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Grão-Canado de Rus ou Grande Canato de Rus, ainda Caganato Rus (em russo: Русский каганат), foi uma formação estatal dos Rus que floresceu durante um período pouco documentado da história da Europa Oriental, entre o final do século VIII e o início do século IX.[1] O grão-canato é visto por muitos historiadores como um predecessor da Rússia de Kiev e teria constituído uma confederação de cidades-estado. A população das cidades-estado nessa época era composta por etnias eslava, finlandesa e norueguesa, considerando-se como grupo dominante os Rus.
Grão-Canato de Rus Grande Canato de Rus • Caganato de Rus | ||||||||||||
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Mapa mostrando, em meados do século IX, os povoados varegues ou rus (em vermelho) e a localização das tribos eslavas (em cinza). A influência dos Cazares é indicada por um contorno azul. | ||||||||||||
Continente | Europa | |||||||||||
Capital | Desconhecida | |||||||||||
Atualmente parte de | Rússia Bielorrússia Ucrânia | |||||||||||
Línguas oficiais |
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Religiões | ||||||||||||
Forma de governo | Monarquia | |||||||||||
Período histórico | Idade Média | |||||||||||
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De acordo com fontes contemporâneas, o monarca ou monarcas das cidades-estado podem ter utilizado o título de grão-cã, originário da língua turcomana antiga.[2][3][4] A questão da localização exata das cidades-estado está ainda em aberto.
O líder dos Rus é chamado pelo título de "grão-cã" em diversas fontes históricas, na sua maioria, textos estrangeiros do século IX, existindo ainda outras fontes eslavas dos séculos XI e XII.
A mais antiga referência europeia ao grão-canato vem dos Anais de São Bertino, em francônio. Os Anais mencionam um grupo de Viquingues, que se auto-denominavam Rhos (qi se, id est gentem suam, Rhos vocari dicebant) e visitaram Constantinopla por volta do ano 838.[5] Temendo regressar à terra natal pelas estepes, onde estariam vulneráveis a ataques dos magiares, estes Rhos viajaram através da Alemanha acompanhados de embaixadores gregos enviados pelo imperador bizantino Teófilo. Quando questionados pelo imperador franco Luís I, o Piedoso em Ingelheim, eles informaram que o seu líder era conhecido como chacanus (a palavra latina para "grão-cã")[6] e que viviam no norte da Rússia, mas o imperador descobriu que a terra natal dos viajantes era a Suécia (comperit eos gentis esse sueonum).[7]
Trinta anos mais tarde, na primavera de 871, os imperadores do Oriente e do Ocidente, Basílio I e Luís II, disputaram o controle de Bari, que havia sido conquistada conjuntamente aos árabes. O Imperador bizantino enviou uma carta furiosa ao seu homólogo ocidental, repreendendo-o por usurpar o título de Imperador. Ele argumentou que os líderes francos eram simples reges, enquanto o título imperial aplicava-se apenas ao líder supremo dos romanos, ou seja, ao próprio Basílio. Também afirmou que cada nação possuía um título próprio para o seu líder: por exemplo, o título de chaganus aos líderes dos ávaros, cazares (Gazari), e "nórdicos" (Nortmanno). A este argumento, Luís II respondeu que conhecia apenas os grão-cãs ávaros, mas não tinha informações sobre os grão-cãs dos cazares e dos nórdicos.[8] O conteúdo da carta de Basílio, desaparecida no tempo, é reconstruído a partir da resposta de Luís II, reproduzida integralmente na Crônica de Salerno.[9] Isto indica que pelo menos um grupo de escandinavos possuía um líder com o título de "grão-cã".
Amade ibne Rusta, um geógrafo muçulmano da Pérsia, escreveu que o grão-cã dos Rus ("khaqan rus") vivia numa ilha sobre um lago.[2][10] Constantine Zuckerman comenta que ibne Rusta, utilizando um texto de autoria anônima dos anos 870, tentou organizar com precisão os títulos de todos os governantes descritos pelo seu autor, o que torna a evidência ainda mais preciosa.[11] O geógrafo muçulmano menciona apenas dois grão-cãs em seu tratado — o da Cazária e o dos Rus. Uma outra evidência quase contemporânea aos Rus' vem de Iacubi, que escreveu em 889/890 que montanhistas do Cáucaso, quando sitiados pelos árabes em 854, pediram ajuda aos líderes (saíbe) de Arrum (Bizâncio), Cazária, e al-Saqaliba (eslavos).[12] Hudude Alalam, um texto geográfico de autoria anônima escrito no fim do século X,refere-se ao rei dos Rus como grão-cã.[13] Como o autor desconhecido de Hudude Alalam se baseava em numerosas fontes do século IX, incluindo ibne Cordadebe, é possível que a referência ao grão-cã dos rus' tenha sido copiada de textos mais antigos, pre-ruríquidas, em vez de refletir a realidade da época.[14] Um geógrafo persa do séc. XI, Abuçaíde Gardizi menciona o "grão-cã dos rus" na sua obra Zayn al-Akbar. Como outros geógrafos muçulmanos, Gardizi baseava-se em tradições no datamento do século IX.[15]
Existe uma base sólida para acreditar que o título de "grão-cã" ainda era lembrado pela Rússia de Kiev no período cristão. O metropolita Hilário de Kiev aplicou o título de "grão-cã" a Vladimir I de Kiev e Jaroslau I, o Sábio no exemplar ancestral e ainda sobrevivente, da literatura russa antiga, Slovo o Zakone i Blagodati ("Sermão em Lei e Graça"), escrito por volta de 1050.[16] Numa inscrição na Galeria norte da Catedral de Santa Sofia de Kiev lê-se: "Ó Deus, salve nosso grão-cã", aparentemente em referência a Esvetoslau II de Kiev (1073–1076).[17] Até o final do século XII, o Conto da campanha de Igor menciona de passagem "grão-cã Olegue",[15] tradicionalmente identificado como Olegue I de Czernicóvia.[18]
Fontes primárias ainda existentes tornam plausível acreditar que o título de grão-cã foi aplicado aos líderes dos Rus durante um curto período, entre a missão a Constantinopla (838) e a carta de Basílio I (871). Todas as fontes bizantinas após Basílio I referem-se aos líderes dos Rus como arcontes. Mais tarde, os autores quievanos mencionados anteriormente parecem ter ressuscitado o termo "grão-cã" mais como alternativa a cnezo do que como um termo político real.[19]
A datação da existência do grão-canato tem sido matéria de debate entre estudiosos e ainda não é precisa. Omeljan Pritsak determina a fundação do grão-canato entre 830–840. Nos anos 1920, o historiador russo Pavel Smirnov sugeriu que o grão-canato dos Rus existiu apenas temporariamente por volta de 830 e foi logo destruído pela migração das tribos confederadas magiares-cabares em direção aos Cárpatos.[20] Independentemente da precisão destas estimativas, não existem fontes primárias que mencionem os Rus ou os seus grão-cãs antes dos anos 830.[21]
O título de grão-cã não é mencionado nos Tratados entre Rus e bizantinos (907, 911, 944), ou em Sobre as Cerimônias, um tratado de cerimoniais que documenta os títulos de líderes estrangeiros quando da recepção a Olga de Kiev na corte de Constantino VII em 945. Além disso, Amade ibne Fadalane, na sua descrição detalhada dos Rus (922), designa o seu líder supremo como maleque ("rei"). A partir desse fato, Peter Golden concluiu, por um argumentum ex silentio, que o grão-canato entrou em colapso entre 871 e 922.[22] Zuckerman argumenta que a ausência da referência ao título de "grão-cã" no tratado de 911 prova que o grão-canato já havia sido dissolvido à época.[11]
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