências das gravuras de Durer, na sua posição de costas e em contraposto, envergando um traje mais claro e iluminado que os dos restantes assistentes, mas menos do que a mortalha do jovem defunto e do que o manto e face de Santa Helena, o que indica um foco de luz do lado direito.[11]
Apesar da degradação evidente da camada cromática, havendo numerosas lacunas e desníveis, tendo-se perdido valores essenciais para a sua completa apreciação, a luz incidente nas duas figuras femininas e a espessura das velaturas nesse ponto é um dos valores essenciais que permanece para o entendimento da obra, para além da complexidade das linhas da composição.[11]
A Exaltação da Cruz é uma pintura a óleo sobre madeira pintada no período de 1521 a 1530 por Cristóvão de Figueiredo, mede 149 cm de altura e 129,5 cm de largura, e fazia parte do Políptico quinhentista do altar-mor do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, encontrando-se actualmente no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.
De acordo com o conhecimento na época em que Cristóvão de Figueiredo pintou este quadro, actualmente posto em causa pela historiografia moderna, em 614 o xá sassânida Cosroes II apoderou-se como troféu da relíquia da Vera Cruz que estava em Jerusalém quando com o cerco de 614 capturou a cidade. Treze anos mais tarde, em 628, o imperador bizantino Heráclio derrotou Cosroes e recuperou a relíquia que manteve inicialmente em Constantinopla, mas que levou de volta a Jerusalém em 630. É este último evento que Cristóvão Figueiredo representou nesta pintura.[12][13]
A pintura representa então o imperador Heráclio transportando a Vera Cruz preparando-se com o seu séquito para entrar em Jerusalém. O Imperador está montado num cavalo ricamente ajaezado, tendo a seu lado, em primeiro plano, três personagens a pé e outras cinco atrás montadas a cavalo. Junto à muralha da cidade (à esquerda), um outro grupo de homens como que protege a entrada do cortejo. Pairando sobre este último grupo, um anjo avisa o Imperador que não pode entrar na Cidade Santa ostentando tantas riquezas e vaidades.[4]
A composição parece concentrar-se nestas duas figuras, procurando que a atenção do observador seja orientada para o anjo através da figura que está de costas, em primeiro plano, que apresenta claras influências das gravuras de Dürer. Esta figura orienta-nos para o elemento fundamental deste painel e de todo o retábulo: a Vera Cruz.[4]
Esta pintura é reveladora também do gosto do autor em pintar ambientes cortesãos, evidenciado no tratamento dos tecidos e no desenho das roupas dos personagens.[4]
A representação do Imperador Heráclio, tentando entrar em Jerusalém sumptuosamente vestido e fazendo-se acompanhar dos seus homens e riquezas, integra-se nas características da pintura palaciana, como se nota pelo tratamento da indumentária e pela postura das figuras, concebidas como se fora uma cena contemporânea do auspicioso reinado de D. João III.[14]
O tratamento em escorço da figura em primeiro plano, demonstra o conhecimento das gravuras de Dürer. De facto, o soldado de costas é uma repetição do guerreiro "alemão" do Calvário do Retábulo de Setúbal que reencontramos decalcado no baixo-relevo do Ecce Homo esculpido por Chanterenne no Claustro do Silêncio do Mosteiro de Santa Cruz. A origem só pode ser o lansquenete do Ecce Homo (em Galeria) gravado por Albrecht Dürer na série Grande Paixão. Mas também o conhecimento de Metsys como se pode ver nas bandeiras da águia bicéfala preta em fundo amarelo que o mestre flamengo havia usado no Cristo a Caminho do Calvário do Políptico das Sete Dores de Maria.[2]:135
O Ecce Homo é uma pintura a óleo sobre madeira pintada no período de 1521 a 1530 por Cristóvão de Figueiredo que fazia parte do Políptico quinhentista do altar-mor do Mosteiro de Santa Cruz e que se encontra actualmente na Sacristia da Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.[15]
Segundo Sant´Anna Dionísio, no Ecce Homo, o Cristo, enorme e resignado, exprime muitas afinidades de sentimento com o Calvário que levou o historiador de arte alemão Carl Justi (1832-1912) a atribui-lo a Cristóvão de Figueiredo, embora algumas figuras secundárias tenham levado o também historiador de arte francês Émile Bertaux (1869-1917) a considerá-lo próximo do Calvário de Viseu, ou seja de Vasco Fernandes.[15]:217:218
Calvário | |
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Autor | Cristóvão de Figueiredo |
Data | c. 1521-1530 |
Técnica | Pintura a óleo sobre madeira de carvalho |
Localização | Sacristia da Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra |
O Calvário é uma pintura a óleo sobre madeira pintada no período de 1521 a 1530 por Cristóvão de Figueiredo que fazia parte do Políptico quinhentista do altar-mor da Igreja do Mosteiro de Santa Cruz e que se encontra actualmente na Sacristia da Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra.[15]:216:217
O Calvário foi identificado por Émile Bertaux como sendo de Cristóvão de Figueiredo e fazendo parte do Políptico quinhentista da Igreja de Santa Cruz encomendado no tempo de D. Manuel, nas pintado apenas no de D. João III. Painel notável pelo dramatismo que caracteriza o grupo da Virgem e das Santas Mulheres cujos véus caem sobre as faces doloridas em sombras de mistério e de dó.[15]:216:217
A Deposição no Túmulo é uma pintura a óleo sobre madeira pintada no período de 1521 a 1530 por Cristóvão de Figueiredo, mede 182 cm de altura e 155,5 cm de largura, fazia parte do Políptico quinhentista do altar-mor do Mosteiro de Santa Cruz, e encontra-se actualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.[5]
Representa o episódio bíblico do Sepultamento de Jesus. O cadáver de Cristo é deposto no túmulo por José de Arimateia e Nicodemos na presença da dolorosa Virgem Maria, de São João e de três santas mulheres. Em primeiro plano, Maria Madalena, ajoelhada e envergando um manto vistoso, sustenta compadecida a coroa de espinhos deposta sobre uma toalha branca. Do lado direito estão duas figuras vestidas de escuro como monjes que se julga poderem representar os encomendadores nominais da obra porque a obra terá sido paga pelas finanças reais.[5]
A cena tem como fundo uma paisagem arborizada e rochosa, podendo vislumbrar-se ao longe a cidade de Jerusalém. O túmulo, de desenho clássico, tem no lado visível em baixo-relevo dois tondi com cenas do Antigo Testamento. Num, Jeremias é lançado na cisterna (Jeremias 38:6:6) e, no outro, Jonas é engolido pela baleia (Jonas 2:1:1).[5]
Segundo Émile Bertaux, esta pintura e o Ecce Homo fariam parte do mesmo retábulo, obra de mestre desconhecido. José de Figueiredo atribuiu a pintura a Cristóvão de Figueiredo, colocando a hipótese de ter sido originariamente realizada para o retábulo do altar da igreja de Santa Cruz de Coimbra. Partilhando a atribuição proposta por José de Figueiredo, mas retomando as considerações de Bertaux, Teixeira de Carvalho foi de opinião que este seria o painel central de um tríptico de que o Ecce Homo seria um dos painéis laterais. Virgílio Correia incluiu o quadro no Retábulo de Santa Cruz de Coimbra apontando como autor Cristóvão de Figueiredo e parceiros, opinião seguida geralmente pela crítica actual.[5]
Segundo Markl e Pereira (1986), dos painéis do Políptico, a Deposição no Túmulo é o que se mostra mais próximo do classicismo anterior, em que os fundos rochosos, a limpidez da atmosfera e a serenidade narrativa não deixam dúvidas quanto à formação clássica do seu autor.[2]:130
Ainda segundo Markl e Pereira, poder-se-á afirmar que Cristóvão de Figueiredo é um continuador de Quentin Metsys em Portugal. Este painel é claramente uma versão do painel central, com o mesmo tema, do Tríptico da Lamentação (em Galeria) executado por aquele pintor flamengo em 1511 para a Catedral de Antuérpia. Cristóvão de Figueiredo recorre nesta pintura à relação entre o Antigo e o Novo Testamento, ou seja, ao simbolismo tipológico, como são os dois episódios representados na face lateral do túmulo. Por outro lado, mantém-se o enigma dos dois retratados que surgem em plano recuado do lado direito para quem olha. Serão os doadores e ideólogos da composição? Se assim for, o mais jovem poderia ser Frei Brás de Barros nascido em 1484 e que teria à data da pintura cerca de 46 anos. De qualquer modo, é certo que se tratam de dois cónegos regrantes crúzios.[2]:137
Bustos de Quatro Apóstolos | |
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Autor | Cristóvão de Figueiredo |
Data | c. 1521-1530 |
Técnica | Pintura a óleo sobre madeira de carvalho |
Localização | Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra |
Como predela do Políptico quinhentista do altar-mor do Mosteiro de Santa Cruz figurariam a todo o comprimento seis conjuntos de Bustos de Apóstolos, dois a dois, que hoje se encontram na Sacristia da Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra.[9]:11
O Retábulo quinhentista do altar-mor de Santa Cruz estava feito, no que respeita à marcenaria, em março de 1522 porque o vedor das obras, Gregório Lourenço, escreveu nesse ano a D. João III a informar sobre o que havia sido ordenado por D. Manuel I e o que estava realizado e o que faltava realizar. Mais informava que a pintura havia sido cometida a Cristóvão de Figueiredo, e que este ainda nada fizera porque o Mosteiro não tinha verba para lhe pagar. As pinturas só devem ter sido realizadas em 1530, época em que Cristóvão de Figueiredo esteve em Coimbra. Já a escultura do Retábulo foi indubitavelmente realizada por João Alemão no período de 1518 a 1522.[9]:12
O Retábulo quinhentista de Santa Cruz teve grande fama em tempos antigos sendo objecto de vários registos escritos podendo saber-se as vicissitudes porque passou desde a sua execução.[9]:5 Tal como em Coimbra, nesta época do início do séc. XVI, faziam-se em Portugal retábulos que incluíam escultura, marcenaria e pintura, designadamente em Évora, Abrantes, Funchal e noutros lugares.
A mais antiga referência ao conjunto escultórico do Retábulo foi de Manuel de Faria e Sousa (1590-1649) no seu livro Europa Portuguesa, referindo a imagem que se situava nas imediações de Coimbra. A referência seguinte é de Frei Agostinho de Santa Maria na obra Santuário Mariano de 1705 em que diz que a escultura de Antuzede fora venerada primeiro no Convento de Santa Cruz. Uma informação mais recente sobre a escultura é a de Henriques Seco, natural de Antuzede, na sua Memória Histórica e Corográfica do Distrito de Coimbra, editado em 1853.[9]:5:6
Sobre o Convento Crúzio de Coimbra a mais antiga informação é de Frei Veríssimo, Descrição e Debuxo do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, escrita em 1540 ou 1541, portanto numa época em que o Político quinhentista estaria no seu local original, mas centrando-se mais na parte escultórica e nos túmulos dos dois primeiros reis portugueses.[9]:6
Depois, antes de 1589, Frei Jerónimo Ramón ao descrever o Mosteiro refere-se ao altar-mor descrevendo o conjunto que muito se parece com o grupo de Antuzede segundo Pedro Dias.[9]:8
A substituição do Retábulo quinhentista pelo novo Retábulo maneirista que incluía pinturas de Simão Rodrigues e de Domingos Vieira Serrão foi descrita por Nogueira Gonçalves no artigo O altar-mor do Séc. XVII de Santa Cruz e os seus prováveis restos, de 1935, no Correio de Coimbra, apontando que a substituição deve ter ocorrido entre 1599 e 1602, devendo ter sido então que o grupo escultórico foi levado para Antuzede.[9]:8:9
As obras de pintura do Políptico quinhentista ficaram neste Mosteiro tendo sido colocadas em diversas dependências, duas das quais, o Ecce Homo e o Calvário, bem como dois Bustos duplos de Apóstolos ainda encontram-se na Sacristia. O conjunto devia ter mais de quatro metros e meio de largura e de altura devia passar dos cinco metros ao centro e cinco metros nas laterais.[9]:9:10
No início do século XVII, quando foi substituído pelo novo Retábulo maneirista, o Políptico renascentista de Cristóvão de Figueiredo, e o Retábulo de que fazia parte na capela-mor da Igreja de Santa Cruz, foi desmembrado tendo as suas componentes sido dispersas por várias instituições.[3]
Pedro Dias, em artigo de 1983, defendeu que o conjunto escultórico existente na Capela da Nossa Senhora da Piedade de Antuzede seria o elemento central do Retábulo quinhentista atrás do qual estaria o Políptico, tendo apresentado uma conjectura de reconstituição do Políptico. Os cinco painéis do Políptico quinhentista estariam dispostos em duas fiadas de dois painéis cada, com um espaço entre eles para enquadrar o grupo escultório, estando o Achamento da Cruz e a Exaltação da Cruz na fila inferior, o Ecce Homo e a Deposição no Túmulo na fileira intermédia e no topo ficaria isolado o Calvário, não se referindo assim ao Milagre da Ressureição do Mancebo que outros autores incluem no Políptico. Como predela estariam finalmente as pinturas ovais de duplos bustos de Apóstolos.[9]
Em 1986, Markl e Pereira afirmavam que todas as propostas de reconstituição feitas até à data não eram convincentes.[2]:129
Entretanto, em 2001, Fernando Baptista Pereira sugere a definição do Políptico, tendo destacado à sua frente o conjunto escultórico, em duas fiadas de painéis, sendo a superior constituída pelas pinturas que tratam a Paixão de Cristo com as pinturas Ecce Homo, Calvário e Deposição no Túmulo, e na fiada de baixo as três pinturas relativas à história da Vera Cruz enquanto relíquia, ou seja, Achamento da Cruz por Santa Helena, Milagre da Ressureição do Mancebo e Exaltação da Cruz. Em predela as seis pinturas ovais com duplos Bustos de Apóstolos.[16]
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