A Guerra Civil Sul-Sudanesa foi um conflito militar que aconteceu no Sudão do Sul, entre as forças do governo e as da oposição.[13][14][15][16] Estimativas apontam que pelo menos 400 mil pessoas foram mortas na guerra e outras duas milhões foram deslocadas de suas casas, de acordo com a ONU.[17][18] Diversas tentativas de cessar-fogo já ocorreram, mas todas acabaram falhando. A primeira delas em 23 de janeiro de 2014[19] seguida por mais uma em 9 de maio de 2014.[20] O conflito tinha um caráter fortemente étnico e sectário, sendo o governo representado pelos dinka e a oposição pelos nuer.[21]
Guerra Civil Sul-Sudanesa | |||
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Situação militar no Sudão do Sul:
Sob o controle do Governo do Sudão do Sul
Sob o controle do Governo do Sudão | |||
Data | 15 de dezembro de 2013 – 22 de fevereiro de 2020 (6 anos, 2 meses, 1 semana e 1 dia) | ||
Local | Sudão do Sul | ||
Desfecho | Cessar-fogo firmado
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Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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190 000 mortes violentas[12] 193 000 mortes causadas por fome, doenças e deslocamentos forçados[12] |
Em 22 de fevereiro de 2020, o presidente Salva Kiir e Riek Machar, seu principal rival, firmaram um acordo para formar um governo de unidade nacional, encerrando, pelo menos formalmente, a guerra.[22]
Desenvolvimento do conflito
O conflito teve início em 15 de dezembro de 2013, no encontro do Conselho da Libertação Nacional em Nyakuron, quando os líderes de oposição Riek Machar, Pagan Amum e Rebecca Garang votaram por boicotar o encontro a ocorrer em 15 de dezembro.[23] O presidente Salva Kiir ordenou então o desarmamento de todas as tropas. Depois de desarmadas foi ordenado o rearmamento dos Dinka,[23] em resposta os membros da etnia Nuer se rearmaram. Os combates irromperam entre esses grupos e se espalharam para as ruas da capital Juba quando membros dinka do SPLM começaram a atacar civis da etnia Nuer[23]
O presidente acusou seus opositores de tentarem um golpe de Estado, mas que a situação estava controlada.[24] Em 18 de dezembro, Machar negou qualquer tentativa de golpe e acusou o presidente de fabricar tal alegação para atacar adversários políticos, afirmando que a violência havia sido iniciada pela guarda de Kiir.[25]
A violência se espalhou de Juba para as cidades vizinhas.[26] Em 19 de dezembro a cidade de Bor foi atacada e tomada por milícias Nuer. Sendo retomada por forças do governo no fim de dezembro.[27] Os combates se intensificaram entre dezembro e janeiro, e no dia 23 de janeiro ocorreu a primeira tentativa de cessar-fogo.[19] Esse acordo foi rompido em 26 de janeiro quando forças leais ao governo atacaram posições rebeldes, acusação que o governo nega, culpando os rebeldes pela ofensiva.[28]
Em 20 de abril de 2014, mais de 200 civis foram massacrados por tropas Nuer em Bentiu. Suspeitas de que todas as vítimas fossem da etnia Dinka.[29] Em 9 de maio um segundo cessar-fogo foi assinado, mas colapsou em questão de horas.[30] Em 11 de Junho, Kiir e Machar concordaram em iniciar negociações para a formação de um novo governo. Contudo ambos os lados boicotaram as negociações e em 16 de junho o cessar-fogo foi violado.[31]
Em 2 de outubro de 2014, as negociações de paz foram retomadas.[32]
Em Agosto de 2015, ambas as partes concordaram em assinar um tratado de cessar-fogo.[33] Entre outras recomendações, o acordo garantia o retorno de Machar a vice-presidência do país. Em Abril de 2016, este retornou a capital Juba e a vice-presidência.[34]
Em Julho de 2016, houve a retomada de fortes conflitos armados na região de Juba. Mais de 300 pessoas morreram e mais de 40 ficaram feridas.[35] Após o presidente Kiir e o vice-presidente Machar tentarem por fim aos confrontos, Maachar deixou Juba. Para a continuação das negociações de paz, Taban Deng Gail, ministro de minas e negociador-chefe dos rebeldes, foi indicado para o seu lugar como vice-presidente. Machar porém alega que as negociações são inválidas pois já havia despedido Gail.[36]
Em fevereiro de 2020, Salva Kiir e Riek Machar anunciaram que haviam chegado a um acordo para formar um governo de unidade nacional. Entre alguns pontos de disputa, estavam o número de estados que o país teria e quem controlaria as regiões produtoras de petróleo (a principal fonte de renda do Sudão do Sul).[37] Em 22 de fevereiro, Machar foi empossado como vice de Kiir, encerrando, formalmente, as hostilidades entre os dois.[38]
Retorno do conflito em 2021
Confrontos entre grupos locais armados, como também forças governistas e da oposição, tomaram força entre junho e outubro de 2021 no estado de Equatoria Ocidental, dezenas de fatalidades e milhares de deslocados foram relatados, a situação de violência pode configurar novos crimes de guerra, segundo a Anistia Internacional.[39] Vilas inteiras foram destruidas por todas as forças envolvidas no conflito. Ataques às comunidades Azande e Balanda foram particularmente denunciados.[39]
Nações Unidas identifica crimes contra a humanidade
Em fevereiro de 2018, a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas no Sudão do Sul tornou público um relatório onde identifica 40 militares do governo como os responsáveis por diversos crimes de guerra e contra a humanidade, tendo como alvo a população civil.[40]
Entre os casos de violência descritos no documento estavam pessoas que foram castradas, tiveram seus olhos arrancados ou foram degoladas. O documento ainda inclui o relato de uma mulher, mãe de um menino de 12 anos, que para sobreviver teve que estuprar a própria avó. A mesma mulher viu seu marido ser castrado.
O relatório inclui apenas uma parte de toda a informação recolhida, que inclui 58 mil documentos e declarações de 230 testemunhas. O relatório deve ser usado para julgar os autores em tribunais e para outros mecanismos previstos no Acordo de Paz assinado em 2015.[41]
Ver também
Referências
- «Clone of Sudanese President Juba discuss crisis», Al Jazeera, janeiro de 2014
- Akiva Eldar (8 de julho de 2015), Why is Israel turning a blind eye to South Sudan arms sales?
- «South Sudan oil town changes hands for fourth time. Why?». The Christian Science Monitor. 5 de maio de 2014
- «South Sudan: 'White Army' militia marches to fight». USA Today. 28 de dezembro de 2013
- «South Sudan's president sacks army chief». Lebanon: The Daily Star. 23 de abril de 2014. Consultado em 24 de julho de 2014
- «South Sudan rebel leader sets out conditions for talks». Trust. Consultado em 24 de dezembro de 2013
- «Pride and reverence reign as UNMISS celebrates International Day of UN Peacekeepers in South Sudan». ONU. 29 de maio de 2019. Consultado em 2 de agosto de 2019
- «South Sudan army advances on rebel towns before peace talks». Reuters. 2 de janeiro de 2014
- «South Sudan forces battle 'White Army'». The Daily Star. LB. 29 de dezembro de 2013
- «25,000 rebels march on strategic South Sudan town». IR: Press TV. 29 de dezembro de 2013
- «South Sudan's army advances on rebels in Bentiu and Bor». BBC. 9 de janeiro de 2014. Consultado em 9 de janeiro de 2014
- «Study estimates 190,000 people killed in South Sudan's civil war». Reuters. 26 de setembro de 2018. Consultado em 26 de setembro de 2018
- «The descent into civil war». The Economist. 27 de dezembro de 2013. Consultado em 4 de janeiro de 2014
- «UN: War crimes happening in South Sudan». Al Jazeera. 18 de janeiro de 2014. Consultado em 19 de janeiro de 2014
- Blair, David (18 de janeiro de 2014). «South Sudan army recaptures key state capital». The Telegraph. Consultado em 19 de janeiro de 2014
- «S Sudanese refugees forced to flee to Darfur - Africa». Al Jazeera English. Consultado em 22 de abril de 2014
- «New Estimate Sharply Raises Death Toll in South Sudan». The New York Times. 9 de janeiro de 2014. Consultado em 12 de janeiro de 2014
- «Daily Press Briefing by the Office of the Spokesperson for the Secretary-General». United Nations. 10 de fevereiro de 2017
- «South Sudan, rebels reach cease-fire after weeks of fighting». CNN. 24 de janeiro de 2014. Consultado em 24 de janeiro de 2014
- «South Sudan rivals Kiir and Machar agree peace deal». BBC. 9 de maio de 2014. Consultado em 10 de maio de 2014
- «How the World's Youngest Nation Descent into Bloody Civil War». National Geographic. 1 de Outubro de 2014. Consultado em 3 de Outubro de 2014
- «South Sudan rivals strike power-sharing deal». BBC News. 22 de fevereiro de 2020. Consultado em 28 de fevereiro de 2020
- «It wasn't a coup: Salva Kiir shot himself in the foot», South Sudan nation
- «S Sudan president says coup attempt 'foiled'». Al Jazeera. 16 de dezembro de 2013. Consultado em 17 de dezembro de 2013
- Hannah McNeish. «South Sudan's Machar speaks to Al Jazeera». Al Jazeera. Consultado em 19 de dezembro de 2013
- «South Sudan violence spreads from capital». Al Jazeera. 4 de outubro de 2011. Consultado em 18 de dezembro de 2013
- «South Sudan president says government troops retake key town». The Daily Star. LB. 24 de dezembro de 2013. Consultado em 24 de dezembro de 2013
- «South Sudan fighting despite cease-fire». The Daily Star. 26 de janeiro de 2014
- «South Sudan ceasefire violated, rebels and government say». BBC News. 11 de maio de 2014. Consultado em 12 de maio de 2014
- South Sudan: AUPSC Condemns Violation of South Sudan's Ceasefire Deal Sudan Tribune. 16 June 2014. Accessed 19 June 2014
- «Peace talks resume». 2 de Outubro de 2014. Consultado em 3 de Outubro de 2014
- «Is South Sudan's latest peace accord the real deal?». 26 de Agosto de 2015. Consultado em 4 de Agosto de 2016
- «South Sudan rebel chief Riek Machar sworn in as vice-president». bbcnews.com. 4 de Agosto de 2016. Consultado em 26 de abril de 2016
- «South Sudan opposition replaces missing leader Machar». aljazeera. 23 de julho de 2016
- «South Sudan's rival leaders form coalition government». www.aljazeera.com. Consultado em 22 de fevereiro de 2020
- «Sudão do Sul: Presidente dissolve governo e coloca opositor como vice». R7. 22 de fevereiro de 2020. Consultado em 1 de março de 2020
- «'Unimaginable' South Sudan violence could amount to war crimes». Aljazeera. 9 de dezembro de 2021. Consultado em 9 dezembro de 2021
- «ONU acusa 38 oficiais do Exército do Sudão do Sul de crimes contra a Humanidade». Público. Consultado em 24 de março de 2018
- «ONU identifica crimes contra a humanidade cometidos por militares no Sudão do Sul». ONU. Consultado em 24 de março de 2018
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