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ave da família Furnariidae Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O joão-de-barro ou forneiro (Furnarius rufus) também chamado uiracuiar e uiracuité (de origem tupi-guarani Gwirá, "pássaro" e Ku'ya, "cuia/abrigo")[carece de fontes] é uma ave Passeriforme da família Furnariidae. É conhecido por seu característico ninho de barro em forma de forno (característica compartilhada com muitas espécies dessa família). É a ave símbolo da Argentina, onde é chamado de hornero e tido como "Ave de la Patria", desde 1928.
João-de-barro | |||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||
Pouco preocupante (IUCN 3.1) | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Furnarius rufus Gmelin, 1788 | |||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||
Possui o dorso inteiramente marrom avermelhado (por isso o epiteto específico rufus). Apresenta uma suave sobrancelha, formada por penas mais claras, em leve contraste com o restante da plumagem da cabeça. Rêmiges primárias (penas de voo, nas asas) negradas, visíveis em voo, com as asas abertas. Ventralmente é de coloração mais clara.[1] Tem cerca de 20 cm de comprimento e não apresenta dimorfismo sexual evidente,[2] mas sua plumagem pode mostrar variações regionais; no sul da Argentina tende a ter um tom mais pálido e acinzentado; no Piauí e Bahia as cores são mais fortes, mais avermelhado no dorso e mais escuro e ocre no ventre. Também seu tamanho pode variar, sendo em geral as populações do sul ligeiramente maiores que as do norte.[3]
O nome científico do joão-de-barro é Furnarius rufus, tendo sido descrito pela primeira vez por Johann Friedrich Gmelin em 1788. Pertence à ordem dos Passeriformes, família Furnariidae. O gênero Furnarius foi descrito por Louis Jean Pierre Vieillot em 1816. Da espécie partem cinco subespécies:[4]
É uma espécie nativa da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, ocupando uma vasta região, que vai do sul dos estados brasileiros de Pernambuco, Goiás e Mato Grosso, cobre toda a parte leste da Bolívia, seguindo para o sul pelas encostas da Cordilheira dos Andes até a altura da Pensínsula Valdez, na Argentina, espalhando-se destes limites até o litoral atlântico. Sua população não foi quantificada, mas parece estar aumentando e foi descrita como uma ave comum. Por tais motivos a Lista Vermelha da IUCN a classifica como espécie em condição pouco preocupante.[5] A espécie tem invadido cada vez mais as cidades e, em virtude do desmatamento, que cria campos ou arborização rala, também sua zona de ocorrência está aumentado.[3]
É conhecido em português por vários apelidos, como joão-de-barro, amassa-barro, barreiro, forneiro, maria-de-barro, oleiro, pedreiro, e em espanhol pode ser chamado de hornero común, alonsito e hornero.[6]
Vive em áreas de vegetação esparsa ou em campos abertos. Passa grande parte do tempo no solo, destacando-se por seu andar pausado característico, que alterna com pequenas corridas.[1] Alimenta-se de insetos e larvas, aranhas e outros artrópodes. Pode ocasionalmente ingerir sementes.[2] Raramente forrageia nas árvores. São monógamos e os casais permanecem unidos por longo tempo. Defendem seu território ao longo de todo o ano, tanto a fêmea como o macho, mas podem pernoitar fora de sua área.[3] Têm o hábito de cantar juntos à entrada do ninho, agitando suas asas.[7]
Seu ninho tipicamente em forma de forno o tornou popular. Em estado natural prefere os galhos baixos de árvores e troncos secos para nidificar, escolhendo pontos que possuam boa visibilidade do entorno, mas se não encontra um local adequado, pode nidificar até no chão ou sobre alguma rocha saliente.[3] Em zona urbana, onde está perfeitamente adaptado, prefere postes elétricos, podendo construir também sobre edificações humanas.[8] O hábito que tem de usar postes de eletricidade para nidificação tem causado problemas de manutenção para as empresas de energia elétrica.[9] Não há relação direta entre a construção de ninhos e o período reprodutivo. A ave passa quase todo o ano envolvida em construções, às vezes mais de uma ao mesmo tempo, o que pode ser explicado pelo grande índice de perdas de ninhos por invasões de outros animais, acidentes com destruição e intervenção humana, e pela disponibilidade de barro fresco, que depende do regime de chuvas.[3]
O casal se reveza na construção do ninho, uma estrutura em formato de forno, com 17 a 30 cm de diâmetro e uma altura de cerca de 20 cm, que pode pesar até 12 kg, embora a média seja de 5 kg. Divide-se em uma base ou plataforma, um vestíbulo estreito e uma câmara incubadora mais ampla, arredondada. A entrada tem em geral uma forma elíptica ou em crescente. Seu material é o barro, a palha e o esterco fresco. Todos os anos constroem um ninho novo, mas às vezes podem reformar um antigo. Também podem construir mais de um ao mesmo tempo. A construção leva de 2 a 18 dias para terminar, conforme a disponibilidade de material, mas se este falta podem interromper o trabalho e iniciar outro ninho quando as chuvas formam novo barro. Depois de pronto o casal se ocupa em forrar a câmara incubadora — o que nem sempre ocorre — com fibras vegetais, pelos, cerdas e penas.[1][2][3]
Ali a fêmea coloca de 3 a 4 ovos brancos, de casca frágil, que pesam de 4 a 7 g e medem de 27 a 29 mm de comprimento por cerca de 21 mm de diâmetro. A incubação, realizada pelo casal, só inicia consistentemente após a postura do terceiro ovo, levando de 14 a 18 dias. À noite, porém, parece que a incubação fica a cargo da fêmea. A taxa de natalidade é muito variável conforme a região. Os filhotes pouco depois de nascerem já apresentam comportamento defensivo, silvando como cobras e atacando intrusos com os bicos abertos, mas sem qualquer pontaria efetiva. Ambos os pais os alimentam. No início os adultos permanecem junto dos filhotes para aquecê-los, mas após oito dias de vida os pais vão passando mais tempo fora do ninho. Com 14 dias as crias já treinam seu canto, e aos 20 dias deixam o ninho, mas por alguns dias mais os pais ainda os alimentam. Se uma segunda postura se realiza na mesma temporada, os juvenis podem ajudar os pais a construir um novo ninho.[10]
Entre seus inimigos estão o anu-branco, o guira-guira, que preda ovos e filhotes, o gavião-carijó, a águia-chilena, que destrói o ninho e preda filhotes, e o gambá, que preda ovos, filhotes e adultos e depois ocupa o ninho. Pardais podem expulsar o joão-de-barro para usar seu ninho. O Molothrus bonariensis pode parasitar os ninhos colocando ali seu ovo, para que o casal de o incube e crie o filhote alheio. Ninhos vazios são ocupados por uma grande variedade de aves, alguns insetos como abelhas e percevejos, além de cobras e pererecas. A andorinha Phaeoprogne tapera utiliza exclusivamente ninhos vazios de joão-de-barro para sua própria nidificação.[11]
Ouça o canto do joão-de-barro
O joão-de-barro é um pássaro muito popular, tanto que foi escolhido como a ave nacional da Argentina.[3] Faz parte do folclore de várias regiões, sendo personagem de lendas. Uma delas diz que o macho pode encerrar uma fêmea infiel no ninho até que ela morra, o que nunca foi comprovado;[1] Outra diz que ele constrói seu ninho com a abertura na direção oposta do vento e da chuva, mas as pesquisas realizadas apresentam resultados contraditórios.[12][13] Também é dito que ele é um pássaro religioso, pois suspende a construção do ninho aos domingos e dias santos. Isso tampouco tem comprovação científica. Em algumas regiões interioranas seus ninhos vazios se tornam objetos de decoração doméstica.[3]
Seu canto, junto com o de outros pássaros, foi uma inspiração para o compositor erudito Olivier Messiaen.[14] Foi protagonista do livro infantil O Armário do João de Barro, de Christina Dias;[15] deu seu nome a um projeto do governo brasileiro de construção de casas populares no interior, especialmente no Nordeste;[16] foi tema de uma poesia de Cassiano Ricardo;[17] é um motivo constante na obra do pintor José Antônio da Silva e foi cantado na conhecida toada caipira João de Barro, de Teddy Vieira e Muibo César Cury.[18] A artista Celeida Tostes utilizou seus ninhos para a criação de uma instalação apresentada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 1990.[19] João de Barro é também o nome de uma música cantada por Maria Gadu e composta por Leandro Léo e Rafael Portugal. Além disso a ave já batizou uma plataforma criptográfica para a Autoridade Certificadora Raiz da Infra-estrutura de Chaves Públicas do Brasil[20] uma ONG,[21] um concurso nacional de literatura da prefeitura de Belo Horizonte.[22]
Em Sobradinho, Região Administrativa do Distrito Federal, corre uma lenda de que a cidade foi fundada por um joão-de-barro, a quem ela também deve o nome, já que antigamente um viajante teria ali encontrado uma dessas aves a construir seu ninho, e ela, falando-lhe, disse que seria na forma de um "sobradinho", em memória das grandes casas de fazenda que um dia pontuavam a paisagem da região.[23] Os indios avá guaraní assim explicam a origem do joão-de-barro: a jovem Kuairúi havia se enamorado de Tiantiá, um valoroso guerreiro. Queriam casar, mas o cacique Tabáire, pai de Kuairúi, não permitiu, porque a despeito de sua bravura Tiantiá não sabia construir uma cabana. Assim foram transformados em pássaros que ajudam um ao outro na construção do ninho.[24]
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