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Plano-sequência

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Plano-sequência, em cinema e audiovisual, é um plano que registra a ação de uma sequência inteira, sem cortes.

Conceito

Segundo o teórico Jacques Aumont,[1] o que caracteriza o plano-sequência não é apenas a sua duração, mas o fato de ele ser articulado para representar o equivalente de uma sequência. Conviria, portanto, distingui-lo do plano longo "onde nenhuma sucessão de acontecimentos é representada", tais como planos fixos de duração acima da média envolvendo diálogos ou simples localizações de personagens e cenários.

Mas o próprio Aumont adverte que esta distinção é difícil e que por isso, muitas vezes, o conceito de plano-sequência é confundido com o de plano longo.

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Histórico

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Se fosse considerada apenas a duração, seria forçoso concluir que os primeiros filmes dos irmãos Lumière, já em 1895, eram formados por planos-sequência, uma vez que eram filmes inteiros rodados num único plano de 40 a 45 segundos de duração. Mas seria uma conclusão imprecisa, pois o próprio conceito de plano ainda não tinha sido formulado.

Muitos historiadores consideram que o filme "Aurora", de Murnau (1927) conteria um dos primeiros verdadeiros planos-sequência filmados, no trecho em que o Homem (George O'Brien) corre em direção à Mulher da Cidade (Margaret Livingston), acompanhado pela câmara em movimento de travelling.

Já em "Ninotchka" (1939), de Ernst Lubitsch, há um longo plano em que o Conde d'Algout (Melvyn Douglas) tenta fazer rir a agente soviética representada por Greta Garbo, contando-lhe piadas das quais ela não acha graça, mas que termina com o conde caindo da cadeira e, finalmente, provocando na moça uma gargalhada.

Em 1948, Hitchcock tentou fazer o longa-metragem "Festim diabólico" rodado num único plano-sequência. Como os maiores rolos de película fabricados eram (e continuam sendo) de 1000 pés (aproximadamente 11 minutos), o filme acabou sendo rodado em 12 planos, com durações entre 4 e 10 minutos cada, e com cortes "invisíveis" entre eles, dando a impressão de um único plano.[2]

Roberto Rossellini no cinema italiano, Kenji Mizoguchi no japonês e Mikhaïl Kalatozov no soviético são exemplos de cineastas que utilizaram o plano-sequência em seus filmes rodados entre as décadas de 1950 e 1960.

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Discussão estética

Mas foi principalmente a partir dos longos e elaborados planos filmados por Orson Welles e seu fotógrafo Gregg Toland em "Cidadão Kane" (1941) que se desenvolveu a teoria do plano-sequência. O teórico André Bazin, em vários artigos escritos para a revista Cahiers du Cinéma a partir de 1951, defendeu a ideia de que o plano-sequência e a profundidade de campo seriam os grandes instrumentos do realismo cinematográfico, evitando a fragmentação do real que ocorreria através da montagem e respeitando a realidade e a liberdade do espectador.

Apesar da importância histórica da reflexão de Bazin (reunida em "O que é o cinema", obra em 4 volumes publicada a partir de sua morte, em 1958), vários autores posteriores chamaram atenção para o fato de que esta concepção de realismo cinematográfico (do plano-sequência e da profundidade de campo) era apenas uma entre outras possibilidades. Jean-Louis Comolli afirmou inclusive que o plano-sequência não é tão "realista" quanto se chegou a acreditar, já que o seu valor depende das normas estéticas em vigor.[3]

No cinema atual

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O plano-sequência continua sendo usado no cinema contemporâneo, mas normalmente sem a defesa ideológica que costumava acompanhá-lo nos anos 1960. Cineastas como Brian De Palma, Stanley Kubrick, Alfonso Cuarón, Martin Scorsese, Paul Thomas Anderson, etc, souberam utilizar planos-sequências em momentos-chave de seus filmes, provocando no espectador a sensação de uma mudança na relação entre o tempo do filme e o tempo da história que ele conta, que normalmente é estabelecida pela decupagem e pela montagem. Já diretores como Theo Angelopoulos, Jim Jarmusch e Andrei Tarkovski tornaram-se conhecidos por rodarem filmes inteiros estruturados em um pequeno número de longos planos-sequência.

Assim que a tecnologia digital superou a limitação dos rolos de 11 minutos, experiências mais radicais puderam ser tentadas: em 2002, Alexander Sokurov rodou "A Arca russa" em um único plano-sequência de 96 minutos; antes ainda, em 2000, Mike Figgis realizou "Timecode" em 4 planos-sequência de 97 minutos cada, rodados ao mesmo tempo com quatro câmaras digitais e, no filme, exibidos simultaneamente numa tela dividida em quatro.

No Brasil, em 2008, Gustavo Spolidoro dirigiu "Ainda orangotangos", rodado em um único plano-sequência de 81 minutos.

Em 2014, Birdman foi gravado em planos-sequências. Ganhou o Oscar de Melhor Filme.

Na televisão o plano-sequência também apareceu em 2016 no nono episódio da 6ª temporada da aclamada série Game of Thrones no episódio intitulado "Battle of the Bastards", um espetacular plano-sequência de quase 30 minutos.

Outra série televisiva que se destaca por utilizar plano-sequência nos episódios, cada um com aproximadamente 1 hora de duração, é Adolescência, lançada em 2025.

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Exemplos

Planos-sequência "reais"

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Planos-sequência editados

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Obras com plano-sequência que não são filmes

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Referências

  1. "Dicionário teórico e crítico de cinema", de Jacques Aumont e Michel Marie, Papirus Editora, 2003, pp. 231-232
  2. "Hitchcock-Truffaut, entrevistas", editora Brasiliense, 1983, pp. 107-111
  3. "Ver e poder, a inocência perdida", de Jean-Louis Comolli, Editora da UFMG, 2008
  4. «Bela Tarr: Macbeth (1982)». Can't Stop the Movies. 3 de agosto de 2010. Consultado em 27 de março de 2016
  5. Smith, Clay (19 de março de 1999). «Reflections». The Austin Chronicle. Austin. Consultado em 13 de outubro de 2019
  6. Williams, Richard (11 de agosto de 2000). «Once upon a Time Code». The Guardian. London. Consultado em 3 de junho de 2013
  7. Ward, Caleb (22 de abril de 2014). «Behind the Scenes of the 96 Minute Shot, The Russian Ark». The Beat. PremiumBeat. Consultado em 27 de setembro de 2015
  8. Beale, Lewis (15 de julho de 2008). «A movie shot in real time recalls Colombian nightmare». NY Daily News. Consultado em 21 de abril de 2018
  9. Lowe, Justin (12 de novembro de 2008). «Still Orangutans». The Hollywood Reporter. AP. Consultado em 21 de abril de 2018
  10. Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «A Cova». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 23 de fevereiro de 2022
  11. Sorabjee, Deepika (6 de julho de 2014). «Circling Time». ArtSlant. Consultado em 7 de outubro de 2015
  12. Simon, Alissa (17 de setembro de 2013). «Venice Film Review: 'Fish & Cat'». Variety. Consultado em 21 de abril de 2018
  13. Dalton, Stephen (10 de julho de 2013). «The Sad Smell of Flesh (El Triste Olor de la Carne): Karlovy Vary Review». The Hollywood Reporter. Consultado em 12 de janeiro de 2016
  14. Lyttelton, Oliver (9 de setembro de 2013). «Venice Review: Amos Gitai's Shot-In-One-Take 'Ana Arabia'». IndieWire. Consultado em 27 de novembro de 2015
  15. Jeshi, K. (2 de janeiro de 2014). «A record start». The Hindu. Consultado em 20 de outubro de 2015 JESHI, K. (2 de janeiro de 2014). «A record start». The Hindu
  16. Kohn, Eric (16 de fevereiro de 2015). «Adopt Films Picks Up One-Shot Heist Thriller 'Victoria'». IndieWire. Consultado em 27 de setembro de 2015
  17. «Shadow Behind the Moon». Five Flavours Film Festival. Consultado em 29 de março de 2017
  18. «Duniya Vijay's 'Daksha' with S.Narayan». Sify Movies. 7 de abril de 2014. Consultado em 21 de fevereiro de 2017
  19. Barry, Kristina (28 de março de 2014). «One shot wonders - how feature film Eight was made». The Creative Issue. Consultado em 21 de abril de 2018
  20. Kelly, Brendan (11 de julho de 2016). «Podz's King Dave: One-shot film premières at Fantasia». The Montreal Gazette. Consultado em 10 de junho de 2017
  21. Chitwood, Adam (16 de maio de 2017). «'The Wedding Party' Trailer Reveals Romantic Comedy Shot Entirely in One Take». Collider. Consultado em 21 de abril de 2018
  22. Shukla, Richa (2 de janeiro de 2017). «Haroon Rashid's film in Guinness World Records». The Times of India. Consultado em 2 de fevereiro de 2017
  23. Buder, Emily (24 de janeiro de 2018). «How a Sundance Film Pulled Off a 90-Minute Single Take». No Film School. Consultado em 24 de janeiro de 2018
  24. Connolly, Kate (19 de fevereiro de 2018). «Utøya massacre re-enactment stuns Berlin audiences». The Guardian. Consultado em 20 de fevereiro de 2018
  25. Lodge, Guy (3 de outubro de 2018). «Film Review: 'Blind Spot'». Variety. Consultado em 26 de fevereiro de 2019
  26. Brachmann, Jan (5 de agosto de 2018). «Luzern hören und sterben». Frankfurter Allgemeine. Consultado em 26 de fevereiro de 2020
  27. comparação entre as versões suíça e alemã: https://www.youtube.com/watch?v=jRcsqnJeQZw
  28. Ortmann, Joana (20 de fevereiro de 2020). «Das ist das One-Shot-Experiment von fünf HFF-Absolventen». Bayerischer Rundfunk. Consultado em 26 de fevereiro de 2020
  29. Evangelista, Chris (23 de outubro de 2018). «Here's How 'The Haunting of Hill House' Episode 6 Was Made». /Film
  30. Tony Hinchcliffe: One Shot, consultado em 18 de dezembro de 2019
  31. Bratt, Chris (21 de junho de 2017). «God of War director explains why entire game has no camera cuts». Eurogamer.net (em inglês). Consultado em 13 de abril de 2018
  32. Martins, Luiza (3 de novembro de 2018). «Review: God of War Ragnarok equilibra enredo emocional e gameplay precisa». Techtudo. Consultado em 18 de novembro de 2018
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