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A Guerra Polaco-Soviética (português europeu) ou Polonesa-Soviética (português brasileiro) foi um conflito armado envolvendo a União Soviética e a Polônia de fevereiro de 1919 a março de 1921, quando se encerrou através do Tratado de Riga. A guerra foi o resultado de tentativas expansionistas de ambas as partes: A Polônia pretendia recuperar os territórios pré-1772, e os Soviéticos aqueles que haviam pertencido ao Império Russo antes da Primeira Guerra Mundial.
Guerra Polaco-Soviética | |||
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Data | 14 de fevereiro de 1919 – 18 de março de 1921 | ||
Local | Europa Central e Oriental | ||
Desfecho | Vitória polonesa; Paz de Riga
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Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Durante 123 anos a Polônia ficou subjugada pelo Império Alemão, Monarquia de Habsburgo e Império Russo. Então, após a Primeira Guerra Mundial, os países vencedores (Tríplice Entente) decidiram restaurar a independência do país.[1][2][3][4][5]
Logo estourou a Revolta na Grande Polônia, na qual militares revoltam-se contra os alemães que ocupavam a parte oeste do país. Estes, sem condições para reprimir a revolta e com uma revolução comunista que deveria ser detida em seu país, retiraram as suas tropas da região.[1][2][3][4][5]
Finalmente a Polônia ressurgiu, proclamando a criação da Segunda República da Polônia, onde, pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha teve que entregar à Polônia a cidade portuária de Danzigue.[1][2][3][4][5]
Na Rússia, desde a tomada do poder pelos bolcheviques, Vladimir Lênin desejava instaurar regimes socialistas em toda a Europa e, aproveitando as greves e revoltas comunistas na Alemanha, viu na conquista da Polônia uma ponte para que o Exército Vermelho pudesse vir em auxílio destes movimentos.[6]
Do lado polonês, a Guerra Civil Russa, de resultado ainda incerto, causava insegurança quanto às fronteiras orientais da Polônia. Józef Piłsudski, chefe de estado polonês, viu nesta instabilidade a oportunidade para expandir as fronteiras do jovem estado e, talvez, criar uma federação com a Ucrânia e os países do Báltico.[6]
Em 1919, o Exército Branco estava sofrendo vários reveses, os comunistas estavam vencendo a Guerra Civil Russa e, com os ânimos exaltados nas cidades alemãs desde a derrota na guerra e a abdicação do kaiser Guilherme II, os comunistas conseguiam se fortalecer. Lênin então ordenou a invasão da Polônia.
A Polônia então recrutou urgentemente novas tropas, comprou armas e enviou diplomatas para conseguir apoio de outros países e da Liga das Nações.[1][2][3][4][5]
A República Popular da Ucrânia, sob a liderança de Symon Petliura, decidiu apoiar os poloneses fornecendo apoio logístico além de aeródromos e estradas com o propósito de também expulsar os comunistas que haviam invadido a Ucrânia durante a Guerra Civil Russa para instalar uma república socialista. Os polaco-ucranianos conseguiram avançar e lançaram a Ofensiva de Kiev, num grande ataque para reconquistar a capital ucraniana e derrubar o governo comunista. Entretanto o ataque fracassou e logo as tropas polacas e ucranianas sofreram terríveis reveses.[1][2][3][4][5]
No campo diplomático, os poloneses conseguiram, apesar da insatisfação do primeiro-ministro britânico Lloyd George, o apoio do Reino Unido, que promoveu embargos econômicos à Rússia. A França também decidiu assinar uma aliança com os polacos e enviou o Exército Azul, comandado pelo general Joséf Haller, que continha oficiais franceses para auxiliar os polacos (dentre eles estava Charles de Gaulle). Além disso, vários soldados e pilotos de vários outros países também foram socorrer os poloneses.[1][2][3][4][5]
A jovem Polônia estava com dificuldades de receber as armas. A Hungria havia enviado uma grande quantidade de armamentos, mas a Tchecoslováquia recusava-se a permitir a passagem do material, que só foi feito de modo clandestino. A Polônia tentou aliar-se à Lituânia, mas esta preferiu se aliar aos bolcheviques, pois temia ser anexada futuramente pela Polônia, que desejava reconquistar os antigos territórios que pertenciam à República das Duas Nações, nos séculos XVII e XVIII. Isso ocasionou a Guerra polaco-lituana, e, apesar da perda da capital Vilnius para a Polônia, os lituanos conseguiram a sua independência e as relações diplomáticas entre os dois países só foi restabelecida em 1938.[1][2][3][4][5]
Em cinco semanas o exército polonês recuou cerca de 500 quilômetros, destroçando o moral da tropa e espalhando o pânico na sociedade. No início de agosto os russos capturaram Brest, atravessando o rio Bug e rompendo a penúltima linha de defesa na direção de Varsóvia.[1][2][3][4][5]
A Batalha de Varsóvia (13 a 25 de agosto de 1920) marcou o ponto de virada a favor das forças armadas polacas. O estadista e general Józef Piłsudski decidiu retirar as forças polacas para o rio Vístula e lá resistirem ao ataque soviético, com o apoio dos generais Władysław Sikorski e Joséf Haller que deveriam atacar o Norte por trás de Varsóvia e resistir entrincheirado ao ataque inimigo, respectivamente. Enquanto no centro, o exército de Piłsudski atacaria um ponto fraco descoberto pelo serviço de inteligência polaca que interceptou mensagens de rádio e as decodificou. O Exército Vermelho comandado pelo jovem general Mikhail Tukhachevsky avançava já cantando vitória, assim que conquistasse a Polônia, diziam eles, logo rumariam para a Alemanha, França, Inglaterra e toda a Europa. A Polônia apelou ao mundo declarando que só ela poderia impedir o avanço comunista, com isso conseguiu mais apoio.[1][2][3][4][5]
Quando os soviéticos chegaram ao rio Vístula, perto de Varsóvia, os poloneses de Piłsudski atacaram enquanto os de Haller resistiram aos soviéticos, depois de alguns dias, os polacos fecharam o cerco ao Exército Vermelho empurrando-o até a fronteira com a Prússia Oriental, onde esmagaram definitivamente os comunistas e afastaram a Europa do avanço revolucionário.[1][2][3][4][5]
Após a vitória em Varsóvia, também chamada de "Milagre no Vístula", os polacos retomaram a ofensiva reconquistando antigos territórios. Diante do fracasso, Lênin decidiu acabar com a guerra assinando o Tratado de Riga, que reconhecia a independência da Polônia. Entretanto, os polacos não conseguiram expulsar os bolcheviques da Ucrânia, que se tornou então uma república soviética, e Symon Petliura e os membros do antigo governo exilaram-se na França.[1][2][3][4][5]
A Polônia aumentou significativamente seu território, iniciando um período de rápido desenvolvimento. O marechal Józef Piłsudski tornou-se, em 1926, após um golpe de Estado, ditador. Adquiriu a simpatia do povo, que o chamava carinhosamente de Vovô ou O Marechal, tornando-se um herói polonês.[1][2][3][4][5]
De acordo com fontes citadas por Chwalba, dos 80 a 85 mil prisioneiros de guerra soviéticos, 16 a 20 mil morreram no cativeiro polonês. Dos 51 mil presos poloneses, 20 mil morreram. A prática de matar desproporcionalmente oficiais comissionados poloneses continuou na Segunda Guerra Mundial, quando uma série de execuções conhecidas como o massacre de Katyn ocorreu.[1][2][3][4][5]
A guerra e suas consequências resultaram em controvérsias, como a situação dos prisioneiros de guerra na Polônia e na Rússia e Lituânia soviéticas, tratamento da população civil, ou o comportamento de alguns comandantes, incluindo Semyon Budyonny, Hayk Bzhishkyan, Stanisław Bułak-Bałachowicz, e Vadim Yakovlev. Os pogroms relatados de judeus pelos militares poloneses fizeram com que os Estados Unidos enviassem uma comissão, liderada por Henry Morgenthau, para investigar o assunto.[7][8][9][10]
A Guerra polaco-soviética influenciou a doutrina militar polonesa; sob a liderança de Piłsudski, enfatizou a mobilidade das unidades de cavalaria de elite. Também influenciou Charles de Gaulle, que era um instrutor do exército polonês com uma patente de major e lutou em várias das batalhas, incluindo a Batalha de Varsóvia. Ele e Sikorski previram corretamente, com base em suas experiências durante a guerra, a importância da manobra e da mecanização na próxima guerra. Embora não tivessem conseguido convencer seus respectivos estabelecimentos militares a dar ouvidos a essas lições durante o período entre guerras, durante a Segunda Guerra Mundial, eles subiram ao comando de suas respectivas forças armadas no exílio.[11][12]
Apesar da retirada final das forças soviéticas e da aniquilação de três exércitos de campo soviéticos, os historiadores não concordam universalmente sobre a questão da vitória. Lênin falou de uma grande derrota militar sofrida pela Rússia soviética. Sebestyen escreveu: "Os poloneses derrotaram e envergonharam fortemente o Estado soviético – um dos maiores reveses de Lênin". O conflito, no entanto, também é visto como uma vitória militar para a Polônia, juntamente com uma derrota política. Na Paz de Riga, a Polônia desistiu formalmente de suas ambições de ajudar a construir a Ucrânia e Belarus independentes. A Ucrânia ocidental e a Bielorrússia ocidental tornaram-se partes da Polônia, que reconheceu os dois países (geograficamente, suas partes central e oriental) como estados e dependências de Moscou. Os países idealizados por Piłsudski como membros da federação Intermarium liderada pela Polônia tinham, em vez disso, sob Lenin e Stalin, se incorporado à União Soviética.[1][2][3][4][5]
No outono de 1920, ambos os combatentes perceberam que não poderiam obter uma vitória militar decisiva. Internamente, o recém-restabelecido Estado polonês havia provado sua viabilidade, já que a esmagadora maioria de seu povo contribuiu para a defesa do país e se mostrou insensível aos apelos bolcheviques para se juntar à revolução. Quanto aos protagonistas, nenhum dos dois foi capaz de realizar seu objetivo principal. Para Piłsudski, era para recriar de alguma forma a República das Duas Nações. Para Lênin, causar a queda do edifício capitalista na Europa, facilitando processos revolucionários em Estados-chave da Europa Ocidental.[1][2][3][4][5]
Historiadores russos e poloneses tendem a atribuir a vitória a seus respectivos países. As avaliações externas variam principalmente entre chamar o resultado de vitória polonesa ou inconclusivo. Os poloneses reivindicaram uma defesa bem-sucedida de seu Estado, mas os soviéticos reivindicaram uma repulsa à invasão polonesa da Ucrânia e Belarus, que eles viam como parte da intervenção aliada na Guerra Civil Russa. Alguns historiadores militares britânicos e americanos argumentam que o fracasso soviético em destruir o Exército polonês acabou com as ambições soviéticas de revolução internacional.[1][2][3][4][5]
Andrzej Chwalba enumera uma série de maneiras pelas quais a vitória militar polonesa na realidade acabou sendo uma perda (o status quo fundamental – a existência soberana da Polônia – foi preservado). A percepção da Polônia como agressora prejudicou a reputação do país. Historiadores e publicitários, tanto no Ocidente como no Oriente, têm apresentado a política oriental do país em termos negativos, como irresponsável e aventureira. Em 1920 e suas consequências, provavelmente centenas de milhares de pessoas morreram sem qualquer ganho territorial ou político para a Polônia.[1][2][3][4][5]
Depois de assinar o armistício com a Polônia em outubro de 1920, os soviéticos transferiram tropas para a Crimeia e atacaram o istmo de Perekop. O Exército Branco de Pyotr Wrangel acabou derrotado lá. Em 14 de novembro, 83 000 soldados e civis foram evacuados a bordo de navios franceses e russos para Istambul (o governo britânico se recusou a fornecer qualquer assistência), enquanto 300 000 colaboradores brancos foram deixados para trás. O Exército Vermelho então desviou suas tropas para a região de Tambov, no centro da Rússia, para esmagar uma revolta camponesa antibolchevique.[1][2][3][4][5]
Em setembro de 1926, o Pacto de Não-Agressão Soviético-Lituano foi assinado. Os soviéticos renovaram seu reconhecimento da reivindicação lituana para a área de Vilnius. Em 1939, após a invasão soviética da Polônia, Stalin deu Vilnius à Lituânia. Em 1940, a Lituânia foi incorporada à União Soviética como uma república soviética. Este arranjo, interrompido pela ocupação alemã da Lituânia em 1941-44, durou até a restauração do Estado independente lituano em 1990. Sob a República Socialista Soviética da Lituânia, Vilnius tornou-se uma cidade dominada por lituanos étnicos.[13]
Após a invasão soviética da Polônia em setembro de 1939, a partição da Bielorrússia e da Ucrânia terminou em termos soviéticos. Após a Operação Barbarossa e a ocupação pela Alemanha nazista, a União Soviética retornou em 1944 e as duas repúblicas soviéticas recuperaram permanentemente o que havia sido o "Kresy" polonês de 1920 a 1939. Desde os ajustes pós-Segunda Guerra Mundial, as fronteiras das repúblicas permaneceram estáveis, exceto pela transferência da Crimeia em 1954 da RSFS russa para a RSS ucraniana. As fronteiras das repúblicas soviéticas foram preservadas como fronteiras da Bielorrússia e da Ucrânia independentes após a dissolução da União Soviética.[1][2][3][4][5]
Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, o tema das fronteiras orientais da Polônia foi reaberto e discutido na Conferência de Teerã. Winston Churchill argumentou a favor da Linha Curzon de 1920 em vez da Paz de Riga, e um acordo entre os Aliados para esse efeito foi alcançado na Conferência de Yalta em 1945. Os Aliados Ocidentais, apesar de terem tratados de aliança com a Polônia e apesar da contribuição polonesa para a guerra, deixaram a Polônia dentro da esfera de influência soviética. Os Aliados permitiram que a Polônia fosse compensada pelas perdas territoriais no leste com a maior parte dos antigos territórios orientais da Alemanha. O arranjo pós-guerra imposto tornou-se conhecido por muitos poloneses como a traição ocidental.[1][2][3][4][5]
Do final da Segunda Guerra Mundial até 1989, os comunistas mantiveram o poder na Polônia, e a Guerra polaco-soviética foi omitida ou minimizada nos livros de história da Polônia e de outros países do bloco soviético, ou foi apresentada como uma intervenção estrangeira durante a Guerra Civil Russa.[14]
O tenente polonês Józef Kowalski foi o último veterano vivo da guerra. Ele foi condecorado com a Ordem da Polonia Restituta em seu 110º aniversário pelo presidente Lech Kaczyński da Polônia. Ele morreu em 7 de dezembro de 2013 com 113 anos.[15]
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