Um filósofo idealista irlandês Da Wikipédia, a enciclopédia livre
George Berkeley (Condado de Kilkenny, 12 de março de 1685 — Oxford, 14 de janeiro de 1753) foi um filósofoidealistairlandês cuja principal contribuição foi o avanço de uma teoria que ele chamou de "imaterialismo" (mais tarde conhecido como idealismo subjetivo). Essa teoria nega a existência de substância material e, em vez disso, sustenta que objetos familiares como mesas e cadeiras são apenas ideias na mente daqueles que os percebem e, como resultado, os objetos não podem existir sem serem percebidos. Berkeley também é conhecido por sua crítica à abstração, uma importante premissa em seu argumento para o imaterialismo.
Em 1709, Berkeley publicou sua primeira grande obra, Um Ensaio para uma Nova Teoria da Visão, na qual ele discutiu as limitações da visão humana e postulou a teoria de que os objetos apropriados da visão não são objetos materiais, mas formados por luzes e cores.[1] Essa premissa fundamentou sua Magnum Opus, Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano, de 1710. Após a má recepção, ele reescreveu a obra em forma de diálogo e a publicou sob o título Três Diálogos entre Hylas e Philonous.
Neste livro, os pontos de vista de Berkeley foram representados por Philonous (grego: "amante da mente"), enquanto Hylas ("matéria" em grego) incorporou os oponentes de Berkeley, em particular John Locke. Berkeley argumentou contra a doutrina de espaço, tempo e movimento de Isaac Newton em De Motu publicada em 1721. Seus argumentos foram precursores de ideias desenvolvidas por Mach e Einstein.[2] Em 1732, ele publicou Alciphron, uma apologética cristã contra os livres-pensadores, e em 1734, lançou The Analyst, uma influente crítica dos fundamentos do cálculo.[3]
Em seu último grande trabalho filosófico, Siris (1744), Berkeley abarca uma ampla gama de tópicos, incluindo ciência, filosofia e teologia. O interesse pelo trabalho de Berkeley aumentou após a Segunda Guerra Mundial, pois ele abordou muitas das questões que passaram a ocupar o centro dos interesses da filosofia no século XX. Entre esses assuntos estão o problema da percepção, a diferença entre qualidades primárias e secundárias e a importância da linguagem.[4]
A teoria de George Berkeley de que a matéria não existe vem da ideia de que "as coisas sensíveis são aquelas que são imediatamente percebidas pelo sentido”. Todo o conhecimento vem da percepção; o que percebemos são ideias, não coisas em si mesmas; uma coisa em si deve ser uma experiência externa; então o mundo consiste apenas de ideias e mentes que percebem essas ideias; uma coisa só existe na medida em que percebe ou é percebida. Através disso, podemos ver que a consciência é considerada algo que existe, para Berkeley, devido à sua capacidade de perceber. "O 'Ser', do objeto, significa ser percebido ao passo que o 'ser', do sujeito, significa perceber".[5]
A teoria de Berkeley baseia-se fortemente em sua forma de empirismo, que por sua vez depende fortemente dos sentidos. Seu empirismo pode ser definido por cinco proposições: todas as palavras significantes significam ideias; todo nosso conhecimento é sobre nossas ideias; todas as ideias vêm de fora ou de dentro; se vêm de fora devem-se aos sentidos, e estas são chamadas de sensações, se vêm de dentro eles são as operações da mente, e são chamadas de pensamentos.[6]
Berkeley esclarece sua distinção entre ideias dizendo que elas "são impressas nos sentidos", "percebidas atendendo às paixões e operações da mente", ou "são formadas pela ajuda da memória e da imaginação".[6]
Uma contestação à sua ideia era: se alguém sai de uma sala e a deixa de perceber, aquela sala deixaria de existir? Berkeley responde isso afirmando que ela ainda está sendo percebida e que a consciência que a está percebendo é a de Deus. Essa afirmação sustenta seu argumento de que é " nosso conhecimento do mundo, e da existência de outras mentes dependem de um Deus que nunca nos enganaria". O argumento de Berkeley postula um ser onisciente e onipresente.[6]
1685. Nasce George Berkeley, no dia 12 de março, em Kilkenny, na Irlanda, no Castelo de Dysart, próximo a Thomastown.
1696. Berkeley vai para o Kilkenny College.
1700. Ingressa no Trinity College, de Dublin.
1702. É eleito Scholar.
1704. Recebe o título de Bacharel em Artes (B.A.), no Trinity College.
1707. Recebe o título de Mestre em Artes (M.A.); é eleito fellow do Trinity College; desenvolve a filosofia imaterialista, parcialmente registrada em dois cadernos de anotações, conhecidos atualmente como Comentários filosóficos; publica dois breves tratados matemáticos, intitulados Arithmetica e Miscellanea Mathematica.
1708. Profere, em 11 de janeiro, um sermão sobre a imortalidade; redige a primeira versão da Introdução (manuscrita) do Tratado sobre os princípios do conhecimento humano.
1709. Publica Um ensaio para uma nova teoria da visão.
1710. Publica Tratado sobre os princípios do conhecimento humano; ordena-se padre.
1712. Publica Discurso sobre a obediência passiva, previamente apresentado na forma de três sermões.
1713. É apresentado à Corte Inglesa por Jonathan Swift, autor da obra Viagens de Gulliver, e logo se torna um favorito da Corte; publica, em Londres, Três diálogos entre Hylas e Philonous; faz sua primeira viagem pelo continente europeu; visita Paris e Lyon, dentre outras cidades.
1716. Como acompanhante de viagem de George Ashe (1658-1718), bispo de Clogher e amigo de Swift, faz um grande tour pela Europa; visita Paris, Roma, Turim, Nápoles, dentre outras cidades.
1717. Escreve uma carta sobre a erupção do Monte Vesúvio; mantém um diário sobre sua viagem à Itália.
1720. Retorna a Londres.
1721. Recebe o título de Bacharel em Teologia (B.D.) e o de Doutor em Teologia (D.D.); publica De Motu; Essay on the Ruine of Great Britain.
1722. Resolve criar um colégio nas Bermudas; é indicado para Deão de Dromore.
1724. Nomeado Deão de Derry; delega seu cargo e usa sua renda para sustentar o Projeto Bermudas; publica An Proposal for the Better Supplying of Churches in our Foreign Plantations, and for converting the Savage Americans to Christianity, o anúncio público do Projeto Bermudas.
1726. O Parlamento aprova, e o tesouro promete, uma subvenção de £ 20 mil para o Projeto Bermudas.
1728. Em agosto, casa-se com Anne Forster; em setembro, depois de quatro anos de preparação para o novo colégio, viaja para a América do Norte; desembarca em Virgínia.
1729. Em Newport, Rhode Island (EUA), compra uma propriedade para o colégio.
1730. Espera a subvenção do Tesouro; pronuncia sermões; escreve Alciphron.
1731. Fica sabendo que a subvenção não será paga; retorna a Londres.
1732. Publica Alciphron, or The Minute Philosopher, obra em sete diálogos “contendo uma apologia a favor da religião cristã contra os assim chamados livre-pensadores”.
1733. Publica A teoria da visão confirmada e explicada.
1734. É consagrado bispo de Cloyone, onde serve sua diocese durante quase vinte anos; publica O analista.
1735. Publica A Defence of Free-thinking in Mathematics e a primeira parte de The Querist, uma obra que examina as razões das péssimas condições econômicas na Irlanda.
1736. Publica a segunda parte de The Querist.
1737. Publica a terceira parte de The Querist; em Dublin, toma posse na Casa dos Lordes.
1738. Discourse Addressed to Magistrates.
1744. Publica Siris: a Chain of Philosophical Reflections and Inquiries concerning the Virtues of Tar-water, and divers other subjects, obra que contém uma discussão dos valores medicinais da água de alcatrão e faz uma exposição sobre a natureza metafísica do universo físico e espiritual assim como de Deus.
1749. Publica Word to the Wise.
1751. Morre William, seu filho mais velho.
1752. Deixa Cloyne e vai para Oxford com sua família, onde estuda seu filho George. Publica Miscellany e a última edição de Alciphron.
1753. Morre em Oxford, no dia 14 de janeiro; é enterrado na nave da Christ Church, de Oxford.
A maior contribuição do cientista para a Física e o estudo do corpo humano foi o entendimento da visão associado a elementos sensitivos.
Assim como a percepção de distância, tamanho e coordenadas dos objetos, o livro Um ensaio para a nova teoria da visão,[7] situa-se em tese central que a compreensão de análise de variados objetos não é controlada apenas pela visão, mas sim com forte participação de outro sentido, como o tato. Ele também argumenta contra estudiosos clássicos da ótica, dizendo que a profundidade espacial é ela mesma invisível, assim como a distância que separa o observador de um objeto. Ou seja, não enxergamos o espaço diretamente e nem deduzimos sua forma logicamente por meio das leis da ótica. Para ele, o espaço não é mais do que uma expectativa eventual de que as sensações visuais e táteis se seguirão em sequências regulares que passamos a esperar pelo hábito.
A visualização dos objetos se baseia, em adaptações nas sensações nos movimentos oculares, porém as ideias de distância, grandeza e posição dos objetos, são proporcionadas pelo tato. Para Berkeley, o principio básico da visão é realmente apenas a percepção da luz e das cores. Distância, grandeza e posição são provocadas pelos próprios movimentos oculares, que assumiriam papéis de sinais, que seriam compreendidos pela visão.
A contribuição maior de Berkeley para o estudo posterior da física aplicada ao corpo humano, é o entendimento dos músculos oculares, pois ao acreditar que a visão sensorial é a apenas uma coleção de ideias refutou embasamentos e trouxe muitas discussões, assim aplicado ao estudo da ótica, possibilitou a compreensão e análise de lentes e patologias associadas a visão.
Outro aspecto impactante de Berkeley nos estudos dos fenômenos naturais, era sua intensa crítica aos termos físicos empregados principalmente por Newton, como por exemplo o termo "atração", onde as matérias se atraíam, e nada mais era dito sobre o assunto, apenas se assumia o fenômeno de atração, fato que deixava Berkeley profundamente perplexo, já que para ele, para se assumir algo, é necessário provar suas causas, para entender os porquês das reações, julgando raso e improcedente tais termos, gerando acaloradas discussões e principalmente despertando o interesse de seus leitores e físicos da época para que se provasse esses fundamentos tão profundos em significância.
Arithmetica (1707)
Miscellanea Mathematica (1707)
Philosophical Commentaries or Common-Place Book (1707–08)
A Proposal for Better Supplying Churches in our Foreign Plantations, and for converting the Savage Americans to Christianity by a College to be erected in the Summer Islands (1725)
A Sermon preached before the incorporated Society for the Propagation of the Gospel in Foreign Parts (1732)
Berman, David. Berkeley. Filosofia experimental. Trad. José Oscar de Almeida Marques, São Paulo: Ed. Unesp, 2000.
Bradatan, Costica. O outro Bispo Berkeley: um exercício de reencantamento. Tradução de Jaimir Conte. Chapecó, SC: Argos, Florianópolis: Editora da UFSC – 2023. 367 p.: 23 cm.. – (Perspectivas; 61).
Huelga, Luis Alfonso Iglesias. Berkeley, o empirista engenhoso. Trad. Filipa Velosa. São Paulo: Salvat, 2017.
Siqueira, Jean Rodrigues. Ser é ser percebido: um exame de duas interpretações acerca da justificação do princípio fundamental da filosofia imterialista. São Paulo: Autografia, 2005
Strathern, Paul. Berkeley em 90 minutos. Trad. Cássio Boechat. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
Turbayne, C. M. «Berkeley's Two Concepts of Mind». Philosophy and Phenomenological Research. 20 (1): 85–92. JSTOR2104957. doi:10.2307/2104957 Repr. in Engle, Gale; Taylor, Gabriele (1968). Berkeley's Principles of Human Knowledge: Critical Studies. Belmont, CA: Wadsworth. pp.24–33 In this collection of essays, Turbayne's work comprised two papers that had been published in Philosophy and Phenomenological Research: