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Pré-historia e história de Madrid Da Wikipédia, a enciclopédia livre
A história de Madrid (Espanha) foi marcada pela presença humana desde a pré-história, mas só a partir do século IX começou a ter alguma importância, tudo devido ao emir Maomé I de Córdova (r. 852–886), que nessa época aí instalou um palácio que fomentou o crescimento de uma povoação.
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Apesar de não terem sido encontradas restos fósseis de seres humanos, foi descoberta uma grande variedade de utensílios, principalmente perto de Arganda del Rey e do rio Manzanares; esse facto permitiu provar presença humana nas margens desse rio e de alguns dos terrenos actualmente ocupados pela cidade.[1]
A conquista, colonização e pacificação romana da Península Ibérica durou quase duzentos anos; desde a Segunda Guerra Púnica até ao ano de 27 a.C, no qual se completou o processo de paz no norte do território, dividindo então a Península em três províncias.[2] A região de Madrid situava-se na Hispânia Tarraconense.
Neste período, Madrid era apenas uma pequena localidade rural na qual se cruzavam estradas e com uma paisagem natural excepcional. Tem-se discutido recentemente a possibilidade de existência de uma antiga basílica visigoda perto da igreja de Santa Maria da Almudena, mas ainda nada foi confirmado.
O primeiro relato histórico da existência de uma povoação na região de Madrid data da época muçulmana.[3] Na segunda metade do século IX, o emir de Córdova, Maomé I de Córdova (852 - 886) mandou construir um forte numa elevação junto ao rio (lugar ocupado actualmente pelo Palácio Real) com o propósito de vigiar a serra de Guadarrama e ser o ponto de partida de ataques contra os reinos cristãos do norte. Junto do forte, para sul, situava-se o povoado; chamava-se Mayrīt (Magerit em português). Deste período, foram descobertos em escavações arqueológicas levadas a cabo na cidade a partir de 1975, alguns restos da muralha árabe. Em Madrid nasceu no século X Maslama al-Majriti, chamado o "Euclides andalusino", notável astrónomo e fundador da Escola Matemática de Córdova.[4]
A taifa de Toledo caiu nas mãos de Afonso VI de Leão e Castela sem oferecer resistência a 25 de Maio de 1085. Madrid e os seus arredores ficaram integrados no reino de Castela. Mudaram os muçulmanos, que habitavam na cidade, para os arrabaldes (bairros periféricos) que estavam ocupados na era árabe por moçárabes. Durante o século seguinte, Madrid recebe várias ofensivas árabes: os almorávidas, que incendiaram a cidade em 1109, e o Califado Almóada mais tarde em 1197. A vitória cristã da Batalha de Navas de Tolosa acaba em definitivo com a influência muçulmana no centro da Península.
Sucederam-se nesta época dois acontecimentos que se revelaram extremamente importantes e que marcaram profundamente a religião cristã da cidade: a descoberta de uma imagem da Virgem de Almudena e a vida "milagrosa" de Isidro Labrador, que mais tarde viria a ser canonizado.[5] Madrid crescia prosperamente e recebeu, em 1123, o título de vila; passou rapidamente a concelho e depois tornou-se no centro da comunidad de villa y tierra de Madrid. Em 1152, o rei Afonso VII estableceu os limites da comunidad de villa y tierra de Madrid, entre os rios Guadarrama e Jarama. Em 1188, uma representação madrilenha participa pela primeira vez nas Cortes de Castela. Em 1202, Afonso VIII concede o primeiro foral municipal à vila de Madrid, que servia para regular o seu funcionamento; as competências atribuídas foram ampliadas em 1222 por Fernando III. O governo de Madrid ficou, até 1346, a cargo dos seus habitantes num sistema de concelho aberto; o rei Afonso XI implantou nessa altura um novo regime na vila, no qual só os representantes da oligarquia local, os regedores, governavam.
O reis da dinastia de Trastâmara passaram largas temporadas na vila de Madrid devido acima de tudo à possibilidade de poderem caçar, passatempo bastante apreciado pela realeza castelhana. Na Guerra das Comunidades de Castela, Madrid uniu-se à revolta contra Carlos I (1520), mas a derrota dos populares na batalha de Villalar levou a que a vila fosse ocupada pelas tropas reais. Apesar da posição tomada por Madrid nesta ocasião, o sucessor de Carlos I, Filipe II decide instalar a corte em Madrid em 1561,[6] tornando-a assim na capital de Espanha; este facto contribuiu decisivamente para a evolução da cidade. Salvo um breve período entre 1601 e 1606 em que a corte este instalada em Valladolid, o título de capital permaneceu em Madrid até à actualidade.
Com o estabelecimento da corte em Madrid, a sua população começou a crescer de forma significativa. Em 1625, Filipe IV deita a baixo a muralha da cidade, pois já não correspondia aos verdadeiros limites de Madrid, e constrói a que foi a última cerca de Madrid. Esta nova cerca cumpriu a sua utilidade até ao século XIX, altura na qual o crescimento da população obrigou que se passa-se além dela. O trabalho do governo centralizava-se no Alcázar Real, conjunto de edifícios situados nos terrenos que mais tarde foram ocupados pelo Palácio Real. Paralelamente, construiu-se um palácio no outro extremo da cidade, para lá dos limites da cerca; este era o Palácio do Bom Retiro, do qual foram conservados os jardins e a Sala do Trono; actualmente é utilizado pelo Museu do Prado.
A mudança de dinastia trouxe consequências favoráveis à cidade. Madrid tinha-se tornado num local escuro, triste, sujo, doentio e pestilento.[7] Os Bourbons comprometeram-se a elevar Madrid ao nível de outras capitais europeias da época. O incêndio do Alcázar Real em 1734 foi a desculpa perfeita para a construção do Palácio Real, bem ao estilo do de Versalhes.[8] As obras terminaram em 1755, tendo sido ocupado apenas a partir do reinado de Carlos III. Pontes, hospitais, parques, fontes, edifícios científicos, esgotos e outras intervenções foram promovidas pelo monarca, que recebe o título popular de "melhor alcaide de Madrid"; contou com a colaboração de arquitectos e urbanistas tais como: Francesco Sabatini, Ventura Rodríguez, Juan de Villanueva entre outros. O projecto do Salão do Prado, nos arredores da cidade será provavelmente o mais importante de todos; este deixou como herança à cidade os paseos del Prado y Recoletos, as fontes de Neptuno, Cibeles e Apolo, o Jardim Botânico Real, o Observatório Astronómico ou o Gabinete de História Natural que mais tarde se viria a converter no Museu do Prado. Contudo, a relação entre o "rei alcaide" e os seus súbditos nem sempre foi pacífica: várias medidas do seu programa de modernização foram bastante contestadas de maneira violenta; exemplo disso é o motim de Esquilache em 1766.[9]
O levantamento de 2 de maio de 1808 do povo de Madrid contra as tropas francesas marcou o início da guerra da Independância.[10] O rei José Bonaparte pôs em prática várias medidas na capital, sendo que algumas delas, mais frequente, eram de ordens de demolição de edifícios para a construção de praças; nessa medida adquiriu o nome popular de Pepe Praçolas[11] (Pepe é o diminutivo espanhol para José).
Em 1860 é demolida a cerca de Felipe IV, e desta forma a cidade começa a crescer rapidamente para os lados; no princípio esse crescimento era feito de forma ordena, graças ao planeamento urbanístico de Carlos María de Castro; um bom exemplo desse planeamento são os ensanches.[12] Foi construído um moderno sistema de abastecimento de águas (o Canal de Isabel II) e estabeleceram-se comunicações por caminho-de-ferro que converteram Madrid no centro da rede radial de comunicações, o que também deixou a sua marca na malha urbana (a Estação de Atocha e a Estação Príncipe Pío).
Nos primeiros 30 anos de século XX, a população madrilenha chega à marca de um milhão de habitantes. As necessidades infraestructurais que o crescimento populacional trouxe a construção de vias de comunicações radiais, de núcleos de habitação, que até então estavam separados de Madrid, e que nessa altura se juntaram à capital; esses núcleos são: Alto Carabanchel e Baixo Carabanchel, Chamartín de la Rosa, Vallecas, Vicálvaro, Canillejas e Fuencarral. Os novos arredores constituídos pelos bairros de las Ventas, Tetuán e el Carmen albergavam o recém chegado proletariado, enquanto que nos ensanches estava instalada a burguesia madrilenha. Estas transformações fomentaram a ideia da Ciudad Lineal, de Arturo Soria. Paralelamente foi inaugurada a Gran Vía e também o metro em 1919.[13] Durante o reinado de Afonso XIII, foram cedidos terrenos reais a noroeste do Palácio Real para fundar a Ciudad Univesitaria.
As eleições municipais de 12 de Abril de 1931 deram um grande triunfo aos republicano-socialistas em Madrid; obteveram 69,2% dos votos (88.758 votos). O republicano Pedro Rico foi eleito alcaide. O triunfo republicano em Madrid e na maioria das capitais de província acabou com a monarquia dando início à Segunda República Espanhola, apenas dois dias após as eleições. O comité republicano assumiu o poder no dia 14 à tarde, proclamando a República na sede do Ministério da Governação, perante uma multidão eufórica.[14] A Constituição da República promulgada em 1931 foi a primeira que legislou que a capital do Estado era Madrid. Em 1936 estalou a guerra civil. A resistência das milícias, militarizadas sob a forma de Exército Popular em 1937, eram dirigidas pela Junta de Defensa de Madrid, e conseguiram atrasar a ofensiva durante a batalla de Madrid nos bairros do oeste da cidade. Esta ocupação de Madrid pelas tropas de Franco gerou uma especulação, posteriormente não confirmada, de que a capital seria mudada para Burgos como castigo à resistência militar. A cidade não voltaria a sofrer mais assaltos por terra durante a guerra, mas foi castigada por fogo artilheiro e bombardeamentos aéreos, os primeiros na História sobre uma capital. O final da guerra foi especialmente caótico em Madrid devido a confrontos violentos entre republicanos.
Terminada a guerra, a cidade continuou a crescer espacialmente. Centenas de milhares de espanhóis mudam-se do campo para a capital.[15] Madrid, em conjunto com Barcelona e Bilbao, é uma das cidades que mais beneficiou com estes movimentos populacionais.
A partir de 5 de Junho de 1948, começa o processo de anexação a Madrid de treze municípios nos arredores; este processo acabou a 31 de Julho de 1954, juntado a Madrid os municípios de Aravaca, Barajas, Canillas, Canillejas, Chamartín de la Rosa, Fuencarral, Hortaleza, El Pardo, Vallecas, Vicálvaro, Villaverde, Alto Carabanchel e Baixo Carabanchel. A área da cidade passou de 66 km² para 607 km² e aumentou a sua população com 300 mil novos habitantes desses municípios.
A desordem urbanística instalou-se em Madrid, o centro histórico era alvo de especulação devido à permissão de demolição de edifícios de valor artístico e histórico, para aí se erguerem outros, mais modernos e inovadores como, por exemplo, as Torres de Colón. Nalguns casos, as intervenções arquitectónicas tinham um forte carácter político, tentando impôr o conceito de Madrid Imperial franquista; exemplo disso é a zona de Moncloa, onde foram construídos o Arco da Victória e o edifício do Ministério do Ar, num estilo neoherreriano, ou ainda a Casa Sindical.
O Plano de Ordenação da Área Metropolitana, aprovado em 1963, foi posto em prática nesse ano; o seu objectivo era inverter a tendência da população se concentrar em Madrid, e mudá-la para municípios metropolitanos como, Alcorcón, Alcobendas, Coslada, Fuenlabrada, Getafe, Leganés, Móstoles, San Sebastián de los Reyes e San Fernando de Henares, que se converteram em autênticas cidades dormitório.
Depois da morte de Franco, Madrid foi um dos principais palcos durante o período de transição. Os primeiros meses do ano de 1977 destacaram-se pela agitação política e social, com manifestações e contramanifestações violentas com vítimas mortais. Outros graves incidentes foram dois sequestro da GRAPO e ainda a episódio da Matança de Atocha de 1977, levados a cabo por elementos da extrema direita. Com a consolidação do regime democrático, a constituição de 1978 confirma o estatuto de capital de Madrid, agora na Espanha democrática.
Em 1979, tiveram lugar as primeiras eleições municipais democráticas desde a II República; nestas foi eleito um representante dos partidos de esquerda para governar a cidade, Enrique Tierno Galván, conhecido como O Professor. Após a sua morte, foi substituído por Juan Barranco, do PSOE, com o apoio do PCE. A cidade virou-se para posições mais conservadoras com Agustín Rodríguez Sahagún, do CDS, e José María Álvarez del Manzano. Alberto Ruiz-Gallardón, do PP, foi nomeado alcaide da cidade depois de um período na chefia da Comunidade Autónoma de Madrid. A eleição democrática de alcaides trouxe grandes benefícios à cidade, pois, ao verem-se obrigados a prestar bons serviços para serem reeleitos, os alcaides melhoraram muito a qualidade de vida dos madrilenhos (os alcaides franquistas eram eleitos directamente por Franco). Foram construídas bibliotecas, instalações desportivas e centros de saúde, demoliram-se bairros de lata, procedeu-se à limpeza do rio Manzanares e restauraram-se vias de trânsito.
A 11 de Março de 2004 a cidade sofreu uma série de atentados com mochilas bomba em quatro comboios da rede Cercanías de Madrid. Os atentados, os maiores sofridos em Espanha e na União Europeia, levaram a vida a 191 pessoas e deixou mais de 1900 feridas.[16] Três anos após esse triste episódio os reis de Espanha inauguram na praça Carlos V um monumento comemorativo dedicado às vítimas do atentado.
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