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O Reino Arménio da Cilícia(PE) ou Reino Armênio da Cilícia(PB) (também chamado de Arménia Menor, Reino da Arménia Menor, Reino da Cilícia[1] ou Nova Arménia[2] (em Arménio clássico: Կիլիկիոյ Հայկական Թագաւորութիւն) foi um estado formado na Idade Média por refugiados arménios das invasões dos turcos seljúcidas à Arménia.[3] Diferentemente do Reino da Armênia da antiguidade clássica, o Reino Arménio da Cilícia localizava-se ao redor do golfo de Alexandreta, no mar Mediterrâneo (atualmente, sul da Turquia), e permaneceu independente de 1078 a 1375.
Կիլիկիոյ Հայկական Թագաւորութիւն Reino Arménio da Cilícia | ||||
Principado, depois Reino independente | ||||
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Brasão
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Continente | Ásia | |||
País | Actual Turquia | |||
Capital | Tarso, depois Sis | |||
Língua oficial | Armênio, Latim, Francês | |||
Religião | Ortodoxia arménia | |||
Governo | Monarquia | |||
Príncipes e reis do Reino Arménio da Cilícia | ||||
• 1080-1252 | Dinastia rubênida | |||
• 1226-1341 | Dinastia dos Hetúmidas | |||
• 1342-1467 | Dinastia de Lusinhão (apenas titular a partir de 1375) | |||
• desde 1467 | Casa de Saboia (apenas titular) | |||
Período histórico | Idade Média | |||
• 1198 | Ruben I funda o principado | |||
• 1198 | Leão II eleva a nação a reino | |||
• 1375 | O Sultanato Mameluco de Egito conquista Sis | |||
Membro de: Estados cruzados, Império Mongol, Sultanato Mameluco |
O reino foi fundado pela dinastia dos rubênidas, um ramo dos Bagrátidas armênios, que detiveram por diversas vezes os tronos da Arménia e da Geórgia. Inicialmente com a capital em Tarso e posteriormente em Sis (actual Kozan, na província de Adana), a Cilícia foi um forte aliado dos cruzados europeus e considerava-se um bastião do cristianismo no Médio Oriente. Também serviu como ponto focal do nacionalismo e da cultura dos arménios, cuja nação original se encontrava sob o domínio muçulmano.
Durante um curto período de tempo no século I a.C., o poderoso Reino da Arménia conquistou uma vasta região no Levante, incluindo a área da Cilícia. Em 83 a.C., após um conflito sangrento pelo trono da Síria, governada pelos selêucidas, a aristocracia grega da Síria decidiu escolher o arménio Tigranes, o Grande como protector do seu reino e oferecer-lhe a coroa da Síria.[4]
Posteriormente Tigranes conquistou a Fenícia e a Cilícia, dissolvendo o Império Selêucida, apesar de algumas cidades resistentes terem aparentemente reconhecido o jovem rei Seleuco VII Filómetor como o seu soberano legítimo. A fronteira sul deste domínio chegava até Ptolemaida (S. João de Acre no tempo das cruzadas). Muitos dos habitantes das cidades conquistadas por Tigranes foram enviadas para a sua nova metrópole, Tigranocerta, com o objectivo de helenizar o seu reino.
No seu auge, o império estendia-se dos montes Pônticos (no nordeste da actual Turquia) à Mesopotâmia, e do mar Cáspio ao Mediterrâneo. Tigranes terá conseguido invadir até Ecbátana e tomou o título de Rei dos Reis. Pensa-se que algumas colónias arménias na região da Cilícia datam desta época.
A Cilícia foi reconquistada aos árabes pelo imperador bizantino Nicéforo II Focas em cerca de 965. Este expulsou os muçulmanos que viviam na região e encorajou a colonização por cristãos da Síria e da Arménia. O seu sucessor Basílio II Bulgaróctono tentou expandir os seus domínios até Vaspuracânia a oriente e pela Síria a sul. Como resultado das campanhas bizantinas, os arménios chegaram até à Capadócia e à região montanhosa do norte da Síria e Mesopotâmia.[5]
A imigração arménia intensificou-se com a anexação formal do Reino da Arménia pelo Império Bizantino em 1045 e pela conquista pelos seljúcidas dezenove anos depois, em dois novos movimentos de migração.[5] Depois da queda da dinastia Bagrátida da Armênia, e durante os séculos seguintes, o estado arménio não conseguiu restabelecer a sua soberania, permanecendo sob o governo das tribos túrquicas.
Os arménios foram gradualmente servindo os bizantinos como oficiais militares e governadores, sendo-lhes concedido o controlo de cidades importantes na fronteira oriental do império. Quando o poder bizantino na região enfraqueceu na sequência da batalha de Manziquerta, alguns usaram a oportunidade para se estabelecerem como soberanos, enquanto outros permaneceram leais ao império, pelo menos nominalmente.
O mais bem sucedido destes primeiros senhores arménios foi Filareto Bracâmio, antigo general de Romano IV Diógenes. Entre 1078 e 1085, Filareto criou um principado que se estendia de Melitene a norte até Antioquia a sul, e da Cilícia a oeste até Edessa a leste. Convidando outros nobres arménios para colonizarem estes territórios, concedeu-lhes terras e castelos,[5] mas este estado começaria a ruir ainda antes da sua morte em 1090.[6] e depois o restante destes domínios se desintegraria em senhorios locais.
Um destes príncipes locais foi Ruben I da Arménia, que tinha relações familiares estreitas com o último rei bagrátida da Arménia mas, julgando impossível recuperar o poder desta dinastia, rebelou-se independentemente contra o Império Bizantino na Cilícia. Conseguindo o apoio de diversos nobres e senhores arménios, em 1080 Ruben fundou um principado independente na Cilícia, que se tornaria reino sob a soberania dos seus descendentes (a chamada dinastia dos rubênidas).[7] No final do século XI havia assim vários importantes principados arménios na região[8]:
Com a excepção de Gogh Vasil e Constantino, estes senhores arménios tinham relações frias com a maioria dos seus compatriotas arménios e sofriam a antipatia dos cristãos sírios, porque seguiam a Igreja Ortodoxa Grega ou detinham títulos oficiais cedidos pelo imperador bizantino.[9]
Com o advento da Primeira Cruzada em 1096-1099 a percorrer a Anatólia, os arménios ganharam poderosos aliados cristãos, a quem forneceram guias, provisões e cavalos, pelo que receberiam louvor do papa Gregório XIII no século XVI. Com o auxílio dos cruzados, defenderam-se contra os turcos, tanto em acções militares conjuntas na Cilícia como pelo estabelecimento dos estados cruzados em Antioquia e Edessa.[7] Apesar deste início auspicioso, nos dois séculos seguintes as relações entre cruzados e arménios oscilariam entre a aliança e a rivalidade.
Gradualmente a Cilícia foi desenvolvendo um governo centralizado na dinastia rubênida, que durante o século XII competia com os bizantinos pelo poder na região. O príncipe Leão I anexou as cidades costeiras da Cilícia ao principado, consolidando assim a liderança arménia na região.
Leão I acabaria por ser derrotado pelo imperador João II Comneno em 1137, que considerava a Cilícia como uma província bizantina. Foi aprisionado, juntamente com vários outros membros da sua família,[7] e morreu no cárcere três anos depois. Teodoro II, filho e sucessor de Leão I, também foi aprisionado, mas evadiu-se em 1141 para voltar a lutar contra Constantinopla. Inicialmente obteve vitórias, mas em 1158 acabaria por se declarar vassalo de Manuel I Comneno. Entretanto a Cilícia tinha-se tornado tão importante que, em 1151, o líder da Igreja Arménia transferiu a sua sé para Hromgla.[5]
O primeiro membro da dinastia dos rubênidas a obter o título de rei seria Leão II, que subiu ao poder em 1187 ainda como príncipe. Durante o seu reinado teve de enfrentar conflitos com os governantes de Icônio, Alepo e Damasco, durante os quais aumentou o poderio militar da Cilícia[7] e anexou novos territórios, duplicando a faixa costeira desta nação.
Entretanto Saladino debilitou os estados cruzados, o que provocou a proclamação da Terceira Cruzada. Leão II aproveitou a situação para melhorar as relações com os europeus e, com o apoio dos imperadores do Sacro Império Romano-Germânico Frederico Barba Ruiva e Henrique VI, em 1198 conseguiu elevar o estatuto do Estado para reino, passando a se intitular rei Leão I.[7][10] Seria o papa Celestino III quem lhe ofereceria o brasão de armas do Reino Arménio da Cilícia.
Isabel, a filha de Leão II, seria a chave para a tomada do poder da dinastia dos Hetúmidas, rivais dos rubênidas. Depois de o seu primeiro marido ter sido envenenado em 1225 por Constantino de Baberon, foi forçada no ano seguinte a casar-se com o filho deste, que passou a partilhar o governo do reino sob o nome de Hetum I.
Durante este reinado conjunto, o Império Mongol estava em rápida expansão na Ásia e chegara ao Médio Oriente. Tendo conquistado rapidamente a Mesopotâmia, Bagdá e a Síria, avançava sobre o Egito. Estas conquistas tiveram efeitos devastadores para o Reino da Arménia, mas a Arménia Cilícia não teria o mesmo destino, uma vez que Hetum sujeitou-se voluntariamente ao novo poder da região, enviando o seu irmão Sempad para a corte mongol em 1247 para negociar uma aliança.[11][12][13]
Hetum combateu com o seu exército sob o comando de Hulagu Khan na conquista da Síria e na tomada de Alepo e Damasco aos muçulmanos em 1259-1260.[14] A Arménia também se envolveu em uma batalha económica com o Sultanato Mameluco do Egito pelo controlo da rota das especiarias.[15]
Em 1266, Baibars intimou Hetum I a renegar a sua vassalagem aos mongóis, aceitar a suserania mameluca e devolver os territórios e fortalezas conquistadas aos muçulmanos quando ao serviço dos mongóis. Hetum I foi então visitar a corte do Ilcanato na Pérsia para obter apoio militar, mas durante a sua ausência os mamelucos marcharam sobre a Cilícia. Liderados por Almançor II e pelo comandante mameluco Qalawun Alfi, derrotaram os arménios na batalha de Mari, matando Teodoro, filho de Hetum, e aprisionando o seu outro filho Leão, juntamente com dezenas de milhares de soldados arménios.
Como resgate pelo seu filho, Hetum pagou uma grande soma em dinheiro e cedeu várias fortalezas. Pouco depois, um grande sismo em 1268 devastou o país, matando mais de 60 000 pessoas.[16] Hetum I abdicou no ano seguinte em favor do seu filho Leão II, que foi forçado a pagar avultados tributos anuais aos mamelucos, que mesmo assim continuaram a realizar incursões esporádicas na Cilícia.
Mongóis e arménios foram derrotados em Homs em 1281, e em 1285 Qalawun obrigou os arménios a lhe cederem várias fortalezas, para além de os proibir de reconstruir fortificações defensivas, de os forçar a pagar um tributo de um milhão de dirrãs[17] e a estabelecer relações comerciais com os mamelucos, assim furando embargo comercial imposto pelo papado.[18]
Os mamelucos continuaram a saquear a Arménia Cilícia em várias ocasiões. Em 1292, o sultão mameluco do Egito Axerafe Calil, que no ano anterior conquistara S. João de Acre, o último bastião do Reino Latino de Jerusalém, saqueou Hromgla, forçando a sé da Igreja Arménia a mudar-se para Sis. Hetum teve de abandonar Besni, Maraş e Tel Handune aos turcos. No ano seguinte abdicaria em favor do seu irmão Teodoro III e entraria para o mosteiro de Mamistra.
No verão de 1299, Hetum II da Arménia, neto de Hetum I, solicitou a ajuda do cã mongol da Pérsia, Gazã. Marchando sobre a Síria, este convidou o rei de Chipre e os grão-mestres dos Cavaleiros Teutónicos, Templários e Hospitalários para se aliarem neste ataque. Depois da conquista mongol de Alepo, estas forças aliadas derrotaram os mamelucos no final do ano.[19] Mas em Maio de 1300, depois de os mongóis serem forçados a retirar, provavelmente para procurar pasto para os seus cavalos, os mamelucos retomaram a área.
Três anos depois, uma nova ofensiva mongol-arménia[20] de cerca de 80 000 homens foi derrotada a sul de Damasco,[21] na que foi considerada a última grande invasão mongol da Síria.[22] Hetum II abdicou em favor do seu sobrinho Leão IV para se ordenar monge franciscano, mas em 1307 ambos seriam assassinados por um general mongol recentemente convertido ao Islão.[23]
Os hetúmidas governaram a Cilícia até ao assassinato de Leão V em 1341. Apesar da aliança com os cristãos do Reino de Chipre, este rei foi incapaz de resistir aos ataques do Sultanato Mameluco do Egito.[24] O eleito para suceder no trono da Cilícia acabaria por ser um primo de Leão V, chamado Guido de Lusinhão, mas que tomaria o nome de Constantino IV da Arménia.
Desde o reinado de outro Guido de Lusinhão no trono de Jerusalém e na ilha de Chipre, no século XII, a Casa de Lusinhão, de origem francesa, tinha um longo histórico de poder na região. Apesar das estreitas ligações históricas entre os Lusinhão e os arménios, quando os latinos subiram ao poder, tentaram impor o seu cristianismo ocidental e o estilo de vida europeu à população local. Na maioria, os líderes arménios aceitaram a situação, mas o povo opôs-se à mudança, o que levaria a conflitos internos no reino.[7]
No final do século XIV, a Cilícia foi invadida pelo Sultanato Mameluco do Egito, e com a perda de Sis, em abril de 1375, acabava o Reino Latino da Arménia. Leão VI, o último rei, recebeu um salvo-conduto para abandonar a região, e morreria no exílio em Paris, em 1393, após tentar, em vão, proclamar outra cruzada. O título foi então reivindicado pelo seu primo, Tiago I de Chipre,[7] e posteriormente pela Casa de Saboia.
Apesar de os mamelucos do Egito terem conseguido tomar a Cilícia, acabariam por ser derrotados por tribos túrquicas ao comando de Tamerlão. 30 000 arménios fugiram para o Chipre, sob o domínio ocidental até 1489, tendo ficado na região só a população mais pobre, que permaneceria até ao genocídio Arménio de 1915. Os seus descendentes encontram-se dispersos na chamada diáspora arménia, e a Santa Sé da Cilícia encontra-se em Antelias, no Líbano.[7]
A convivência com os cruzados ocidentais, particularmente da França, marcou a cultura arménia local. A nobreza da Cilícia adoptou vários aspectos do estilo de vida europeu, incluindo a cavalaria medieval, roupas e prenomes. A influência linguística foi tão marcante que duas novas letras (Ֆ ֆ = "f" e Օ օ = "o") foram adicionadas ao alfabeto arménio.
O rei Leão II da Arménia incentivou a economia e o comércio da Cilícia pela interacção com os mercadores europeus.[25] As principais cidades e castelos do reino incluíam o porto de Corícia, Lampron, Partzerperta, Vahka, Hromgla, Tarso, Anazarbo, Til Hamdoun, Mamistra, Adana e o porto de Ayas, que servia como terminal ocidental no Oriente. Os pisanos, genoveses e venezianos também estabeleceram colónias nesta última cidade, na sequência de tratados com a Arménia Cilícia no século XIII,[26] e seria daqui que Marco Polo partiria em 1271 para a sua viagem até à China.[26]
A estrutura da sociedade aproximou-se mais do feudalismo ocidental do que do sistema nacarar tradicional da Arménia, no qual o rei tinha simplesmente uma relação de primeiro entre iguais com a nobreza. Este período também foi marcado pela produção de importantes exemplos de arte arménia, na qual se destacam os manuscritos iluminados de Toros Roslin no século XIII.[27]
Na religião havia mais hostilidade às novidades importadas - a população cristã arménia em geral desaprovava da conversão ao cristianismo ocidental ou à ortodoxia grega. Em 1198 tinha sido proclamada uma união entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Apostólica Arménia pelo católico de Sis (ou Adana), mas a teoria não passou muito à prática devido à oposição de muitos clérigos e leigos locais.
Várias missões de franciscanos de Roma (incluindo João de Montecorvino em 1298[28]) foram enviadas à Cilícia para ajudar esta aproximação, mas com poucos resultados. No entanto, o próprio rei Hetum II da Arménia seria ordenado monge franciscano depois de abdicar do trono. E o historiador arménio Narses Balients do século XIV era um franciscano, parte do movimento que defendia a unificação com a Igreja latina.
Em 1441, já após a queda do reino, o católico de Sis reafirmou a união das igrejas arménia e latina no Concílio de Basileia-Ferrara-Florença, mas esta acção provocou um cisma na Igreja Arménia, que instalou uma sé em Valarsapate (que permaneceu fiel à Igreja Apostólica Arménia) e marginalizou a sé de Sis (que era católica).[29]
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