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Necrópole Vaticana é uma necrópole localizada atualmente abaixo da Cidade do Vaticano, em profundidades variando entre cinco e doze metros abaixo da Basílica de São Pedro. O Vaticano patrocinou escavações arqueológicas no local na década de 1940, quando foram reveladas partes da necrópole da época imperial.[1] As escavações foram realizadas a pedido do papa Pio XI, que desejava ser sepultado o mais perto possível do túmulo de São Pedro. É ali também que está a chamada Tumba dos Júlios, que foi datada entre os séculos III ou IV. Ao contrário das catacumbas de Roma, a necrópole era um cemitério ao céu aberto com túmulos e mausoléus.
É importante não confundir a Necrópole Vaticana com a Cripta do Vaticano, construída juntamente com a basílica no nível da rua onde estava a Antiga Basílica de São Pedro.
A Necrópole Vaticana era originalmente um cemitério localizado na encosta sul do monte Vaticano, vizinho do Circo de Calígula. Segundo a lei romana, era proibido enterrar os mortos no interior da Muralha Serviana e, por isto, havia cemitérios espalhados ao longo das várias estradas que saíam da cidade. Uma destas, a Via Cornélia, corria ao norte do local.[2]
Segundo a tradição, o apóstolo Pedro foi martirizado em 64 (ou 67) durante o reinado do imperador Nero no Circo de Calígula e foi enterrado nesta necrópole por causa da proximidade. Depois do Édito de Milão (313) do imperador Constantino, começaram as obras da primeira basílica de São Pedro e a necrópole ainda estava em uso, como atesta uma moeda encontrada no interior de uma urna datada em 318.[3] A lei romana também determinava que os túmulos e necrópoles eram invioláveis e protegidos por lei, mas Constantino desejava construir sua basílica bem em cima do local onde se supunha estar o túmulo de São Pedro. Para conseguir espaço plano suficiente, ele ordenou que parte da necrópole fosse preenchida de terra e detritos e depois nivelada, preservando apenas o túmulo do apóstolo.[4]
As primeiras escavações na Necrópole ocorreram na década de 1940 durante o pontificado de Pio XII. O objetivo era localizar o túmulo de São Pedro, que, por séculos, se assumiu estar diretamente abaixo do altar da basílica. Uma série de mausoléus foram escavados e receberam letras gregas para designá-los: Φ (phi), χ (chi) e Ψ (psi). Posteriormente, letras latinas também passaram a ser utilizadas. O Mausoléum M já havia sido descrito em 1574 e o Mausoléu O foi descoberto durante a construção da fundação da estátua do papa Pio VI. Os mausoléus R e S foram descobertos quando porção sul da fundação do Baldaquino da Basílica de São Pedro, de Gian Lorenzo Bernini, foi construído.[5]
O primeiro a ser construído foi o Mausoléu A. Nos anos seguintes, em rápida sucessão, foram construídos os mausoléus B, C, D e E um do lado do outro. O Mausoléu G é muito provavelmente da mesma época que o Mausoléu B, enquanto que o Mausoléu F provavelmente foi construído durante o reinado de Antonino Pio (r. 138-161). Estes sete estão enfileirados formando uma "rua" de aproximadamente 32 metros de comprimento, cada um isolado e com alturas diferentes, muito similar ao que acontece nos cemitérios modernos.[6] Em épocas posteriores, os espaços vazios foram ocupados pelos mausoléus G e O, da época de Adriano (r. 117-138), e também com outros edifícios. Apenas o Mausoléu H, da segunda metade do século II, se desvia da fileira por causa de um átrio preexistente.[6] Nesta época, o Circo de Calígula não estava mais em uso e, por isso, ele não era mais um obstáculo para a expansão da necrópole para o sul; muitos túmulos foram construídos no local. Um deles, da mesma época que o Mausoléu H, foi encontrado perto da fundação do obelisco que ficava no centro da spina. Quando o circo foi finalmente demolido, ao conjunto já existente de mausoléus foi acrescentado um segundo, composto pelos Mausoléus Z, Φ, χ e Ψ. No período entre o final do século II e meados do século III, foram construídos outros mausoléus e edifícios isolados.[7] Todos os edifícios, com exceção do Mausoléu R1 tinham a sua entrada voltada para o sul, na direção do circo e da Via Cornélia.[8]
Estes mausoléus foram utilizados por muitas gerações e eram compartilhados por várias famílias. Arqueólogos encontraram cerca de 120 sepultamentos no Mausoléu F e pelos 170 no Mausoléu H. Um cálculo aproximado do número de corpos e urnas funerárias nas 22 tumbas escavadas revela mais de 1 000 funerais, o que se explica em parte pela alta mortalidade infantil e baixa expectativa de vida no século II.
Os antigos proprietários de seis mausoléus (A, C, H, L, N e O) foram identificados por inscrições sobre a porta de entrada. O Mausoléu N é um exemplo de compartilhamento por várias famílias simultaneamente, indicando que metade era utilizada por Marco Ebúcio Cárito e a outra metade por Lúcio Volúsio Sucesso e Volúsia Megiste.[9]
Durante a construção de um estacionamento, em 2003, uma nova porção da necrópole foi descoberta.[10] Alguns túmulos também passaram por restaurações, como no caso do projeto de dez meses no chamado "Mausoléu dos Valérios".[11]
O chamado "Campo P" (em inglês: Peter Campus) é uma pequena área na qual se acredita que o túmulo de São Pedro está localizado. Cerca de 100 anos depois de sua morte, um santuário foi construído sobre seu túmulo. Este santuário é adjacente à chamada "Parede Vermelha".[12] Também adjacentes ao túmulo foram encontrados outros túmulos organizados de uma forma que sugere que o local já era venerado na época.[13] Este santuário é conhecido como "Troféu de Caio" por causa do presbítero Caio, que viveu em Roma na época do papa Zeferino (r. 198-217) e citado por Eusébio de Cesareia em sua "História Eclesiástica"[14][15][16]:
“ | Eu, por outro lado, posso mostrar-te os troféus dos apóstolos, porque se queres ir ao Vaticano ou ao caminho de Ostia, encontrarás os troféus dos que fundaram esta igreja. | ” |
— Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica II.25.7. |
O termo grego utilizado por Caio — tropaion ("troféu") — geralmente significa um monumento ou um troféu comemorando uma vitória. Eusébio interpretou a passagem 100 anos depois como um indicativo da existência de túmulos honoríficos no local.[17] Do lado direito do "Troféu de Caio" está ligada, em ângulo reto, a chamada "Parede de Grafitos", batizada assim por causa da grande quantidade de grafitos em latim inscritos nela.[18] Durante as escavações no local, os restos mortais de Pedro não foram encontrados. Havia, porém, num orifício revestido de mármore na Parede de Grafitos, alguns ossos humanos. A arqueóloga Margherita Guarducci sugeriu que, durante a construção da Basílica de Constantino, os restos de São Pedro foram removidos de seu túmulo original e colocados ali.[18] Ela cita ainda uma inscrição na parede atrás de um pilar que inclui as letras PETR[...] EN I como sendo a indicação das relíquias de São Pedro. Outros sítios arqueológicos de Roma também tem grafitos similares, o que sugere que no local eram comemorados (pelos cristãos) os mártires São Pedro e São Paulo.[19]
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