Hair: The American Tribal Love-Rock Musical é um rock-musical escrito por James Rado e Gerome Ragni, também autores das letras das músicas criadas por Galt MacDermot. Produto da contracultura hippie e da revolução sexual dos anos 60, muitas de suas canções tornaram-se hinos dos movimentos populares antiGuerra do Vietnã nos Estados Unidos.
Hair | |
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cartaz do musical na Broadway | |
Informação geral | |
Direção | Tom O'Horgan |
Coreografia | Julie Arenal |
Música | Galt MacDermot |
Letra | James Rado Gerome Ragni |
A profanação de valores embutida no musical, sua descrição do uso de drogas ilegais, tratamento da sexualidade, irreverência pela bandeira nacional e uma cena de nu explícito, causaram enorme controvérsia. Ele trouxe o mundo dos musicais a novos parâmetros, criando o "rock-musical", usando a integração racial para compor o elenco e convidando a platéia a interagir com o espetáculo, subindo ao palco na cena final.
Hair conta a história da "Tribo", um grupo de hippies cabeludos politicamente ativos da 'Era de Aquário', que levam uma vida boêmia em Nova York e lutam contra o alistamento militar para o Vietnã. "Claude", seu bom amigo "Berger", sua amiga "Sheila" e outros amigos hippies, tentam equilibrar suas jovens vidas, amores e sexo livre com a rebelião pessoal contra seus pais e a sociedade conservadora norte-americana. Em última análise, "Claude" precisa decidir entre rasgar seu cartão de alistamento como seus amigos fizeram ou sucumbir à pressão de seus parentes (e da América conservadora) e servir no Vietnã, comprometendo seus princípios pacifistas e arriscando sua vida.
Após estrear off-Broadway em outubro de 1967 no The Public Theater – onde ficou por 45 dias – e fazer algumas apresentações numa discoteca no centro de Manhattan, a peça estreou na Broadway em 29 de abril de 1968 para uma carreira que duraria por 1750 apresentações. Produções subsequentes e simultâneas foram montadas em diversas cidades dos Estados Unidos e da Europa e a partir daí a peça foi apresentada por todo o mundo, incluindo a gravação de discos nas línguas locais, como a gravação original do elenco nova-iorquino, que vendeu cerca de três milhões de cópias nos Estados Unidos e ganhou o Grammy Awards de Melhor Álbum de Musical. Algumas das canções fizeram parte da lista de Top 10 da Billboard e um filme foi feito em 1979, dirigido por Milos Forman, baseado no musical.
História
Hair foi concebido pelos atores James Rado e Gerome Ragni, que se conheceram em 1964 durante uma peça fracassada encenada off-Brodway chamada Hang Down Your Head and Die e começaram a escrever juntos o musical no fim daquele ano.[1][2] Os personagens principais, "Claude" e "Berger", são autobiográficos, com o "Claude" de Rado sendo um romântico pensativo e o "Berger" de Ragni um extrovertido. A relação próxima e volúvel dos dois autores foi refletida no musical. Rado diz: "Nós éramos grandes amigos. Tínhamos um tipo de relação passional que dirigíamos para a criatividade, para os textos e canalizamos para a criação da peça. Nós colocamos o drama existente entre nós em cima do palco."[3]
Rado descreve a inspiração para Hair como a combinação de alguns personagens que encontravam pelas ruas, pessoas que conheciam e sua própria imaginação: "Nós conhecemos esse grupo de garotos do East Village que estavam recusando e jogando fora os certificados de alistamento e havia vários artigos na imprensa sobre alunos que estavam sendo expulsos das escolas por usarem cabelos compridos. Havia uma grande excitação nos parques, nas ruas e nas áreas hippies e nós imaginamos que se pudéssemos transmitir isso para o palco seria magnífico. Nós saíamos com eles e íamos a seus "Be-Ins" [i] e deixamos nossos cabelos crescer.[4] Vários integrantes do elenco original foram recrutados diretamente das ruas." Rado continua: "Aquilo foi muito importante historicamente e se nós não o tivéssemos escrito, não teria havido nenhum registro daquele movimento. Você hoje pode ler ou ver filmes sobre aquilo, mas não pode vivenciar a experiência pessoalmente. Nós pensamos: Isto está acontecendo nas ruas e queremos levar para o palco."[1]
Rado e Ragni levaram seus rascunhos da peça até um produtor, Eric Blau, que os colocou em contato com o compositor canadense Galt MacDermot. MacDermot havia ganho o Grammy em 1961 e tinha um estilo de vida completamente diferente dos outros dois. Usava cabelo curto, tinha esposa, quatro filhos e nunca tinha entrado em contato com um hippie antes do encontro,[4] mas dividiu com eles o entusiasmo por criar um musical de rock & roll. Os três trabalharam de maneira independente, com Rado e Ragni lhes levando as letras e ele transformando-as em música. MacDermot compôs a trilha musical completa em três meses.[5]
Off-Broadway
Os criadores de Hair apresentaram o musical para diversos produtores e receberam apenas negativas. Eventualmente, Joseph Papp, que dirigia o New York Shakespeare Festival, resolveu que queria Hair para abrir o novo The Public Theater, ainda em construção no East Village de Nova York. Hair seria a primeira atração oferecida por Papp que não era relacionada a William Shakespeare.[1] A montagem, porém, não ocorreu com tranquilidade. O diretor do Public, Geral Freedman, demitiu-se frustrado: "A seleção e os ensaios foram confusos, o material em si era incompreensível para vários de nós da equipe do teatro." Papp aceitou a renúncia de Freedman e contratou a coreógrafa Anna Solokow para o cargo, mas após um desastrado ensaio final com as roupas da peça, ele foi obrigado a chamar Freedman em Washington, onde ele se encontrava, para que assumisse o trabalho novamente.[6]
Hair estreou em 17 de outubro de 1967 e foi encenado no Public por cerca de seis semanas. Apesar de receber críticas mornas da imprensa, ele logo se tornou popular com as audiências [6] e no mesmo ano um álbum com as músicas foi gravado pelo elenco off-Broadway.
Michael Butler, um empresário de Chicago que pretendia lançar sua candidatura ao Senado dos Estados Unidos tendo como plataforma política a oposição à Guerra do Vietnã, viu um anúncio da peça no New York Times e, imaginando tratar-se de uma obra sobre índios americanos, sugestionado pelo cartaz do anúncio, foi ao teatro assistí-la. Acabou assistindo-a várias vezes e resolveu juntar esforços com Papp para levar o musical a outro teatro de Nova York quando acabasse o tempo acordado de exibição no Public. Sem um teatro disponível, os dois levaram Hair para uma discoteca na Broadway, onde ela estreou em 22 de dezembro de 1967 [7] e foi encenada durante 45 dias. Tanto no Public Theater quanto na discoteca, ainda não havia nudez em Hair.[8]
Entre o fim das apresentações na discoteca Cheetah e a estreia na Broadway três meses depois, Hair passou por várias modificações. Seu enredo original off-Broadway, que já trazia a base do que o faria famoso mas tinha muitas divagações surreais, foi ainda mais depurado, tornando-o mais realista. Por exemplo, o personagem "Claude", que na concepção original era um extra-terrestre que pretendia ser um cineasta, na montagem final da Broadway tornou-se um humano.[9] Além disso, treze novas canções foram incluídas no roteiro e "Let the Sunshine In", um de seus futuros hinos pacifistas, foi adicionado ao fim do musical, para que ele se tornasse mais edificante e otimista em sua mensagem.[3] Antes da mudança para a Broadway, a equipe de criação contratou o diretor Tom O'Horgan, que havia feito sua reputação dirigindo teatro experimental em Nova York. Ele tinha sido a primeira escolha dos autores para dirigir a peça no Public, mas na época encontrava-se na Europa.[10] A revista Newsweek descreveu o estilo de direção de O'Horgan como "selvagem, sensual, e bem musical … [ele] desintegra a estrutura verbal e muitas vezes divide e distribui o caráter narrativo até mesmo entre diferentes atores.... O'Horgan gosta de um bombardeio sensorial."[11] Nos ensaios, o diretor usou técnicas que envolviam jogos de improvisação e muitas delas acabaram incorporadas ao roteiro final. O'Horgan e a nova coreógrafa Julie Arenal encorajaram a liberdade de criação e a espontaneidade entre seus atores, introduzindo um estilo de interpretação expansiva e orgânica nunca vista antes na Broadway.[1] A inspiração para incluir a nudez no musical veio quando os autores assistiram a uma demonstração antiguerra no Central Park onde dois homens ficaram nus numa atitude de desafio e liberdade, e decidiram incorporar a ideia ao show.[1] O'Horgan já havia usado da nudez em várias de suas peças experimentais, e ajudou a integrar a ideia dentro da estrutura do musical.[12]
Papp, o produtor original off-Broadway declinou de tentar uma carreira para Hair na Broadway, e assim Butler assumiu a produção e o desafio sozinho. Durante algum tempo parecia que ele não seria capaz de conseguir um teatro, já que os donos dos principais deles ficaram receosos de exibir material tão controverso. Butler, porém, puxou alguns cordões de ligações políticas e laços familiares e acabou convencendo David Cogan, dono do Biltmore Theater, a lançar o espetáculo.[13]
Enredo
Prólogo
O ano é 1968 e o lugar é um parque em Greenwich Village, Nova York. Claude está sentado sozinho no meio do palco. Um altar e uma chama estão dispostos à sua frente. Aos poucos, a Tribo se aproxima e se junta a ele. Berger e Sheila, dois amigos e integrantes da Tribo, cortam uma mecha de seu cabelo e a colocam no fogo. O grupo então abre o musical cantando '"Aquarius".[14]
Ato I
Berger se apresenta ao público e canta "Donna", sobre seu amor perdido. A Tribo o segue cantando "Hashish", enquanto "Woof" homenageia a sexualidade cantando "Sodomy". "Hud" entra em cena, pendurado de cabeça para baixo pelas pernas numa vara e canta "Colored Spade". Finalmente é Claude quem se apresenta à platéia cantando "Manchester, England" e diz: 'Eu sou Aquarius, destinado à grandeza ou a loucura'. A Tribo o segue cantando "I'm Black" e "Ain't Got No".[15]
Sheila, a estudante burguesa da Universidade de Nova York e ativista política, é carregada numa fanfarra enquanto canta "I Believe in Love". Ela então lidera a Tribo numa manifestação pela paz ("Ain't Got No Grass" e "Air"). "Jeannie", membro da Tribo, que canta "Air" com as amigas "Crissy" e "Dionne", revela que está grávida mas que se apaixonou por Claude. A Tribo canta "Initials" e então Claude anuncia: "Esta, amigos, é a Idade da Pedra psicodélica".[15]
Claude é então confrontado por três conjuntos de "pais" e "parentes", interpretados por membros da Tribo, que o pressionam falando sobre ética, trabalho, valores americanos e lhe dizem que uma carta com sua convocação para a Guerra do Vietnã chegou pelo correio. Um conflito então surge entre as épocas de 1948 e 1968 ("I Got Life" e bis de "Ain't Got No").[15]
Mais tarde, Berger diz à Tribo que Claude teve que se apresentar na junta de alistamento. Berger também acabou de ser expulso do colégio e é atacado por três diretores de estilo "hitlerista" ("Goin' Down"). Claude retorna anunciando que passou nos exames físicos do exército. Berger, Woof e Hud tentam ter ideias para permitir a Claude se livrar da convocação e do serviço militar no Vietnã. Em seguida, Claude queima o que parece ser seu cartão de alistamento mas a Tribo descobre que era apenas um cartão de biblioteca. Um homem e uma mulher passam pelo local, turistas numa terra de hippies, e falam com o grupo. Claude, Berger e o resto da Tribo cantam "Hair" para eles. A mulher, impressionada, canta "My Conviction" em resposta e confessa que é um travesti.[15]
Sheila se junta ao grupo. Ela conta como vive em conjunto com Berger e Claude e mostra uma camisa de cetim amarela que trouxe para Berger. Ele começa a brincar em volta deles, "estapeando-a", pisando na camisa e gritando. Claude e Sheila tentam fazê-lo ficar quieto cobrindo sua cabeça com a camisa, quando Berger a pega, leva para longe e a rasga. Sheila, irritada com a atitude, canta "Easy to Be Hard". Berger então pega a camisa de volta e a leva para costurar e Sheila confessa a Claude que está impaciente com o amigo. Então Berger e Woof fazem sua irônica saudação à bandeira americana cantando "Don't Put it Down".[15]
"É hora pra o Be-In! Turistas…venham para a orgia!" Jeannie tentar ficar junto a Claude mas ele a rejeita. Ela está saindo para segui-lo ao "Be-In" quando vê Crissy num canto. Crissy lhe diz que está ali para esperar por "Frank Mills" (que ela canta), um amor que se foi. Participando do Be-In, a Tribo canta "Hare Krishna" celebrando o amor e a vida, consumindo maconha.[15]
Claude então prepara-se para queimar realmente seu cartão de alistamento, mas muda de ideia e canta "Where Do I Go". Depois, pergunta onde estão todos. A Tribo então emerge toda nua entoando palavras como 'liberdade', 'felicidade' e 'flores'.[15]
Ato II
Crissy tenta ouvir uma música numa vitrola mas é abafada pelo grupo cantando "Electric Blues". A Tribo emenda a canção com "Oh Great God of Power" mas tudo que conseguem é ver Claude aparecer vestido com uma roupa de gorila. Ele acaba de retornar do centro de alistamento e Berger e a Tribo descrevem sua versão do encontro. Três das mulheres da tribo cantam as virtudes dos negros em "Black Boys" e são respondidas por três loiras caracterizadas como integrantes do trio The Supremes que cantam "White Boys". Berger começa a distribuir cigarros de maconha entre todos e logo que a droga faz efeitos todos cantam "Walking in Space".[15]
A ação então é focada na viagem alucinógena de Claude. Nela, aparece George Washington na guerra, acompanhado de vários índios. A eles se juntam Abraham Lincoln, John Wilkes Booth, Ulysses Grant, Calvin Coolidge e Scarlett O'Hara. Logo depois aparecem monges budistas, freiras católicas e manifestações contra a guerra se seguem, como a feiúra da guerra contra os vietcongs. A Tribo invoca as palavras de Shakespeare cantando "What a Piece of Work is Man" para tentar entender e racionalizar os fatos. Enfim a "viagem" termina ("How Dare They Try") e todos tentam trazer Claude de volta à realidade. Entretanto, ele parece ter problemas em retornar aos dias presentes.[15]
A Tribo divide-se em grupos para dormir sob a luz do luar e Sheila canta "Good Morning, Starshine". Um colchão aparece e a Tribo comemora, cantando "Never Can You Sin in Bed". Eles separam-se de Claude e reuném-se num grupo de "Flower Power" batendo paus e panelas, entoando cânticos antiguerra. Depois chamam por Claude, mas ele desapareceu.[15]
Sem ser visto por seus amigos, pois só está ali em espírito, Claude reaparece de uniforme militar e diz:"Estou exatamente aqui. Gostem disso ou não, eles me pegaram." ("The Flesh Failures"). Ainda sem poder vê-lo, a Tribo canta "Eyes, Look Your Last" em contraponto a Claude que canta novamente "Manchester, England". Sheila repete "The Flesh Failures" e lidera o grupo na canção final "Let the Sun Shine In".[15]
Ao final, a Tribo descobre a presença de Claude, que está deitado no chão, de uniforme sobre a bandeira americana, no centro do palco. Berger pega seus pedaços de pau, com eles faz uma cruz sobre o corpo deitado de Claude, e todos desaparecem, deixando o corpo estendido no chão. No encerramento, a Tribo volta a cantar "Let the Sunshine In" e chama a platéia para dividir o palco com eles.[15]
Canções
A trilha musical tinha muito mais canções que os musicais típicos da época. A maioria dos espetáculos da Broadway tinha entre seis e dez canções por ato. O total de Hair era de mais de trinta.[16] A lista abaixo reflete a apresentação mais comum na Broadway:[17]
Gravações
A primeira gravação de Hair foi feita em 1967 com o elenco da produção off-Broadway. A gravação com o elenco original da Broadway recebeu o Prêmio Grammy em 1968 para melhor trilha de musical e vendeu cerca de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos até dezembro de 1969.[18] Em 2007, o New York Times observou que "o álbum com o elenco de Hair tornou-se obrigatório para a classe média. Sua exótica arte da capa laranja e verde ficava imediatamente impressa na psiquê de quem a olhava.... ele tornou-se um clássico do pop-rock, que, como todo bom pop, tem um apelo que transcende gostos particulares por gêneros ou épocas."[6]
Canções da peça foram gravadas por diversos artistas, entre eles Diana Ross, Shirley Bassey e Barbra Streisand.[19] "Good Morning Starshine" foi gravada por Sarah Brightman, Diana Ross e Oliver.[20] Com este último, o compacto da música chegou ao 3º posto da Billboard Hot 100, vendeu mais de um milhão de cópias e recebeu o Disco de Ouro da R.I.A.A. em agosto de 1969.[21] O grande sucesso de Hair porém, foi o medley "Aquarius / Let the Sunshine In", gravado pelo The 5th Dimension. A single com as duas canções integradas chegou ao topo da Billboard, passando seis semanas consecutivas em primeiro lugar das paradas,[22] sendo o primeiro medley na história da fonografia americana a conseguir esse feito, e conquistou o Prêmio Grammy para Gravação do Ano, em 1970.[23] Na Grã-Bretanha, Nina Simone fez sucesso com o medley "Ain't Got No / I Got Life".[24] Em 1970, a ASCAP anunciou que "Aquarius" foi a música mais tocada nos rádios e televisões naquele ano.[25]
Produções da Inglaterra, Alemanha, Brasil, Suécia, Japão, Israel, Austrália e outros países também lançaram discos gravados por seus elencos e mais de mil gravações vocais e/ou instrumentais individuais de suas canções foram colocadas no mercado. O sucesso das músicas chamou tanto a atenção que a ABC Records, depois de uma guerra de ofertas, contratou Galt MacDermot por uma soma recorde para compor as músicas do próximo musical a ser produzido pela empresa.[26]
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