César (plural Césares), em latim: Cæsar (plural Cæsares), é um título imperial. Deriva do cognome de Caio Júlio César, o ditador de Roma. A transformação do nome de família em título imperial pode ser datada aproximadamente em 68 / 69 d.C., o chamado "Ano dos quatro imperadores".

Na sua forma original, o título foi usado no Império Romano, no Império Bizantino e no Império Otomano (qaysar-ı Rum, "César dos Romanos") era um dos títulos do Sultão.

A variante Czar foi utilizada no Império Búlgaro (913 - 1018, 1185 - 1442), na Bulgária (1908 - 1946), no Império Russo e na Sérvia (1346 - 1371). No Império Austríaco, Império Austro-Húngaro e Império Alemão, o título teve a forma de kaiser (do grego Καίσαρ (Kaisar).

No uso comum, o termo pode ser usado como sinônimo de imperador.

Na tetrarquia de Diocleciano, César era um título que correspondia aos imperadores juniores, assistentes dos Augustos. Esse título era usado pelos juniores em razão do título de Augusto ser ainda associado diretamente aos deuses e ao ato de Apoteose.

Raiz onomástica

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Busto de Júlio César

César significa "cabeludo", o que sugere que os Júlios Césares, um dos ramos da gens Júlia, eram conhecidos pelas suas fartas cabeleiras (em contrapartida, dado o sentido de humor romano, podia também significar que os Júlios Césares eram conhecidos por serem carecas). O primeiro imperador, César Augusto, usava o nome porque este lhe competia, uma vez que fora adoptado postumamente por César no seu testamento, e de acordo com a convenção romana de nomes o seu nome mudou para "Caio Júlio César Octaviano".

Imperador romano

Por motivos políticos e pessoais Octaviano decidiu realçar a sua ligação familiar a César, intitulando-se apenas Imperator Caesar (ao que o senado romano acrescentou o título honorífico de Augusto', "majestoso" ou "venerável", em 26), sem referir qualquer outro dos seus nomes. O seu sucessor como imperador, o seu enteado Tibério, também usava o nome por ser o seu; nascido Tibério Cláudio Nero, foi adoptado por César Augusto em 26 de junho de 4, tornando-se "Tibério Júlio César". O precedente estava estabelecido: o imperador designava o seu sucessor adoptando-o e dando-lhe o nome "César".

O quarto imperador, Cláudio, foi o primeiro a envergar a púrpura e a tomar o nome "César" sem o ser por motivos familiares (era, no entanto, membro da dinastia júlio-claudiana). O primeiro a subir ao trono e a adoptar o nome sem ter qualquer direito a nenhum destes foi o Sérvio Sulpício Galba, que se auto-intitulou Servius Galba Imperator Caesar a seguir à morte do último dos júlio-claudianos, Nero, em 68; ajudou também a consolidar "César" como o título do herdeiro atribuindo-o ao seu próprio herdeiro, (que adoptou), Lúcio Calpúrnio Pisão Frúgio Liciniano.

O reinado de Galba não foi longo e ele acabou rapidamente deposto por Marco Otão, o qual foi por sua vez derrotado por Aulo Vitélio, intitulado Aulus Vitellius Germanicus Imperator Augustus; é de notar que Vitélio não adoptou imediatamente o nome "César", e é possível que tenha querido substituí-lo por "Germânico" (nome que atribuiu ao seu próprio filho nesse mesmo ano).

Ainda assim, César tornara-se de tal modo parte integrante da dignidade imperial que foi imediatamente restaurado por Vespasiano, o qual, ao derrotar Vitélio em 69 pôs fim ao período de instabilidade e fundou a dinastia flaviana. O filho de Vespasiano, Tito tornou-se "Tito César Vespasiano".

Título dinástico menor

Nesta época, o estatuto de "Caesar" fora regularizado como sendo o título concedido ao sucessor designado do imperador (junto, ocasionalmente, com o título honorífico Princeps Iuventutis, "Príncipe da Juventude") e conservado após a subida ao trono (por exemplo, Marco Úlpio Trajano tornou-se o herdeiro de Marco Cocceio Nerva como César Nerva Trajano em Outubro de 97 e subiu ao trono a 28 de janeiro de 98 como Imperator Caesar Nerva Traianus Augustus). Depois de algumas variações na época dos primeiros imperadores, a forma de empregar os nomes do sucessor dsignado era (nomes) César antes da subida ao trono e Imperator César (nomes) Augusto depois da subida ao trono; começando com Marco Aurélio Severo Alexandre, tornou-se comum designar o sucessor ao trono imperial como (nomes) Nobilissimus Caesar em vez de simplesmente (nomes) Caesar.

O uso de César pelo parceiro júnior de um consórcio imperial verificou-se naturalmente em "impérios" separatistas, desejosos de imitar o original romano. Por exemplo, o último imperador gaulês, Tétrico I, concedeu o título ao filho, Tétrico II.

A 1 de março de 293, Caio Aurélio Valério Diocleciano instituiu a Tetrarquia, um sistema de governo de dois imperadores sénior e dois sub-imperadores júnior. Os dois imperadores sénior eram identificados da mesma forma que os antigos imperadores, como Imperator Caesar (nomes) Pius Felix Invictus Augustus (Heliogábalo introduzira a expressão Pius Felix, "Piedoso e Abençoado", enquanto Caio Júlio Vero Maximino Trácio introduziu o uso de Invictus, "Invicto"), e eram chamados os Augustos, enquanto os dois imperadores júnior usavam os títulos dos sucessores imperiais anteriores, (nomes) Nobilissimus Caesar. Do mesmo modo, os imperadores júnior conservavam o título de César ao ascenderem ao trono.

  • A Tetrarquia foi rapidamente abandonada como sistema (embora os quatro quartos do império permanecessem sob a designação de prefeituras pretorianas, e o sistema anterior de imperador/sucessor designado foi restaurado, tanto no Ocidente latino (caesar) quanto no Oriente helénico (kaisar); o colapso do Império Romano do Ocidente fez "César" cair em desuso (embora os imperadores romano-germânicos se chamassem Kaiser em alemão, os seus títulos correctos em latim eram, normalmente, imperator augustus, sem caesar), e a maior parte das línguas faladas no Ocidente usam derivados de imperator para designar "imperador". De facto, na história mais recente a palavra imperator veio a substituir o significado original de imperator em latim.

No Oriente, o kaisar ganhou uma coroa (sem cruz) e era inferior no protocolo em relação ao Patriarca de Constantinopla; em resultado disso, o título passou a ser visto como mais adequado para um príncipe da família imperial, para um regente ou para um sucessor ao trono (os sucessores era normalmente coroados co-imperadores durante os reinados dos seus antecessores). A proliferação de "Césares" levou Aleixo I Comneno a criar o título superior de sebastocrator (significando "senhor majestoso", conjugando sebasto e autocrator, os sinónimos em grego de augustus e de imperator) para o seu irmão Isaac. Quer "Kaisar" quer "Sebastocrator" foram "despromovidos" quando Manuel I Comneno introduziu déspota como título superior; ao contrário do César e do Sebastocrata, o déspota acrescentava significado administrativo ao seu grau protocolar.

Legado

A história de "César" como título imperial é reflectida pelos seguintes títulos monárquicos, normalmente reservados para "Imperador" e "Imperatriz" em muitas línguas (note-se que o nome César, pronunciado Sé-zár em português, era pronunciado cai-ssár em latim clássico):

Línguas germânicas:

Línguas eslavas e bálticas:

  • Bielorrusso: Tsar & Tsarytsa; contudo, no império russo (o que se reflectiu em algumas das suas línguas), que se intitulava a "terceira Roma" por ser sucessor do império bizantino, caiu em desuso (não nas traduções em línguas estrangeiras, porém) como título imperial - a favor de Imperator e de Autocrator- e usado como título mais baixou, real, para governantes de partes do império, v.g. a Geórgia ou a Sibéria.
  • Búlgaro: Tsar & Tsaritsa;
  • Servo - Croata: Car & Carica (c lê-se ts);
  • Checo: Císař & Císařovna;
  • Letão: Keizars & Keizarienne;
  • Polaco: Cesarz & Cesarzowa;
  • Russo: Czar & Czaritsa
  • Eslovaco: Cisár & Cisárovná;
  • Esloveno: Cesar & Cesarica;
  • Ucraniano: Tsar & Tsarytsya

Outras línguas:

  • Árabe: Qaysar - قيصر
  • Estónio: Keiser & Keisrinna;
  • Finlandês: Keisari & Keisarinna;
  • Hebraico: Keisár & Keisarít;
  • Húngaro: Császár & Császárnő;
  • Turco: Kayser-i-Rûm "César de [Constantinopla, a segunda] Roma", um de muitos títulos secundários que proclamavam o Sultão otomano (cujo título principal era Padixá) como sendo o sucessor (muçulmano) de "Rum", (o império bizantino para os Turcos e aquilo que os bizantinos chamavam a si mesmos), continuando a usar o nome para parte do território conquistado ao bizantinos (comparar com o sultanato do Seljúcidas de Rum).

Há outros casos em que um nome próprio se tornou um título, como no nome em latim de Carlos Magno -incluindo o epíteto- Carolus (magnus), que se tornou no título "Rei" nas línguas eslavas: Kralj (Servo-Croata), Král (Checo) e Krol (Polaco), etc..

Ver também

Bibliografia

  • Pauly-Wissowa

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