Estado imparcial em relação às questões religiosas, sem religião oficial Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Um Estado secular ou Estado laico é um conceito do secularismo onde o poder do Estado é oficialmente imparcial em relação às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião. Entretanto, o Estado laico não é considerado ateu ou agnóstico, tal como o Estado laico aceita a crença em um deus, apesar de também respeitar o direito à descrença religiosa.[1] Um estado secular também procura tratar todos os seus cidadãos de maneira igual, independentemente da religião, e alega evitar o tratamento preferencial para um cidadão de uma religião/não-religião em relação a outras religiões/não-religiões.
Os Estados seculares não têm uma religião de Estado ou equivalente, embora a ausência de uma religião de Estado estabelecida não signifique necessariamente que um estado seja totalmente secular ou igualitário em todos os aspectos. Por exemplo, muitos Estados que se descrevem como seculares têm referências religiosas em seus hinos e bandeiras nacionais ou leis que beneficiam uma religião ou outra.
Um Estado secular trata todos seus cidadãos igualmente, independentemente de sua escolha religiosa, e não deve dar preferência a indivíduos de certa religião. O Estado teocrático ou teocracia é o contrário de um estado secular, ou seja, é um estado onde há uma única religião oficial, como é o caso do Vaticano (Igreja Católica) e do Irã (República Islâmica).
O Estado secular deve garantir e proteger a liberdade religiosa e filosófica de cada cidadão, evitando que alguma religião exerça controle ou interfira em questões políticas. No que difere-se do estado ateu - como era, de facto, a extinta União Soviética - se demonstra no fato de que este último se opõe a qualquer prática de natureza religiosa ou a aceitação de deus, deuses ou divindades de qualquer natureza. Entretanto, apesar de não ser um Estado ateu, o Estado Laico deve respeitar também o direito à descrença religiosa. Nem todos os Estados que garantem liberdade religiosa são completamente seculares na prática. Em Portugal, por exemplo, alguns feriados católicos - o mais notável sendo o de Nossa Senhora da Conceição, a padroeira do país - são oficiais para os funcionários públicos. Existe ainda a Concordata de 2004 que beneficia e atribui à Igreja Católica, em várias dimensões da vida social, um estatuto preferencial.
Um país laico é aquele que segue o caminho do laicismo, uma doutrina que defende que a religião não deve ter influência nos assuntos do Estado. O laicismo foi responsável pela separação entre a Igreja e o Estado e ganhou força com a Revolução Francesa.[2] Alguns países, como é o caso do Reino Unido, são considerados seculares quando na verdade o termo não pode ser aplicado completamente de fato. No caso do Reino Unido, quando uma pessoa assume o cargo de chefe de estado, é necessário que jure fidelidade à fé anglicana. O cargo de chefe de estado e da igreja oficial pertencem à mesma pessoa - o Rei Charles III Da Inglaterra. O estado também garante que vinte e seis membros do clero da Igreja da Inglaterra sejam membros da câmara alta do parlamento. Por estes e outros motivos o Reino Unido não pode ser considerado um estado secular.
No Brasil especificamente, "o país não nega a existência de Deus, ou deuses e divindades de um modo amplo tal como a própria Constituição Federal se apresenta como elaborada "sob a proteção de Deus".[3] Em 11 de abril de 2012, o ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Marco Aurélio Mello, reiterou em sessão da corte: "Os dogmas de fé não podem determinar o conteúdo dos atos estatais”, em uma referência à campanha de religiosos pela manutenção da criminalização do aborto de fetos anencéfalos. Afirmou ainda que as concepções morais religiosas — unânimes, majoritárias ou minoritárias — não podem guiar as decisões de Estado, devendo, portanto, se limitar às esferas privadas.[4]
Os estados seculares tornam-se seculares, seja na criação do estado (por exemplo, nos Estados Unidos), seja na secularização do estado (por exemplo, na França ou no Nepal). Os movimentos pela laicidade na França e para a separação de igreja e Estado nos Estados Unidos definiram conceitos modernos de secularismo. Historicamente, o processo de secularizar estados tipicamente envolve conceder liberdade religiosa, desestabilizar religiões de estado, impedir que fundos públicos sejam usados para uma religião, evitar decisões legais com base na religião, liberar o sistema educacional, tolerar cidadãos que mudam de religião ou se abstenham de ter uma religião, e permitir que a liderança política chegue ao poder independentemente de suas crenças religiosas.[5]
Na França, Itália e Espanha, por exemplo, feriados oficiais para a administração pública tendem a ser dias de festa cristã. Alguns têm raízes pagãs que datam de antes da cristianização: o Dia de Todos os Santos, por exemplo, tem origem no Dia das Bruxas (Halloween), uma festa originalmente pagã.[carece de fontes] Em alguns estados europeus onde o secularismo confronta a filantropia monoculturalista, algumas das principais denominações cristãs e correntes de pensamento de outras religiões dependem do Estado para alguns dos recursos financeiros para suas instituições de caridade religiosas.[6] É comum no direito societário e no direito de caridade proibir a religião organizada de usar esses fundos para organizar o culto religioso num local de culto separado ou para a conversão; o próprio corpo religioso deve fornecer o conteúdo religioso, o clero educado e os leigos para exercer suas próprias funções e pode optar por dedicar parte de seu tempo às instituições de caridade separadas. Para esse efeito, algumas dessas instituições de caridade estabelecem organizações seculares que administram parte ou todas as doações das religiões principais.[carece de fontes]
Muitos estados que hoje são seculares na prática podem ter vestígios legais de uma religião estabelecida anteriormente. O secularismo também tem vários vestígios que podem coincidir com algum grau de religiosidade oficial. No Reino Unido, por exemplo, o(a) monarca britânico(a) ainda é obrigado(a) a fazer o Juramento de Coroação promulgado em 1688, que diz que o chefe de Estado jura manter a religião Protestante Reformada e preservar a Igreja da Inglaterra estabelecida.[7] O Reino Unido também mantém assentos reservados na Câmara dos Lordes para 26 clérigos seniores da Igreja da Inglaterra, chamados de Lordes Espirituais.[8] A Itália é um estado secular desde 1985, mas ainda reconhece um status especial para a Igreja Católica Romana.[carece de fontes] A progressão reversa também pode ocorrer, no entanto; um estado pode ir de um estado secular para um estado religioso, como no caso do Irã, onde o estado secularizado da dinastia Pahlavi foi substituído por uma República Islâmica em 1979. Não obstante, os últimos 250 anos viram uma tendência ao secularismo.[9][10][11]
Uma lista incompleta de Estados oficialmente seculares em 2007.
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