II Baruque é um texto pseudepígrafo judaico, de tema apocalíptico, que se acredita ter sido escrito no final do século I ou no início do século II, depois da destruição do Templo em 70 d.C.. O texto é atribuído ao bíblico Baruque e, por isto, é associada ao Antigo Testamento, mas não é considerada como parte do cânone bíblico nem pelos judeus e nem pela maioria das denominações cristãs. O texto foi incluído em algumas edições da Peshitta e é parte do cânone bíblico na tradição ortodoxa síria.
Com 87 capítulos, partes de II Baruque são conhecidas por outros nomes. Os primeiros 77 formam o Apocalipse Sírio de Baruque e os capítulos 78 a 87 são conhecidos como Epístola de Baruque às Nove Tribos e Meia ou apenas Epístola de Baruque.
Manuscritos
A "Epístola de Baruque" é mais conhecida e circulou de forma mais ampla que o resto do livro e aparece em 36 manuscritos sírios. O "Apocalipse de Baruque" nunca alcançou essa popularidade. Um trecho em latim era conhecido por uma citação em Cipriano[a]. Um fragmento em grego koiné do século IV ou V foi encontrado entre os Papiros de Oxirrinco[b]. Dois trechos também eram conhecidos a partir de lecionários do século XIII da Igreja Ortodoxa Síria[c].
O texto completo de II Baruque é conhecido a partir de um manuscrito sírio do século VI ou VII descoberto por Antonio Ceriani na Biblioteca Ambrosiana, em Milão, em 1866[1]. Um manuscrito em árabe do texto completo foi descoberto em 1974. Aparentemente trata-se de uma tradução livre de uma versão em sírio similar à do manuscrito de Milão.
Descrição
Embora o canônico Livro de Jeremias retrate Baruque como sendo o escriba de Jeremias, II Baruque o apresenta também como um profeta. O autor tem um estilo similar ao do autor de Jeremias: um misto de orações, lamentações e visões. Embora Baruque cite o Cerco de Jerusalém (587 a.C.) por Nabucodonosor II, acredita-se atualmente que o texto tenha sido escrito como reação à queda de Jerusalém (70) por volta de 135.
A versão em sírio é quase certamente uma tradução de uma versão em grego koiné, que, por sua vez, era uma tradução de um original em hebraico. Há uma relação próxima entre o apocalipse descrito em II Baruque e o de II Esdras, mas os críticos se dividem sobre a questão de qual versão influenciou a outra. O mais provável é que II Baruque seja uma imitação de II Esdras e, portanto, posterior. Alguns estudiosos defendem que a obra é uma composição de diversos autores, mas a maioria dos críticos favorece a tese do autor único.
O Apocalipse de Baruque lida em parte com os mesmos problemas tratados em II Esdras: o sofrimento de um povo devotado a Deus e seu triunfo final sobre os opressores. Seu messianismo, em geral, é terreno, mas na parte final do livro o reino do Messias tende indiscutivelmente para uma concepção mais espiritual. Importância maior é dada à Lei do que em II Esdras. Assim como em Esdras, a origem do pecado remonta à desobediência de Adão, mas os dois livros divergem na postura em relação à natureza hereditária deste pecado: enquanto II Esdras a defende, II Baruque afirma, de forma única, que "cada um de nós foi o Adão de sua própria alma" (II Baruque 54:15).
Conteúdo
A primeira parte do texto (o "Apocalipse") está estruturada em trios: três jejuns, cada um deles seguido de três visões e três discursos para o povo. As visões são notáveis por sua discussão da teodiceia, do problema do mal e de sua ênfase na predestinação. Segundo o texto, os objetos sagrados do Templo foram salvos da destruição sob a proteção dos anjos e serão devolvidos na restauração profetizada no Livro de Jeremias. A segunda parte ("Epístola") é uma longa carta.
Apocalipse Sírio de Baruque
- Capítulos 1-5: Deus revela a Baruque a iminente destruição de Jerusalém e pede que ele deixa a cidade com todas as demais pessoas piedosas. Baruque não sabe como o nome de Israel será lembrando e como a promessa feita a Moisés poderá ser cumprida se o Templo estiver em ruínas. Deus explica-lhe que um edifício terreno como aquele não é o que Ele mostrou a Adão antes da Queda e a Moisés no monte Sinai e assegura a Baruque que o sofrimento de Israel não será permanente. Então Baruque, Jeremias e os outros piedosos seguem para o Vale Kidron, onde lamentam e jejuam.
- Capítulos 6–8: no dia seguinte, os caldeus cercam a cidade e Baruque é levado milagrosamente para a muralha de Jerusalém, a partir de onde ele vê quatro anjos com tochas incendiando a muralha. Antes, porém, um outro anjo recebeu os objetos sagrados do Templo e os engoliu até o final dos tempos.
- Capítulos 9–12: sete dias depois da captura de Jerusalém, Baruque novamente recebe uma revelação. Ele recebe a notícia que Jeremias terá que ir com os cativos para Babilônia, mas ele próprio deverá permanecer nas ruínas de Jerusalém, onde Deus irá lhe revelar o que irá acontecer no fim dos dias. Baruque canta um lamento sobre a destruição de Jerusalém.
- Capítulos 13–20: depois de jejuar por sete dias, Baruque recebeu uma revelação sobre a punição futura dos pagãos e de todas as pessoas "sem Deus"; ele responde ao Senhor reclamando sobre o triste destino dos homens e Deus lhe responde que o homem foi instruído na Lei e que, a partir de então, o tempo deverá andar mais rápido, uma referência à iminência do fim dos dias.
- Capítulos 21–30: depois de outro jejum de sete dias e de longas orações, os céus se abrem e Baruque ouve uma voz celestial. Primeiro ele é acusado pela dúvida e o Senhor explica que "como Adão pecou e a morte foi decretada contra os que nasceriam, então a multidão dos que nasceriam estava contada e, para eles, um lugar foi preparado onde os vivos poderão viver e os mortos poderão ser vigiados" e, por iss, o "tempo futuro" virá apenas quando a terra tiver dado todos os seus frutos. Baruque exige saber quando seu tempo chegará e o Senhor lhe revela a primeira descrição do "tempo futuro", explicando as doze divisões do tempo de opressão (divisões similares às encontradas na "Escada de Jacó") e prevendo uma era messiânica de alegria e a ressurreição dos mortos.
- Capítulos 31–34: Baruque reúne os anciãos do povo e lhes conta que Sião logo será restaurado, mas será destruído novamente e então será reconstruído por toda a eternidade.
- Capítulos 35–40: Baruque, ainda sentado nas ruínas do Templo lamentando, recebe uma nova revelação: em seu sono, ele vê uma floresta rodeada de rochas e despenhadeiros; do outro lado, uma vinha sob qual corre um riacho. O riacho segue silenciosamente até a floresta e se transforma ali numa poderosa correnteza, que destrói a floresta e deixa apenas um cedro de pé. Este cedro também acaba sendo derrubado e é levado até a vinha. Deus explica a Baruque que a floresta é o poderosa "quarto poder" (provavelmente o Império Romano), o riacho é o domínio do Messias e a vinha é o próprio Messias, que irá destruir o último monarca inimigo no monte Sião.
- Capítulos 42–46: o destino dos convertidos e apóstatas é explicado a Baruque, que recebe a ordem de avisar o povo e de se preparar para uma nova revelação. Ele prevê sua própria morte a seu filho e a outros sete anciãos e prevê que não faltará a Israel nem um homem sábio e nem um filho da Lei.
- Capítulos 47–52: Esta parte centra do "Apocalipse" começa com uma grande oração de Baruque, repleta de humildade perante a majestade de Deus, que lhe revela as opressões nos últimos dias, a ressurreição e o destino final dos justos e dos ateus. Desta forma, Baruque compreende que não deve lamentar pelos que morrem e sim se alegrar.
- Capítulos 53–74: uma segunda visão profética se segue, cujo significado é explicado pelo anjo Ramiel. Uma nuvem que surge do mar provoca chuva doze vezes, de águas escuras e brilhantes alternadamente, o que indica o curso dos eventos de Adão até o Messias. As seis chuvas escuras são o domínio dos ateus — Adão, Egito, Canaã, Jeroboão, Manassés e os caldeus. As seis chuvas brilhantes são Abraão, Moisés, David, Ezequias, Josias e a época do Segundo Templo ("ainda assim não tão plenamente quanto no começo"). Depois destas doze chuvas vêm uma outra, ainda mais escura que as outras e cheia de fogo, que aniquila tudo em seu caminho até que um grande brilho interrompe esta terrível tempestade. A nuvem escura é o período entre o tempo do Segundo Templo e o advento do Messias, o período de domínio dos maus antes da era de felicidade eterna.
- Capítulos 75–77: Depois que Baruque agradeceu a Deus pelos segredos que lhe foram revelados, Deus pede-lhe que avise o povo e que se mantenha de prontidão para seu translado ao céu, uma vez que Deis pretende mantê-lo lá até o fim dos tempos. Baruque admoesta o povo e escreve duas cartas: uma para as "Nove Tribos e Meia" (enviada através de uma águia), preservada nos capítulos seguintes, e outra para as "Duas Tribos e Meia" exiladas na Babilônia, cujo conteúdo não é apresentado.
Epístola de Baruque às Nove Tribos e Meia
Os capítulos 78 a 87 contém a primeira das duas cartas de Baruque. Os temas principais são a esperança pela recompensa futura depois do sofrimento presente, a aceleração do tempo, a permanência da aliança de Moisés e a liberdade do homem para seguir a Deus (Javé).
Ver também
Notas
- Cipriano de Cartago, Testimoniorum adversus Judæos III.29 inclui os versículos 48:33-34, 36.
Referências
- Manuscript "B. 21 inf" ff 264a-276a. A. Ceriani Apocalypsis Baruch (notae criticae) in Monumenta sacra et profana 1,2, Milano 1866 pag 73–98
Bibliografia
Ligações externas
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