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antropóloga francesa Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Françoise Héritier, nascida em 15 de novembro de 1933 em Veauche, na região do Loire, na França, e falecida dia 15 de novembro de 2017 em Paris, foi uma antropóloga, etnóloga e feminista francesa.
Françoise Héritier | |
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Nascimento | Andrée Françoise Héritier 15 de novembro de 1933 Veauche, Loire, França |
Morte | 15 de novembro de 2017 (aos 84 anos) Paris, França |
Residência | Auvergne (1933) |
Sepultamento | Cemetery of Marcigny |
Nacionalidade | francesa |
Cidadania | França |
Cônjuge | Michel Izard Marc Augé |
Alma mater |
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Ocupação | antropóloga, etnóloga, ativista, professora, investigadora |
Profissão | antropóloga e etnóloga |
Distinções | Doutora honoris causa da Universidade de Ottawa Medalha de prata do CNRS (1978) Prêmio Irène Joliot-Curie (2003) Grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito (2011) Grande Oficial da Legião da Honra (2014) |
Empregador(a) | Collège de France, Centre National de la Recherche Scientifique, École des hautes études en sciences sociales, escola Prática de Altos Estudos |
Instituições | École des hautes études en sciences sociales, Centre national de la recherche scientifique, Collège de France (1982-1998) |
Campo(s) | antropologia, antropologia estrutural |
Escola/tradição | École pratique des hautes études Lycée Fénelon Lycée Racine |
Influenciada por | Claude Lévi-Strauss |
Diretora de estudos na Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais (EHESS), ela também sucedeu a Claude Lévi-Strauss no Collège de France, inaugurando a cadeira de Estudos Comparados de Sociedades Africanas. Lévi-Strauss viu nela sua sucessora.[1]
Françoise Héritier é proveniente, em suas palavras, de uma "pequena burguesia moderada saída do campesinato" do Loire. Ela estuda em Paris, no Liceu Racine e, depois, literatura em hypokhâgne no Liceu Fénelon. Durante um seminário de Claude Lévi-Strauss na Sorbonne, onde ele evoca o "parentesco por brincadeira em Fiji", ela tem um "insight" e decide estudar etnologia. Em 1957, ela vai em missão ao Alto Volta (atual Burkina Faso) com o antropólogo Michel Izard, com quem se casará.[2] Eles compartilham a mesma consciência com relação à presença do corpo: ele trabalha com as manifestações carnais de poder, como a cerimônia de prostração entre os Mossi; ela situa o corpo no centro de seu método antropológico.[3]
Dando continuidade ao principal teórico do estruturalismo, Françoise Héritier aprofunda as teorias da aliança e da proibição do incesto, comumente estabelecidas considerando a noção de circulação de mulheres. Ela avança o conceito de "idêntico" e de sua "frustração repulsiva", retomando, então, as abordagens de Lévi-Strauss e do britânico Alfred Radcliffe-Brown. Baseia-se sobretudo nas noções de "natureza" e de "ambiente" nas concepções das sociedades estudadas.
Como Claude Lévi-Strauss e seu sucessor Philippe Descola, Françoise Héritier é a princípio diretora de estudos na EHESS, sendo depois eleita no Collège de France para a cátedra de antropologia (sucedendo a Lévi-Strauss).[2]
De 1998 a 2001, ela é membro do Comitê de Ética do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês).[4]
Tendo sido casada com Michel Izard[3] e depois com Marc Augé[5], assina algumas de suas obras sob os nomes de Françoise Izard-Héritier e Françoise Héritier-Augé.
Falece em 15 de novembro de 2017, data de seu aniversário de 84 anos, no hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris (França).[6]
De acordo com Françoise Héritier, a distinção entre feminino e masculino é universal e, "em todo lugar e a todo momento, o masculino é considerado superior ao feminino".[7] A isso, ela chama de "valência[8] diferencial dos sexos".[9] Partindo da obra de Claude Lévi-Strauss, ela observa que falta um pressuposto fundamental em sua teoria da aliança: por que os homens se achavam no direito de usar as mulheres como moeda de troca?
Assim ela escreve: "Essa espécie de acordo entre homens, a experiência etnológica nos mostra em funcionamento em qualquer lugar. Em todas as latitudes, nos grupos muito diferentes uns dos outros, vemos os homens que trocam as mulheres, mas não o inverso. Não vemos nunca mulheres que trocam homens, nem grupos mistos de homens e mulheres que trocam entre si homens e mulheres. Não, apenas os homens têm esse direito, e isso é válido em todo lugar. É isso que me faz dizer que a valência diferencial dos sexos já existia desde o paleolítico, desde os princípios da humanidade".[10]
Para Françoise Héritier, a observação do mundo levando em consideração as diferenças anatômicas e fisiológicas leva a uma classificação binária: "a constante mais importante, aquela que percorre todo o mundo animal, do qual o homem faz parte, é a diferença dos sexos. (...) Acredito que o pensamento humano é organizado a partir desta constatação: existe o idêntico e o diferente. A partir daí, todas as coisas vão ser analisadas e classificadas entre essas duas categorias (...). Eis como pensa a humanidade, não se observou nenhuma sociedade que não se subscreva a essa regra. Em todas as línguas existem categorias binárias, que opõem o quente e o frio, o seco e o úmido, o duro e o macio, o alto e o baixo, o ativo e o passivo, o saudável e o insalubre...".[11]
Ela considera que em todas as línguas essas categorias binárias estão associadas ao masculino ou ao feminino. Por exemplo, o quente e o seco estão relacionados ao masculino no pensamento grego, e o frio e o úmido ao feminino. Essas categorias são sempre culturalmente hierárquicas: "a observação etnológica nos mostra que o positivo está sempre do lado masculino e o negativo, do lado feminino. Isso não depende da categoria por si só: as mesmas qualidades não são valorizadas da mesma maneira em todas as latitudes. Não, depende da sua atribuição ao sexo masculino ou ao feminino. (...) Por exemplo, para nós, no Ocidente, "ativo" (...) é valorizado e, assim, associado ao masculino, enquanto que "passivo", menos apreciado, está ligado ao feminino. Na Índia ocorre o oposto: a passividade é sinal de serenidade (...). Aqui, a passividade é masculina e é valorizada, a atividade – vista como sempre um pouco desordenada – é feminina e é desvalorizada.[12]
Essas categorias de valores não têm, portanto, nada de essencialmente negativas ou positivas: elas são construídas e variam de acordo com a época e as regiões. Se um valor é considerado positivo, ele está ligado ao masculino – e esse mesmo valor poderia, em uma latitude diferente ou em outra época, ser considerado negativo e, então, ser associado ao feminino.
Ela mostra que essa "valência diferencial dos sexos", que outros, como Bourdieu, chamam de "dominação masculina", é resultado da vontade dos homens, incapazes de parir, de controlar a reprodução.[13] Para ela, “o privilégio exorbitante de dar à luz” privou as mulheres do controle de seu corpo e de sua sexualidade. O preço desse privilégio foi a alienação de seus corpos pelos homens. O controle da fertilidade permitiu que as mulheres recuperassem seus corpos e constitui uma "revolução essencial".[6]
Em uma entrevista ao jornal Libération, Françoise Héritier defende a tese de sua aluna Priscille Touraille segundo a qual a diferença de tamanho entre homens e mulheres seria "uma diferença construída" particularmente por "uma pressão de seleção" imposta pelo homem.[14] Ela assim declara: "a alimentação das mulheres sempre esteve sujeita às proibições. Especialmente nos períodos nos quais elas necessitariam de um excedente de proteínas, por estarem grávidas ou amamentando – eu penso na Índia, nas sociedades africanas ou ameríndias. Assim, elas extraem enormemente de seu organismo sem que isso seja compensado por uma nutrição adequada; os produtos "bons", a carne, a gordura, etc. ficam reservados aos homens prioritariamente. (...) Essa "pressão de seleção" que vem provavelmente desde a aparição do Neandertal, há 750 mil anos, levou a transformações físicas. Isso resultou no favorecimento de homens grandes e de mulheres pequenas, ocorrendo diferenças de altura e de corpulência entre homens e mulheres".[14]
Essa teoria não seria, entretanto, apoiada por dados paleoantropológicos e evolutivos, que demonstram que o dimorfismo sexual seja, ao contrário, mais suave entre os humanos do que entre os outros grandes símios, o que sugere um processo inverso, e não ligado às problemáticas alimentares.[15] Essa visão é mesmo qualificada como "obscura" por Michel Raymond, diretor de pesquisa no CNRS e chefe da equipe de Biologia Evolutiva Humana no Instituto de Ciências da Evolução da Universidade de Montpellier:[16] "no mundo vivo, e especialmente entre os primatas, as diferenças de porte são bem compreendidas, em particular pela seleção sexual. Por exemplo, quando os machos lutam entre si pelas fêmeas, saem favorecidos os machos de maior tamanho, e isso conduz a machos geralmente maiores do que as fêmeas. Isso pode ser reforçado pela escolha feita pelas fêmeas, que preferem então os machos maiores. Atualmente, os homens são em média maiores do que as mulheres. Esse era também o caso há alguns séculos, alguns milênios, e, até onde os vestígios do passado permitem dizer, foi o caso ao longo de toda a linhagem humana. É mesmo o caso entre as espécies das quais somos primos, como o gorila, e mesmo aquelas das quais somos mais próximos, como o chimpanzé. Os gorilas machos lutam entre si, saindo na vantagem os maiores, o que ajuda a explicar que tenham um tamanho maior do que as fêmeas. Entre o homem, a violência é imemorial, como atesta a arqueologia, e o tamanho não independe da dominância social. Além disso, as mulheres preferem os homens maiores do que elas".
A militância feminista de Françoise Héritier vem de sua vida familiar, de quando ela ficava com primos em Auvergne: a esposa e a irmã serviam a refeição, nunca se sentando, e comiam os restos da carcaça do frango.[2]
Françoise Héritier é membro honorário da associação Femmes & Sciences (Mulheres e Ciências, em tradução livre) desde a sua criação em 2000 e membro honorário da associação "Femmes pour le dire, femmes pour agir" ("Mulheres para dizer, mulheres para agir", em tradução livre). Ela é membro do comitê de patrocínio da Coordenação Francesa para o Decênio da cultura da não-violência e da paz. Também apoia o fundo associativo Não-Violência XXI desde a sua criação, em 2001, e é uma das personalidades por trás da criação do canal de televisão Arte. [carece de fontes]
Em julho de 2011, se junta à equipe de campanha de Martine Aubry para a eleição presidencial francesa de 2012, sendo responsável pela temática "mulheres" ao lado de Caroline De Haas.[2][17] Em 2012, junto com vários outros intelectuais, escreve um artigo para o Le Monde a favor do candidato presidencial François Hollande intitulado “Por que é preciso votar em François Hollande", no qual desenvolve as "razões imperativas para eleger François Hollande Presidente da República" francesa.[18]
Durante os debates sobre o pacto civil de solidariedade, ela é uma das personalidades de ciências sociais, especialmente ao lado de Irène Théry, a se opor à ideia do casamento entre pessoas do mesmo sexo e à homoparentalidade.[19] 15 anos depois, nos debates sobre a lei de Taubira sobre a abertura do casamento para casais do mesmo sexo, ela defende o texto, lembrando que o casamento não é sagrado e que não existe uma ordem natural. No entanto, ela se opõe à maternidade de substituição (barriga de aluguel), que, em sua opinião, poderia levar a abusos.[2]
Redige o prefácio do livro Women Against Fundamentalism (Mulheres contra o Fundamentalismo, em tradução livre) de Maryam Rajavi, publicado em março de 2013, no qual escreve: "a misoginia e a rejeição da igualdade de gênero em nome do Islã constituem (...) a força motriz do fundamentalismo".[20]
Um colégio Françoise Héritier é inaugurado em Isle-Jourdain, Gers (França), em setembro de 2018.
A 38ª promoção (2018-2019) do Instituto Regional de administração de Bastia (França) leva seu nome.[26]
A cidade de Paris inaugura em 26 de junho de 2019 o jardim Françoise Heritier, no 14º arrondissement.[27]
O Departamento de Seine-Saint-Denis inaugura em 2 de setembro de 2019 um colégio Françoise Héritier na comuna de Noisy-le-Sec (França).
A cidade de Lyon, na França, inaugura em 1º de outubro de 2019 o grupo escolar Françoise Héritier.[28]
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