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A expulsão dos mouriscos da Espanha foi decretada a 9 de abril de 1609 por Filipe III da Espanha. Os mouriscos eram os descendentes da população de religião muçulmana convertida ao cristianismo pela pragmática dos Reis Católicos de 14 de fevereiro de 1502.
A decisão de expulsar os mouriscos veio determinada por várias causas:
A opinião pública a respeito dos mouriscos encontrava-se muito dividida entre os que consideravam que se devia dar tempo à sua cristianização, os que consideravam que se devia continuar tolerando e os que propunham expulsá-los.
A população mourisca consistia em cerca de 325 mil pessoas num país de uns 8,5 milhões de habitantes ou seja os mouriscos eram 3% da população. Estavam concentrados nos reinos de Aragão, no que constituíam cerca de 20% da população, e de Valência, onde representavam cerca de 33% do total de habitantes. Adicionalmente, o crescimento da população mourisca era bastante superior ao da cristã. As terras ricas e os centros urbanos desses reinos eram mormente cristãos, enquanto os mouriscos ocupavam a maior parte das terras pobres e se concentravam nos subúrbios das cidades.
Em Castela a situação era muito diferente: de uma população de 6 milhões de habitantes, entre mouriscos e mudéjares representavam apenas cerca de 100 mil pessoas ou menos de 1% da população e todos na Antiga Granada, estado já extinto na Idade Média. Devido a esta muito menor percentagem da população e à positiva experiência com os antigos mudéjares, os quais levavam séculos convivendo com a população cristã, o ressentimento para os mouriscos na coroa de Castela era menor ao da população cristã da coroa de Aragão.
Um grande número de eclesiásticos apoiavam a opção de dar tempo, uma opção em parte apoiada por Roma, pois consideravam que uma total conversão requeria de uma prolongada assimilação nas crenças e na sociedade cristãs. A nobreza aragonesa e valenciana era partidária de manter a situação, pois estes eram os grupos que mais se beneficiavam da mão-de-obra mourisca nas suas terras. O campesinato, porém, via-os com ressentimento e considerava-os rivais.
Entre os defensores da expulsão encontrava-se Jaime Bleda, inquisidor de Valência (onde a população mourisca era a mais numerosa), que propôs ao rei a expulsão. A princípio, a ideia não foi considerada pelo governo, mas a mesma foi proposta de novo pelo arcebispo de Valência, Juan de Ribera, que apoiava a expulsão, ao considerá-los hereges e traidores, ao que o arcebispo acrescentou uma característica que tornou a proposição atraente: o rei poder-se-ia beneficiar da confiscação dos bens e propriedades da população mourisca e até mesmo escravizá-los.
A política a respeito da população mourisca até 1608 fora a de conversão, embora antes Carlos I (em 1526) e Filipe II (em 1582) pretendessem uma medida mais radical. Contudo, foi a partir de 1608 que o Conselho de Estado começou a considerar a opção da expulsão e em 1609 recomendou ao rei tomar tal medida.
A 9 de abril de 1609 tomou-se a decisão de expulsar os mouriscos. Todavia, o processo podia implicar problemas devido à importância da população destes habitantes. Decidiu-se começar por Valência, onde a população mourisca era maior, sendo os preparativos levados no mais estrito segredo. Desde princípios de setembro, terços chegados da península Itálica tomaram posições no norte e sul do reino de Valência e, a 22 desse mês, o vice-rei ordenou a publicação do decreto. A aristocracia valenciana reuniu-se com representantes do governo para protestar contra a expulsão, pois esta implicaria uma diminuição das suas rendas, mas a oposição ao decreto diminuiu com a oferta de ficarem com parte da propriedade territorial dos mouriscos. À população mourisca foi permitido levar tudo aquilo que pudessem, ainda que as suas casas e terrenos passavam às mãos dos seus senhores, com pena de morte caso fossem queimadas ou destruídas antes da transferência.
A partir de 30 de setembro foram deslocados até os portos, nos quais, como ofensa última, foram obrigados a pagar a passagem. Os primeiros mouriscos foram transportados para o norte da África, onde ocasionalmente foram atacados pela população dos países receptores. Isto causou temores na população mourisca remanescente em Valência, e a 20 de outubro decorreu uma rebelião mourisca contra a expulsão. Os rebeldes foram reduzidos em novembro e terminou-se com a expulsão dos últimos mouriscos valencianos. Em princípios de 1610 foi realizada a expulsão dos mouriscos aragoneses e em setembro a dos mouriscos catalães.
A expulsão dos mouriscos de Castela era uma tarefa mais árdua, pois estavam muito mais dispersos após terem sido repartidos em 1571 pelo reino, depois da rebelião das Alpujarras. Devido a isto, foi oferecida à população mourisca uma opção de saída voluntária do país, pela qual podiam levar as suas posses mais valiosas e tudo aquilo que pudessem vender. Assim, em Castela a expulsão durou três anos (de 1611 a 1614) e até mesmo alguns conseguiram evadir-se à expulsão e permaneceram na Espanha.
O Conselho de Castela avaliou a expulsão em 1619, e concluiu que não tivera efeitos econômicos para o país. Isto era verdade para o reino de Castela, pois alguns estudiosos do fenômeno não encontraram consequências econômicas nos setores em que a população mourisca era mais importante. De fato, o quebranto demográfico não podia ser comparado com o meio milhão de vítimas da grande peste de 1598-1602, cinco vezes mais do que o número de mouriscos expulsos em esse reino. Contudo, no Reino de Valência implicou um abandono dos campos e um vazio em certos setores ao não poder a população cristã ocupar o grande espaço deixado pela numerosa população mourisca. Estima-se que, no momento da expulsão, cerca de 33% dos habitantes do Reino de Valência eram mouriscos; assim, algumas comarcas do norte de Alicante perderam praticamente toda a sua população, que foi necessário repor, tanto nesta quanto em outras zonas, com incentivos à repovoação desde outros pontos da Espanha.
A expulsão de cerca de 4% da população pode parecer de pouca importância, mas se tem de considerar que a população mourisca era uma parte importante da massa trabalhadora, pois não constituíam nobres, fidalgos, soldados nem sacerdotes. Portanto, isto implicou uma míngua na arrecadação de impostos, e nas zonas mais afetadas (Valência e Aragão) teve uns efeitos despovoadores que duraram décadas e causaram um vazio importante no artesanato, produção de telas, comércio e trabalhadores do campo. Muitos camponeses cristãos ademais viam como as terras deixadas pela população mourisca passavam às mãos da nobreza, a qual pretendia que o campesinato as explorasse em troca de uns alugueres e condições abusivas para recuperar as suas "perdas" a curto prazo. Pelo outro lado, parte dos expulsos incorporaram-se aos piratas berberescos que assaltaram as costas mediterrâneas espanholas durante perto de um século.
Cervantes assinalava já na história de Ricote incluída no Quixote as consequências humanas da expulsão dos mouriscos. O humanista judeu-converso e antiescolástico Pedro de Valência, discípulo e testamentar do hebraísta Benito Arias Montano, escreveu com o seu Tratado acerca de los moriscos de España, inédito até 1979, a defesa melhor argumentada da causa dos expulsos. Denúncia "o agravo ao privá-los das suas terras e em não os tratar com igualdade de honra e estima com os demais cidadãos e naturais". Levanta-se contra os estatutos do cardeal Siliceo e propugna uma política de matrimônios mistos de mouriscos e cristãos velhos para "persuadir os cidadãos da república, que todos são irmãos de uma linhagem e de um sangue". No século XVI foi vindicada a sua figura na Historia de la rebelión y castigo de los moriscos (1600) de Luis de Mármol y Carvajal.
No século XX os historiadores Américo Castro, Antonio Domínguez Ortiz, Julio Caro Baroja, Mercedes García-Arenal, Bernard Vincent, Louis Cardaillac, Francisco Márquez Villanueva e o escritor Juan Goytisolo reivindicaram o desastre que tanto para a Espanha quanto para os mouriscos implicou a sua expulsão, em termos econômicos, culturais e humanos. Os estatutos de limpeza de sangue anulavam a meritocracia do comércio e do trabalho frente à "negra honra" dos cristãos velhos, fazendo impossível deter a já perceptível decadência espanhola até as Cortes de Cádiz, em que pese às políticas mais sensatas de Olivares e dos ministros iluminados do século XVIII.
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