Heráldica brasileira
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Por heráldica brasileira entende-se a prática da criação e uso de brasões ou armas no território do Brasil. Sua origem está na heráldica de Portugal, ao qual o Brasil se manteve unido como colônia por quatro séculos, adotando seus costumes. Porém, mesmo herdando uma tradição milenar, no Brasil a heráldica teve uma evolução extremamente lenta, dificultada pela sua longa condição de colônia, sujeita a muitas restrições oficiais, e pela ausência de uma nobreza institucionalizada, e só começou a floresceu realmente a partir do Império independente, quando a heráldica brasileira iniciou um processo de autonomização através da criação de um órgão oficial disciplinador e da criação de uma nova nobreza titulada, que muitas vezes adotou símbolos inovadores, que faziam referência às especificidades da nova nação.
Mesmo se ampliando, os costumes do período imperial ainda eram de várias formas limitantes, pois ao contrário da Europa, onde plebeus, municípios e instituições sempre adotaram brasões livremente, no Brasil o uso de armas foi controlado e até a República dependeu de concessão oficial, em geral só nobres as receberam, pouquíssimos municípios as requereram, e sobre as instituições — salvo a Igreja e seus membros, que as adotaram consistentemente — quase nada se sabe. De qualquer maneira, a simbologia nacionalista introduzida no Império foi marcante por se inserir num amplo projeto de modernização organizado pelo governo e por dar a partida para um progressivo afastamento das convenções europeias e portuguesas.
Com o fim da Monarquia, a heráldica nobiliárquica foi abolida, mas em outros domínios, já livre de quaisquer impedimentos, experimentou uma expansão explosiva, sendo adotada maciçamente por corporações, academias, escolas, equipes esportivas, empresas, cidades, estados e instituições, e mesmo a heráldica familiar vem recuperando popularidade. Contudo, não existindo uma instância oficial reguladora, e sendo o Brasil moderno um país multicultural, a heráldica contemporânea brasileira tem se caracterizado por uma grande criatividade, muitas vezes divergindo largamente das regras tradicionais europeias que lhes deram origem, o que tem atraído críticas de tradicionalistas.
Assim como sempre foi em todo o ocidente, a heráldica nacional tem servido a diferentes propósitos ao longo do tempo: estreitar relações e fortalecer identidades entre indivíduos e grupos, divulgar ideologias, valores e crenças as mais variadas, sustentar produtos comerciais e mercados consumidores, preservar memórias e tradições, embasar reivindicações de distinção social, consagrar méritos, feitos e conquistas, e servir como auxiliar de estudos históricos, culturais, artísticos, iconográficos e sociológicos, entre outras funções. Apesar das suas amplas repercussões sociais e culturais em sua notória aptidão para veicular ideias e mobilizar respostas através de símbolos visuais, a heráldica brasileira é muito mal documentada e ainda é pouco estudada.