Os Páramos podem ser designados como uma ecorregião neotropical de altitude caracterizado por uma vegetação herbácea e arbustiva. Estão distribuídos ao longo dos Andes úmidos entre o Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, com extensões até a Costa Rica e Panamá.[1] Esse ecossistema concentra um grande número de endemismos de flora e fauna, por isso são considerados “hotspots de biodiversidade dentro de hotspots”, já que estão localizados dentro do grande hotspot dos Andes tropicais.[2] A heterogeneidade dos páramos é um reflexo da influência de diversos processos abióticos (geologia, altitude, solos, clima), bióticos (biogeografia) e antrópicos (impacto humano).[1]

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Páramo na Colômbia, Boyacá.

Etimologia e Conceito Geral

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População local dos Páramos peruanos.

A palavra “Páramo” tem sua origem do latim, que significa planalto desértico e árido exposto ao vento.[1] O Páramo pode ter significados diferentes a depender da perspectiva pessoal: para um camponês que vive nas altas montanhas, o Páramo não é um ecossistema definido por características ecológicas e geográficas, mas um território que permite sua subsistência, no qual ele exerce todas as suas atividades produtivas e reprodutivas. Nesse contexto, o Páramo é um termo complexo, referente a diferentes abordagens históricas, acadêmicas, políticas e culturais.[1]

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Mapa das placas que convergiram formando os Andes da América do Norte e Central, onde se situam os Páramos.

Localização

Os Páramos ocorrem em topos de montanhas isolados a altitudes aproximadas entre 2.800 e 4.700 m acima do nível do mar, formando uma distribuição semelhante a um arquipélago entre as latitudes de 11ºN e 8ºS, correspondendo a cerca de 35.000 km².[2] A sua localização exata pode variar, o que dificulta saber onde começa e termina um Páramo em determinado local, mas, de forma geral, sempre estão localizados entre o limite da floresta fechada e as neves perpétuas.[1]

Origem Geológica

A origem dos Páramos remonta ao período do surguimento dos Andes, há 40 milhões de anos. Mas somente no Plioceno, há 5 e 2,5 milhões de anos, as cordilheiras dos Andes se elevaram à sua altitude atual, abrangendo áreas relativamente extensas de vegetação aberta acima do limite latitudinal da floresta. Portanto, foi no período do Plioceno que os Páramos se estabeleceram.[3]

Flora

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Espeletia uribei, espécie que ocorre nos Páramos.

Compilando dados de vários pesquisadores, ao todo, os páramos contam com aproximadamente 4.700 espécies, 644 gêneros e 124 famílias.[1]

As famílias mais ricas (números aproximados) são:

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Diplostephium phylicoides, espécie que ocorre nos Páramos.

Os gêneros com maior número de espécies (números aproximados) são:

A grande biodiversidade da flora dos Páramos remonta das condições geológicas que deram origem a esses ecossistemas. A diversidade de condições ecológicas locais, como clima, geomorfologia, altitude, solo, entre outros, resultou em um grande número de diferentes associações vegetais (diversidade beta).[2] Além da diversificação constante, a densidade de espécies que ocorrem nesses locais é muito alta em comparação com outros Hotspots e contêm espécies que não ocorrem em nenhum outro lugar.[1]

Fauna

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Vultur gryphus, ave dos Páramos.
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Tremarctos ornatus, urso-de-óculos que ocorre nos Páramos. Única espécie que ocorre na América do Sul e em categoria de ameaça VU.

Há um menor número de estudos sobre a fauna do Páramo do que sobre a flora, pelo motivo da flora ter um alto grau de endemismo. Em relação à composição da fauna, há uma grande semelhança com a fauna existente na Província Altoandina. As quatro espécies mais emblemáticas de todo o continente que ocorrem nos Páramos são: o condor (Vultur gryphus), o urso de óculos (Tremarctos ornatus), a anta de montanha (Tapirus pinchaque) e a onça-parda (Puma concolor).[1]

Nos Páramos colombianos foram registradas 70 espécies de mamíferos, 11 de lagartos, 4 de serpentes, 87 de anfíbios, 154 de aves e 130 espécies de borboletas.[4]

No Páramos peruanos existem registros da anta da montanha (Tapirus pinchaque), o veado-anão (Pudu mephistophelis) o puma (Puma concolor) e o urso-andino (Tremarctos ornatus). Entre as aves importantes estão o beija-flor de bico espinhoso (Chalcostigma herrani), o reizinho de crista preta (Basileuterus nigrocridtatus), a gralha de colar branco (Cyanolyca viridicyanus), o quetzal de cabeça rosa (Pharomacrus auriceps), o piolhinho de bico preto (Anairetes pairulus), o tico-tico de peito amarelo (Atlapetes latinuchus), Myarchus phaeocephalus, Geranoaetus melanoleucus, Chordeiles acutipennis, Adelomya melanogenys, Turdus chihuanco, Atlapetes leucopterus.[1]

Nos Páramos equatorianos existem 5 espécies de répteis e 24 de anfíbios. Muitas espécies de anfíbios se extinguiram rapidamente nas montanhas tropicais, como o caso dos jambatos (Atelopus ignescens), que habitavam os páramos em grande quantidade e que agora desapareceram.[5]

A Similaridade dos Páramos Andinos com os Campos de Altitude do Brasil

Os Campos de altitude, localizados acima de 2.000 m de altitude na Mata Atlântica do sudeste no Brasil, são formações dominadas por gramíneas e arbustos. Há uma forte semelhança ecológica desses Campos de altitude com os Páramos dominados por bambu na Costa Rica e na Colômbia.[6]

Apesar de haver uma grande distância entre os Campos de altitude e os Páramos, os Campos de altitude suportam muitas plantas e animais de origem andina ou da zona temperada, sendo vestígios do fluxo ambiental e migração biológica da história biogeográfica compartilhada.[6]

Referências

  1. Madriñán, Santiago; Cortés, Andrés J.; Richardson, James E. (9 de outubro de 2013). «Páramo is the world's fastest evolving and coolest biodiversity hotspot». Frontiers in Genetics (em inglês). ISSN 1664-8021. doi:10.3389/fgene.2013.00192. Consultado em 30 de agosto de 2024
  2. Morales-Betancourt, Juan Alejandro; Estévez-Varón, Jaime Vicente (2006). «El Páramo: ¿Ecosistema En Vía De Extinción?». Revista Luna Azul (22): 39–51. ISSN 1909-2474. Consultado em 30 de agosto de 2024
  3. Vásconez, P.; Medina, G.; Hofstede, R. (2001). «Los páramos del Ecuador: particularidades, problemas y perspectivas». Consultado em 30 de agosto de 2024
  4. DeForest Safford, Hugh (outubro de 2007). «Brazilian Páramos IV. Phytogeography of the campos de altitude». Journal of Biogeography (em inglês) (10): 1701–1722. ISSN 0305-0270. doi:10.1111/j.1365-2699.2007.01732.x. Consultado em 30 de agosto de 2024

Bibliografia

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