Painéis de São Vicente de Fora
políptico de Nuno Gonçalves / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
Os Painéis de São Vicente de Fora é um políptico composto por 6 painéis possivelmente criados pelo pintor português Nuno Gonçalves, pintor régio de D. Afonso V.
Painéis de São Vicente de Fora | |
---|---|
Autor | Nuno Gonçalves |
Data | entre 1445 e 1480 |
Técnica | Óleo sobre tela |
Localização | Museu Nacional de Arte Antiga |
As seis pinturas apresentam um agrupamento de 58 personagens, representativo da Corte e dos vários extratos sociais da sociedade portuguesa do século XV, numa assembleia monumental e solene, à volta de uma figura beatífica vestida de vermelho e que está duplamente representada em ambos os painéis centrais. A pintura caracteriza-se por figuras com rostos expressivos com definição detalhada dos trajes e adereços, aliando uma intenção narrativa e contemplativa, num cenário cerimonial.[1]
O significado da obra e a identidade das figuras retratadas tem sido alvo de debate desde a descoberta da obra em 1882 no Paço Patriarcal de São Vicente de Fora em Lisboa pelo Monsenhor Alfredo Elviro dos Santos, secretário do Patriarca de Lisboa que convida Ramalho Ortigão e José Queiroz para uma primeira avaliação.[2] Na altura estimou-se que a obra teria sido executada entre 1470 e 1480[3]. Trata-se de uma pintura a óleo e têmpera sobre madeira e encontra-se exposta no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa.
Depois do primeiro contacto com os painéis (identificados apenas 4), apenas em 1895 Joaquim de Vasconcelos publica o primeiro artigo sobre os mesmos, tendo despertado o interesse da Academia Nacional de Belas-Artes que convenceu o Patriarca de Lisboa a autorizar aquela instituição a restaurar as pinturas.[2]
O trabalho de restauro tem inicio em 1909 por Luciano Freire e é nesta data na sequencia de um restauro e registo minucioso que se verificou que 2 dos painéis resultavam da montagem de uma junção, identificando-se assim 2 painéis grandes e 4 painéis mais pequenos correspondentes a meias-portas, permanecendo a dúvida quanto ao seu ordenamento.[4]
Os painéis são apresentados pela primeira vez ao público em 1910 na Academia Portuguesa de Belas-Artes em 2 trípticos.
Alguns anos depois José de Bragança e Almada Negreiros chamam a atenção, com base na perspetiva dos ladrilhos do chão, para a ordem dos painéis que se julga a primitiva e portanto a correta.[5]
Em 1940 foram pela primeira vez apresentados ao público pela ordem com que estão hoje expostos no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).[5]
O políptico constitui uma obra-prima da pintura portuguesa do século XV na qual, com um estilo bastante seco mas poderosamente realista, se retratam figuras proeminentes da corte portuguesa de então (incluindo o que pode ser um auto-retrato do autor) e se atravessa toda a sociedade, da nobreza e clero até ao povo. A única figura imediatamente identificada foi a do Infante D. Henrique, já que uma imagem idêntica deste figura no pergaminho contemporâneo, Crónica dos Feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, o que levou a concluir que as figuras retratadas pertencem ao período que antecedeu os Descobrimentos Portugueses. Nas últimas décadas, tomando em conta a disposição das figuras nos painéis e a hipótese da representação do Infante na Crónica tratar-se duma interpolação posterior, tem sido levantada a hipótese da figura do chapeirão parece corresponder não ao Infante D. Henrique, mas ao seu irmão, o rei D. Duarte, sendo dada a correspondência do infante com figura ajoelhada por vezes conhecida como "Cavaleiro Roxo" do painel dos Cavaleiros, no qual surgiria acompanhado dos irmãos Fernando, João e Pedro.[6] Estudos científicos feitos ao códice da Crónica desde a década de 1980, têm vindo, no entanto, a demonstrar o carácter genuíno da iluminura representando o Infante incluída nesse pergaminho, apontando para a correcta identificação do homem do chapeirão dos Painéis de São Vicente como sendo efectivamente o Infante D. Henrique.[7]Este assunto é polémico pois uma investigação de 2018, publicada em revista cientifica, analisou detalhadamente em Paris o original da iluminura e identifica a figura do chapeirão como sendo o Infante D. Pedro e não o Infante D. Henrique, este último aparecendo de joelhos no painel dos cavaleiros[8]