Teoria da Recepção é uma teoria de análise do fato artístico ou cultural que enfoca sua análise no receptor. Dentro dos estudos literários se origina no trabalho de Hans Robert Jauss nos anos 1960 e se desenvolve nas décadas seguintes na Alemanha e nos Estados Unidos (Fortier 132) se inserindo em vários campos de estudo.

Stuart Hall foi também um dos desenvolvedores destes estudos dirigindo-se aos estudos da comunicação humana. Um de seus postulados afirma que "um texto" não é aceitado passivamente pela platéia ou pelos leitores, mas que estes interpretam e fundamentam outros significados a partir da experiência individual e cultural. Assim o texto literário ou artístico é criado não pelo artista, mas na relação estabelecida entre o objeto e o receptor ou leitor.

Susan Bassnet é considerada a introdutora destes estudos no teatro, ampliando seus paradigmas, assim como o historiador John Dixon Hunt que desenvolve o estudo dos jardins e cunha o termo "paisagem" histórica. Em termos psicológicos se define como o estudo dos comportamentos humanos em uma Comunicação.

Teoria da Recepção - Codificação e Decodificação

No artigo Codificação/Decodificação, Stuart Hall afirma que o processo comunicativo possui momentos interligados, mas independentes. Suas práticas englobam a produção (que aparece na forma de veículos simbólicos, signos, estabelecidos dentro das regras da linguagem), a circulação (dá-se na forma discursiva - o discurso produzido no processo de codificação de um conteúdo) e a reprodução/consumo (tradução do discurso, podendo ser compreendido ou não por parte dos receptores em conformidade com o pretendido pelos emissores). Com foco nos meios de comunicação de massa, principalmente na televisão, Hall defende que o processo comunicativo televisivo é feito a partir de um código produtor de uma mensagem que deve ser posteriormente decodificada, entendida, para se transformar em práticas sociais. O autor ainda estabelece algumas dualidades essenciais no processo discursivo: realidade x linguagem e denotação x conotação.

Realidade e Linguagem

A realidade existe fora da linguagem, mas é constantemente mediada pela linguagem ou através dela: o que nós podemos saber e dizer tem que ser produzido em um discurso e através dele. O conhecimento discursivo é produto não de uma representação transparente do real na linguagem, mas da articulação desta em condições e relações sociais, não existindo, assim, um discurso que possa ser entendido sem a operação de um código. Como a capacidade de operar códigos linguísticos é considerada elemento natural - inato - dos seres humanos, o resultado da relação do naturalismo e da realidade dos indivíduos - a aparente representação fiel de um conceito - é gerado pela articulação específica da linguagem sobre o real, de uma prática discursiva. [1]

Denotação e Conotação

A denotação compreende signos cujo sentido literal é associado à mensagem decodificada; a conotação diz respeito aos vários significados gerados pela associação com o signo. Porém, é no segundo que a atenção de Hall recai porque opera mais fortemente nos valores ideológicos, não havendo significados fixos para os signos, tornando-os passíveis de transformações e de variadas interpretações/significações. É assim que surge a "luta de classes da linguagem".[1]

Aspectos sociais, culturais e políticos

Esses aspectos influenciam no processo de significação, direcionando e moldando os sentidos dominantes ou preferenciais de acordo com o que o receptor traz internalizado. Esses sentidos expressam-se nas “leituras preferenciais”.

Embora se fale de sentido dominante, não quer dizer que seja único. O que ocorre é um processo que legitima uma determinada forma de decodificação dentro do significado do que está sendo transmitido. Dessa forma, não ocorre “erro” na compreensão da mensagem, mas um “desvio” entre o sentido pretendido pelo dominante e o decodificado pelo receptor. Apesar de serem independentes, a codificação estabelece alguns limites à decodificação. Mesmo que haja casos em que o sentido decodificado seja totalmente oposto ao codificado, a regra é que sempre haja uma correspondência. De todo modo, não existe a “comunicação perfeitamente transparente”[1]. Para sistematizar melhor isso, Hall estabelece três hipóteses de decodificação: a posição hegemônica-dominante, a posição do código negociado e a posição do código de oposição.

- Posição hegemônica-dominante: a mensagem é entendida pelo telespectador/receptor do mesmo jeito que é pretendida na produção - “comunicação perfeitamente transparente”[1];

- Posição do código negociado: inserido numa versão negociada, o receptor reconhece a legitimidade dos conceitos gerais com suas significações, mas em um nível mais restrito, fazendo suas próprias regras;

- Posição do código de oposição: o receptor compreende o discurso tanto de forma conotativa quanto literal, mas, mesmo assim, interpreta a mensagem de maneira oposta/alternativa, com um referencial alternativo.

Referências

Livros

Ver também

Ligações externas

Wikiwand in your browser!

Seamless Wikipedia browsing. On steroids.

Every time you click a link to Wikipedia, Wiktionary or Wikiquote in your browser's search results, it will show the modern Wikiwand interface.

Wikiwand extension is a five stars, simple, with minimum permission required to keep your browsing private, safe and transparent.