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Língua pomerana

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 Nota: Se procura a língua cassúbia, também chamada de pomerano, veja Língua cassúbia.

O pomerano (Pommersch, Pommerschplatt, Pommeranisch, ou Pomerisch[2]) ou pomerano oriental (Ostpommersch)[3] é uma variedade do baixo-alemão falada pelos pomeranos e descendentes em várias regiões do Brasil, especialmente nos estados meridionais e no estado do Espírito Santo.[4]

Factos rápidos PomeranoPommersch em alemão Pomerisch em pomerano, Estatuto oficial ...
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O nome Pomerânia vem do eslavo po more, que significa Terra junto ao Mar.[5]

Quase extinta na Pomerânia histórica, praticamente é falada apenas nos Estados Unidos (no centro de Wisconsin e partes de Iowa)[6][7][8] e no Brasil (Espírito Santo, partes da Região Sul e Rondônia).[9] Atualmente a língua pomerana já tem uma escrita, dada pelo linguista Ismael Tressmann, sendo que, nos municípios com maior população de origem pomerana do estado do Espírito Santo, são ministradas aulas de língua pomerana, por meio do Programa de Educação Escolar Pomerana (PROEPO).[10]

O pomerano é diferente do alemão-padrão, uma vez que ambas as línguas têm origens distintas. O pomerano assemelha-se mais ao holandês, vestfaliano e saxão antigo. [11]

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Classificação linguística

O pomerano é uma língua baixo-saxônica, pertencente ao grupo de idiomas falados na região do Mar Báltico. Nesse grupo linguístico também estão o vestfaliano, o menonita e o holandês. O inglês, língua anglo-saxônica, também é aparentado com o pomerano. As variedades linguísticas do pomerano que tiveram maior presença no Espírito Santo foram as provenientes da Pomerânia Oriental. O alemão-padrão, por sua vez, pertence a um outro grupo de línguas, o alto-alemão.[12]

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História

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Perspectiva

A Alemanha só se constituiu como Estado nacional em 1871, e o alemão padrão atual era empregado desde Martinho Lutero, na sua famosa tradução da Bíblia, até o século XIX, apenas como língua literária. O povo alemão, para se comunicar no seu dia a dia, fazia uso dos diversos dialetos regionais.[13]

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A Pomerânia atualmente, na Alemanha (esquerda) e Polônia (direita).

Com a chegada de imigrantes alemães ao Brasil, que ocorre principalmente a partir do século XIX, os dialetos alemães também se estabeleceram nas áreas de colonização. Assim, enquanto na Alemanha o alemão padrão passou a servir como língua comum para os falantes dos diversos dialetos, no Brasil, devido à incipiente consolidação do alemão padrão quando do início da imigração, esse papel foi desempenhado por um dialeto, o Hunsrückisch, falado no oeste da Alemanha.[14] Todavia, em algumas localidades brasileiras, outros falares germânicos predominaram. Nos municípios de Westfália (Rio Grande do Sul) e de Rio Fortuna (Santa Catarina), o dialeto westfaliano é o usado.[15] Nos municípios de Pomerode (Santa Catarina) e Santa Maria de Jetibá (Espírito Santo), predominou o pomerano.[16]

Os imigrantes alemães no Brasil eram provenientes de diversas partes da Alemanha,[14] porém, no caso particular do estado do Espírito Santo, 63% dos imigrantes alemães eram provenientes da Pomerânia, uma região entre o norte da Alemanha e da Polônia.[17]

Extinção na Alemanha

O baixo-saxão, ao qual o pomerano pertence, foi língua franca, na forma oral e escrita, em toda a região do Báltico. No século XIII, um grupo de comerciantes falantes de baixo-saxão formou uma aliança mercantil conhecida como Liga Hanseática. Sua atuação espalhou-se por várias cidades portuárias do Báltico, e o baixo-saxão tornou-se língua internacional. Na época, o baixo-saxão tinha todas as credenciais de língua, inclusive com escrita própria e tradução da Bíblia, feita por um colaborador de Martinho Lutero meio ano antes da divulgação da famosa tradução luterana para o alemão; porém, com a decadência da Liga Hanseática, entre o final do século XVI e o início do século XVII, o baixo-saxão passou a ser tratado como um mero dialeto. Posteriormente, o alemão tornou-se a língua oficial e de prestígio, e os idiomas dos povos saxônicos, como o pomerano, passaram a ser vistos como línguas socialmente inferiores ao alemão padrão. Após a Segunda Guerra Mundial, o pomerano tornou-se uma língua moribunda na Europa, e seus falantes foram deixando de usá-lo, em proveito do idioma alemão.[18][19]

Depois da derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, toda a Pomerânia ficou sob controle militar soviético e a fronteira germano-polonesa foi deslocada para oeste, de maneira que a Pomerânia ficou dividida na linha Oder-Neisse, entre a Polônia e a zona alemã sob administração soviética - que se tornou mais tarde a República Democrática Alemã (Alemanha Oriental).[20][21]

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A maior parte da Pomerânia (em verde claro) foi anexada pela Polônia após a Segunda Guerra Mundial.

A população alemã dos territórios a leste da nova linha de fronteira foi quase completamente expulsa, e a área foi repovoada principalmente por poloneses, russos e ucranianos de ascendência polonesa. Os alemães falantes de pomerano tiveram que se refugiar em outras regiões da Alemanha, onde o pomerano não era falado. Por essa razão, o pomerano está, atualmente, praticamente extinto na Europa.[22][23][24][25][26][27][28][29][30]

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Situação no Brasil

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Perspectiva

O pomerano é falado em diversas regiões do Brasil, especialmente nos estados mais meridionais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, bem como no estado do Espírito Santo. Muitas comunidades alemãs no Brasil surgiram em regiões inóspitas, onde era escassa a presença de falantes de português. Em decorrência, muitas dessas comunidades conseguiram preservar a língua de origem por várias gerações.[31] Esse isolamento linguístico e cultural foi combatido de forma agressiva pelo governo nacionalista de Getúlio Vargas, por meio da campanha de nacionalização, entre 1938 e 1945.[32]

Nos últimos anos, os governos têm promovido o estudo e a preservação do idioma pomerano. Por meio do Programa de Educação Escolar Pomerana (PROEPO) tem-se buscado incentivar culturalmente os municípios brasileiros que possuem o pomerano como língua co-oficial, ou que tenham muitos falantes dessa língua. O programa busca capacitar professores da rede pública de modo que possam ensinar o idioma pomerano nas escolas locais.[33]

Uma das localidades mais conhecidas do Brasil onde prevalece o bilinguismo pomerano-português é Pomerode, Santa Catarina. Uma das localidades onde se falava o baixo-alemão é Dona Otília, localizada no município de Roque Gonzales, Canguçu, Região das Missões, no noroeste do Rio Grande do Sul. No Espírito Santo, nas cidades de Afonso Cláudio, Pancas, Itarana, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá (onde é língua oficial), Vila Pavão, Domingos Martins e Laranja da Terra o pomerano se tornou a língua corrente por ocasião da chegada dos imigrantes.[34] Até hoje é a língua materna de muitos habitantes da região, e em vários dos distritos das cidades acima citadas é a língua mais falada. No entanto, por muitos anos, a alfabetização dos pomeranos da região era feita em alemão, e posteriormente em português, por isso uma pequena porção de seus falantes a escreve; em geral comunicam-se de forma escrita em alemão ou português.

Também foi aprovada em agosto de 2011 a PEC 11/2009, emenda constitucional que inclui no artigo 182 da Constituição Estadual a língua pomerana, junto com a língua alemã, como patrimônios culturais do Espírito Santo.[35][36][37][38]

Santa Maria de Jetibá também possui estação de rádio em língua pomerana, a Pomerisch Radio.[39]

Municípios brasileiros com língua oficial pomerana

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Municípios em que a língua pomerana é cooficial no Espírito Santo.

Espírito Santo

Minas Gerais

Rio Grande do Sul

Rondônia

Santa Catarina

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Comparação com o Alemão

Oração do Pai-nosso

Mais informação Em Pomerano, Em Alemão ...
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Referências

  1. «German Language Reclassification | Free Media Productions - Editorials». www.freemediaproductions.info. Consultado em 11 de janeiro de 2022. Arquivado do original em 2 de julho de 2017
  2. Renata Pinz Dietrich. «180 anos de Imigração Alemã». Consultado em 12 de agosto de 2007. Arquivado do original em 31 de agosto de 2004
  3. Pommerscher Greif e.V (9 de fevereiro de 2012). «Die Pommernvereinigungen in den USA» (em alemão). Blog Pommerscher Greif e.V.
  4. Gertjan Postma (2018). «Contrastive Grammar of Brazilian Pomeranian». Amsterdam: Meertens Institute
  5. «Wisconsin Platt Today». Pommerscher Verein Central Wisconsin
  6. Pomeranos comemoram 152 anos de história e cultura na Ales Arquivado em 24 de setembro de 2015, no Wayback Machine., acessado em 2 de novembro de 2011
  7. Ismael Tressmann. 2007. O uso da língua no cotidiano e o bilinguismo entre pomeranos. V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística Belo Horizonte, 28 de fevereiro - 3 de março de 2007.
  8. «Estatísticas». 2003. Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original em 23 de setembro de 2015
  9. Werner Buchholz, Pommern, Siedler, 1999, pp.512-515, ISBN 3886802728
  10. Jan M Piskorski, Pommern im Wandel der Zeit, pp.373ff, ISBN 839061848
  11. Jan M Piskorski, Pommern im Wandel der Zeit, pp.381ff, ISBN 839061848
  12. Tomasz Kamusella in Prauser and Reeds (eds), The Expulsion of the German communities from Eastern Europe, p.28, EUI HEC 2004/1
  13. Philipp Ther, Ana Siljak, Redrawing Nations: Ethnic Cleansing in East-Central Europe, 1944-1948, 2001, p.114, ISBN 0742510948, 9780742510944
  14. Gregor Thum, Die fremde Stadt. Breslau nach 1945", 2006, pp.363, ISBN 3570550176, 9783570550175
  15. Werner Buchholz, Pommern, Siedler, 1999, p.515, ISBN 3886802728
  16. «Dierk Hoffmann, Michael Schwartz, Geglückte Integration?, p142». Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original em 23 de outubro de 2012
  17. Karl Cordell, Andrzej Antoszewski, Poland and the European Union, 2000, p.168, ISBN 0415238854
  18. Jan M Piskorski, Pommern im Wandel der Zeit, p.406, ISBN 839061848
  19. Selwyn Ilan Troen, Benjamin Pinkus, Merkaz le-moreshet Ben-Guryon, Organizing Rescue: National Jewish Solidarity in the Modern Period, pp.283-284, 1992, ISBN 0714634131, 9780714634135
  20. Os Alemães no Sul do Brasil, Editora Ulbra, 2004 (2004)
  21. «Monolinguismo e Preconceito Linguístico» (PDF). 2003. Consultado em 21 de julho de 2012
  22. «A Pátria renascida». Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original em 21 de novembro de 2015
  23. «O povo pomerano no ES». Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original em 21 de dezembro de 2012
  24. «Plenário aprova em segundo turno a PEC do patrimônio». Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original em 27 de janeiro de 2012
  25. «ALEES - PEC que trata do patrimônio cultural retorna ao Plenário». Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original em 14 de dezembro de 2013
  26. Lei 2.069 de 2013, Câmara Municipal de Afonso Cláudio
  27. «A escolarização entre descendentes pomeranos em Domingos Martins» (PDF). Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 21 de dezembro de 2012
  28. «A co-oficialização da língua pomerana» (PDF). Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 21 de dezembro de 2012
  29. «Município de Itarana participa de ações do Inventário da Língua Pomerana». Prefeitura Municipal de Itarana. Consultado em 21 de março de 2019
  30. Pomerano!?, acessado em 21 de agosto de 2011
  31. Lei Municipal Nº 387, de 19 de Maio de 2022, Dispõe sobre a cooficialização da Língua Pomerana, à Língua Portuguesa, no Município de Itueta - MG
  32. MENSAGEM LEGISLATIVA Nº 040/10, acessado em 2 de novembro de 2011
  33. LEI Nº 2.644, DE 11 DE ABRIL 2023, dispõe sobre a cooficialização da língua pomerana no âmbito do município de Espigão do Oeste - Roraima
  34. Lei Nº 2.907, de 23 de maio de 2017 - Dispõe sobre a co-oficialização da língua pomerana à língua portuguesa no município de Pomerode.
  35. «Pomerode institui língua alemã como cooficial no Município.». Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original em 30 de maio de 2012
  36. «Patrimônio - Língua alemã». Consultado em 21 de novembro de 2015. Arquivado do original em 21 de dezembro de 2012
  37. Pai Nosso em Língua Pomerana, consultado em 23 de julho de 2023
  38. «Mateus 6:9-13 | Lutherbibel 2017 :: ERF Bibleserver». www.bibleserver.com. Consultado em 23 de julho de 2023
  39. Almeida, João Ferreira de. «João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/Mateus/VI - Wikisource». pt.wikisource.org. Consultado em 23 de julho de 2023
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Bibliografia

Ligações externas

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