Jaqueline Louise Cruz "Jackie" Silva (Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1962) é uma ex-jogadora de voleibol brasileira, campeã olímpica em 1996 no vôlei de praia.[1] Foi Atleta do Flamengo, clube pelo qual conquistou o Campeonato sul-americano de clubes em 1981.[2]
Jaqueline Silva | ||||||||||||||||||||||||||||||||
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voleibol e vôlei de praia | ||||||||||||||||||||||||||||||||
Nome completo | Jaqueline Louise Cruz Silva | |||||||||||||||||||||||||||||||
Nascimento | 13 de fevereiro de 1962 (62 anos) Rio de Janeiro, RJ | |||||||||||||||||||||||||||||||
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Carreira
Voleibol de quadra
Jaqueline Silva notabilizou-se no cenário esportivo ao conquistar a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1979, realizados em San Juan, Porto Rico[3]. A sua jornada de destaque continuou quando atuou como levantadora titular da seleção brasileira de vôlei nos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980 e de Los Angeles em 1984, sendo nesta última ocasião reconhecida como a melhor levantadora dos jogos[3]. Sua carreira, marcada por êxitos tanto no vôlei carioca quanto no brasileiro, teve início aos 14 anos, quando Jaqueline ingressou na seleção principal do Brasil, evidenciando seu precoce talento.[4]
Caracterizada por um temperamento determinado e por vezes envolvida em atitudes controversas, Jaqueline destacou-se também como uma liderança influente, sempre engajada na defesa de seus direitos enquanto mulher e atleta. Sua postura assertiva ficou evidente em diversas ocasiões, particularmente em conflitos com dirigentes da Confederação Brasileira de Voleibol. Um dos episódios mais emblemáticos foi sua recusa em vestir o uniforme oficial da seleção, que ostentava o nome do patrocinador, sem que houvesse compensação financeira para os atletas. Tal atitude, embora vista à época como um gesto de rebeldia por uma "menina rebelde", prenunciou o movimento em direção ao profissionalismo nos esportes olímpicos, marcando Jaqueline como uma pioneira na luta por reconhecimento e direitos dos atletas.[4][5][6]
Vôlei de praia
Durante os anos 1980, deixou o Brasil e foi jogar na Europa e na América do Norte, onde começou a participar do vôlei de praia, ou beach volley, então um esporte que virava uma febre. Acabou tornando-se a melhor jogadora de praia dos Estados Unidos - onde virou para os fãs norte-americanos, Jackie Silva, a Rainha da Praia - ganhando inúmeros torneios e conquistando o primeiro lugar no ranking mundial.[6][7]
No começo dos anos 1990, a então considerada melhor jogadora de vôlei de praia do mundo pelas próprias adversárias, formou parceria com a também carioca Sandra Pires e venceram juntas praticamente todos os torneios dos quais participaram no Brasil e nos EUA.[6][8]
Foi por duas vezes campeã do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia.[9][10]O primeiro título veio em 1991 com Jackie formando dupla com Isabel e o segundo título é o de 1995, com Sandra Pires como sua parceira.[8][9][10]
Sua consagração definitiva como atleta aconteceu então nos Jogos de Atlanta em 1996, na estreia como esporte olímpico do vôlei de praia, quando ela e sua parceira Sandra Pires tornaram-se as primeiras mulheres brasileiras a conquistarem uma medalha de ouro olímpica em 100 anos de Olimpíadas.[1] Nas Olimpíadas em questão, houve a participação de um total de 10.500 atletas, dos quais 3.700, equivalendo a um terço do total, eram do sexo feminino. Dentre os representantes do Brasil, houve a presença de 220 atletas, e desses, 70 eram mulheres [11]. Foi a primeira vez, em 76 temporadas, que o Brasil levava duas medalhas de ouro em uma mesma Olimpíada, o ouro com Jacqueline Silva e Sandra Pires, e Mônica Rodrigues e Adriana Samuel com a prata.[1][2]
Aposentadoria
Jacqueline encerrou sua carreira como jogadora profissional. Mesmo não competindo, continua envolvida com o esporte. Dedica-se como treinadora e coordenadora do Jackie Volleyball Club e da sua empresa de marketing esportivo, realizando palestras, clínicas e eventos. Ministrou oficina na COB Expo, em 2023.[12]
Também se dedica ao ensino em suas escolinhas para crianças e ao desenvolvimento de projetos esportivos para comunidades menos favorecidas. Jackie integra o projeto Atletas Inteligentes, incentivando jovens atletas a permanecerem na escola. Com isso, recebeu o prêmio de campeã pelo esporte da Unesco.[13]
Em 2023, organizou o Festival Jackie Vôley de Praia LGBTQIA+, evento ocorrido no Rio de Janeiro com o objetivo de promover a "igualdade, diversidade e inclusão através do esporte". O evento contou com patrocínio do Ministério do Esporte, da Prefeitura do Rio de Janeiro, apoio da Unesco, e de outros órgãos.[12]
Dificuldades na carreira
Após os Jogos Olímpicos de Los Angeles, Jacqueline, eleita a melhor levantadora de 1984, voltou ao Brasil e, um ano depois, resolveu desafiar a falta de voz que os atletas enfrentavam na época. Ela explicou: "O esporte no Brasil naquela época era muito rígido, controlado principalmente por homens. Os atletas tinham pouca margem para expressar opiniões." Mesmo diante dessas adversidades, Jacqueline se sentiu impelida a lutar por mudanças [3].
Ela acrescentou: "Não sei exatamente de onde veio essa iniciativa de protestar e buscar mudanças em uma época tão desfavorável para novas ideias. Talvez tenha sido porque eu não me sentia confortável em aceitar as condições impostas e a falta de liberdade para se expressar [14]."
Jacqueline desafiou Carlos Arthur Nuzman em um confronto direto, porém, acabou perdendo. Ela não recebeu apoio de suas colegas de equipe e, sem perspectivas, teve que se reinventar. Jacqueline explicou: "Eu não esperava que elas me apoiassem. Não estava tentando iniciar uma revolução. Eu não fui com a mentalidade de 'vamos todas juntas', embora soubesse que muitas pensavam da mesma forma. Eu senti que ele me cortou e isso me deixou muito sensibilizada e triste. Entrei em depressão, principalmente porque não consegui mais encontrar clubes que me contratasse. [15]"
Foi só depois disso que a atleta teve um novo olhar e chances para o esporte nos Estados Unidos [5].
Temporada na Europa
Ela jogou vôlei de quadra profissional na Itália em 1986 e 1987, devido à falta de oportunidades financeiras na Califórnia. Jacqueline também ajudou a fundar a primeira associação profissional de vôlei de praia feminino, a "Women Professional Volleyball Association".[4] Ela conciliou temporadas na Europa e na Califórnia, contribuindo para a organização desse novo esporte nos Estados Unidos, que posteriormente se tornaria uma tendência global nos anos 90 [14].
Jackie Silva foi pioneira no vôlei de praia nos Estados Unidos, introduzindo mudanças significativas no jogo, como a adoção do bloqueio pelas mulheres, toques na levantada e o saque viagem. Ela desempenhou um papel fundamental na transformação da maneira como as mulheres atuavam nas quadras e na evolução da modalidade [2].
Vida pessoal
Em 2014, Jackie se casou com a bailarina Amália Lima.[16][17]
A importância na luta da igualdade de gênero
Em 1985, os membros do time masculino já estavam sendo beneficiados com apoio financeiro, ao passo que a equipe feminina não desfrutava dessa mesma assistência, mesmo que a Seleção já ostentasse um patrocinador em seu uniforme. Nesse contexto específico, a equipe feminina se reuniu na cidade do Rio de Janeiro para um treinamento que viria a ter um impacto profundo na vida de Jacqueline. O ponto de partida para essa mudança foi o uniforme da equipe. Naquela época, os jogadores do time masculino já desfrutavam de apoio financeiro, enquanto as jogadoras da equipe feminina não tinham a mesma vantagem, apesar de a Seleção já contar com um patrocinador em seu uniforme [14].
Ela também lutou pela possibilidade da seleção receber uma ajuda de custo para pagar transporte ou outros gastos para frequentar a seleção brasileira [11].
Honrarias
- Hall da Fama do Voleibol - 2006[15]
- Prêmio de campeã pelo esporte da Unesco.[13]
Ver também
Referências
- «Jackie e Sandra ganham o 1º ouro». Folha de São Paulo. 28 de julho de 1996. Consultado em 13 de novembro de 2023
- www.paulonetto.com.br, Paulo Netto-. «Volei do Clube de Regatas do Flamengo». flaestatistica.com.br. Consultado em 13 de fevereiro de 2021
- «Jacqueline Silva - Que fim levou?». Terceiro Tempo. Consultado em 13 de fevereiro de 2022
- Rubio, Katia (2004). Heróis olímpicos brasileiros. São Paulo: Editora Zouk. p. 228-234. 316 páginas. ISBN 85-88840-27-8
- «Polêmicas». Jackie Silva
- «Rebelde do vôlei abandona 'quebra-paus'». Folha de São Paulo. 19 de março de 1995. Consultado em 13 de novembro de 2023
- «Jackie Cruz Silva». Beach Volleyball Database - Em inglês. Consultado em 13 de novembro de 2023
- «Parceira elogia perfeccionismo». Folha de São Paulo. 19 de março de 1995. Consultado em 13 de novembro de 2023
- «Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia: confira os campeões desde 1991». ge.globo.com. 18 de novembro de 2022. Consultado em 13 de novembro de 2023
- «Circuito Banco do Brasil». Confederação Brasileira de Voleibol. Consultado em 13 de novembro de 2023. Arquivado do original em 30 de setembro de 2016
- MARIANI, G. Meninas Brazucas. Disponível em: <https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/historias-da-bola/meninas-brazucas/>. Acesso em: 26 out. 2023.
- Furtado, Otavio (16 de junho de 2023). «Jackie Silva organiza torneio de vôlei de praia LGBTQIA+». VEJA RIO. Consultado em 3 de outubro de 2023
- «Campeã olímpica Jackie Silva ministrará oficina na COB Expo». Comitê Olímpico Brasileiro. 4 de agosto de 2023. Consultado em 3 de outubro de 2023
- Comitê Olímpico do Brasil. Disponível em: <https://www.cob.org.br/pt/cob/home/hall-da-fama/biografia/jacqueline-louise-cruz-silva>. Acesso em: 26 out. 2023.
- «Jaqueline Silva entra no Hall da fama do vôlei». atarde. 5 de outubro de 2006. Consultado em 28 de outubro de 2022
- «Campeã olímpica Jacqueline Silva celebra união com a bailarina Amália Lima». https://www.jornalopcao.com.br/. Consultado em 20 de janeiro de 2020
- «Ex-jogadora Jacqueline Silva e a bailarina Amália Lima se casam em Petrópolis». https://www.df.superesportes.com.br/. Consultado em 20 de janeiro de 2020
Ligações externas
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