Cumbi-Salé

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Cumbi-Salé ou Cumbi Salé[1][2] (K(o)umbi Saleh ou K(o)umbi-Saleh) é o sítio duma cidade medieval arruinada ao sudeste da Mauritânia que pode ter sido a capital do Império do Gana. Desde o século IX, os autores árabes fazem menção ao Império do Gana em conexão com o comércio transaariano de ouro. Albacri, escrevendo no século XI, descreveu a capital do Gana como consistindo de duas cidades, com seis milhas de distância uma da outra, onde em uma habitavam os mercadores muçulmanos e na outra o rei do Gana.

Factos rápidos Localização atual, Dados históricos ...
Cumbi-Salé
Koumbi-Saleh
Localização atual
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Cumbi-Salé
Localização de Cumbi-Salé na Mauritânia
Coordenadas 15° 49′ 10″ N, 7° 59′ 25″ O
País  Mauritânia
Área 840 000 m²
Dados históricos
Fundação século IX
Abandono século XIV
Império do Gana
Notas
Escavações 1914; 1949-1951; 1975-76; 1980-1981
Arqueólogos Albert Bonnel de Mézières
Paul Thomassey
Raymond Mauny
Serge Robert
Sophie Berthier
Acesso público Sim
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A descoberta em 1913 duma crônica africana do século XVII que fornece o nome da capital como Cumbi levou os arqueólogos franceses às ruínas de Cumbi-Salé. Escavações no sítio revelaram as ruínas duma grande cidade muçulmanas com casas construídas de pedras e uma mesquita congressional, mas nenhuma inscrição inequivocamente identifica o sítio com a capital do Gana. As ruínas da cidade régia descritas por Albacri não foram encontradas. A datação por radiocarbono sugere que o sítio foi ocupado entre o final do século IX e o XIV.

Fontes árabes e capital do Império do Gana

Império do Gana em sua maior extensão

O autor mais antigo a mencionar Gana é o astrônimo persa Ibraim al-Fazari que, escrevendo no final do século VIII, refere-se ao "território de Gana, a terra do ouro".[3] O Império do Gana situava-se na região do Sael ao norte dos campos de ouro do Sudão Ocidental e foi capaz de enriquecer mediante o controle do comércio transaariano de ouro. A história precoce de Gana é desconhecida, mas há evidências de que o Norte da África começou a importar ouro da África Ocidental antes da conquista árabe em meados do século VII.[4]

Nas fontes árabes medievais a palavra "Gana" pode referir-se ao título real, o nome duma capital ou um reino.[5] A referência mais antiga de Gana como cidade está na obra de Alcuarismi, que faleceu cerca de 846.[6][7] Dois séculos depois uma descrição detalhada da cidade é fornecida por Albacri em seu Livro das Rotas e Reinos que ele concluiu em torno de 1068. Albacri nunca visitou a região, mas obteve sua informação de escritores mais antigos e de informantes que encontrou no Alandalus:

A cidade de Gana consiste em duas cidades situadas em uma planície. Uma destas cidades, que é habitada por muçulmanos, é grande e possui doze mesquitas, em uma das quais eles se reúnem para a oração da sexta-feira. [...] Nos arredores estão poços com água doce, da qual bebem e com a qual eles cultivam vegetais. A cidade do rei está a seis milhas de distância desta e porta o nome de al-Gaba. Entre estas duas cidades estão habitações contínuas. As casas dos habitantes são de pedra e madeira de acácia. O rei tem um palácio e algumas residências abobadadas todas cercadas com um recinto como uma muralha citadina. Na cidade real, e não longe de suas cortes de justiça, está uma mesquita onde muçulmanos que chegam em sua corte oram. Em torno da cidade do rei estão edifícios abobadados e bosques e arvoredos onde os feiticeiros destes povos, homens no comando do culto religioso, vivem.[8][9]

As descrições fornecidas pelos autores árabes carecem de detalhamento suficiente para apontar a localização exata da cidade. De fato, as fontes parece contraditórias com Dreses colocando a cidade em ambos os lados do rio Níger.[6][10][11] A crônica africana muito posterior do século XVII, a Tarikh al-fattash, alega que o Império do Mali foi antecedido pela dinastia Caiamagna (Kayamagna) que tinha como capital a cidade de Cumbi.[12] A crônica não usa a palavra Gana. A outra crônica relevante do século XVII, a História do Sudão, menciona que o Império do Mali veio após a dinastia de Caiamaga (Qayamagha) e que sua capital situava-se na cidade de Gana.[13] Assume-se que a dinastia "Caiamagna" e Caiamaga governou o Império do Gana mencionado nas fontes árabes mais antigas.[14]

Na tradução francesa do Tarikh al-fattash publicada em 1913, Octave Houdas e Maurice Delafosse incluíram uma nota de rodapé na qual comentaram que a tradição local também sugeriu que a primeira capital de Caiamagna foi em Cumbi e que a cidade estava na região de Uagadugu, a nordeste de Gumbu sobre a estrada que leva de Gumbu para Néma e Ualata.[15]

Sítio arqueológico

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Rotas transaarianas do Saara Ocidental c. 1000-1500

Suas extensas ruínas foram relatadas pela primeira vez por Albert Bonnel de Mézières em 1914.[16] Começando com Bonnel em 1914, o sítio foi escavado por grupos sucessivos de arqueólogos franceses. Paul Thomassey e Raymond Mauny escavaram entre 1949 e 1951,[17][18] Serge Robert durante 1975-76 e Sophie Berthier durante 1980-81.[19] Ele localiza-se na região do Sael a sul da Mauritânia, 30 quilômetros ao norte da fronteira do Mali, 57 quilômetros a sul-sudeste de Timbédra e 98 quilômetros da cidade de Nara no Mali. A vegetação é de gramíneas baixas com matagal espinhoso e ocasionais árvores acácias. Na estação úmida (julho-setembro), a chuva limitada preenche algumas depressões, mas para o resto do ano não há chuva e nenhuma superfície com água.

Sua principal seção está sobre uma pequena colina que atualmente ascende aproximados 15 metros acima da planície circundante. A colina teria originalmente sido mais baixa e sua atual altura é resultado do acúmulo de ruínas.[20] As casas eram feitas com pedra local (xisto) usando adobe em vez de argamassa[21] e devido a grande quantidade de escombros presentes é possível afirmar que alguns dos edifícios tinham mais que um andar.[22] As salas internas foram bastante estreitas, provavelmente devido a ausência de grandes árvores para produção de longas vigas para apoiar os telhados.[23]

As casas foram muito próximas umas das outras e eram apenas separadas por vias estreitas. Em contraste, uma ampla avenida, de 12 metros de comprimento, corria na direção leste-oeste através da cidade. Na extremidade oeste há um sítio aberto, talvez usado como mercado.[24] A principal mesquita da cidade estava centralmente situada na avenida. Ela media aproximadamente 46 metros de leste a oeste e 23 metros de norte a sul e sua extremidade era provavelmente aberta para o céu; seu mirabe, consequentemente, defrontava o leste.[25]

A seção superior da cidade cobria uma área de 700 por 700 metros. A sudoeste situava-se uma área mais baixa (500 por 700 metros) que teria sido ocupada por estruturas menos permanentes e ocasionais edifícios em pedra.[26] Houve dois grandes cemitérios fora da cidade sugerindo que o sítio foi ocupado por período prolongado. Datação por radiocarbono de fragmentos de carvão de uma casa perto da mesquita fornece datas no intervalo entre o final do século IX e o XIV.[27] O arqueólogo francês Raymond Mauny estimou que teria acomodado 15 000 a 20 000 habitantes,[28] reconhecendo que a população era enorme para uma cidade no Saara com suprimento limitado de água.[24] A evidência arqueológica sugere que Cumbi-Salé foi uma cidade muçulmana com forte conexão com o Magrebe. Nenhuma inscrição foi encontrada nas ruínas para ligá-la inequivocamente com a capital muçulmana do Gana descrita por Albacri. Contudo, as ruínas da cidade real de al-Gaba não foram encontradas.[29] Isso levou a alguns historiadores a duvidarem da identificação de Cumbi-Salé como capital do Gana.[30][31]

Estatuto de Patrimônio Mundial

O sítio arqueológico foi adicionado à Lista Indicativa do Patrimônio Mundial da UNESCO em 14 de junho de 2001 na categoria cultural.[32]

Referências

  1. Mauny 1954, p. 201.
  2. Garrard 1982, p. 450.
  3. Masonen 2000, p. 516.
  4. Mauny 1954, p. 205.
  5. Levtzion 2000, p. 79–80.
  6. Albacri 1913, p. 328.
  7. Levtzion 2000, p. 109; 390, nota 8.
  8. Houdas 1913, p. 75-76.
  9. Hunwick 2003, p. 13, nota 1.
  10. Houdas 1913, p. 76, nota 2.
  11. Thomassey 1951, p. 440, nota 4; 449.
  12. Thomassey 1951, p. 449, nota 1.
  13. Mauny 1961, p. 482.
  14. Mauny 1961, p. 472-473.
  15. Mauny 1961, p. 481.
  16. Levtzion 1973, p. 23-24.
  17. Mauny 1954, p. 207.

Bibliografia

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