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Os concílios budistas (sânscrito: sangiti)[1] foram assembleias de monges organizadas após o parinirvana do Buda, as comunidades monásticas se reuniam periodicamente para resolver disputas disciplinares e doutrinárias e também para revisar e corrigir o conteúdo dos sutras de modo a assegurar a preservação e transmissão precisa dos ensinamentos do Buda.
A palavra em sânscrito sangiti significa cantar ou recitar em uníssono e reflete o método pelo qual os ensinamentos budistas foram transmitidos de uma geração para outra durante esse período.[2]
A maioria dos estudiosos recentes dizem que, alguns meses após o parinirvana do Buda (por volta de 486 a.C.),[3][4] durante o retiro das chuvas, reuniram-se cerca de 500 bhikṣus arhats em Rājagṛha para a realização do Primeiro Concílio Budista patrocinado pelo rei Ajatasatru de Magadha (491 a.C. – 461 a.C.) e presidido pelo venerável Mahā Kāśyapa. Durante o concílio foram recitados os discursos do Buda ("Dharma") pelo venerável Ananda, pois ele era o assistente pessoal de Gautama em suas peregrinações. Ananda testemunhou a maioria dos discursos proferidos pelo Buda, então ele recordou esses ensinamentos durante o concílio e os recitou, por isso os sutras começam com a expressão "Evam me suttam": Assim ouvi;[5] enquanto que o código de disciplina ("Vinaya") foi recitado pelo venerável Upali, por ser um especialista da disciplina monástica.[5][6][7]
Todos os seis vinayas canônicos sobreviventes contêm relatos, no todo ou em parte, do primeiro e do segundo concílios.[8][9][10] Alguns estudiosos, no entanto, acreditam que os relatos sejam um tanto exagerados ou mesmo fictícios.[11]
Esse concílio foi registrado nos vinayas canônicos de várias tradições. Segundo essas fontes, um século após o parinirvana do Buda (por volta de 386 a.C.)[12][13] foi convocado o segundo concílio para avaliar a conduta dos bhikkhus de Vesali em relação a disciplina monástica, participaram cerca de 700 bhikkhus de várias cidades e regiões, o concílio contou com um comitê de bhikkhus anciãos —sthaviras— arhats para avaliação.[14][15][16]
O comitê foi composto por bhikkhus sthaviras do oeste: Revata, Sambhuta Sanavasin, Yasa e Sumana; e do leste: Sabbakamin, Salha, Kujjasobhita e Vasabhaga Mika. Naquele momento, os bhikkhus de Vesali haviam se engajado em uma interpretação mais liberal da disciplina monástica, por isso o comitê avaliou um conjunto de dez práticas específicas que eram adotadas pelos bhikkhus de Vesali, mas a controvérsia principal estava relacionada a última prática — manuseio de dinheiro.[17][18][19]
O comitê concluiu que as práticas dos bhikkhus de Vaiśālī eram ilegais.[14][18][20] Todos os vinayas canônicos tradicionais discordam das práticas dos bhikkhus de Vesali. Porém, o vinaya mahasamghika desconhece as nove primeiras e condena somente a última, não se sabe se isso afetou a prática em ambos os casos — pois todos esses vinayas concordam que o conflito do segundo concílio foi resolvido —.[21]
Existem vários relatos possíveis de terceiros concílios que ocorreram na época de Asoka, mas todos concordam que aconteceu em Pataliputra, capital do imperador Asoka.[22] Alguns estudiosos dizem que, os diferentes relatos surgiram para autorizar a fundação de uma ou outra escola particular após o envio de missionários budistas a várias regiões.[22]
De acordo com a tradição Theravada, por volta de 250 a.C, em Pataliputra (a moderna Patna) foi convocado o terceiro concílio budista presidido por Moggaliputta Tissa Thera[23] e patrocinado pelo imperador mauria Asoka. O concílio foi realizado com o objetivo de reconciliar diferentes escolas de pensamento na comunidade monástica, os debates foram registrados no texto Kathavatthu (do abhiddharma Theravada).[24] Os decretos de Asoka se referem a um mero debate entre sthaviras, sem fazer menção a cismas..[21] Nesse concílio, foram feitas as últimas adições ao Cânone Pali (especialmente, abhidharma) da tradição Theravada.
O resultado do concílio foi o patrocínio real no envio de emissários budistas a diversas regiões do subcontinente indiano.[21] No entanto, as divergências na comunidade acabaram originando movimentos budistas emergentes nessas regiões décadas ou séculos depois.[21] Reinos subsequentes também desempenharam um papel para a difusão do budismo no subcontinente indiano e na Ásia Central até a China, como o Reino Indo-Grego; os dharmaguptakas foram apoiados pelos indo-citas em Gandhara, e o Império Kushan em Báctria apoiou a tradição Sarvastivada (que se desenvolveu na Caxemira).
Outra versão é mencionada nos textos da tradição Sarvastivada. De acordo com Vasumitra, um cisma decorreu em Pataliputra, na época de Asoka (304 a.C. – 232 a.C.).[18]
De acordo com o texto Samayabhedoparacanacakra de Vasumitra (um monge Sarvastivada), preservado nas primeiras duas traduções chinesas e na tradução tibetana, o cisma estava relacionado a cinco teorias que relaxavam os requisitos dos que se tornavam arhats.[21] Uma minoria de sthaviras recusou e a maioria (mahasangha) foi favorável.[25]
O texto Mahavibhasa Śāstra (do abhidharma Sarvastivada) relata que esse evento aconteceu sob um piedoso rei budista de Pataliputra, que patrocinou uma missão a Caxemira.[25] Esta versão dos eventos enfatiza a pureza dos sarvastivadins da Caxemira, descritos como descendentes dos antigos arhats que partiram para a Caxemira e Gandhara.[25]
Foram realizadas duas reuniões independentes conhecidas como "Quarto Concílio", um concílio no Sri Lanka (Theravada), e outro na Caxemira (Sarvastivada).
O Quarto Concílio Budista da tradição Theravada foi realizado por volta do século I a.C. durante o tempo do rei Vattagamani-Abhaya (29–17 a.C.), em Tambapanni (atual Sri Lanka). O concílio foi realizado no templo de Aloka Lena (em pali), atualmente chamado de Templo da Gruta de Pedra de Aluvihāra, localizado no distrito de Matale.
O quarto concílio no Sri Lanka tinha como objetivo a compilação do Canône Pali (Tripitaka), pois as invasões, guerras e fomes apontavam a necessidade de um registro por escrito para preservar os ensinamento budistas. O rei Vattagamani (29–17 a.C.) convocou o quarto concílio, do qual participaram cerca de 500 bhikkhus que recitaram e escreveram pela primeira vez, sobre folhas de palmeira, os suttas em pali.[20]
O Quarto Concílio Budista da tradição Sarvastivada, teve lugar em Jalandara ou na Caxemira, presidido por Vasumitra e convocado pelo rei cuchana Canisca I (r. 127–150), por volta do ano 100 d.C. O principal fruto desse concílio foi o texto Mahāvibhāṣa Śāstra (do abhiddharma Sarvastivada).[19]
Acredita-se também que durante esse tempo foram feitas traduções do cânone Sarvastivada de uma língua prácrita para o sânscrito. Essa mudança foi especialmente importante, pois aumentou a divulgação das ideias e das práticas budistas. De acordo com vários estudiosos, o budismo mahāyāna floresceu durante esse período.[26][27]
A tradição Sarvastivada não exista hoje de forma independente, mas seus textos foram preservadas na cânone chinês e no cânone tibetano..
No ano de 1871 decorreu em Mandalay um concílio por vezes denominado como o "Quinto Concílio Theravada". Foi convocado pelo rei Mindon Min e o seu objectivo foi revisar os textos pali.
Por último, em Maio de 1954 iniciou-se em Rangum um concílio por vezes denominado como o "Sexto Concílio Theravada", cujo propósito era recitar e rever o Cânone Pali. Participaram cerca de 25 mil monges budistas de vários países, tendo terminado em Maio de 1956. O discuro da cerimónia de abertura foi da responsabilidade do então primeiro-ministro da Birmânia, U Nu, tendo a data do concílio sido escolhida de modo a coincidir com o aniversário da morte do Buda há 2500 anos (segundo os cálculos Theravada).
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