Colchicina ou colquicina é um alcaloide altamente venenoso, originalmente extraído da planta Colchicum autumnale.

Estrutura química de Colchicina
Colchicina
Aviso médico
Nome IUPAC (sistemática)
N-((7S)-5,6,7,9-tetrahydro-
1,2,3,10-tetramethoxy-9-
oxobenzo(a)heptalen-7-yl)-
acetamide
Identificadores
CAS 64-86-8
ATC M04AC01
PubChem 6167
Informação química
Fórmula molecular C22H25NO6 
Massa molar 399,437 [3]
Farmacocinética
Biodisponibilidade cerca de 45%
Metabolismo hepático [3]
Meia-vida 9 h
Excreção 10-20% renal

Restante pelo trato intestinal [3]

Considerações terapêuticas
Administração Comprimidos orais
DL50  ?

Tem sido usada no tratamento de diversas enfermidades, porém em escala cada vez menor devido a sua alta toxicidade.[1][2]

Em 2010 a Colchicum autumnale foi eleita a "planta venenosa do ano".[2]

Farmacologia

Mecanismo de ação

É uma substância que inibe a polimerização das proteínas do fuso mitótico, parando a divisão celular na metáfase. É usada principalmente para se fazer o cariótipo da célula que se quer estudar, pois na metáfase os cromossomas se encontram no maior grau de condensação, facilitando a observação ao microscópio.

A colchicina é um agente antimitótico que se liga aos dímeros da tubulina. Ela interfere com a função dos fusos mitóticos e causa a despolimerização, inibindo a elongação dos microtúbulos e fazendo com que a migração dos granulócitos para a região inflamada seja inibida e haja redução das atividades metabólica e fagocitária dessas células. Isso reduz a liberação do ácido láctico e de enzimas pró-inflamatórias, que ocorrem durante a fagocitose, rompendo o ciclo que resulta na resposta inflamatória.

A cochicina é importante no estudo dos cromossomas pois ela facilita a visão mais detalhada dos cromossomas gigantes o que acarreta no seu estudo mais detalhado. Ela é muito utilizada em preparações citogenéticas para interromper as divisões celulares, sendo que sua atuação consiste em impedir a organização dos microtúbulos.

Aplicações terapêuticas

A colchicina é utilizada no tratamento de gota, pericardite, artrite inflamatória, podendo também ser usada para tratar a Doença de Peyronie, Febre Mediterrânea Familiar e a Doença de Behçet.[2][3]

Trata-se de um agente antinflamatório único porque é muito eficaz contra a artrite gotosa, estando também indicado nas crises agudas de gota e como agente profilático. O efeito anti-inflamatório da colchicina na artrite gotosa aguda é relativamente seletivo para esta doença e é eficaz apenas em alguns casos nos outros tipos de artrite.[1]

Os neutrófilos expostos aos cristais de urato os ingerem e produzem uma glicoproteína que pode ser o agente etiológico da artrite gotosa aguda. Quando injetada nas articulações, essa substância produz artrite profunda que, sob o ponto de vista histológico, não se diferencia daquela causada pela injeção direta dos cristais de urato. A colchicina parece impedir a produção dessa glicoproteína pelos leucócitos.

COVID-19

Em agosto de 2020, a FAPESP anunciou preliminarmente que o medicamento poderia ajudar a combater a inflamação pulmonar e a acelerar a recuperação de pacientes com as formas moderada e grave de COVID-19.[4]

Em janeiro de 2021, um estudo feito no Canadá também deu indícios de redução nas hospitalizações e até óbitos de pacientes de covid-19.[2] Porém, o artigo não foi revisado por pares e se encontra no estado de preprint, apontando a incapacidade de afirmar qualquer desfecho com o uso da colchicina para tratar COVID-19.[5]

Em março de 2021, o grupo britânico RECOVERY Trial, declarou a interrupção do recrutamento do estudo do fármaco. A nota técnica declarou: "Até o momento, não houve evidência convincente do efeito da colchicina nos desfechos clínicos em pacientes internados com COVID-19."[6]

O estudo, publicado em outubro de 2021, com mais de 11 mil pacientes, concluiu: "...o uso de colchicina não foi associado a uma redução na mortalidade, duração da hospitalização ou risco de ser ventilado para aqueles que não estão sob ventilação...".[7]

Reações adversas

A reações mais comuns incluem vômitos, náuseas, fadiga, dor de cabeça, gota, cólicas, dor abdominal e dor na laringe e na faringe. No caso de diarréia, o uso deve ser imediatamente interrompido.[3]

Raramente também podem ocorrer outros sintomas como queda de cabelo, depressão medular, dermatite, alterações na coagulação e no fígado, reações alérgicas, aumento da creatina fosfoquinase, intolerância à lactose, dor muscular, redução do número de espermatozoides, púrpura, destruição das células musculares e doença neuromuscular tóxica.[3]

Altas doses podem também lesar a medula óssea e levar a uma anemia aplásica. Todos estes efeitos colaterais podem resultar da hiperinibição da mitose.[8]

Toxicidade

O envenenamento por colchicina foi comparado ao envenenamento por arsênico. Os sintomas iniciam de 2 a 5 horas após a ingestão da dose tóxica, e incluem: sensação de queimadura na boca e garganta, febre, vômitos, diarreia, dor abdominal e falência renal. Estes sintomas podem iniciar-se em qualquer momento dentro das primeiras 24 horas após ingestão. Entre 24 e 72 horas ocorre falência múltipla sistêmica, incluindo choque hipovolêmico devido ao extremo dano vascular e perda de líquido pelo trato gastrointestinal, o que pode levar ao óbito. Além disso, pode haver dano renal, resultando em anúria e hematúria. Ocorre ainda anemia, queda nos níveis de leucócitos (persistindo por vários dias), fraqueza muscular e falência respiratória. A recuperação pode ocorrer em 6 ou 8 dias. Não há antídoto específico para a colchicina, apesar de existirem vários tratamentos.

Referências

  1. P.R. Vade-mécum (n.d.). «Colchicina». P.R. Vade-mécum. Consultado em 29 de janeiro de 2021
  2. Welle (www.dw.com), Deutsche. «Substância de origem vegetal pode ser útil contra coronavírus | DW | 29.01.2021». DW.COM. Consultado em 29 de janeiro de 2021
  3. «Colchicina (Colchis): o que é, para que serve e como usar». Tua Saúde. Consultado em 29 de janeiro de 2021
  4. Tardif, Jean-Claude; Bouabdallaoui, Nadia; L’Allier, Philippe L.; Gaudet, Daniel; Shah, Binita; Pillinger, Michael H.; Lopez-Sendon, Jose; Luz, Protasio da; Verret, Lucie (27 de janeiro de 2021). «Efficacy of Colchicine in Non-Hospitalized Patients with COVID-19». medRxiv (em inglês): 2021.01.26.21250494. doi:10.1101/2021.01.26.21250494. Consultado em 27 de agosto de 2021
  5. «Colchicine in patients admitted to hospital with COVID-19 (RECOVERY): a randomised, controlled, open-label, platform trial». The Lancet Respiratory Medicine (em inglês) (0). 18 de outubro de 2021. ISSN 2213-2600. doi:10.1016/S2213-2600(21)00435-5. Consultado em 19 de outubro de 2021
  6. PubChem. «Colchicine». pubchem.ncbi.nlm.nih.gov (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2021

Wikiwand in your browser!

Seamless Wikipedia browsing. On steroids.

Every time you click a link to Wikipedia, Wiktionary or Wikiquote in your browser's search results, it will show the modern Wikiwand interface.

Wikiwand extension is a five stars, simple, with minimum permission required to keep your browsing private, safe and transparent.