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Vigna unguiculata, popularmente conhecida como feijão-frade,[1] feijão-fradinho,[2] feijão-miúdo,[2] feijão-caupi,[3] feijão-de-corda,[2] feijão-catador[4] ou feijão-macáçar, é uma planta da família das leguminosas (Fabaceae), subfamília papilionoídea (Faboideae).

Factos rápidos Classificação científica, Nome binomial ...
Como ler uma infocaixa de taxonomiaVigna unguiculata
feijão-fradinho, feijão-de-corda
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Vigna unguiculata
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Fabales
Família: Fabaceae
Subfamília: Faboideae
Género: Vigna
Espécie: V. unguiculata
Nome binomial
Vigna unguiculata
(L., Walp.)
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Aspecto das sementes comestíveis (feijões)
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Pormenores da planta

A espécie apresenta muitas variedades cultivadas, podendo variar, por exemplo, o padrão de cores das sementes ou o tamanho das vagens, que podem ser curtas ou muito longas, dependo da variedade.[3]

Quanto ao biótipo, esta espécie trata-se de um terófito.[5]

Taxonomia

Sinonímia:[5]
  • Dolichos unguiculatus L.
  • Clitoria alba G. Don
  • Dolichos sesquipedalis L.
  • Dolichos sinensis L.
  • Dolichos sphaerospermus DC.
  • Dolichos melanophthalamus DC.
  • Phaseolus cylindricus L.
  • Phaseolus sphaerrospermus L.
  • Phaseolus unguiculatus (L.) Piper
  • Vicia catjang (L.) Walp.
  • Vicia sesquipedalis (L.) Wight
  • Vicia sinensis auct.

Descrição

São plantas geralmente anuais, erectas ou trepadoras, com caules estriados e glabrescentes, isto é, com tendência a perder os pelos que se dispõem na suas hastes.[5]

As suas folhas são trifolioladas, com apêndices (estípulas) na base do pecíolo, sendo os dois folíolos laterais oblíquos em relação ao plano do folíolo central. As flores dispõem-se em pequenos grupos semelhantes a cachos, com poucas flores, que partem da base do pecíolo das folhas (ou seja, em pseudocachos paucifloros axilares).

As flores, completas, têm o cálice bilabiado (formando duas partes que se dispõem como dois lábios), apresentando o lábio superior dois lóbulos e o inferior três. A corola é papilionácea, isto é, com cinco pétalas com a seguinte disposição: uma maior, externa (o estandarte ou vexilo) sob a qual se dispõem duas pétalas laterais (as "asas") fechadas sobre duas pétalas internas, unidas em forma de quilha (ou carena) que, por sua vez, protegem os órgãos reprodutores da flor.

O estandarte é arredondado, geralmente de cor branca, esverdeada, amarela ou lilacínea, enquanto que as asas variam do azul ao púrpura. A quilha é esbranquiçada e não espiralada. Existe uma variedade de flores lilacíneas e outra de flores violáceas com vexilo amarelo. Cada flor tem dez estames, dos quais nove estão unidos uns aos outros e um é livre. O carpelo tem um estigma encurvado e húmido que facilita a aderência dos grãos de pólen. O ovário é estreito e alongado, com os óvulos distribuídos em linha, o que explica o comprimento invulgarmente extenso da vagem.

As flores abrem-se apenas nas primeiras horas da manhã, não permitindo que a polinização por parte de insectos ocorra frequentemente. De facto, a autopolinização é a regra nesta espécie.

As vagens são lisas, lineares e cilíndricas, com sementes numerosas. Estas apresentam-se de cor branca ou amarelada, geralmente com o hilo (o "olho" do feijão) com uma orla castanha ou negra, que permite facilmente a sua identificação.

Origem

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Crê-se que o feijão-frade tenha provindo da África Ocidental

Ao arrepio do que sucede com outros cultivares lautamente difundidos pelo planeta, pouco se sabe a respeito da história da domesticação, dispersão geográfica e cultivo do feijão-frade.[6] Sendo certo que não há provas arqueológicas que assegurem a origem mais primordial do cultivo do feijão-frade, o centro de diversidade do seu cultivo radica na África Ocidental, o que sugere que o centro de origem desta espécie possa ser aí.[7]

A contrapelo, há novas investigações que têm vindo a sustentar que a domesticação pode ter ocorrido na África Oriental.[6]

Pese embora a data original de cultivo seja ainda desconhecida e objecto de debate académico, o feijão-frade é, não obstante, contemplado como sendo uma das espécies de cultivares domesticados mais antigas.[8] Foram encontrados vestígios arqueológicos de feijões-frade esturrados em grutas no Gana central, que se crê que datem do segundo milénio antes de Cristo.[9] Julga-se que por volta de 23000 a.C, o feijão-frade tenha sido levado para o Sudeste asiático, onde terá ocorrido uma domesticação secundária.[10] A partir daí, séculos mais tarde, a espécie terá sido levada para o Mediterrâneo, onde foi cultivada pelos gregos e romanos antigos.[11] Com efeito, as primeiras abonações literárias que remetem para o feijão-frade, remontam ao século III a.C.[10][7]

Possui várias subespécies, como o feijão-chicote, que têm, por sua vez, inúmeras variedades, cultivadas pelas sementes comestíveis, de formas e cores diversas, utilizadas também como forragem especialmente nutritiva e como adubo verde.

Portugal

Cultivado no território continental desde o período da ocupação romana, foi um dos cultivares mais comum durante séculos, tendo, todavia, sofrido uma progressiva estagnação a partir do século XX.[12] Presentemente, é mais cultivado na região do Alentejo, para obtenção do grão, para consumo humano, e da planta forrageira, para consumo de gado.[12]

Cabo Verde

Dentre o rol de bens de produção nacional cabo-verdiano, o feijão-miúdo é dos que mais se destaca, tanto mais que grande parte do consumo nacional depende da respectiva produção nacional.[13] No que concerne especificamente ao feijão-frade, amiúde denominado no país como bongolon, corresponde a uma leguminosa com significativas potencialidades de enriquecimento do solo em azoto, com a vantagem acrescida de que, sendo uma espécie grande resistência às deficiências hídricas, adapta-se perfeitamente às condições do bioma cabo-verdiano.[13]

Brasil

Este tipo de feijão constitui a base alimentar de muitas populações rurais devido ao seu elevado valor nutritivo a nível proteico e energético e à sua fácil adaptação a solos de baixa fertilidade e com períodos de seca prolongada.[3] Na Região nordeste do Brasil, a colheita de suas vagens e o consumo de seus feijões ocorrem tanto na fase de plena maturação quanto antes, caso este em que o produto é denominado "feijão-verde", sendo largamente usado na culinária regional. O feijão maduro é ingrediente básico do acarajé, bolinho frito típico da culinária baiana.

Produção mundial

Mais informação País, Produção em 2018 (toneladas anuais) ...
País Produção em 2018
(toneladas anuais)
Nigéria2.606.912
Níger2.376.727
 Burquina Fasso630.965
Gana215.350
Tanzânia202.865
Camarões185.832
 Quênia179.399
Mali157.739
Myanmar Myanmar136.411
Sudão104.667
Fonte: Food and Agriculture Organization[14]
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Outras designações

Além dos nomes já referidos, esta espécie tem também os seguintes nomes populares:

Portugal

  • Feijão-carito[15]
  • Feijão-pequeno[16]
  • Chícharo[17]
  • Culita[18]
  • Dolico-de-Cuba[5]
  • Favolinha[5]
  • Feijão-chicote[5]
  • Feijão-de-Cuba[5]
  • Feijão-de-metro[5]
  • Feijão-espargo[5]
  • Feijão-frade[5]
  • Alfange[5]
  • Feijão-gigante[5]
  • Feijoeiro-de-lagartixa[5]
  • Feijão-de-corda[5]

Brasil

  • boca-preta
  • ervilha-de-vaca
  • favalinha
  • feijão-alfanje
  • feijão-besugo
  • feijão-careta
  • feijão-carita
  • feijão-carito
  • feijão-chicote
  • feijão-chícharo
  • feijão-chinês
  • feijão-congo
  • feijão-corda
  • feijão-da-china
  • feijão-de-boi
  • feijão-de-corda
  • feijão-de-frade
  • feijão-de-macáçar
  • feijão-de-olho-preto
  • feijão-de-vaca
  • feijão-de-vara
  • feijão-frade
  • feijão-frade-comprido
  • feijão-galego
  • feijão-gurutuba
  • feijão-lagartixa
  • feijão-macáçar
  • feijão-mancanha
  • feijão-mineiro
  • feijão-miúdo
  • feijão-miúdo-da-china
  • feijão-vinha
  • feijãozinho-da-índia
  • mebauene
  • mucunha
  • mulato-gelato

Angola

  • feijão-macundi
  • maconde
  • macunde[19]
  • macundi

Cabo Verde

  • feijão mongolão
  • mongolão[20]
  • "bongolon" (Crioulo de Cabo Verde)

Moçambique

  • nhemba[21]
  • namerrua
  • Ikhutye

Referências

  1. Julio Seabra Inglez Souza (1995). Enciclopédia agrícola brasileira: E-H. EdUSP. pp. 190 – 191. ISBN 978-85-314-0584-6
  2. Freire Filho, F. R. (2011). «Feijão-Caupi no Brasil: Produção, Melhoramento Genético, Avanços e Desafios» (PDF). EMBRAPA Meio-Norte. Teresina, PI. Consultado em 10 de setembro de 2018
  3. «Conhecendo um pouco o Feijão-caupi». IBRAFE.ORG. Consultado em 28 de agosto de 2024
  4. Xiong, Haizheng; Shi, Ainong; Mou, Beiquan; Qin, Jun; Motes, Dennis; Lu, Weiguo; Ma, Jianbing; Weng, Yuejin; Yang, Wei (2016). «Genetic Diversity and Population Structure of Cowpea (Vigna unguiculata L. Walp)». PLOS ONE. 11 (8): e0160941. Bibcode:2016PLoSO..1160941X. ISSN 1932-6203. PMC 4980000Acessível livremente. PMID 27509049. doi:10.1371/journal.pone.0160941
  5. Ogunkanmi, L. A.; Taiwo, A.; Mogaji, O. L.; Awobodede, A.; Eziashi, E. E.; Ogundipe, O. T. (2005–2006). «Assessment of genetic diversity among cultivated cowpea (Vigna unguiculata L. Walp.) cultivars from a range of localities across West Africa using agronomic traits». Journal Sci. Res. Dev. 10: 111–118
  6. Chivenge, Pauline; Mabhaudhi, Tafadzwanashe; Modi, Albert T.; Mafongoya, Paramu (2017). «The Potential Role of Neglected and Underutilised Crop Species as Future Crops under Water Scarce Conditions in Sub-Saharan Africa». International Journal of Environmental Research and Public Health. 12 (6): 5685–5711. ISSN 1661-7827. PMC 4483666Acessível livremente. PMID 26016431. doi:10.3390/ijerph120605685
  7. D'Andrea; et al. (2007). «Early domesticated cowpea (Vigna unguiculata) from Central Ghana». Antiquity. 81 (313): 686–698. doi:10.1017/S0003598X00095661
  8. Perrino, P.; Laghetti, G.; Spagnoletti Zeuli, P. L.; Monti, L. M. (1993). «Diversification of cowpea in the Mediterranean and other centres of cultivation.». Genetic Resources and Crop Evolution. 40 (3): 121–132. doi:10.1007/bf00051116
  9. Ensminger, Marion Eugene; Ensminger, Audrey H. (1993). Foods & Nutrition Encyclopedia, Two Volume Set (em inglês). [S.l.]: CRC Press. ISBN 978-0-8493-8980-1
  10. «Página de Espécie • Naturdata - Biodiversidade em Portugal». Naturdata - Biodiversidade em Portugal. Consultado em 29 de maio de 2021
  11. Pereira Silva, Maria Emedina (2010). EFICÁCIA DE PÓS DE PLANTAS CONTRA ACANTHOSCELIDES OBTECTUS (SAY) EM FEIJÃO-FRADE ARMAZENADO. Lisboa: Instituto Superior de Agronomia. pp. 6–7
  12. «Feijão Frade». www.cienciaviva.pt. Consultado em 28 de maio de 2021
  13. Infopédia. «chícharo | Definição ou significado de chícharo no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 28 de maio de 2021
  14. Infopédia. «macunde | Definição ou significado de macunde no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 14 de junho de 2021
  15. Infopédia. «mongolão | Definição ou significado de mongolão no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 14 de junho de 2021
  16. Infopédia. «nhemba | Definição ou significado de nhemba no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 14 de junho de 2021

Referências bibliográficas

Ligações externas

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