Forte Novo de Coimbra
patrimônio localizado no Brasil Da Wikipédia, a enciclopédia livre
patrimônio localizado no Brasil Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O Forte Novo de Coimbra, também referido como Forte de Nova Coimbra, Forte de Coimbra e Forte Portocarrero,[1] localiza-se na margem direita do rio Paraguai, em posição dominante sobre o estreito de São Francisco Xavier, no atual distrito de Forte Coimbra, município de Corumbá, estado de Mato Grosso do Sul, no Brasil.
Forte Porto Carrero | |
---|---|
Forte Coimbra, Mato Grosso do Sul | |
Construção | José I de Portugal (1775) |
Estilo | Abaluartado |
Conservação | Bom |
De acordo com o pesquisador Raul Silveira de Mello, o primitivo forte foi oficialmente fundado em 13 de setembro de 1775, embora a decisão de estabelecê-lo tenha sido tomada muito antes, no contexto da assinatura e das demarcações decorrentes do Tratado de Madri (1750).
A região do chamado Mato Grosso era conhecida desde o início do século XVIII quer por Bandeirantes paulistas e quer por missionários Jesuítas de Assunção, no Paraguai. Diante da necessidade de demarcação das terras por ambas as Coroas, era conveniente a implantação de algum ponto de apoio naquela região. Por parte de Portugal, desse modo, floresceu a ideia de se construir um presídio mais ao sul, próximo aos espanhóis.
A partir da chegada à região do primeiro governador da capitania de Mato Grosso, em 1751, e de várias mudanças governamentais e planos consolidados de defesa e expansão, o quarto capitão-general da capitania, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, determinou a fundação de um forte no curso do rio Paraguai para impedir o avanço espanhol e coibir a atuação dos índios paiaguás. Para essa tarefa, designou o Capitão Matias Ribeiro da Costa, com instruções para alcançar a região chamada de Fecho dos Morros, onde hoje se localiza Porto Murtinho, 292 quilômetros mais abaixo no curso do rio, a vinte dias de canoa de Cuiabá.
O Capitão partiu de Cuiabá no dia 22 de julho de 1775 acompanhado de 245 homens divididos em três grupamentos, com um total de 15 canoas, guiados por um indígena idoso.
O forte foi fundado em 13 de setembro de 1775, no estreito de São Francisco Xavier, na margem direita do rio Paraguai: o "Presídio de Coimbra". Recorde-se que um "presídio", à época, era um estabelecimento militar de colonização.
A partir de 1791, dado o precário estado de conservação do Forte de Nossa Senhora do Carmo, foram iniciadas obras para reconstrução da estrutura, em alvenaria de pedra e cal. Em 1795 assumiu o comando do forte o Capitão Francisco Rodrigues do Prado.[2]
O Governador e Capitão-general da Capitania de Mato Grosso, Caetano Pinto de Miranda Montenegro (17??-1804), tendo em vista as iniciativas espanholas do Fuerte Bourbon e do Fuerte de San Carlos del Apa na região fronteiriça, decidiu erigir uma fortificação mais sólida "na ponta do morro, onde fazem um grande ângulo obtuso dois compridos estirões do [rio] Paraguai, que ficarão flanqueados pelo novo forte, o que não faria a antiga estacada."[3]
A partir de 1796, as obras do Forte Novo de Coimbra ficaram a cargo do Tenente-coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, engenheiro militar e geógrafo, que prosseguiu as obras de reconstrução (3 de novembro de 1797) na qualidade de comandante do forte.[4] A planta de sua autoria (Planta do novo Forte de Coimbra, situado na margem ocidental do Paraguai, 1797. AHEx; BN, Rio de Janeiro) mostra a primitiva estacada ao lado da qual foi erguida uma fortificação orgânica, adaptada ao terreno, com o traçado de um polígono estrelado irregular. As muralhas, de cortinas asseteiradas, envolviam toda a fortificação, acompanhando o declive da encosta. Comportava duas baterias em plano horizontal, cruzando fogos sobre o rio, com oito canhoneiras pelo lado do rio e mais oito pelo lado de terra. A sudoeste, um fosso protegia a fortificação de um assalto pelo lado de terra. Completavam o conjunto edificações para a Capela, a Casa de Pólvora e Quartéis para a tropa.
Essa nova estrutura ainda se encontra em obras quando uma expedição de quatro escunas e duas canoas guarnecidas com 600 homens, sob o comando do Governador do Paraguai, D. Lázaro de Ribera, na Guerra de 1801, atacou o Forte Novo de Coimbra então guarnecido com apenas 42 homens, que resistem a um cerco de dez dias, de 16 a 25 de setembro de 1801.[2]
Ricardo Franco de Almeida Serra faleceu no comando da praça em 1809,[5] às 14 horas do dia 21 de janeiro.
Em 1851 o armamento do forte foi aumentado com quatro peças de calibre 24 libras e algumas de calibres 9 e 6, que jaziam desde 1820 às margens do rio Guaporé, destinadas ao Real Forte Príncipe da Beira, de acordo com informação do Almirante Augusto Leverger, Barão de Melgaço.[6] Obras de reforma e de ampliação foram executadas entre 1855 e 1856.
Na iminência da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), o seu estado era informado ao Presidente da Província:
“ | Somente pela sorte e honra das armas entregaremos o Forte | ” |
A invasão se materializou quando cinco batalhões de infantaria e dois regimentos de cavalaria a pé, num total de 3.200 homens, armados com doze canhões raiados, uma bateria de trinta foguetes franceses de 24 mm, protegidos por dez embarcações de guerra (entre as quais o Marquês de Olinda, adaptado) sob o comando do coronel paraguaio Vicente Barrios, intimaram o forte a se render (27 de dezembro de 1864). Apesar do comando da praça ser do capitão Benito de Faria, nele se encontrava em visita de inspeção naquele mês, o tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero, comandante do Corpo de Artilharia de Mato Grosso e do Distrito Militar do Baixo Paraguai, que assumiu, a título eventual, o comando do forte, frente à ameaça. A posição brasileira estava então artilhada com onze peças de bronze de alma lisa em bateria, e mais vinte sem reparos, guarnecido por 125 oficiais e soldados de artilharia a pé, reforçados por cerca de 30 guardas nacionais, alguns guardas de alfândega, meia dúzia de prisioneiros e duas dezenas de índios mansos. Durante dois dias, os combates foram intensos. As esposas e familiares dos oficiais e praças prepararam cartuchos de pólvora, ataduras, e atenderam como possível os feridos. Sem recursos para resistir e distante de reforços, o forte foi evacuado em ordem, na noite de 28 para 29, na canhoneira Anhambaí. O forte (e a bateria fronteira, no Morro da Marinha, cf. BARRETO, 1958:303) permaneceu ocupado pelas forças paraguaias até abril de 1868, quando o abandonaram conduzindo a sua artilharia e tudo o que nele existia.[8]
Findo o conflito, iniciou-se a reconstrução do forte, cujos danos sofridos haviam sido consideráveis, quase perdendo as próprias muralhas sob o fogo da artilharia inimiga.[9] Comandou as obras o Major Joaquim da Gama Lobo d'Eça, por determinação do Governo Imperial.[6] Em 1872, o Major Francisco Nunes da Cunha, que o comandou, procedeu a obras de ampliação, melhorando a defesa pelo lado oeste.
Novos melhoramentos se sucederam, inclusive na artilharia, no biênio 1907-1908, quando foram montadas peças de Marinha na Bateria Ricardo Franco:[10] dois canhões Armstrong de 120 mm, que haviam pertencido ao Cruzador Barroso.[11]
BARRETO (1958) informa-nos que novos quartéis foram construídos em 1930. Pelo Decreto-Lei no. 4.027, de 16 de janeiro de 1942, a unidade que lá servia, o Sexto Grupo de Artilharia de Costa foi denominado Grupo Portocarrero, em homenagem aquele herói da Guerra da Tríplice Aliança. À época estava guarnecido com quatro canhões Armstrong de 152,4 mm, dois no Morro do Forte (margem direita do rio Paraguai) e dois no Morro da Marinha na margem oposta.[12]
De propriedade da União, o conjunto foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a partir de 1974. Em 1983 concebeu-se a implantação do Projeto Parque Histórico-Turístico Forte de Coimbra.
As dependências do monumento sediam atualmente a 3ª Companhia de Fronteira - Forte Coimbra, subordinada à 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira do Exército brasileiro. Esta unidade recebeu, em 2002, a denominação histórica de Companhia Portocarrero.
Uma das lendas locais que cercam a fundação do forte afirma que São Tomé transitou por Fecho dos Morros em sua jornada em direção ao Peru, razão pela qual esse local era considerado sagrado e portanto não passível de ocupação militar. Uma outra lenda afirma que o Capitão Mathias teria a benção de Nossa Senhora do Carmo, comemorado em 16 de julho, sob cuja invocação o primitivo forte foi colocado. Essa data é uma das mais importantes de Forte Coimbra. Registra-se ainda uma antiga tradição, ligada a essa devoção à Senhora do Carmo, entre os oficiais do Exército brasileiro que serviam no forte: ao atingirem a patente de General, de onde quer que estivessem, de enviar-lhe uma das estrelas de ouro de suas ombreiras.
Também é importante para a região o nome do Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, abrigando o forte os seus restos mortais em um monumento.
Seamless Wikipedia browsing. On steroids.
Every time you click a link to Wikipedia, Wiktionary or Wikiquote in your browser's search results, it will show the modern Wikiwand interface.
Wikiwand extension is a five stars, simple, with minimum permission required to keep your browsing private, safe and transparent.