Necrópole do Pardieiro
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A Necrópole do Pardieiro é um sítio arqueológico na freguesia de São Martinho das Amoreiras, no Município de Odemira, na região do Alentejo, em Portugal. Corresponde a uma necrópole da Idade do Ferro, sendo considerada como um dos mais importantes sítios deste tipo em território nacional.[1]
Necrópole do Pardieiro | |
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Uma das três estelas encontradas no local, com escrita do sudoeste. | |
Informações gerais | |
Tipo | sítio arqueológico, necrópole |
Construção | Idade do Ferro |
Inauguração | 6 de Maio de 2008 (abertura ao público) |
Geografia | |
País | Portugal |
Localização | São Martinho das Amoreiras, Odemira |
Região | Alentejo |
Coordenadas | 37° 36′ 03,4″ N, 8° 21′ 22″ O |
Localização em mapa dinâmico |
O sítio arqueológico situa-se numa pequena elevação,[1] que faz parte da Serra da Vigia, na freguesia de São Martinho das Amoreiras, nas imediações da cadeia montanhosa de Monchique.[2] Localiza-se na antiga propriedade de Monte do Pardieiro, a cerca de três quilómetros de distância de Corte Malhão,[3] junto à estrada que liga aquela povoação a São Martinho das Amoreiras.[4] Consiste numa necrópole, formada por treze estruturas funerárias,[3] das quais onze foram elaboradas em pedra seca, com planta de forma sub-rectangular, todos justapostos.[4] As outras duas sepulturas ocupam uma posição periférica, e quando foram escavadas encontravam-se por debaixo de uma árvore.[3] Os onze monumentos centrais cobriam sepulturas em fossa, abertas nos xistos da rocha base,[4] e estavam envolvidas em molduras de planta rectangular, em alvenaria de xisto.[5] Estavam cobertas por lajes de grandes dimensões, das quais algumas eram aparelhadas e tinham elementos decorativos.[4] Em termos de organização, estavam todos adossados a uma sepultura central, de maiores dimensões, com cerca de 1,4 por 0,8 m, tendo sido escavadas de forma a alinharem com os pontos cardeais.[5]
É considerada como uma das mais importantes necrópoles da primeira Idade do Ferro, devido às suas boas condições de conservação, à sua arquitectura e ao rico espólio que foi encontrdo nas suas sepulturas.[1] Com efeito, o arqueólogo Jorge Vilhena afirmou que o monumento permite «um estudo excepcional da sociedade que a utilizou há 2500 anos» além de possibilitar uma datação mais precisa da «escrita do Sudoeste».[1] Explicou que em três túmulos as lajes sobre as sepulturas «estavam epigrafadas com Escrita do Sudoeste», e em duas estão retratadas pegadas humanas, o que podia indicar que o sítio arqueológico poderia ter sido uma «necrópole de reis».[1] Estes desenhos de pés também foram encontrados em várias necrópoles na região do Alentejo, embora integradas na Idade do Bronze, tendo sido explicados por Jorge Vilhena como «uma alusão à caminhada para a morte», recordando que tanto em território nacional como no estrangeiro, as marcas deste tipo geralmente ficaram ligadas a lendas populares, como a «passagem de santos que fugiam dos romanos ou dos mouros».[1] Acrescentou igualmente que na Irlanda este tipo de gravuras poderiam ter sido feitas para «os antigos reis colocarem os pés quando eram aclamados».[1]
Entre o espólio recolhido no local destaca-se a presença de grãos de cevada tostada, que poderão indicar que o cereal foi alvo de um processo para a sua conservação, ou para a produção de malte, que iria ser utilizado no fabrico de um tipo de cerveja primitiva, conhecida como cervoise.[2] Também foram encontradas três lápides em pedra, gravadas com escrita da primeira Idade do Ferro do Sudoeste Peninsular, que poderá ser o sistema de escrita mais antigo na Europa Ocidental.[6] Foram igualmente recolhidas duas estelas ornamentadas com gravuras em forma de pé, denominadas de podomorfo (es).[3] No interior das sepulturas encontravam-se várias oferendas votivas de contexto funerário, incluindo colares de contas em âmbar, pasta vítrea,[3] ouro, prata, e vidro negro,[1] pingentes em cornalina, peças em cerâmica, e algumas armas em ferro, como facas e pontas e contos de lança.[3]
Segundo o arqueólogo Jorge Vilhena, a necrópole começou a ser utilizada «provavelmente no final do século VII a.C. ou inícios do VI a.C, durante a 1.ª Idade do Ferro»,[1] há cerca de 2500 anos atrás.[2] Primeiro terá sido construído um grande túmulo de planta rectangular, cuja altura original era de cerca de meio metro de alçado, que cobria uma grande fossa aberta na rocha, e que tinha mais de meio metro de profundidade.[1] Jorge Vilhena explicou que esta fossa foi encontrada vazia, «provavelmente devido a um antigo saque».[1] Com efeito, ao longo da sua história a necrópole foi por diversas vezes assaltada, tendo apesar disto mantido ainda um rico conjunto de espólio.[1]
O sítio arqueológico foi identificado em 1971, no âmbito de investigações feitas após a descoberta de uma estela epigrafada com Escrita do Sudoeste,[4] perto do local onde se encontrou depois a necrópole.[3] A peça foi encontrada por uma charrua durante trabalhos agrícolas, tendo sido depois preservada na Associação Cultural de Garvão, em Ourique.[1] Só cerca de duas décadas depois é que foi identificada a epigrafia escrita na lápide, pelos arqueólogos Caetano Beirão e Varela Gomes.[1] O arqueólogo Virgílio Hipólito Correia explicou que «na altura da identificação, os arqueólogos verificaram que a lápide tinha sido achada a meia dúzia de metros do local original. Ficou claro que a necrópole à qual pertencia localizava-se nas imediações».[3] A lápide é de especial interesse por ter inscrito um signo «muito pouco conhecido» no contexto da Escrita do Sudoeste, pelo que levantou várias questões sobre a inscrição na epigrafia e a idade da peça, e por conseguinte, de todo o sistema da escrita.[3] Esta foi criada pelos povos tartessos, que era o nome que foi atribuído pelos antigos gregos a esta civilização, e que habitava as regiões da Andaluzia, em Espanha, e do Baixo Alentejo e Algarve, em Portugal.[3] Esta escrita foi desenvolvida cerca de meio milénio antes do nascimento de Cristo, durante a fase da primeira Idade do Ferro, mas entrou em decadência a partir do século V a.C..[3] Sofreu a influência das culturas fenícia e egípcia, sendo considerada uma linguagem complexa, e muito diferente das utilizadas pelas outras civilizações na Península Ibérica.[3] Esta estela foi depois preservada no Museu da Escrita do Sudoeste, na vila de Almodôvar.[4]
De forma a «esclarecer as dúvidas» e «conhecer com mais exactidão e pormenor o contexto arqueológico da lápide», o local foi alvo de pesquisas entre 1989 e 1990, pelos arqueólogos Caetano de Mello Beirão e Virgílio Hipólito Correia, tendo nesta fase sido descobertas dez sepulturas em forma de monumento, além de outras duas lápides com Escrita do Sudoeste.[3] Depois o sítio foi alvo de várias intervenções por parte da Câmara Municipal de Odemira, tendo em 2001 sido realizados trabalhos de restauro e conservação dos túmulos, que incluíram a remoção de arbustos, a consolidação das estruturas antigas, e o preenchimento das covas com um material apropriado.[1] Em 2007[3] e 2008[6] foram feitas obras de valorização, que incluíram a vedação do sítio arqueológico, abertura de acessos pedonais, e a instalação de sinalização e de painéis informativos.[3] As intervenções de restauro e valorização também foram feitas pela autarquia de Odemira, e coordenadas pelo arqueológico Jorge Vilhena.[1] O sítio voltou a ser alvo de trabalhos arqueológicos na campanha de 2008 a 2009.[6] Entretanto foram encontradas outras três sepulturas, incluindo duas situadas de forma periférica, que não foram alvo de escavações por se situarem debaixo de um sobreiro, enquanto que a última sepultura foi descoberta durante as obras de vedação, em 2007.[3] O monumento foi aberto ao público em 6 de Maio de 2008, num evento que incluiu igualmente uma palestra de Virgílio Hipólito Correia sobre a Necrópole e o estudo da Escrita do Sudoeste, na Biblioteca Municipal de Odemira.[3]
Em Maio de 2017, o Grupo de Estudos do Território de Odemira organizou, em cooperação com a autarquia, o programa Pardieiro – Pão, Vinho ou Cerveja. A poção de Meletzos e a libação dos pretores, durante o qual se visitou o monumento do Pardieiro. A visita foi coordenada pelo arqueólogo Jorge Vilhena, e juntou a vertente arqueológica e histórica à cultura da região, do ponto de vista da antropologia e da gastronomia.[7]
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