Participaram oito equipes, sendo duas da América do Sul, duas da Europa, uma da América do Norte, uma da África, uma da Ásia e uma da Oceania.[nota 1] A primeira partida do Mundial de Clubes aconteceu no Estádio do Morumbi, e foi vencida pelo clube espanhol Real Madrid. Nicolas Anelka, da equipe madrilenha, marcou a primeiro gol da história do Mundial de Clubes da FIFA, enquanto o goleiro do Corinthians, Dida, garantiu o primeiro baliza a zero do torneio.
A final do Mundial, entre Corinthians e Vasco da Gama, reuniu um público de 73 000 espectadores no Estádio do Maracanã. Após um empate de 0–0 em 120 minutos (tempo regulamentar e prorrogação), o título foi decidido por disputa de pênaltis, tendo o visitante paulista ganhado por 4–3.[2][3]
De acordo com a FIFA, o Mundial custou em torno de US$ 50 milhões.[4] Os direitos de transmissão foram vendidos por US$ 40 milhões, enquanto outras sete empresas compraram por "valor expressivo" direito à publicidade estática nos estádios.[4] Ao todo, a competição distribuiu US$ 28 milhões em prêmios em dinheiro, sendo que US$ 2,5 milhões pela participação de cada clube.[4]
De acordo com Sepp Blatter, a primeira ideia de um Mundial de Clubes organizado pela FIFA foi apresentada ao Comitê Executivo da entidade, em dezembro de 1993, em Las Vegas, como uma necessidade de realizar um torneio mais representativo que a então Copa Intercontinental, que reunia anualmente os campeões da Europa e da América do Sul, sem a presença dos demais campeões continentais.[5][6] Como quase todas as confederações tinham, àquela altura, um campeonato continental estável (a única exceção era a OFC), a FIFA considerou relevante criar uma competição mundial própria, e a decisão básica de organizar tal competição foi tomada pelo Comitê Executivo da FIFA em 1996.[5] Por questões relacionadas a encontrar datas no calendário internacional, algo suscetível a críticas principalmente na Europa, o projeto foi concretizado somente em 1999, quando a FIFA decidiu finalmente o formato da competição, que teria a edição inaugural disputada por oito equipes.[7][8]
Sede
Em 8 de junho de 1999, na cidade do Cairo, a FIFA anunciou oficialmente o Brasil como país anfitrião do seu primeiro mundial de clubes.[8] A candidatura brasileira foi escolhida por unanimidade pelo comitê formado por seis vice-presidentes da entidade,[8] superando as pretensões de Arábia Saudita, México e Uruguai de sediar o torneio inaugural.[7] Naquele mesmo encontro foram definidas que todas as partidas seriam disputadas no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, ou no Estádio do Morumbi, em São Paulo.[8]
Estádios
Principal palco do campeonato, o Estádio do Maracanã passou por reformas para atender as exigências da FIFA. A principal delas foi a instalação de cadeiras no setor popular.[9] Com isso, a capacidade do estádio para as oito partidas que recebeu – seis da primeira fase, a decisão do terceiro lugar e a final – caiu para 75 mil espectadores.[9] Também aprimorou suas instalações, como estacionamentos, vestiários e um centro de imprensa para receber até 600 jornalistas.[4]
Para realização do Mundial, o Morumbi também teve de se adequar às normas da FIFA. O estádio, que recebeu seis jogos da primeira fase, recebeu 35 mil assentos no setor da arquibancada, o que fez com que a sua capacidade fosse reduzida de 91 mil para 53 mil torcedores.[10] Além disso, foram reformados centro de imprensa para atender 500 jornalistas e os vestiários de jogadores e árbitros.[10]
A princípio, a expectativa era de que estivessem presentes os seis campeões de cada confederação, além do campeão da Copa Intercontinental e uma equipe do país-sede.[6] Contudo, a ideia não foi concretizada logo de início quando Confederação Asiática de Futebol decidiu indicar o Al-Nassr, campeão da Supercopa da AFC, e não o Jubilo Iwata, então campeão da Liga dos Campeões do continente em 1999.[6] Em seguida, o Manchester United chegou a ameaçar que não disputaria o torneio, mas acabou recuando para não prejudicar a candidatura da Inglaterra para a Copa do Mundo de 2006.[11][12]
Além de supostamente atuar nos bastidores para garantir o Vasco no Mundial, a própria CBF, que tinha assegurada a indicação da vaga do país-sede, escolheu o Corinthians na condição de campeão nacional de 1998, mesmo podendo aguardar a final do Brasileiro de 1999, entre Corinthians e Atlético-MG.[6][13] A justificativa da entidade brasileira foi de que não haveria como definir o campeão de 1999 a tempo do sorteio dos grupos e de que seria seguido o critério da CONMEBOL. Coincidentemente, o Corinthians foi também o campeão nacional em 1999.[6][13]
³ Indicado pela CBF para o Mundial em junho de 1999, como o campeão brasileiro de 1998.
⁴ Convidado pela FIFA, não era o atual campeão da Copa Intercontinental.
Formato
As oito equipes foram divididas em dois grupos de quatro clubes (cada equipe jogando um total de três jogos). Os vencedores de cada grupo se enfrentaram na final, e os dois segundos colocados na disputa pelo terceiro lugar.
Na final e no terceiro lugar, caso as partidas terminassem empatadas, era necessário um tempo extra de 30 minutos (dividido em dois tempos de 15 minutos). Se persistisse o empate, haveria decisão por pênaltis.
As partidas do grupo A foram jogadas no Estádio do Morumbi, em São Paulo, enquanto que as do grupo B foram realizadas no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Tanto a final quanto a disputa pelo terceiro lugar foram disputadas no estádio carioca.
Sorteio
O sorteio foi feito no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, em 14 de outubro de 1999.[16] No grupo A, com sede em São Paulo, ficaram Corinthians, Real Madrid, Al Nassr e Raja Casablanca. Já no grupo B, com sede no Rio, ficaram Vasco, Manchester United, Necaxa e South Melbourne.
Como campeão, o Corinthians recebeu US$ 6 milhões em prêmios, enquanto o Vasco da Gama recebeu US$ 5 milhões. O Necaxa venceu o Real Madrid na decisão do terceiro lugar e arrecadou US$ 4 milhões. O Real Madrid recebeu US$ 3 milhões, e as outras equipes restantes receberam US$ 2,5 milhões.[17]
Após o primeiro mundial da FIFA, a entidade máxima do futebol prometeu novas edições do torneio. A primeira delas seria na Espanha, em 2001, com a previsão de 12 participantes. Em março daquele ano, houve até o sorteio dos grupos.[18][19] Porém, a edição do Mundial da FIFA daquele ano foi cancelada devido a uma série de fatores com parceiros e patrocínios, sendo o mais importante o colapso da ISL, o parceiro de marketing da FIFA até então.[14][20][21] O evento foi então remarcado para 2003, mas também não foi realizado. Somente em 2004 que a FIFA conseguiu anunciar oficialmente a segunda edição do mundial.[22]
A partir de 2005 até 2023, sendo continuada como Copa Intercontinental da FIFA,[23] a competição foi disputada ininterruptamente, mas sob um novo formato, em partidas eliminatórias (ao invés de uma fase de grupos mais final) e tendo duração mais curta, o que satisfez questões de calendário das federações nacionais e confederações continentais. Enquanto as duas edições posteriores, 2005 e 2006, contaram apenas com os seis campeões continentais, a partir da edição de 2007 houve o aumento para sete participantes – a sétima vaga era destinada, em regra, ao campeão nacional do país-sede. Entretanto, para evitar novamente a presença de dois clubes de um mesmo país, como ocorreu em 2000, a FIFA criou um mecanismo: caso o campeão continental pertencesse ao país-sede, o campeão nacional deste perderia a vaga, que ficaria para o melhor colocado de outro país na competição do continente.[24]
Antes do Campeonato Mundial de Clubes da FIFA, havia competições organizadas ou assistidas por confederações continentais, como a Copa Intercontinental (CONMEBOL e UEFA) e o Campeonato Afro-Asiático de Clubes (AFC e a CAF).
Foi conjecturado uma suposta manobra política conjunta da CONMEBOL e CBF para garantir o Vasco no Mundial, havendo especulações de um descontentamento palmeirense.[13]Luiz Felipe Scolari, então técnico do alviverde, teria supostamente tentado convencer a diretoria do seu clube para reivindicar a participação no Mundial de 2000. No entanto, o então presidente palmeirense Mustafá Contursi teria recebido a promessa de que o Palmeiras disputaria o mundial seguinte. Cancelado o Mundial de 2001, a equipe estrearia na edição de 2020, após ser campeão sul-americano do mesmo ano.[14][15]
Rangel, Sergio; Bueno, Rodrigo (15 de outubro de 1999). «Sorteio desfavorece o Corinthians». Rio de Janeiro: Folha de S.Paulo. p.1. Consultado em 7 de junho de 2022
Rangel, Sergio; Moreira, Marcio (8 de janeiro de 2000). «Vasco tenta encerrar 'missão inglesa'». Rio de Janeiro: Folha de S.Paulo. p.15. Consultado em 7 de junho de 2022
Rangel, Sergio; Moreira, Marcio (8 de janeiro de 2000). «Dupla vascaína elimina o Manchester». Rio de Janeiro: Folha de S.Paulo. p.1. Consultado em 7 de junho de 2022
Grijó, Fabio (15 de janeiro de 2000). «Um maracanazzo vascaíno»(PDF). Rio de Janeiro: Jornal do Brasil. p.22. Consultado em 7 de junho de 2022
Cassucci, Bruno; Venturelli, Diogo; Canônico, Leandro (13 de janeiro de 2020). «Todo Poderoso Timão: a origem». São Paulo: Globoesporte.com. Consultado em 7 de junho de 2022