O jacaré-de-papo-amarelo (nome científico: Caiman latirostris) é um réptil crocodiliano da família Alligatoridae e gênero Caiman. É amplamente distribuído pelo sudeste da América do Sul, ocorrendo em qualquer ecossistema associado à água nas bacias dos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e São Francisco, sendo comum desde o extremo leste do Brasil até o Uruguai. Também ocorre em ecossistemas costeiros, como mangues. É um animal carnívoro que vive aproximadamente cinquenta anos. São conhecidos por este nome pois, durante a fase do acasalamento, estes animais costumam ficar com a área do papo amarelada. Possuem o focinho mais largo de todos os crocodilianos. O nome científico latirostris (nariz largo) vem do latim latus (largo ou amplo) e rostrum (nariz ou focinho).[4]

Factos rápidos Estado de conservação, Classificação científica ...
Jacaré-de-papo-amarelo
Intervalo temporal:
MiocenoPresente
9–0 Ma[1]
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CITES Appendix I (CITES)[3]
Classificação científica edit
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Crocodilia
Família: Alligatoridae
Subfamília: Caimaninae
Clado: Jacarea
Gênero: Caiman
Espécies:
C. latirostris
Nome binomial
Caiman latirostris
Daudin, 1801
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Sinónimos
Fechar

Características

Mede em média cerca de 2 metros mas já foram registrados indivíduos excepcionalmente grandes com 3,5 metros.[5][6] Animais adultos tendem a ser de cor verde-oliva, enquanto os filhotes são mais amarronzados com costas listradas de preto e pontos escuros na cabeça e lateral da mandíbula inferior.[4][7] Animais velhos são quase negros.[7] A espécie é característica pelo seu focinho curto e largo que tem quase o mesmo comprimento que a largura à altura dos olhos.[7] Machos geralmente possuem maior tamanho corporal e largura craniana. Caracterizam-se por possuírem uma mordida forte, podendo partir o casco de tartarugas ou tatus com extrema facilidade.

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esqueleto de um Caiman latirostris

Alimentação

Estes animais possuem uma alimentação generalizada alimentando-se de moluscos, crustáceos, insetos, peixes, aves, morcegos e até mesmo ungulados e outros répteis.[8] Contudo, o tamanho influencia e por isso jacarés maiores tendem a pegar presas maiores. Seu alimento principal são certos moluscos gastrópodes disseminadores de algumas moléstias nas populações ribeirinhas. Desta forma, nos ambientes onde o jacaré foi eliminado, cresce a incidência de barriga de água entre a população e o gado que reside próximo aos rios.[4]

Em um experimento realizado em um laboratório da UNESP, em São Paulo, jacarés-de-papo-amarelo foram vistos se alimentando de frutos de banana-de-macaco (Philodendron bipinnatifidum). Entretanto, o estudo não foi conclusivo se o comportamento foi induzido pela presença de teiús Tupinambis merianae - que são onívoros, se ingeriram acidentalmente os frutos tentando capturar insetos atraídos por eles ou se esses animais realmente alimentam-se de frutos esporadicamente na natureza.[8]

Reprodução

O período de acasalamento ocorre de Agosto a Janeiro no Brasil, em Janeiro no Uruguai e de Janeiro a Março na Argentina.[9] Coincide com os meses mais quentes do ano, já que é necessário calor ambiental para a incubação.[10] A reprodução ocorre na terra ou em charcos úmidos, muitas vezes em ilhas fluviais ou na floresta ao redor durante meses mais úmidos. São geralmente localizados perto da água e em locais com pouca insolação.[9] Os ninhos são constituídos de um monte feito de material orgânico como folhas, gravetos e eventualmente terra. Supõe-se que a terra é usada para fazer com que o ninho tenha um tamanho adequado quando não há matéria orgânica suficiente.[10]

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Jacaré-de-papo-amarelo no Parque Natural Municipal Bosque da Barra/RJ

A fêmea coloca em média 20 a 35 ovos no ninho e, após a postura, ela, como outros crocodilianos, adota uma postura agressiva e se afasta deles apenas para se alimentar, pois estes podem ser predados por animais como o teiú, quati, raposas, macacos e aves aquáticas.[9][11][12] A temperatura de incubação é determinante para o sexo: entre 29º e 31º C os filhotes nascem todos fêmeas, com 33º nascem apenas machos e com 34,5º de ambos os sexos.[13] Existem fatores mais importantes que contribuem para a determinação do sexo dos ovos. Os níveis de estrogênio e de estresse da mãe podem ter um efeito. Um estudo conduzido concluiu que cada ninho era diferente quanto ao sexo, embora tivessem a mesma temperatura. Isso indica que há outro fator que contribui para que um ninho tenha todos os ovos com machos ou com fêmeas.[14] No momento da eclosão, entre 65 e 90 dias[12] depois, os filhotes ainda dentro dos ovos vocalizam chamando a mãe que destrói o ninho e então os carrega na boca até a água. No primeiro ano de vida permanecem próximos ao local de nidificação sendo protegidos por ambos os pais.[9]

Habitat e distribuição

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Jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) à beira de lagoa - Bonito MS, Brasil

A espécie é altamente ligada a água, habitando uma variedade de ambientes como pântanos, charcos, rios e riachos, com forte associação a vegetação aquática densa.[9] Pode ser encontrado em águas salobras e salgadas, chegando a habitar mangues no litoral e também já foram registrados em mangues de ilhas costeiras no sudeste do Brasil. Existem a até 800 m de altitude.[9][6]

O jacaré-de-papo-amarelo é encontrado principalmente em pântanos e charcos ao longo do nordeste da Argentina, sudeste da Bolívia, Paraguai, norte do Uruguai e no Brasil.[6] Sua distribuição se estende ao longo de regiões costeiras no sudeste do Brasil, desde o Rio Grande do Norte, Recife e a Bacia do São Francisco indo a oeste até o Mato Grosso, subindo o Rio Paraguai até o leste da Bolívia em pântanos abaixo da foz do Rio Madidi. Ao sul, alcança o Paraguai no baixo Rio Pilcomayo, a Bacia do Paraná no norte da Argentina e também no Paraguai, o sul do Brasil até a Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim no Rio Grande do Sul; além do Uruguai, na Bacia do Uruguai e em pântanos costeiros.[9] Apesar de ameaçado pela urbanização, pode ser encontrado em corpos de água urbanos da cidade do Rio de Janeiro, Belo Horizonte[6] e Florianópolis. E Caraguatatuba no litoral norte de São Paulo.

Referências

  1. Siroski, P.; Bassetti, L.A.B.; Piña, C.; Larriera, A. (2020). «Caiman latirostris». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2020: e.T46585A3009813. doi:10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T46585A3009813.enAcessível livremente. Consultado em 19 de novembro de 2021
  2. «Appendices | CITES». cites.org. Consultado em 14 de janeiro de 2022
  3. Adam Britton (Janeiro de 2009). «Caiman latirostris». Crocodilian Species List. Consultado em 11 de abril de 2015
  4. Thorbjarnarson, John; Messel, Harry; King, F. Wayne; Ross, James Perran (1992). Crocodiles. An Action Plan for Their Conservation. [S.l.]: IUCN. p. 85-87. ISBN 978-2-83-170060-1
  5. Verdade, Luciano M; Larriera, Alejandro; Piña, Carlos I (2010). «Broad-snouted Caiman Caiman latirostris» (PDF). In: Manolis, S.C. e Stevenson, C. Crocodiles: Status Survey and Conservation Action Plan 3 ed. [S.l.: s.n.] p. 18-22. Consultado em 11 de abril de 2015. Cópia arquivada (PDF) em 8 de março de 2016
  6. «Broad-snouted Caiman». World Association of Zoos and Aquariums. Consultado em 11 de abril de 2015
  7. Brito, S. P.; Andrade, D. V. e Abe, A. S (2002). «Do caimans eat fruit?» (PDF). Herpetological Natural History,. Consultado em 11 de abril de 2015
  8. Groombridge, Brian; Wright, Lissie (1982). The IUCN Amphibia-Reptilia Red Data Book - Part 1 (PDF). Testudines, Crocodylia and Rhynchocephalia. Gland, Suíça e Cambridge, Reino Unido: IUCN. p. 305-309
  9. Verdade, Luciano M. (1995). «Biologia Reprodutiva do Jacaré-de-Papo-Amarelo (Caiman latirostris) em São Paulo, Brasil» (PDF). ICMBIO. pp. 13–20. Consultado em 16 de abril de 2015
  10. Adam Britton (Janeiro de 2009). «Caiman latirostris Photograph». Crocodile Species List. Consultado em 15 de abril de 2015
  11. Marcos E. Coutinho; Boris Marioni, Izeni Pires Farias, Luciano M. Verdade, Luís Bassetti, Sônia H. S. T. de Mendonça, Tiago Quaggio Vieira, William E. Magnusson, Zilca Campos (2013). «Avaliação do risco de extinção do jacaré-de-papo-amarelo Caiman latirostris (Daudin, 1802) no Brasil». Biodiversidade Brasileira (1). ISSN 2236-2886. Consultado em 15 de abril de 2015
  12. Piña CI; A. Larriera e M. Cabrera. «Effect of incubation temperature on incubation period, sex ratio, hatching success, and survivorship in Caiman latirostris (Crocodylia, Alligatoridae)». Journal of Herpetology. 37: 199-202
  13. Melina S. Simoncini; Pamela M.L. Leiva, Carlos I. Pina, Felix B. Cruz (2019). «Influence of Temperature Variation on Incubation Period, Hatching Success, Sex Ratio,and Phenotypes in Caiman Latirostris». Experimental Zoology Part A:Ecological and Integrative Physiology. 331 (5): 299–307. PMID 31033236. doi:10.1002/jez.2265
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