Nota: Se procura uma doença com ocorrência contínua em uma área geográfica restrita, veja Endemia.

Em biologia, especificamente na botânica e zoologia chamam-se endemismos (do grego endemos, ou seja, indígena) grupos taxonómicos que se desenvolveram numa região restrita.[1] Essas espécies são chamadas de endémicas (português europeu) ou endêmicas (português brasileiro).

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O pássaro-sol de peito laranja (Nectarinia violacea) é encontrado exclusivamente na África do Sul
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O sapo bicolor (Clinotarsus curtipes) é endêmico dos Gates Ocidentais da India
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O poço Montezuma, no Vale Verde do Arizona, contém pelo menos cinco espécies endêmicas encontradas exclusivamente no sumidouro

Em geral o endemismo é resultado da separação de espécies, que passam a se reproduzir em regiões diferentes, dando origem a espécies com formas diferentes de evolução. O endemismo é causado por mecanismos de isolamento, alagamentos, movimentação de placas tectônicas. Por exemplo, devido à deriva continental, as espécies de Madagáscar ou da Austrália são exemplos flagrantes de endemismos.

A ocorrência desses endemismos depende por isso da mobilidade dos organismos. As plantas e peixes de água doce são os mais afetados por processos endémicos, visto que a mobilidade é feita de forma mais restrita do que as aves ou mamíferos.

Algumas doenças e pragas, ao serem próprias de determinadas regiões, por decorrerem de factores ecológicos específicos dessas regiões, são também endémicas.

Podemos classificar os endemismos, principalmente na área da botânica, quanto à sua origem, em: endemismos autóctones, endemismos paleogénicos (ou relíquias) e endemismos neogénicos. A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em plantas endêmicas do mundo.[2]

Endemismo paleogénico

Ocorrem endemismos paleogénicos quando uma dada espécie, bastante disseminada em épocas remotas, subsiste, num determinado momento, numa área restrita. A Ginkgo biloba, actualmente espontânea apenas no sul da China, por exemplo, pertencia a um grupo de gimnospérmicas bastante comum no Jurássico e no Cretácico mas cujos representantes desapareceram quase por completo. Percebe-se, por isso, que se designem como relíquias tais endemismos.

Endemismos neogénicos

São endemismos neogénicos aqueles que resultam da evolução (por mutação ou outro factor) de uma espécie em eras recentes, não tendo tido o grupo biológico tempo para se disseminar para uma área mais extensa. É exemplo deste género de endemismo a espécie Saxifraga cintrana, presente na Serra de Sintra, Montejunto e Serra de Aire e Candeeiros.

Área endémica

As áreas de endemismo ou áreas endémicas, são consideradas regiões geográficas delimitadas a partir da combinação de áreas de distribuição de espécies ou táxons endêmicos de uma determinada região, sendo a área de distribuição aquela área ocupada pela espécie em um momento específico; a determinação da área de distribuição reflete o conhecimento atual que se tem sobre a distribuição da espécie, bem como de outros critérios.

Os padrões de distribuição que geram os padrões de endemismo respondem a uma série de processos que atuaram ao longo do tempo. As áreas de endemismo podem ser consideradas unidades históricas por refletirem a história dos organismos, a qual é fundamental na definição de qualquer padrão biogeográfico. Deste modo, é necessário utilizar informação sobre a filogenia dos organismos na determinação das áreas endêmicas.

É importante saber que as áreas de endemismo são hipóteses que podem ser testadas ou modificadas de acordo com a obtenção de novos dados de distribuição, podendo dar suporte à hipótese ou falseá-la.

Tem-se implementado diferentes métodos para o reconhecimento de uma área endêmica. O problema metodológico para a determinação das áreas é identificar o nível de congruência espacial necessário entre as espécies para considerar uma área como endêmica. Um dos aspectos mais simples considerados nestes métodos é que a extensão da área deve ser menor que os limites das distribuições das espécies.

A pan-biogeografia forneceu metodologias adequadas que foram utilizadas na determinação das áreas de endemismo. O “Método dos traços” é um método que se baseia na união de pontos de distribuição de espécies a traves de linhas para estabelecer um patrão de distribuição; a área endêmica pode estar representada na sobreposição de dois ou mais traços. O “Método de Análise Parcimoniosa de Endemicidade” (PAE) utiliza a informação de presença e ausência para construir uma matriz de dados e com ajuda de um programa computadorizado com algoritmo de parcimônia gera hipóteses falseáveis ao maximizar a congruência de distribuição de tantos táxons quanto possível. O “Programa Endemismo e Visualizador de Endemismo” utiliza algoritmos que permitem obter valores de endemicidade para quadriculas estabelecidas; o valor se calcula de acordo com o ajuste das localidades das espécies endêmicas localizadas nas áreas.[3]

Ver também

Referências

  1. CAIXINHAS, Maria Lisete (1999). Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira da Cultura, Edição Século XXI. X. Braga: Editorial Verbo. ISBN 9722218506
  2. «Mata atlântica». Consultado em 6 de dezembro de 2012. Arquivado do original em 2 de julho de 2008
  3. De Carvalho, Claudio (2011). Biogeografia da América do Sul: padrões e processos. São Paulo: Editora Roca
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