Literatura do Rio Grande do Sul
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Literatura do Rio Grande do Sul refere-se à produção literária realizada no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Sua história inicia com o processo de ocupação do território pelos conquistadores espanhóis e portugueses. Os primeiros testemunhos de uma escrita produzida localmente surgem no início do século XVII e se devem a missionários jesuítas, viajantes, exploradores, militares e oficiais das Coroas ibéricas, que produziram crônicas de caráter descritivo, oferecendo vislumbres das características geográficas da terra, da sua fauna e flora, seus recursos naturais, dos índios que ali habitavam e das atividades militares.
Devido a uma arrastada disputa entre Portugal e Espanha pela posse da região, o Rio Grande do Sul permaneceu com suas fronteiras móveis e em um estado de tensão e conflito mais ou menos constante ao longo de quase três séculos, e essa instabilidade política crônica, associada a uma sociedade eminentemente agrária e militarizada, uma economia pouco dinâmica, um sistema de comunicações precário e moroso e um maciço analfabetismo, impediu por muito tempo o desenvolvimento de uma cultura literária robusta. Essa situação começou a mudar lentamente no início do século XIX, com o crescimento de algumas cidades e a formação de uma sociedade urbana, onde uma burguesia emergente passava a se interessar pelas artes e pelas letras. Em meados do século XIX a efervescência cultural já era grande, surgia uma série de jornais políticos, humorísticos, técnico-científicos, informativos, folhetins, fundavam-se grêmios culturais e começavam a aparecer as primeiras publicações com uma literatura de caráter definidamente artístico, incluindo livros de poesias, romances, novelas, crônicas e contos, além de uma imprensa exclusivamente dedicada à literatura, trazendo crítica literária, artística e teatral, traduções de autores estrangeiros e uma pletora de produções locais em vários gêneros.
A consolidação definitiva de um sistema literário na província e o fomento sistemático da produção autóctone ocorreu a partir de 1868 com a fundação da Sociedade Partenon Literário, que agregou a nata da intelectualidade gaúcha. O Partenon foi um divisor de águas. Deu forma, unidade e substância aos ensaios dispersivos que vinham ocorrendo até então, estimulou a prática da leitura e da criação, valorizou o regionalismo, educou o gosto do público, fundou uma revista mensal de ampla repercussão, organizava saraus e conferências regulares sobre assuntos literários, estéticos, religiosos e filosóficos e uma variedade de outros temas relevantes para aquele momento histórico, como a moralização dos costumes, o modelo político nacional, o sistema educativo, a definição da identidade regional, a abolição da escravatura e a emancipação da mulher, e foi um exemplo para a fundação de instituições similares em todo o Rio Grande. Ali atuaram quase todos os principais autores gaúchos do século XIX.
O Partenon encerrou suas atividades em 1899. Desde então a literatura estadual não fez senão se expandir, embora com momentos mais ou menos ativos, acompanhado as diferentes correntes estéticas que floresceram ao longo do século XX. Hoje o Rio Grande do Sul conta com uma tradição literária firmemente estabelecida, é um importante polo de produção em âmbito nacional, com uma grande população de escritores ativos nos mais variados gêneros, muitos deles reconhecidos internacionalmente, o estado dispõe de cursos de graduação e pós-graduação em Letras em muitas universidades, e a bibliografia crítica e historiográfica é volumosa.