História transgênero no Brasil
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A história transgênero no Brasil compreende a história das pessoas trans (transexuais, de terceiro gênero e travestis) no Brasil, suas lutas e organização desde o período pré-colonial até os dias modernos. Antes da colonização do Brasil, os povos indígenas respeitavam vários terceiros gêneros transmasculinos e transfemininos; no processo de colonização, houve execuções públicas de pessoas trans e a imposição sistemática do gênero binário ocidental. No final do século XIX, ocorreram diversas prisões de travestis negras e ocasionais reportagens sensacionalistas sobre elas. Na década de 1920, havia drag queens populares e, na década de 1950, algumas travestis tornaram-se estrelas de teatros de revista. A partir da década de 1960, os periódicos LGBT discutiam publicamente as dificuldades enfrentadas pelas travestis e transexuais.
A ditadura militar no Brasil (1964-1985) realizou prisões em massa de travestis e as censurou. Muitas emigraram para Paris, e a maioria que permaneceu foi pressionada a trabalhar com prostituição. Na segunda metade da ditadura, a censura foi afrouxada e as travestis começaram a reentrar no teatro e a se organizar abertamente. Após a ditadura, as prisões em massa continuaram, juntamente com execuções extrajudiciais cometidas por militares e grupos de justiceiros. O movimento por direitos homossexuais distanciou-se das travestis em busca de respeitabilidade. Em 1992, foi criada a primeira organização política de travestis, que começou a defender o tratamento do HIV e protestar contra a brutalidade policial. Durante a década seguinte, mais organizações trans foram criadas, e elas começaram a fazer parcerias com as de gays e lésbicas.
Em 1997, as cirurgias de afirmação de género foram aprovadas em base experimental. Em 2008, elas passaram a ser cobertas pelo Sistema Único de Saúde com exigências rigorosas, e em 2009 os tribunais estabeleceram o direito de mudança de nome e sexo nas certidões de nascimento após a cirurgia. Em 2017, a exigência para a mudança de nome passou a ser o reconhecimento judicial da identidade transgênero e, em 2019, a atestação própria. Desde que a Transgender Europe começou a registrar dados em 2008, o Brasil teve as maiores taxas anuais globais de assassinatos de pessoas trans.