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Caio Márcio Coriolano (em latim: Gaius Marcius ou Caius Martius Coriolanus) foi um general da gente Márcia da República Romana no século V a.C. Ele recebeu seu cognome toponímico, "Coriolano", por causa do excepcional valor demonstrado no cerco romano à cidade volsca de Corioli. Posteriormente foi exilado de Roma e liderou os próprios volscos em um cerco a Roma. Segundo Plutarco, entre seus ancestrais estavam proeminentes patrícios como Censorino e Anco Márcio, o quarto rei de Roma.
Coriolano | |
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"Coriolano", de Wilhelm Wandschneider (1904), em Plau am See, Alemanha | |
Nome completo | Caio Márcio Coriolano |
Nome de nascimento | Gaius Marcius Coriolanus |
Dados pessoais | |
Nascimento | Século VI a.C. |
Morte | Século V a.C. |
Vida militar | |
País | República Romana Volscos |
Hierarquia | General |
Batalhas | Guerras romano-volscas; Cerco de Roma (488 a.C.) |
Posteriormente, ainda na antiguidade, era geralmente aceito como histórica a existência de Coriolano e uma narrativa consensual de sua história apareceu, recontada pelos principais historiadores da época, como Lívio, Plutarco e Dionísio de Halicarnasso. Estudos modernos, porém, colocam em dúvida a existência do grande general, considerando-o uma figura inteiramente lendária ou, pelo menos, disputando a acuracidade da história convencional de sua vida ou a datação dos principais eventos.[1]
Sua história foi a base para a tragédia "Coriolano", de William Shakespeare, e de diversas outras obras, incluindo Ouvertüre Coriolan op.62, de Beethoven (que se baseou na peça "Coriolan", de Heinrich Joseph von Collin).
Coriolano ficou famoso ainda jovem servindo no exército do cônsul Póstumo Comínio Aurunco, em 493 a.C., durante o cerco da cidade volsca de Corioli. Enquanto os romanos estavam concentrados no cerco, uma outra força volsca chegou de Âncio[2] e atacou os romanos, o que levou a um ataque simultâneo dos habitantes da cidade. Caio Márcio era o responsável pela vigilância no momento do ataque e rapidamente juntou uma pequena força de soldados para lutar contra os volscos que saíram de Corioli para atacá-los. Não apenas ele conseguiu repeli-los, mas também conseguiu atravessar os portões da cidade e incendiou algumas das casas que beiravam a muralha. Os cidadãos começaram a gritar e toda a força volsca se desesperou imaginando que a cidade havia caído e acabou derrotada pelos romanos. A cidade foi capturada e Márcio recebeu o cognome de "Coriolano" por sua bravura.[3]
Em 491 a.C., dois anos depois da vitória de Coriolano sobre os volscos, Roma estava se recuperando de uma falta de cereais. Uma importante quantidade era importada da Sicília e o Senado debatia a melhor forma de distribuir os alimentos para a plebe. Coriolano defendeu que os cereais só deveriam ser distribuídos se fossem revertidas as duas medidas pró-plebeias aprovadas depois da primeira secessão da plebe, no ano anterior.[4]
O Senado considerou a proposta dura demais, mas a população ficou furiosa e os recém-criados tribunos da plebe o colocaram em julgamento. Os senadores lutaram pela absolvição de Coriolano ou, pelo menos, por uma sentença misericordiosa. Porém, Coriolano desafiou os plebeus e se recusou a aparecer na corte no dia de seu julgamento e acabou condenado in absentia.[5]
Coriolano então fugiu para os volscos e pediu asilo. Foi recebido e tratado com respeito, passando a morar na mansão do líder volsco, Átio Tulo Aufídio.[5] O relato de Plutarco sobre esta deserção conta que Coriolano teria se disfarçado e entrado na casa de Aufídio como um fugitivo. Os dois então conseguiram convencer os volscos a violarem a trégua com Roma e prepararam um exército para invadir. Lívio conta que Aufídio enganou o Senado Romano, forçando-o a expulsar os volscos de Roma durante a celebração dos Jogos Romanos, criando o ímpeto para a guerra entre os volscos.[6]
Em 488 a.C., Coriolano e Aufício lideraram o exército volsco contra cidades, colônias e aliados de Roma, expulsando todos os colonos de Circeios. Em seguida, os dois conseguiram retomar as antigas cidades de Sátrico, Longula, Polusca e Corioli. Sem interrupção, os volscos capturaram ainda Lavínio, depois Córbio, Vitélia, Trébia, Lavici e Pedo.[7]
O passo final da campanha foi marchar até Roma, que foi cercada. Os volscos inicialmente acamparam na trincheira cluiliana, a oito quilômetros de Roma, e passaram a arrasar a zona rural. Vingativo, Coriolano guiou as forças volscas contra propriedades plebeias e poupou as patrícias.[7]
Os cônsules , Espúrio Náucio Rutilo e Sexto Fúrio Medulino, prepararam as defesas da cidade, mas os plebeus imploraram para que eles pedissem a paz. O Senado se reuniu e concordou em enviar emissários ao inimigo, todos de status consular, entre eles Espúrio Lárcio, Quinto Sulpício Camerino e Póstumo Comínio Aurunco. Da primeira vez, Coriolano recusou a paz. Da segunda, os embaixadores sequer conseguiram entrar no acampamento. Em seguida, sacerdotes, com suas vestes e regalias, foram enviados, mas não conseguiram nada diferente dos embaixadores.[7]
Em seguida, a mãe de Coriolano, Vetúria (chamada de Volúmnia na peça de Shakespeare) e sua esposa Volúmnia (chamada de Virgília na peça) e os dois filhos deles, juntamente com as matronas de Roma, foram até o acampamento volsco e imploraram a Coriolano que parasse de atacar Roma. Coriolano finalmente cedeu e levantou seu acampamento, terminando o cerco. Roma homenageou o serviço prestado pelas mulheres com a construção do Templo da Fortuna das Mulheres (uma divindade feminina).[8]
O destino de Coriolano depois deste ponto é incerto, mas aparentemente ele não participou mais da guerra.[8]
A versão de Plutarco do pedido de Coriolano a Aufídio é muito semelhante à história da vida de Temístocles, um líder da democracia ateniense, contemporâneo de Coriolano. Durante o exílio de Temístocles de Atenas, ele viajou até a casa de Admeto, rei dos molossos, que era seu inimigo pessoal. Ele teria chegado disfarçado e apelou ao rei como um fugitivo, exatamente como Coriolano fez. Temístocles, porém, jamais realizou nenhuma campanha retaliatória contra Atenas.
Alguns estudiosos modernos questionam partes da história de Coriolano.[1] É notável que os relatos da vida de Coriolano só aparecem em obras do século III a.C., mais de 200 anos depois de sua morte, e há poucos registros históricos autoritativos sobreviventes anteriores saque pelos gauleses em 387 a.C.. Se o próprio Coriolano é ou não uma figura história, sua saga preserva uma memória popular genuína das obscuras e infelizes décadas do início do século V a.C., quando os volscos invadiram o Lácio e ameaçaram a própria existência de Roma.
"Coriolano", de Shakespeare, é a última de suas "peças romanas". É o retrato de um herói que resultou em uma duradoura tradição de interpretações políticas do personagem como um líder antipopulista ou mesmo um protofascista. A versão de Bertolt Brecht, Coriolano (1951) é particularmente forte nesse aspecto.[9] Suzanne Collins também faz referência a essa interpretação antipopulista, em sua trilogia Jogos Vorazes através da personagem Coriolano Snow, um ditador totalitário que preserva a ordem na sociedade degenerada dos livros, embora ele próprio tenha pouco em comum com a figura de Coriolano. A peça de Shakespeare também foi a base para o filme Coriolanus, de 2011, dirigido por Ralph Fiennes, o qual também interpretou o papel principal.
A peça teatral Coriolan (1804), de Heinrich Joseph von Collin, retrata Coriolano como um herói trágico, segundo os ideais do romantismo alemão. A Ouvertüre Coriolan op.62 (1807), de Beethoven, foi escrita como música de cena para a peça de Collin.
T. S. Eliot escreveu uma série de poemas em 1931 intitulada "Coriolan".
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