Loading AI tools
Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O Ladaque (em inglês: Ladakh é uma região histórica no topo norte da Índia, com fortes influências culturais e étnicas tibetanas. Foi uma entidade política independente durante vários séculos, até à primeira metade do século XIX, quando foi integrada no estado principesco de Jamu e Caxemira.
Por favor, melhore este artigo ou secção, expandindo-o. |
Há muito poucos dados históricos sobre o Ladaque anteriores à criação do respetivo reino em meados do século IX. Antes disso dificilmente se pode considerar o Ladaque uma entidade política separada. Após pelo menos dois séculos de domínio ou forte influência tibetana, o reino independente surgiu após o colapso do Império Tibetano, na primeira metade do século IX, quando as regiões fronteiriças se tornaram reinos independentes, a maior parte deles governados por monarcas aparentados com a família real tibetana.[1][2] O quinto rei da primeira dinastia chegou a conquistar parte do Baltistão, Kulu e Mustang (atualmente parte do Nepal). Apesar da sua ascendência tibetana, os reis da primeira dinastia estreitaram as relações religiosas com o noroeste da Índia, nomeadamente Caxemira. Essa situação mudou na sequência das invasões muçulmanas cerca do século XIII, que tiveram como consequência a substituição do budismo pelo islão como religião predominante nas regiões vizinhas a oeste, noroeste e sul. Os monarcas ladaques reaproximaram-se novamente em termos religiosos do Tibete budista.
Ao longo da sua história, a região sofreu vários ataques, quer provenientes dos vizinhos dominados por governantes e saqueadores muçulmanos a oeste e noroeste, quer dos vizinhos budistas tibetanos ou chineses a leste, o que pode ter contribuído para o declínio e fragmentação do reino, que chegou a estar dividido em dois, cada um deles com o seu próprio rei: o Ladaque Inferior e o Ladaque Superior. O reino foi reunificado por Bhagan, fundador da dinastia Namgyal que perdura até à atualidade embora não reine desde 1834. O período áureo do reino do Ladaque foi provavelmente o do reinado de Sengge Namgyal (r. 1616–1642), que mudou a capital para Lé, onde construiu um palácio, conquistou Zanskar e Spiti e reconstruiu vários mosteiros budistas.
Durante o reinado de Sengge Namgyal ocorreram confrontos com o Império Mogol, que entretanto tinham ocupado Caxemira e o Baltistão. O Ladaque foi derrotado, mas logrou ficar independente fazendo algumas cedências e ficando aliado dos mogóis, que ajudaram a repelir uma tentativa de invasão tibetana no último quartel do século XVII. A queda de facto do Império Mogol, no início do século XIX, privou o Ladaque do seu aliado mais poderoso e em 1834, o general dogra rajapute Zorauar Singue conquistou o Ladaque, que passou a integrar os domínios do marajá Gulabe Singue, apesar de gozar de bastante autonomia. Em 1846, o Ladaque foi formalmente incorporado no principado de Jamu e Caxemira, do qual Gulabe Singue foi o primeiro monarca, passando assim a fazer parte da Índia britânica. Após a independência da Índia, grande parte do principado, com o Ladaque incluído, passou a constituir o estado indiano de Jamu e Caxemira. Quando este estado foi dissolvido, em 2019, o Ladaque passou a ser um Território da União.
Os primeiros habitantes do Ladaque foram provavelmente dardos[a] (em ladaque: brokpa) Heródoto menciona duas vezes um povo chamado dadikai, primeiro com os gandarioi e depois na lista da invasão da Grécia por Xerxes (r. 486–465 a.C.). O historiador grego também mencionou os escavadores de ouro da Ásia Central, os quais também são mencionados em ligação com os dardos por Nearco, o almirante de Alexandre, o Grande, e Megástenes.
No século I d.C., Plínio, o Velho voltou a mencionar os dardos como grande produtores de ouro. Estas menções podem estar relacionadas com um vago conhecimento de atividades de garimpo de ouro no Ladaque e Baltistão.[carece de fontes] Ptolomeu situa os daradrai nas partes mais a montante do rio Indo e o nome Darada é usado em listas geográficas dos Puranas.[carece de fontes]
O primeiro vestígio de história política encontra-se na inscrição em caroste de Uvima Kavthisa, descoberta perto da ponte K'a-la-rtse (Khalatse) do rio Indo, pela qual se sabe que cerca do século I d.C. o Ladaque fazia parte do Império Cuchana. Outras inscrições curtas em brami e em caroste foram também descobertas no Ladaque.[carece de fontes]
O monge peregrino chinês Xuanzang, c. 634 d.C. descreve uma viagem de Chuluduo (Kūluta, atualmente Kulu) a Luohuluo (Lahul) e informa que «daqui, a estrada, em direção a norte, por mais de 1 800 ou 1 900 'li' por caminhos perigosos e atravessando montanhas e vales, leva ao país de Lāhul. Indo mais para norte por mais de mil 'li' ao longo de uma estrada cheia de dificuldades e obstáculos, com ventos frios e flocos de neve a flutuar, pode alcançar-se o país de Marsa (também conhecido como Sanbohe)».[3] Este reino de Mar-sa ou Moluosuo parece ser um sinónimo de Mar-yul, um nome comum do Ladaque. Noutra parte, o texto informa que Mo-lo-so, também chamado San-po-ho faz fronteira com Suvarnagotra ou Suvarnabhumi ("Terra do Ouro") e com o Reino das Mulheres (Strirajya). Segundo o tibetólogo Giuseppe Tucci, o reino de Zhangzhung, ou pelo menos as suas províncias meridionais, era conhecido por aquele nome pelos indianos do século VII. Em 634 ou 635, Zhangzhung reconheceu pela primeira vez a suserania tibetana e em 653 foi nomeada para lá um comissário (mnan) tibetano. A administração regular tibetana estabeleceu-se em 662 e em 677 estalou uma rebelião que fracassou.[carece de fontes]
No século VIII, o Ladaque viu-se envolvido nos conflitos entre a expansão tibetana, vinda de leste, e a influência exercida pela China a partir da Ásia Central. Em 716 foi realizado um censo e em 724 a administração foi reorganizada. Em 737 os tibetanos lançaram um ataque contra o rei de Bru-za (Gilgit), que pediu ajuda aos chineses mas acabou por ser forçado a prestar vassalagem ao Tibete. O monge coreano Hyecho (em pinyin: Hui Chao; 704–787) chegou à Índia por mar e voltou à China em 727 através da Ásia Central.[4] Ele menciona três reinos situados a nordeste de Caxemira que eram vassalos do Tibete:
“ | [...] A região é estreita e pequena e as montanhas e vales muito escarpados. Há mosteiros e monges e o povo venera fielmente as "Três Joias". Já no reino do Tibete a leste, não há quaisquer mosteiros e o ensinamento de Buda é desconhecido; mas nestes países a população é formada por Hus; pelo que eles são crentes. | ” |
Janet Rizvi salienta que esta passagem confirma não só que no início do século VIII o Ladaque estava sob suserania tibetana como a população não era de origem tibetana.[2]
Em 747, o domínio tibetano enfraqueceu devido à campanha militar do general chinês Gao Xianzhi, que tentou restabelecer as comunicações diretas entre a Ásia Central e Caxemira. Depois da derrota de Gao frente aos carlucos e árabes no rio Talas em 751, a influência chinesa declinou rapidamente e a influência tibetana foi retomada.[carece de fontes]
O tratado de geografia “Hudud al-Alam” (982), escrito em persa por um autor desconhecido afegão, menciona o "Tibete Boloriano" (Bolor = Bolu, Baltistão), onde os habitantes eram principalmente comerciantes e viviam em cabanas. A existência de cruzes nestorianas (usada pelos seguidores da Igreja Assíria do Oriente) esculpidas em rochedos, aparentemente devidas a mercadores sogdianos cristãos encontradas em Drangtse (Tangtse; 115 km a leste de Lé), e de inscrições em árabe da mesma época comprovam a importância do comércio na região. Depois do colapso da monarquia tibetana em 842, a suserania tibetana desvaneceu-se rapidamente.[carece de fontes]
Reino do Ladaque Ladakh | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
| |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Continente | Ásia | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Região | Norte da Índia (Caxemira Oriental, Himalaias Ocidentais )e Tibete Ocidental | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Capitais | Lé, Shey Basgo e Tingmosgang (capitais do reino ocidental nos séculos XV e XVI) | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Países atuais | Índia Paquistão Tibete | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Religiões | budismo tibetano, bön | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Forma de governo | monarquia | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Rei | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
História | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
|
Depois da divisão do Império Tibetano em 842, Nyima-Gon, um representante da antiga casa real tibetana fundou a primeira dinastia do Ladaque. O reino de Nyima-Gon tinha o seu centro bastante a leste do atual Ladaque. Foi durante essa época que o Ladaque foi "tibetizado", o que resultou num país habitado por uma população mista, onde as etnias tibetanas eram predominantes. No entanto, pouco depois da conquista, na tentativa de estabelecer o budismo a dinastia virou-se não para o Tibete para para o noroeste da Índia, particularmente para Caxemira. Este evento é conhecido como a "Segunda Difusão do Budismo" na região (a primeira difusão ocorreu no Tibete). Um dos primeiros reis, Lde-dpal-hkhor-btsan (r. c. 870–900) fez um juramento de desenvolver a religião Bön no Ladaque e fundou oito mosteiros, entre os quais o do Alto Manahris, além de encorajar a produção em massa de escritos Hbum para espalhar a religião.[6] Pouco se sabe sobre a dinastia fundada por Nyima-Gon. O quinto rei da linhagem tinha um nome sânscrito — Lhachen Utpala — e conquistou Kulu, Mustang (atualmente parte do Nepal) e parte do Baltistão.[7]
Devido às mudanças políticas resultantes das invasões muçulmanas, cerca do século XIII, a Índia deixou de ter interesse para o budismo e o Ladaque começou a procurar e aceitar orientação do Tibete para assuntos religiosos.[carece de fontes]
Raides sucessivos ao Ladaque dos estados saqueadores da Ásia Central levaram ao enfraquecimento e conversão parcial da população ao islão.[8][9] O reino foi dividido em dois, com o Ladaque Superior governado pelo rei Takpabum, de Basgo, e o Ladaque Inferior governado pelo rei Takbumde, de Lé e Shey. Bhagan, um rei tardio de Basgo, reuniu novamente o país derrubando o rei de Lé. Tomou o sobrenome de Namgyal (que significa vitorioso) e fundou uma nova dinastia que ainda existe atualmente. O rei Tashi Namgyal (r. 1555–1575) conseguiu repelir a maior parte dos saqueadores e construiu um forte real no cimo do monte Namgyal de Lé. Um dos seus sucessores, Tsewang Namgyal (r. 1753–1782), estendeu temporariamente o seu reino até ao Nepal.[9]
Durante o reinado de Jamyang Namgyal (r.c. 1595–1616), o Ladaque foi invadido pelo soberano do Baltistão Ali Sher Khan Anchan em resposta à matança de alguns governantes baltis muçulmanos por parte de Jamyang. Muitas gompas budistas foram danificadas durante essa invasão e atualmente existem muito poucas gompas anteriores a esse período. O sucesso da campanha militar de Ali Sher Khan impressionou os seus inimigos. Segundo alguns relatos, Jamyang firmou um tratado de paz e deu a sua mão da sua filha em casamento a Ali Sher Khan. Por sua vez, Jamyang desposou uma princesa muçulmana, Gyal Khatun. Desse casamento nasceu Sengge Namgyal (r. 1616–1642), conhecido como o rei-leão.[9][10][11][12][13][14][15]
Sengge Namgyal empenhou-se afincadamente em restaurar a antiga glória do reino, empreendendo uma enérgico programa de reconstrução de várias gompas e santuários, a mais famosa delas a de Hemis. Além disso, transferiu a sede real do Palácio de Shey para o Palácio de Lé e expandiu o reino para Zanskar, Spiti e Guge, mas foi derrotado pelos mogóis, que já tinham ocupado Caxemira e o Baltistão. O seu filho, Deldan Namgyal (r. 1642–1694) teve que aplacar o imperador mogol Aurangzeb construindo uma mesquita em Lé.[8][9] Mais tarde, durante a Guerra Tibete–Ladaque–Mogol (1679–1684), derrotou a invasão do 5.º Dalai Lama nas planícies de Chargyal, situada entre Nimo e Basgo, com a ajuda do exército mogol comandado por Fidai Khan, filho do vice-rei de Caxemira Ibrahim Khan.[9]
Durante essa época, após o casamento de Jamyang e Gyal Khatun, houve muitos muçulmanos baltis que se instalaram no Ladaque e numerosos missionários propagaram o islão no país, convertendo muitos locais. Foram convidados muçulmanos a fazerem comércio e o exercerem outras atividades na região.[16][14]
No início do século XIX o Império Mogol tinha colapsado na prática e o Império Sique estabeleceu-se no Panjabe e Caxemira. Contudo, a região dogra de Jamu permaneceu sob o domínio dos seus governantes rajaputes, dos quais o mais poderoso era o marajá Gulabe Singue. O general deste, Zorauar Singue, invadiu o Ladaque em 1834. O rei Tshespal Namgyal foi destronado e exilado em Stok. O Ladaque passou a estar sob o domínio dos dogras e em 1846 foi incorporado no estado principesco de Jamu e Caxemira. Apesar de ter perdido a independência, manteve uma autonomia considerável e relações com o Tibete. Durante a guerra sino-sique (1841–1842), o Império Qing invadiu o Ladaque, mas o exército sino-tibetano acabou por ser derrotado.[carece de fontes]
Na década de 1940, o dirigente comunista tibetano Phuntsok Wangyal reclamou que o Ladaque fazia parte do Tibete.[17]
Em 1947, quando a Índia se tornou independente, o Ladaque fazia parte do principado de Jamu e Caxemira, cujo marajá hesitou entre integrar o seu reino principesco na Índia ou no Paquistão. Em 1948, este último país invadiu o Ladaque, tendo ocupado Cargil e Zanskar, chegando a 30 km de Lé.[9] A Índia enviou reforços militares por via aérea e foi enviado um batalhão de gurkhas que avançou a pé, lentamente, desde sul. Cargil foi palco de combates entre indianos e paquistaneses também em 1965, 1971 e 1999. Em 1971, a aldeia de Turtuk, vale de Nubra, foi conquistada pela Índia ao Paquistão.[carece de fontes]
Em 1949, a China fechou a fronteira entre Nubra e Sinquião (Xinjiang), bloqueando a rota comercial milenar entre a Índia e a Ásia Central. Em 1950, a China invadiu o Tibete e milhares de tibetanos, incluindo o Dalai Lama, procuraram refúgio na Índia. Em 1962, a China ocupou o Aksai Chin e construiu rapidamente as estradas entre Sinquião e o Tibete, além de construir a estrada do Caracórum em conjunto com o Paquistão. Durante o mesmo período, a Índia construiu a estrada Serinagar—Lé, que permitiu encurtar o tempo de viagem entre as duas cidades de 16 para dois dias. Entretanto, a China fechou a fronteira entre o Ladaque e o Tibete, pondo fim a uma relação de mais de 700 anos entre as duas regiões.[9]
Desde os primeiros anos da década de 1960 que o número de imigrantes vindos do Tibete (incluindo nómadas Changpa) tem aumentado, devido à fuga da ocupação da sua pátria pelos chineses. Na década de 2000 havia em Lé cerca de 3 500 refugiados tibetanos, os quais não tinham passaporte, apenas documentos alfandegários. Alguns dos refugiados tibetanos no Ladaque reclamam dupla cidadania tibetana e indiana, apesar da sua cidadania indiana não ser oficial.[carece de fontes]
Desde a Partição da Índia em 1947 e até 2019, o Ladaque foi administrado pelo governo do estado indiano de Jamu e Caxemira a partir de Serinagar, o que não agradava muito aos ladaques, que reclamavam ser governados diretamente pelo governo central da União sediado em Nova Deli como Território da União. Os defensores desta solução alegavam que o governo estadual era constantemente apático em relação aos assuntos do Ladaque, favorecia os muçulmanos e era corrupto. Em 1989 ocorreram tumultos entre budistas e muçulmanos, que levaram o Conselho Budista do Ladaque a apelar a um boicote aos muçulmanos, o qual só foi levantado em 1992.[carece de fontes] Em outubro de 1993, o governo indiano e o governo de Jamu e Caxemira acordaram em conceder ao Ladaque o estatuto de Autonomous Hill Development Council (lit: "Conselho de Desenvolvimento de Montanha"), o que foi concretizado com a criação do Ladakh Autonomous Hill Development Council (LAHDC), que passou a administrar o distrito de Lé. O distrito de Cargil rejeitou a criação de um órgão similar em 1995, mas passados alguns anos ele foi aprovado; em 2003 foi criado o Ladakh Autonomous Hill Development Council, Kargil.[18] Em outubro de 2019, o estado de Jamu e Caxemira foi dissolvido e o Ladaque passou a ser um Território da União.[19]
Seamless Wikipedia browsing. On steroids.
Every time you click a link to Wikipedia, Wiktionary or Wikiquote in your browser's search results, it will show the modern Wikiwand interface.
Wikiwand extension is a five stars, simple, with minimum permission required to keep your browsing private, safe and transparent.