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Cagarra-do-atlântico[1][2] (Calonectris borealis)[3] (Cory, 1881), também referido como cagarra-grande, cagarro,[4] pardela-de-bico-amarelo,[5] é uma ave procelariiforme migratória da família dos procelariídeos encontrada em grande quantidade no Oceano Atlântico, na região do arquipélago dos Açores. É uma espécie que vem nidificar às ilhas do Atlântico Norte, apresenta características que a distinguem da espécie Calonectris diomedea, também chamada cagarra-do-mediterrâneo, que utiliza o mar Mediterrâneo para esse fim, nomeadamente na região da Sicília, Grécia e ilha de Creta, e que recentemente permitiram a sua separação enquanto espécie. Existe outra espécie de cagarra atlântica, a Calonectris edwardsii (Oustalet, 1883), conhecida pelo nome comum de cagarra-de-cabo-verde, que alguns autores afirmam nidificar também na ilha da Madeira.
cagarro Cagarra-do-atlântico | |||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||
Pouco preocupante (IUCN 3.1) | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Calonectris borealis Scopoli, 1769 | |||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||
Sinónimos | |||||||||||||||
Calonectris diomedea borealis |
O cagarro é a ave marinha mais abundante nos Açores, totalizando atualmente (2010) cerca de 188 000 casais reprodutores.[6]
A população nidificante açoriana representa 75% da população mundial da espécie "Calonectris borealis".[6] Para além dos Açores, esta ave nidifica nos arquipélagos da Madeira, Canárias e nas Berlengas,[7] ao longo do litoral de todas as ilhas e em alguns ilhéus.
No Brasil, onde a ave é considerada visitante, o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO) atribuiu-lhe o nome vernáculo de "cagarra-grande".[8]
Sobre os cagarros na ilha de Santa Maria, encontram-se referidos por Gaspar Frutuoso em diversas passagens, a saber:
A propósito do Ilhéu da Vila:
E, a propósito do Ilhéu de São Lourenço, onde nidificam:
Posteriormente, inspirado naquela mesma fonte, Frei Agostinho de Monte Alverne refere:
O escritor Vitorino Nemésio na crónica Corsário das Ilhas (1956) dedica-lhes um capítulo, intitulado "Agarra: é ilhéu", e descreve Santa Maria, num outro capítulo, com o título "O primeiro Cagarro".
Conforme descrição do "Centro de Jovens Naturalista de Santa Maria", a ave apresenta
Trata-se de uma ave adaptada à vida em alto-mar, vindo a terra, à sua colónia, na época da reprodução, durante a noite. A envergadura das suas asas varia entre 100 e 125 centímetros. O seu voo é caracterizado pelos poucos movimentos de asas e pela agilidade com que rasa as ondas. Em contrapartida, quando aterram e têm de se deslocar em terra são muito desajeitados.
As fêmeas pesam em média 780 gramas e os machos, maiores do que as fêmeas, aproximam-se das 900 gramas. Podem viver até 40 anos.
Os seus cantos são peculiares e inconfundíveis.
O seu ciclo reprodutor tem uma duração de quase 9 meses, estendendo-se desde finais de fevereiro até finais de outubro, e apresenta grande sincronia entre as diferentes fases. Para fazer o ninho escolhe preferencialmente cavidades naturais e fendas na rocha, podendo também reutilizar luras de coelhos no solo ou escavar o seu próprio buraco, que pode atingir alguns metros de profundidade. Nidifica sempre no mesmo ninho, preferencialmente naquele em que nasceu, e forma casal para toda a vida.
A postura dos ovos (um por casal, de cor branca) ocorre de fins de maio a início de junho. O ovo é incubado durante 50 a 55 dias, alternadamente pelo macho e pela fêmea, em turnos com duração de 2 a 8 dias. A eclosão regista-se nos finais de julho e a emancipação dos juvenis entre finais de outubro e início de novembro. Neste momento, a cria é abandonada pelos pais, para se tornar independente. A mortalidade destes juvenis é alta, estimando-se que apenas um ovo em dez produzirá um adulto capaz de se reproduzir.
Os cagarros reúnem-se em grande bandos e efectuam migrações transequatoriais, nomeadamente, para a costa do Brasil e do Uruguai, e para o sul da África.
No mar, onde passam a maior parte do tempo em busca de alimento, é frequente observar bandos de cagarros ("jangadas") a alimentar-se em associação com outros predadores marinhos, tais como cetáceos e tunídeos, que dirigem as potenciais presas para a superfície. Na sua dieta incluem-se pequenos peixes pelágicos (como por exemplo, o chicharro ou cavala, pequenas lulas e crustáceos).
O grande declínio que as suas populações mundiais registaram nas últimas décadas levam a considerar a espécie como vulnerável. Em Portugal encontra-se listada no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal com o estatuto de "Vulnerável", e está inscrita no Anexo I da Directiva 79/408/CEE "Aves Selvagens". Globalmente, porém, está classificada como Preocupação Menor pela União Internacional para a Conservação da Natureza.
A subespécie "Calonectris diomedea borealis" encontra-se protegida legalmente pelos seguintes diplomas:
Na Região Autónoma dos Açores a espécie encontra-se classificada como protegida.
Com apenas três meses de idade o cagarro juvenil sai do ninho pela primeira vez e enfrenta diversos perigos. Orientado essencialmente pelas estrelas, confunde-se com as luzes artificiais dos automóveis e das povoações, nas noites nubladas de outubro. Muitos acabam por colidir ou por serem atropelados.
A Campanha SOS Cagarro decorre anualmente na Região Autónoma dos Açores entre 1 de outubro e 15 de novembro, período que coincide com a saída dos cagarros juvenis dos seus ninhos para o primeiro voo transoceânico. Está organizada em duas vertentes: a de Educação Ambiental e a de Conservação da Natureza. Por estímulo do Doutor Luís Monteiro, investigador da Universidade dos Açores, depois de uma primeira actividade iniciada em 1991 com a Câmara Municipal de Vila do Corvo e, em 1993, com o Governo Regional dos Açores e a organização não governamental "Amigos dos Açores",[12] a Campanha, que decorre regularmente desde 1995, tem como principal objectivo envolver as entidades e o público em geral no salvamento dos cagarros juvenis encontrados junto às estradas e nas suas proximidades. Nesse período, muitos dos cagarros juvenis resgatados nas ilhas açoriana no âmbito da campanha já regressaram ao arquipélago para acasalar e ter as suas crias.
A conduta a seguir para o salvamento de um cagarro juvenil encontrado é:[6]
Enquanto estiver na sua posse, a ave deverá ser mantida protegida na caixa, em local tranquilo e escuro, ao abrigo de animais domésticos como cães e gatos. Neste momento, a ave não necessita de alimento ou água.
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